Movimentos sociais

Os movimentos sociais são importantes organizações políticas que reivindicam direitos e justiça social.

Os movimentos sociais são conhecidos por toda a parte. De fato, essa é uma das formas pelas quais atualmente se alcançam as maiores mobilizações políticas. Desse modo, os movimentos sociais causam incômodos, controvérsias e discussões. E, justamente, esse é um de seus objetivos: propor mudanças na vida social.

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Assim, os movimentos sociais também se tornam importantes por dar maior vida à democracia e à participação política. Consequentemente, hoje são um dos grandes interesses de estudo das ciências sociais. Veja mais sobre o tema a seguir.

O que são movimentos sociais

Os movimentos sociais são organizações e ações coletivas que levantam algum objetivo ou causa política e/ou cultural. Assim, esses coletivos criam espaços, tradições, linguagens e símbolos que permitem às pessoas que se identifiquem e participem do movimento.

Em certo sentido, é possível dizer que movimentos sociais sempre existiram nas sociedades humanas. Entretanto, um significado mais atual dessa expressão passou a ser reconhecida na sociologia a partir da década de 1970, em decorrência dos novos movimentos sociais.

Características

Atualmente, há algumas características gerais que podemos atribuir aos movimentos sociais. Os novos movimentos sociais, chamados também de identitários, produziram novas formas de aliança e organização política.

Portanto, uma de suas características é formar contextos para articulação entre pessoas. Seja a classe econômica, a orientação sexual, o gênero, a raça ou a etnia, essas são identificações que podem aglutinar pessoas. Associados a esses fatores, acontecimentos como um assassinato ou violência podem motivar pessoas a protestarem e realizarem atos simbólicos.

Atualmente, uma característica marcante dos movimentos sociais é a utilização das redes sociais e plataformas online para a divulgação e a articulação de suas organizações. Essa modalidade é chamada também de ciberativismo. Assim, os ativismos conseguem ser atualizados constantemente para além de passeatas ou atos pontuais.

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Além disso, é importante destacar o aspecto educativo dos movimentos. Ou seja, essas atividades políticas refletem no fundo um projeto de sociedade: um mundo sem homofobia ou transfobia, por exemplo, no caso do movimento LGBT+. Dessa forma, os movimentos sociais também se revelam como projetos culturais.

Por fim, os movimentos sociais possuem também hierarquias. Ou seja, existem lideranças, organizações internas e podem até se institucionalizar. Em todas essas frentes, esses coletivos levantam a necessidade de uma mudança social.

Tipos

É difícil classificar em tipos rígidos ações coletivas que são bastante plurais. Contudo, é possível apresentar uma classificação ideal de acordo com os objetivos e a direção da ação:

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  • Movimentos reivindicatórios: a direção das ações se volta para o Estado. Assim, a pressão da população e o debate público são utilizadas para cobrar alguma reparação ou direito a ser garantido ou encaminhado pelos representantes políticos.
  • Movimentos políticos: todo movimento é político, mas, nesse caso, a ação coletiva se volta mais propriamente para a população. Ou seja, há um apelo às pessoas para que elas se mobilizem e participem das transformações.
  • Movimentos de classe: são as organizações que buscam transformar as relações entre as diferentes categorias sociais, geralmente marcadas pela desigualdade social.

Evidentemente, um movimento pode acabar se classificando em mais de um tipo. Afinal, atualmente é observada a existência de organizações coletivas muito abrangentes e até globais. Assim, as ações políticas se organizam de diferentes maneiras a depender do contexto e dos objetivos.

Exemplos

A partir do que já foi discutido, é possível perceber que movimentos sociais não são apenas pontuais, esporádicos ou efêmeros. Ao invés disso, são organizações sociais que permanecem no tempo e possuem projetos sociais de longo prazo. Veja a seguir alguns exemplos:

1. Movimento feminista

Pintura representando diferentes mulheres reunidas, acionando símbolos do movimento feminista
“Staying with the trouble”, por Kaj Osteroth e Lydia Hamann (2019).

É um dos movimentos mais importantes das últimas décadas. Atualmente, há diversas vertentes do feminismo e a história tem sido radicalmente transformada por ações políticas do movimento. Sem elas, questões que hoje parecem básicas – o direito ao voto pelas mulheres ou sua maior entrada no mercado de trabalho – não teriam sido conquistadas.

