Lévi-Strauss foi um dos pesquisadores mais conhecidos e com as teorias mais relevantes dentro da antropologia social. Assim, conhecido pelo seu estruturalismo francês, o autor transformou o modo de pensar as sociedades humanas.
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Uma de suas grandes ideias foi a de sugerir que a forma como a humanidade organiza seus pensamentos, suas experiências e suas culturas ocorre de modo semelhante. Consequentemente, Lévi-Strauss foi responsável também por amenizar a visão tradicional de considerar povos não-ocidentais como “atrasados” ou “primitivos”. Conheça mais do autor a seguir.
Biografia
Claude Lévi-Strauss nasceu em 1908 em Bruxelas, na Bélgica, e morreu em 2009. Ou seja, ele viveu praticamente o século XX inteiro e sua passagem ao XXI. Desse modo, além de sua teoria, a sua trajetória de vida também é interessante de se acompanhar.
Lévi-Strauss veio de uma família judia e abastada. Assim, se formou em filosofia em 1931 na França, e tinha um contato próximo de outros filósofos como o Jean-Paul Sartre. Entretanto, foi em 1934, na fundação da Universidade de São Paulo e na criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFLC) que ele foi chamado para ser professor no Brasil.
Portanto, foi no Brasil que suas reflexões antropológicas ganharam peso ao estudar as populações indígenas na Amazônia e no Mato Grosso. Nessa direção, Lévi-Strauss assumiu em 1959 uma cadeira de Antropologia Social no Collège de France.
Assim, Lévi-Strauss foi um antropólogo reconhecido e considerado um dos pensadores mais relevantes do século XX. Não apenas pela sua atualidade, suas teorias são consideradas um clássico na antropologia.
Principais teorias
Lévi-Strauss é um autor bastante importante na antropologia social. Contudo, suas formulações teóricas são bastante complexas e podem soar difíceis inicialmente. Portanto, veja a seguir algumas ideias trazidas em suas principais teorias para ajudar no seu estudo:
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Estruturalismo
O grande representante do estruturalismo francês é Lévi-Strauss. Para o autor, existe uma estrutura mental universal da humanidade que organiza as nossas experiências em formas simbólicas. Em outras palavras, não existe diferença na mente ou na intelectualidade entre seres humanos, seja qual for a sua sociedade.
Assim, é a partir dessa estrutura universal que os seres humanos produzem uma diversidade cultural. As formas diferentes de cultura que se encontram em todo o planeta não devem, desse modo, ser interpretadas como inferiores ou superiores. De fato, o que existe são modos diferentes de organizar a experiência a partir de símbolos.
Princípio da reciprocidade
Inspirado em Marcel Mauss, Lévi-Strauss ajudou a discutir sobre o princípio da reciprocidade: em toda a sociedade, é possível visualizar práticas de troca em que cada indivíduo precisa retribuir o presente do outro. Um exemplo é a festividade do Natal, em que as pessoas costumam trocar presentes.
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Ou seja, o princípio da reciprocidade revela que há um sentimento de obrigação de retribuir quando alguém nos dá algo – principalmente se for uma ocasião simbólica, especial ou cerimonial.
Nesse caso, se retornamos algo equivalente, a obrigação fica “quitada”. No entanto, se a outra pessoa retribuir um bem maior do que o que foi dado, permanece o sentimento de reciprocidade, de ter de devolver à mesma altura. Assim, as trocas continuam indefinidamente. Esse princípio é importante para falar de outra teoria: o tabu do incesto.
Tabu do incesto
Lévi-Strauss analisou como existe, em toda sociedade, um tabu sobre o incesto. Ou seja, mesmo que de modos e com regras diferentes, todas as organizações humanas parecem ter algum tipo de rejeição ou proibição em relação ao casamento entre pai e filha.
Em resumo, o tabu do incesto trata-se de uma regra universal de que um pai não pode possuir a sua filha: ela é dada em casamento para outro homem. Assim, isso criou uma relação de reciprocidade entre os homens – abrir mão dessa posse significa a garantia de que o outro indivíduo também vai fazer o mesmo, em troca mútua.
Além disso, essa troca significa também formar laços de parentesco com famílias diferentes. Consequentemente, quebrar o tabu do incesto significa rejeitar a importância social dos outros e romper o princípio da reciprocidade. Desse modo, Lévi-Strauss explica a existência desse tabu sem recorrer a argumentos biológicos, como o de que casamentos consanguíneos gerariam problemas.
Eficácia simbólica
Como já foi mencionado, a estrutura mental que é compartilhada por toda a humanidade é uma ideia importante em Lévi-Strauss. Assim, a partir dessa teoria, o autor estuda como algumas práticas culturais possuem uma eficácia simbólica.
Por exemplo, as curas xamânicas feitas por algumas tribos indígenas podem ser consideradas irracionais ou falsas sob um ponto de vista preconceituoso. Contudo, elas de fato curam doenças e estados mentais de sofrimento.
