Primeiramente precisamos saber que “crase” não é o nome do acento, mas sim do fenômeno ocorrido quando substituímos duas vogais idênticas fazendo o uso do acento grave. Portanto, se dissermos que uma frase possui crase ou que uma letra é “craseada” estamos confundindo as coisas e o melhor a fazer é apenas dizer que tal frase tem acento grave.
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“Na Língua Portuguesa, restringiu-se o termo a contração, a junção ou a fusão de dois “as”, os quais serão representados por um único “a” sobre o qual se coloca o acento grave (‘).” (BEZERRA, 2011, p. 609)
A crase ocorre sempre que o termo regente se “junta” com o termo regido:
Em grande parte dos casos, o uso do acento grave altera bruscamente o sentido das frases:
- Da cozinha, ela percebeu que alguém bateu a porta. (trancou, bateu com força)
- Da cozinha, ela percebeu que alguém bateu à porta. (bateu na porta)
1. Casos obrigatórios em que ocorrem a crase
a) Diante de nomes femininos, quando os termos regentes exigem a preposição “a”:
- Os alunos voltaram à escola. (voltar a + a escola)
- Todos deveriam ser sensíveis à dor alheia. (sensíveis a + a dor)
- É muito útil unir a teoria à prática. (unir algo a + a prática)
Um truque para não se confundir: substitua o “a” por “para a” (os alunos voltaram para a escola) ou pelo masculino “ao” (todos deveriam ser sensíveis ao sofrimento alheio) – se a troca funcionar, ali estará o acento grave!
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b) Os pronomes demonstrativos receberão acento grave se o termo regente exigir complemento:
- Servi almoço àquelas pessoas (a + aquelas)
- Fiz elogios àquilo que ela falou na palestra (a + aquilo)
Para não ter dúvidas:
Substitua os pronomes “aquele(s), aquela(s), aquilo” pelos pronomes (também demonstrativos) “este(s), esta(s), isto. Se esses pronomes continuarem iguais, não haverá crase, mas se eles mudarem para “a esta(s), a este(s), a isto, então o acento grave deverá ser usado:
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- Jamais irei àquela festa – (jamais irei a esta festa)
- Não tive dúvidas quando comprei aquele sapato – (não tive dúvidas quando comprei este sapato)
C) Locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas femininas se iniciam em “a”:
- Às vezes, à noite, às ocultas, à vontade, às pressas;
- À espera de, à frente de, à procura de;
- À medida que, à proporção que.
Lembre-se: Em locuções adverbiais que indicam meio ou instrumento não há ocorrência da crase, a não ser que elas provoquem ambiguidade. O acento grave nas locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas aparece porque essas locuções vêm introduzidas por preposições. Por isso, a preposição pode ajudar a evitar que a locução seja confundida com outro termo.
- A espera do avião nos deixou tristes (sujeito).
- À espera de Vanessa, ficamos várias horas (locução prepositiva).
d) Locuções adverbiais “à maneira de” e “à moda de”:
- À moda brasileira, preparavam a feijoada.
- Ela admirava os rapazes que estavam vestidos à Luiz VX.
Preste atenção nos seguintes exemplos para não se confundir:
e) Antes de expressões de horas exatas:
- Os meninos chagaram às oito horas.
- Nosso horário está marcado às 9h30min.
Não se esqueça: Quando as horas forem indeterminadas, não temos crase!
- Eu a esperava às 15 horas, mas ela só chegou após as 17 horas. (hora inexata)
Nas correlações, o acento ocorre se houver um artigo antes de cada termo:
- O restaurante funcionará de 11h30 a 14h30. (apenas preposições)
- O restaurante funcionará das (de+a) 11h30 às (a+as) 14h30. (artigo antecedendo o termo)
f) Os nomes de locais sempre serão antecedidos pela crase se o termo regente precisar da preposição “a”. Para sempre ter certeza, troque o termo regente por “vir” ou “estar”:
- No ano que vem, faremos uma viagem à Bahia. (vir da/estar na)
- Você já foi a Santa Catarina? (vir de/estar em)
Ou quando estiverem acompanhados de adjunto adnominal:
- Nunca mais fui a Paris. (vir de/estar em)
- Nunca mais fui à (vir da/estar na) Paris dos grandes românticos. (termo determinante)
2. Crase facultativa
a) Quando tivermos pronomes possessivos femininos no singular:
- Ela nunca fez referência a/à sua doença.
Quando o pronome possessivo estiver no plural, o acento grave ocorrerá da seguinte maneira:
- Não enviei lembranças a/às nossas amigas aniversariantes.
b) Quando houver a expressão “até”, já que essa preposição pode vir como a locução “até a”:
- Ao ouvir a campainha, dirigiu-se imediatamente até a varanda.
- Ao ouvir a campainha, dirigiu-se imediatamente até à varanda.
C) Diante de nomes próprios femininos com denotação de amizade ou proximidade:
3. Quando nunca ocorre a crase
a) Diante de verbos:
- Cheguei a pegar o livro, mas o devolvi.
b) Diante de palavras masculinas:
- O ambiente cheirava a óleo.
c) Diante de pronomes pessoais retos, oblíquos e de tratamento, exceto “madame, senhorita, dona e senhora”:
- Refiro- me a você.
