“Concordância é o princípio sintático segundo o qual as palavras dependentes se harmonizam nas suas flexões, com as palavras de que dependem.” (CEGALLA, 2008, p. 438)
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1. Concordância nominal
Concordância do adjetivo adjunto adnominal
O adjetivo concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere.
Exemplo:
- O alto ipê cobre-se de flores amarelas.
O adjetivo que se refere a mais de um substantivo de gênero ou número diferentes, quando posposto, poderá concordar no masculino plural ou com o substantivo mais próximo.
Exemplos:
- Os arreios e as bagagens espalhados pelo chão.
- A Marinha e o Exército brasileiro estavam em alerta.
Anteposto aos substantivos, o adjetivo concorda, em geral, com o mais próximo.
Exemplo:
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- Escolhestes mau lugar e hora.
Os adjetivos regidos da preposição de, que se referem a pronomes neutros indefinidos (nada, muito, algo, tanto, que), normalmente ficam no masculino singular.
Exemplos:
- Sua vida nada tem de misterioso.
- Seus olhos têm algo de sedutor.
Concordância do adjetivo predicativo com o sujeito
O predicativo concorda em gênero e número com o sujeito simples.
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Exemplo:
- A ciência sem consciência é desastrosa.
Quando o sujeito é composto e constituído por substantivos do mesmo gênero, o predicativo deve concordar no plural e no gênero deles.
Exemplo:
- O mar e o céu estavam serenos.
Sendo o sujeito composto e constituído por substantivos de gêneros diversos, o predicativo concordará no masculino plural.
Exemplo:
- O vale e a montanha são frescos.
Menos comum é a concordância com o substantivo mais próximo, o que só é possível quando o predicativo se antecipa ao sujeito.
Exemplo:
- Onde andará metido Antônio e suas irmãs?
Se o sujeito for representado por um pronome de tratamento, a concordância se efetua com o sexo da pessoa a quem se refere.
Exemplo:
- Vossa senhoria, ficará satisfeito, eu lhe garanto.
O predicativo aparece às vezes na forma do masculino singular nas locuções é bom, é necessário, é preciso, embora o sujeito seja substantivo feminino ou plural.
Exemplo:
- Bebida alcoólica não é bom para o fígado.
Havendo a determinação do sujeito, ou sendo preciso realçar o predicativo, efetua-se a concordância normalmente.
Exemplos:
- É necessária a sua presença aqui.
- Seriam precisos outros três homens.
Concordância do predicativo com o objeto
O adjetivo concorda em gênero e numero com o objeto quando este é simples.
Exemplos:
- Vi ancorados na baía os navios petrolíferos.
- O tribunal qualificou de ilegais as nomeações do ex-prefeito.
Quando o objeto é composto e constituído por elementos do mesmo gênero, o adjetivo se flexiona no plural e no gênero dos elementos.
Exemplo:
- A justiça declarou criminosos o empresário e seus auxiliares.
Sendo o objeto composto e formado de elementos de gêneros diversos, o adjetivo concordará no masculino plural.
Exemplo:
- Tomei emprestados a régua e o compasso.
Se anteposto ao objeto, poderá o predicativo, neste caso, concordar com o núcleo mais próximo.
Exemplo:
- É preciso que se mantenham limpas as ruas e os jardins.
Segue as mesmas regras o predicativo expresso pelos substantivos variáveis em gênero e número.
Exemplo:
- Temiam que as tomassem por malfeitoras.
Concordância do particípio passivo
Na voz passiva, o particípio concorda em gênero e numero com o sujeito, como os adjetivos.
Exemplo:
- Foi escolhida a rainha da festa.
Quando o núcleo do sujeito é, como no último exemplo, um coletivo numérico, pode-se, em geral, efetuar a concordância com o substantivo que o acompanha.
Exemplo:
- Centenas de rapazes foram vistos pedalando das ruas.
Referindo-se dois ou mais substantivos de gêneros diferentes, o particípio concordará no masculino plural.
Exemplo:
- Atingidos por mísseis, a corveta e o navio foram a pique.
Concordância do pronome com o nome
O pronome, quando se flexiona, concorda em gênero e numero com o substantivo a que se refere.
Exemplo:
- O velho abriu as pálpebras e cerrou-as logo.
O pronome que se refere a dois ou mais substantivos de gêneros diferentes flexiona-se no masculino plural.
Exemplo:
- Trazem presentes e flores e depositam-nos em torno dela.
Os pronomes um… outro, quando se referem a substantivos de gêneros diferentes, concordam no masculino.
Exemplos:
- Marido e mulher viviam em boa harmonia e ajudavam-se um ao outro.
- Nilo e Sônia casaram certo: u>um por amor, o outro, por interesse.
A locução um e outro, referida a indivíduos de sexos diferentes, permanece também no masculino.
Exemplo:
- A mulher do colchoeiro escovou-lhe o chapéu; e quando ele saiu, um e outro agradeceram-lhe muito o acordo feito.
