O conceito de socialização surgiu para explicar de que maneira as pessoas se tornam seres sociais, ou seja, um “alguém” dentro de um grupo. Toda sociedade precisa ensinar sua língua, seus valores, seus costumes, seus pensamentos para quem nasce dentro dela.
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Nessa perspectiva, um indivíduo socializado é aquele que é reconhecido como um membro legítimo dessa sociedade. Uma vez que todas as pessoas passam por isso, raramente percebemos quando estamos sendo socializados. E, na verdade, a todo momento a socialização está acontecendo. Veremos a seguir como esse processo ocorre.
Índice do conteúdo:
Conceito sociológico e importância
A Sociologia se tornou uma disciplina científica oficialmente com Durkheim, no século XIX. Foi esse mesmo autor que desenvolveu o conceito de “socialização” que, por sua vez, pode ser considerada fundamental em sua teoria sobre a sociedade.
Durkheim pensava a sociedade como uma coisa, ou seja, como algo exterior e maior em relação às pessoas individualmente. Pensar o fenômeno social não se trata, para Durkheim, de falar de um indivíduo ou outro, mas de um todo coerente que é a sociedade. Isso permitiu que a Sociologia se tornasse uma ciência porque definiu o seu objeto de estudo: a sociedade.
Falar desse pensamento de Durkheim é importante porque, para ele, é a sociedade que realiza essa socialização. E nenhum indivíduo pode escolher ser ou não socializado. Todos são socializados porque, independentemente das vontades próprias, as pessoas são ensinadas a comer, a gesticular, a falar, a andar.
Ninguém escapa dessa coisa – a sociedade – e, portanto, ninguém escapa da socialização. Esse é o caráter coercitivo do fenômeno social. E ser coercitivo não necessariamente significa que é forçado ou agressivo, mas que simplesmente não há outro caminho a não ser este.
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A socialização, portanto, é um processo educativo. É o meio pelo qual uma sociedade torna cada indivíduo um ser social, à sua imagem. Essa abordagem da socialização mostra o caráter total da sociedade, explicando tanto os padrões como as exceções.
Como Durkheim foi o primeiro sociólogo a desenvolver isso de maneira consistente, obviamente, depois dele muitas pesquisas foram realizadas. Muitas delas hoje refutam a ideia durkheimiana de sociedade. Entretanto, a importância desse conceito é inegável.
A concepção de Durkheim de socialização se reflete em outras obras. Por exemplo, Anthrony Giddens define a socialização como:
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“[o processo de ensino em que seres indefesos se tornam] seres auto-conscientes, com saberes e capacidades, treinadas nas formas de culturas em que nasceram”
Desde que nascemos, portanto, somos submetidos à socialização. As crianças humanas possuem um tempo de infância caracteristicamente grande em relação às outras espécies, o que permite, justamente, que elas sejam socializadas por maior tempo.
Níveis de socialização
A socialização é um processo que se estende ao longo de toda a vida. Entretanto, pelo menos nas sociedades ocidentais, ela não acontece da mesma maneira conforme um indivíduo envelhece. Há uma diferença entre socialização primária e secundária, portanto. Veremos essa diferença a seguir.
Socialização primária
A socialização primária são os primeiros processos educativos que uma criança é submetida assim que nasce em uma sociedade. A primeira instituição social que um bebê tem contato frequentemente é a família. Ela promove a socialização infantil.
Com o pai, a mãe ou outros agentes, a criança é ensinada a viver em sociedade: aprende um idioma, aprende a andar, a comer… Todos esses comportamentos são específicos e necessários para o bebê crescer e ser reconhecido como uma pessoa entre outras.
Além disso, é possível elencar a escola como uma instituição socializadora. A socialização na escola desempenha um papel fundamental porque, nas sociedades ocidentais, as crianças passam uma boa parte de suas vidas juntas, separadas por idade e separadas da vida dos adultos. Portanto, a nossa sociedade define também o que é uma criança e como elas devem se comportar.
Socialização secundária
A socialização secundária diz mais respeito à fase adulta. É quando as pessoas seguem “nichos” diversos de grupos nos quais ela passa a ter mais contato.