- Recorreram a Vossa Excelência.
d) Diante de artigos indefinidos:
- Eles chegaram a um bairro muito distante.
e) Diante de pronomes indefinidos (exceto outra/outras), interrogativos, demonstrativos este(s), esta(s), esse(s), essa(s) e isso e dos relativos exceto “a qual” e “as quais”:
- Sua atitude não interessa a ninguém.
- A qual delas você se referiu outro dia?
f) Diante um “a” no singular que preceda uma palavra no plural:
- Raramente ela vai a lojas.
g) Diante de substantivos femininos em sentido geral e indeterminado:
- Ele nunca foi convidado a festa alguma.
h) Expressões formadas por palavra repetidas (cara a cara, dia a dia, boca a boca).
4. Casos especiais
a) Sempre que a palavra “casa” vier acompanhada de determinantes teremos crase:
- Voltei correndo à casa de minha avó.
- Fomos à velha casa de nossos amigos.
b) Haverá crase quando a palavra “terra” vier determinada:
- Depois de muito viajar, chegaram à terra de seus avós.
- Finalmente chegaram à terra natal.
No sentido de “solo, chão” também será admitido o artigo e, se o termo regente o exigir, será obrigatório o acento grave:
- Lançou à terra suas lágrimas.
c) Sempre que a palavra “distância” for acompanhada de determinantes:
- Elas ficaram à distância de 50 metros da ponte.
d) Os pronomes “mesma(s), própria(s) e tal”, quando o termo reagente exigir preposição:
- Eles vão sempre à mesma lanchonete.
- Falaram à tal garota sobre o acidente.
Referências
ALMEIDA, Nilson Teixeira de. Gramatica da Língua Portuguesa para concursos, vestibulares, ENEM, colégios técnicos e militares. 9ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
BEZERRA, Rodrigo. Nova gramática da língua portuguesa para concursos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense; Sao Paulo: METODO, 2010.

Por Priscila Nayade
Graduada em Letras Português - Licenciatura (UnB)
Nayade, Priscila. Crase. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/portugues/crase. Acesso em: 25 de April de 2025.
1. [UNIMEP-SP] “___ dois meses que não vejo Paulo. Soube que ele esteve ____ beira de uma crise nervosa ____ menos de cinco dias do vestibular”. A alternativa que preenche corretamente as lacunas e:
a) Há, a, a.
b) Há, à, a.
c) Há, à, à.
d) A, a, à.
e) A, à, a.
2. [STN] O acento grave, indicador de crase, foi empregado corretamente, exceto na alternativa:
a) Após o almoço, todos podem dirigir-se à sala.
b) Mamãe, nós voltaremos à noite, a não ser que a chuva nos impeça.
c) Quando chegarmos à Bahia, a primeira coisa a fazer é visitar as igrejas.
d)Tu já escreveste àquele teu amigo?
e) Não falo à pessoas estranhas.
3. [STN] Indique a sentença em que não foi empregado adequadamente o acento indicador de crase:
a) “Foi o que procurei fazer, na medida do possível e ao longo de vários anos, ouvindo reações à proposta que apresentara.”
b) “A hora das frivolidades acabara, a que começava era a do sacrifício austero e diuturno.”
c) “Posto que Jorge falasse do coronel nas cartas que escrevia à mãe, não o dava como amigo seu.”
d) “Comparava-se ao mar daquela manhã, nem borrascoso nem quito, mas levemente empolado e crespo, tão prestes a adormecer de todo, como a crescer e arremessar-se à praia.”
e) “De Buenos Aires chegava-lhe na véspera, a tarde, a notícia da morte de um irmão, seu último parente.”
4. [FUVEST-SP] O progresso chegou inesperadamente ___ subúrbio. Daqui ___ poucos anos, nenhum de seus moradores se lembrará mais das casinhas que ___ tão pouco tempo, marcavam a passagem familiar.
a) aquele, a, a.
b) àquele, à, há.
c) àquele, à, à.
d) àquele, a, há.
e) aquele, à, há.
5. [UNAERP-SP] Levando-se em conta que alguns nomes de lugar admitem a anteposição do artigo, assinale a alternativa em que a crase foi empregada corretamente:
a) Ele nunca foi à Berlim.
b) Ele nunca foi à Paris.
c) Ele nunca foi à Portugal.
d) Ele nunca foi à Roma.
e) Ele nunca foi à China.
1. [B]
Visto que a primeira lacuna precisa ser preenchida com relação de tempo (há), que a segunda se trata de um nome feminino (crise) que exige a preposição (à) e que a terceira não leva acento por se tratar de uma data inexata.
2. [E]
O nome “pessoas” não exige a preposição “a”.
3. [E]
Locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas femininas se iniciam em “a” exigem o uso do acento grave.
4. [D]
A primeira lacuna apresenta um pronome demonstrativo com o termo regente que exige a preposição; a segunda se trata de uma data inexata e a terceira, relação a tempo.
5. [E]
O termo regente exige a preposição (lembre-se do truque “vir/estar”).