Ao invés de dizer simplesmente que essas são curas “psicológicas” ou “placebo”, Lévi-Strauss explica como, a partir dos símbolos compartilhados culturalmente, mudanças no organismo são efetuadas.
Desse modo, a teoria de Lévi-Strauss é abrangente. Atualmente, ela já passou por críticas e releituras, mas ainda continua um paradigma importante na antropologia social.
Obras importantes
O antropólogo publicou muitas obras ao longo de sua vida. Além desses livros, existem biografias, entrevistas e diversos textos sobre o autor. A seguir, conheça algumas das principais obras de Lévi-Strauss para conhecê-lo melhor:
- As estruturas elementares do parentesco: um dos livros mais conhecidos de Lévi-Strauss e elogiado por figuras importantes como Simone de Beauvoir. É nessa obra que ele apresenta teorias como a do tabu do incesto.
- Tristes trópicos: é uma obra clássica com uma narrativa etnográfica. Lévi-Strauss conta sobre sua viagem e estudo com algumas tribos indígenas no Brasil.
- Antropologia estrutural: nesse livro, o autor reúne textos que são fundantes e importantes para a disciplina antropológica. Assim, Lévi-Strauss apresenta sistematicamente o seu estruturalismo.
- O pensamento selvagem: conhecido também pelo seu nome original, La pensée sauvage, é uma análise estruturalista sobre o totemismo.
- Mitológicas: foi publicado em quadro volumes diferentes, sendo um dos mais conhecidos O cru e o cozido. É uma obra conhecida do Lévi-Strauss, realizando sua análise estruturalista.
Assim, Lévi-Strauss é um reconhecido pesquisador da antropologia social. Sua grande importância se deve também ao fato de ter fornecido um modo de pensar e estudar as diferentes sociedades humanas.
Referências
Antropologia estrutural – Claude Lévi-Strauss;
As estruturas elementares do parentesco – Claude Lévi-Strauss;
Claude Lévi-Strauss e o estruturalismo – J. Francisco Saraiva de Sousa.
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Lévi-Strauss. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/levi-strauss. Acesso em: 24 de November de 2024.
1. [IFRS]
Sobre o conceito de cultura na obra de Claude Lévi-Strauss, indique a alternativa CORRETA.
A) A cultura não é o assunto central na obra do pensador, que se dedica mais fortemente ao tema da estrutura social, compreendida como conjunto de relações estabelecidas em um determinado contexto social em um dado contexto histórico.
B) A oposição entre Natureza e Cultura é central na obra de Claude Lévi-Strauss, e o ponto fundamental de sua obra foi demonstrar a unidade da humanidade em termos de seu potencial para produzir cultura, apesar de argumentar que as estruturas profundas de pensamento entre povos “selvagens” é radicalmente diferente daquela dos povos civilizados.
C) O princípio da comunicação assume uma dimensão importantíssima na antropologia estrutural proposta pelo autor, de modo que o objeto de sua produção na antropologia recai sobre os sentidos dos mitos em sua riqueza semântica e suas feições culturais em contextos etnográficos específicos.
D) Para o autor francês, a proibição do incesto é tomada como a primeira regra, e o universo das regras é o universo da cultura. Apesar de assumir feições diferentes em diferentes culturas, a universalidade da proibição do incesto pode ser compreendida como síntese do momento de passagem da natureza à cultura.
E) O princípio da reciprocidade é fundamental para este autor, pois a cultura pode ser compreendida como conjunto de sistemas simbólicos, de modo que as trocas econômicas, materiais e de pessoas não assumem tanta importância quanto a troca de mensagens.
Resposta: D
Justificativa: o tabu do incesto é uma tese central para Lévi-Strauss, sendo a sua razão a passagem da humanidade da natureza para a cultura.
2. [FUNIVERSA]
A respeito da obra de Claude Lévi-Strauss, julgue os itens que se seguem e assinale a alternativa correta.
I O desenvolvimento de temas como parentesco, totemismo e mitos consagrou Lévi-Strauss como autor e o acompanhou por, praticamente, toda a sua vida intelectual.
II A obra de Lévi-Strauss trouxe à cena antropológica a concepção de estrutura como código, ou seja, como um sistema de signos dotados de valores posicionais.
III Um grande nome da antropologia contemporânea, Clifford Geertz, considera “Tristes Trópicos” um livro que redefiniu as fronteiras e as funções intelectuais da ficção e da etnologia.
IV O conceito de “sociedades frias”, proposto por Lévi- Strauss, se refere àquelas sociedades que não valorizam a história e que pensam a história como reproduzindo uma forma idêntica. As “sociedades quentes” são as que vêem a história como motor explicativo. Ele enfatizou, no entanto, que não há sociedades absolutamente “frias” ou “quentes”.
A) Nenhum item está certo
B) Há apenas um item certo
C) Há apenas dois itens certos
D) Há apenas três itens certos
E) Todos os itens estão certos
Resposta: D
Justificativa: as alternativas corretas são I, II e IV. Todas as alternativas dizem respeito ao universo teórico formulado por Lévi-Strauss.