Por exemplo, na socialização organizacional, as pessoas têm empregos diferentes. Em cada tipo de trabalho, existe um grupo com dinâmicas próprias e formas de convivência diferentes de outros. Nesses espaços, todas as pessoas são socializadas para se comportar adequadamente.
Assim, o processo de socialização nunca se interrompe. Ele se estende na vida das pessoas porque todas elas vivem em sociedade e precisam ser reconhecidas enquanto seres sociais pelos seus pares.
Socialização e sociabilização
A socialização é um conceito próprio da Sociologia, sendo um objeto de pesquisa e reflexão dessa disciplina científica. Entretanto, quando se adentra em outros campos, alguns sentidos diferentes podem ser dadas às palavras.
Por exemplo, em estudos institucionais, políticos ou econômicos, socializar pode acabar tomando um sentido mais específico, de compartilhar, distribuir ou ampliar bens, vantagens e privilégios com um determinado grupo. Nesse contexto, sociabilizar acaba tendo um sentido mais amplo, de simplesmente ter contato social com outros indivíduos.
De qualquer modo, socialização no sentido sociológico tem uma importância teórica de explicar a forma como as pessoas crescem e são reconhecidas dentro de uma sociedade. Conhecer essas acepções pode ser importante para dar relevância a essa distinção do conhecimento da Sociologia.
Socialização e controle social
O conceito de socialização, na tradição de Durkheim, possui um caráter coercitivo. Todas as pessoas que nascem em sociedade são submetidas a esse processo educativo de tornar-se alguém dentro de seu grupo.
Isso mostra um aspecto normativo na teoria a respeito da socialização. Ou seja, a socialização é um processo que enrijece um modo que as pessoas devem ser, e não simplesmente quem elas querem ser.
Na verdade, o que as pessoas acham que desejam pode ser fruto da socialização. Nas sociedades modernas é incentivada a individualidade, a personalidade própria ou mesmo “ser diferente dos outros”. Entretanto, se essa vontade é compartilhada por tantas pessoas, essa própria necessidade de individualidade pode ser uma exigência social.
Além disso, existem aspectos da vida social que não são possíveis de serem escolhidas. O idioma é um exemplo. Uma criança que nasce em uma determinada sociedade não tem como se recusar a aprender a língua de seu grupo pela sua própria vontade.
É pela socialização, portanto, que aprendemos a ser uma criança, um adulto, um velho, um homem, uma mulher, enfim, um ser humano. Consequentemente, as pessoas que não se enquadram nos padrões sociais são geralmente marginalizadas ou mesmo violentadas pela sociedade.
Margaret Mead, uma antropóloga, explica que “O estribilho da canção disciplinadora é: ‘Você não será um verdadeiro ser humano, a menos que suprima essas tendências incompatíveis com nossa definição de humanidade’.” Esse caráter normativo é retratado também em filmes, como O enigma de Kaspar Hauser (1974).
O conceito de socialização pode, assim, lançar luz sobre o controle social e os padrões que são reproduzidos socialmente. Esses padrões são bons para as pessoas? Eles violentam seres humanos que não se enquadram nesses moldes? Essas são algumas das questões que podem ser suscitadas.
Além disso, uma série de pesquisas têm demonstrado como, mesmo quando crianças, as pessoas não são meros indivíduos passivos sendo socializados pelo seu ambiente. Assim como os sujeitos sociais são influenciados pela sociedade, eles também influenciam o seu meio criativamente.
De todo modo, o conceito de socialização é importante justamente para lançar luz a esses processos sociais que muitas vezes não temos consciência que estão ocorrendo. Assim, as reflexões sociológicas ajudam a entender melhor a própria sociedade em que vivemos.
Referências
As regras do método sociológico – Émile Durkheim
Sexo e temperamento em três sociedades primitivas – Margaret Mead
O conceito de “socialização” caiu em desuso? Uma análise dos processos de socialização na infância com base em Georg Simmel e George H. Mead – Tamara Grigorowitschs
Socialização e satisfação nos diferentes tipos de estágios – David José Nunes Relvas
A influência da socialização primária na construção da identidade de gênero: percepções dos pais – Fernanda Ortiz Costa; Adriane Scomazzon Antoniazzi
Para uma teoria da socialização – Pedro Abrantes
A sociedade dos indivíduos – Norbert Elias
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Socialização. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/socializacao. Acesso em: 23 de November de 2024.