2. Movimento negro

Um ato organizado pelo movimento negro, segurando uma faixa escrito "racismo não!"
Ato Contra o Genocídio da Juventude Negra no Rio de Janeiro, por Eloá Custódio (2015).

É também uma organização política com vários impactos sociais. Em alguns países, como nos Estados Unidos, foi capaz de contestar as leis que segregavam brancos e negros, dando privilégios aos primeiros. No entanto, mesmo com sua abolição, as relações sociais racistas permanecem na sociedade e o movimento negro segue com pautas muito importantes.

3. Movimento indígena

Protesto do movimento indígena em 2019
Protesto do movimento indígena, por Tiago Miotto/Cimi (2019).

Frequentemente, povos indígenas são vistos pelos governantes como símbolos de atraso ao desenvolvimento, ou que, mais cedo ou mais tarde, serão aculturados e viverão como ocidentais. Essa é uma percepção etnocêntrica, e o movimento indígena tem contestado a colonização e as condições precárias em que são expostos.

4. Movimento LGBT+

Para do orgulho LGBT+ no Rio de Janeiro, uma representação do movimento LGBT+
Parada do orgulho LGBTI no Rio, por Brenno Carvalho (2018).

É uma das organizações políticas mais conhecidas publicamente, contestando o privilégio e a normalização da sexualidade heterossexual. Contudo, nem sempre a sigla foi “LGBT+”: ela já foi “GLS”, excluindo, por exemplo, pessoas transexuais. No Brasil, já é organizada a Marcha do Orgulho Trans, como uma forma de reivindicação de seu espaço e contra as violências que a população trans sofre.

5. Movimento trabalhista

Comício das Reformas (1964), representação do movimento trabalhista
Imagem do Comício das Reformas, em março de 1964. Fonte: Arquivo Público do Estado de SP.

É uma das formas mais tradicionais conhecidas de movimento social. Assim, as greves, as passeatas e as ações coletivas partem bastante da inspiração do trabalhismo e do sindicalismo das classes operárias. As organizações trabalhistas foram responsáveis por muitos dos direitos do trabalhador, que ainda continuam em disputa.

6. Movimento estudantil

Encontro da Libelu, organização do movimento estudantil que dirigiu o DCE Livre da USP nos anos 1970.
Encontro da Libelu, da direção do DCE Livre da USP nos anos 1970.

A organização de estudantes e da juventude, historicamente, conduziu diversas mudanças sociais. No contexto da Ditadura Militar, por exemplo, essa foi uma das ações políticas mais atuantes contra o regime. Atualmente, o movimento estudantil ainda se coloca ao lado de outras pautas no debate político.

7. Movimento ambientalista

Imagem do protesto em frente Embaixada brasileira em Londres. Amazônia Real.
Fotografia do protesto em frente Embaixada brasileira em Londres. Fonte: Amazônia Real. (2019).

Apesar de ser sempre atuante, o movimento ambientalista cresce em importância de tempos em tempos em decorrência de episódios trágicos. O ambientalismo e o conservacionismo atuam em diversas frentes, e atualmente congregam também populações indígenas e tradicionais como aliadas de seus objetivos.

8. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). por Juliana Adriano.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). por Juliana Adriano.

Surgiu em 1984, ainda na época da Ditadura Militar, e é formado por mais de dois milhões de agricultores sem terra. O MST trata-se de um projeto político ligado à conservação do meio ambiente, à agroecologia e congrega o apoio de diversos setores da sociedade. Contudo, é uma organização sempre cercada por polêmicas e repressões porque envolve a ocupação da latifúndios e a reivindicação de uma reforma agrária.

9. Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)

Protesto contra reformas no Minha Casa Minha Vida do MTST.
Protesto contra reformas no Minha Casa Minha Vida do MTST.

Mais recente, o MTST surge no final da década de 1990. Apesar da moradia ser um direito constitucional a ser garantido a todas as pessoas, muitas famílias não possuem um lar e são desabrigadas. Assim, trabalhadores ligados ao MTST ocupam imóveis irregulares e desocupados e reivindicam o seu direito à moradia.

Desse modo, essas organizações políticas possuem uma ação bastante atuante na sociedade. Consequentemente, ajudam a atualizar a democracia, os debates públicos e nos fazem repensar sobre coisas que pensamos serem naturais ou imutáveis.

Os movimentos sociais no Brasil

No Brasil existem movimentos sociais próprios, como o MST e o MTST. No entanto, há também aqueles como o feminista e o LGBT+ que se ligam globalmente a reivindicações parecidas. De todo modo, é importante considerar que mesmo essas organizações internacionais possuem sentidos e papeis próprios no contexto local.

Todos os movimentos sociais citados conquistaram alguns direitos. Por exemplo, em 2019, por meio do esforço de um setor do movimento LGBT+, a homofobia e a transfobia como enquadrados como crime pelo Supremo Tribunal Federal. Em 2003, o movimento negro comemorou a Lei 10.639, que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de história africana e relações étnico-raciais nas escolas.

Portanto, existem objetivos específicos e direitos a serem garantidos que são a razão de luta dos militantes. Entretanto, um fator comum é seu foco na educação e na necessidade de construir uma ética e um modo de vida diferente daquele que vivemos. Assim, os movimentos sociais nos fazem repensar criticamente sobre a sociedade e as relações de poder que nos formam.

5 vídeos sobre o que são os movimentos sociais

Confira a seguir uma lista de vídeos que te ajudarão a conhecer essas organizações políticas:

Manuel Castells sobre movimentos sociais

Manuel Castells é um pensador espanhol bastante importante na sociologia contemporânea. Um de seus principais temas é sobre as novas tecnologias de comunicação e informação. Os movimentos sociais têm tido atuações importantes no uso dessas tecnologias.

MST: o que é?

A socióloga Sabrina Fernandes apresenta um projeto do MST, demonstrando sua atuação prática do ponto de vista de seus próprios membros.

Trans: a importância da visibilidade

Dentro do movimento LGBT+, a população trans tem reivindicado por sua visibilidade. Conheça algumas histórias e pontos de vista.

Indígenas: a necessidade de reconhecimento

Os povos indígenas possuem uma luta ampla para a garantia de suas existências em um mundo colonizador.

Negros: uma luta histórica

No Brasil, o racismo é uma violência histórica. O movimento negro busca mostrar e denunciar esse racismo.

Desse modo, os movimentos sociais são importantes ações e organizações coletivas que permitem que grupos diversos entrem no debate público e político. Essa diversidade deve ser característica de uma sociedade democrática.

Referências

Movimentos sociais na contemporaneidade – Maria da Glória Gohn;

O conceito de movimentos sociais revisitado – Karine Pereira Goss, Kelly Prudencio.

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Movimentos sociais. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/movimentos-sociais. Acesso em: 30 de December de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [ENEM]

“Não nos resta a menor dúvida de que a principal contribuição dos diferentes tipos de movimentos sociais brasileiros nos últimos vinte anos foi no plano da reconstrução do processo de democratização do país. E não se trata apenas da reconstrução do regime político, da retomada da democracia e do fim do Regime Militar. Trata-se da reconstrução ou construção de novos rumos para a cultura do país, do preenchimento de vazios na condução da luta pela redemocratização, constituindo-se como agentes interlocutores que dialogam diretamente com a população e com o Estado.” (Adaptado de: GOHN, M. G. M. Os sem-terras, ONGs e cidadania. São Paulo: Cortez, 2003).
No processo da redemocratização brasileira, os novos movimentos sociais contribuíram para
a) diminuir a legitimidade dos novos partidos políticos então criados
b) tornar a democracia um valor social que ultrapassa os momentos eleitorais
c) difundir a democracia representativa como objetivo fundamental da luta política
d) ampliar as disputas pela hegemonia das entidades de trabalhadores com os sindicatos
e) fragmentar as lutas políticas dos diversos atores sociais frente ao Estado

Resposta: b

Justificativa: todos os movimentos sociais levam fortemente valores democráticos para a sua manifestação, fazendo com que a participação política não se restrinja à eleição de representantes.

2. [UERJ]

“As comunidades quilombolas, que são predominantemente constituídas por população negra, se autodefinem a partir das relações com a terra, do parentesco, do território, da ancestralidade, das tradições e das práticas culturais próprias.
Estima-se que em todo o país existam mais de três mil comunidades quilombolas. O Decreto Federal nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos.” (Adaptado de incra.gov.br)
A demarcação de terras de comunidades quilombolas é fato recente nas práticas governamentais brasileiras.
Um dos principais objetivos dessa política pública é viabilizar a promoção de:
a) aceleração da reforma agrária
b) reparação de grupos excluídos
c) absorção de trabalhadores urbanos
d) reconhecimento da diversidade étnica

Resposta: b

Justificativa: conforme o texto, as políticas objetivadas, como a demarcação de terras, são políticas de reparação dos grupos que foram violentados.

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