O substantivo que se segue às locuções um e outro e nem um nem outro fica no singular.
Exemplos:
- Um e outro livro me agradaram.
- Nem um nem outro livro me agradaram.
Outros casos de concordância nominal
Anexo, incluso, leso: como adjetivos, concordam com o substantivo em gênero e número.
Exemplos:
- Anexa à presente, vai a relação das mercadorias.
- Remeto-lhe, inclusa, uma fotocópia do recibo.
- Os crimes de lesa-majestade eram punidos com a morte.
A olhos vistos: locução adverbial invariável. Significa visivelmente.
Exemplo:
- Lúcia emagrecia a olhos vistos.
Só: como adjetivo, no sentido de sozinho, concorda em número com o substantivo. Quando equivalente a apenas, somente, é invariável.
Exemplos:
- Elas só passeiam de carro.
- Eles estavam a sós, na sala iluminada.
Possível: usado em expressões superlativas, esse adjetivo ora aparece invariável, ora flexionado.
Exemplos:
- Essas frutas são as mais saborosas possível.
- Ele escolhia as tarefas menos pensas possíveis.
Adjetivos adverbiados: certos adjetivos como sério, claro, caro, barato, alto, raro, quando usados com a função de advérbios terminados em –mente, ficam invariáveis.
Exemplos:
- Vamos falar sério.
- Penso que falei bem claro, disse a secretária.
- Estas aves voam alto.
- Esses produtos vão custar mais caro
- Honestidade e sinceridade são valores cada vez mais raros.
Todo: no sentido de inteiramente, completamente, costuma-se flexionar, embora seja advérbio.
Exemplos:
- As meninas iam todas de branco.
- Fiquei com os cabelos todo sujos de terra.
Alerta: pela sua origem, é advérbio e, portanto, invariável.
Exemplos:
- Estamos alerta.
- Nossos chefes estão alerta.
Meio: usada como advérbio, no sentido de um pouco, esta palavra é invariável.
Exemplo:
- A porta estava meio aberta.
Bastante: varia quando adjetivo, sinônimo de suficiente. Fica invariável quando advérbio, caso em que modifica um adjetivo.
Exemplos:
- Não havia provas bastantes para condenar o réu.
- As cordas eram bastante fortes para aguentar o peso.
Menos: é palavra invariável.
Exemplos:
- Gaste menos água.
- À noite, há menos pessoas na praça.
2. Concordância verbal
O sujeito simples
O verbo concorda em número e pessoa.
Exemplos:
- As saúvas eram uma praga.
- Acontecem tantas desgraças nesse planeta!
O sujeito composto e da 3a pessoa
O sujeito, sendo composto e anteposto ao verbo, leva geralmente este para o plural.
Exemplo:
- A esposa e o amigo seguem sua marcha.
É lícito, mas não obrigatório, deixar o verbo no singular:
- Quando os núcleos do sujeito são sinônimos. Exemplo: A decência e a honestidade ainda reinava.
- Quando os núcleos do sujeito formam sequência gradativa. Exemplo: Uma ânsia, uma aflição, uma angústia repentina começou a me apertar a alma.
Sendo o sujeito composto e posposto ao verbo, esse poderá concordar no plural ou com o substantivo mais próximo.
Exemplo:
- Não fossem o rádio de pilha e as revistas, que seria de Elisa?
O sujeito composto e de pessoas diferentes
Se o sujeito composto for de pessoas diversas, o verbo se flexiona no plural e na pessoa que tiver prevalência. [1a pessoa prevalece sobre a 2a e a 3a; a 2a prevalece sobre a 3a]
Exemplos:
- Você e meu irmão não me compreendem.
- Tu e ele partireis juntos.
- Foi o que fizemos Julia e Eu.
Alguns casos especiais de concordância verbal
Núcleos do sujeito unidos por ou.
Se a conjunção ou indicar exclusão ou retificação, o verbo concordará com o núcleo do sujeito mais próximo.
Exemplo:
- Paulo ou Antônio será o presidente.
O verbo irá para o plural se a ideia por ele expressa se referir ou puder ser atribuída a todos os núcleos do sujeito.
Exemplo:
- Naquela crise, só Deus ou Nossa Senhora podiam acudir-lhe.
Núcleos do sujeito unidos pela preposição com
Usa-se mais frequentemente o verbo no plural quando se atribui a mesma importância, no processo verbal, aos elementos do sujeito unidos pela preposição com.
Exemplo:
- Manuel com seu compadre construíram barracão.
Pode-se usar o verbo no singular quando se deseja dar relevância ao primeiro elemento do sujeito e também quando o verbo vier antes deste.
Exemplo:
- O bispo, com dois sacerdotes, iniciou solenemente a missa.
Núcleos do sujeito unidos por nem
Quando o sujeito é formado por núcleos no singular unidos pela conjunção nem, usa-se, comumente, o verbo no plural.
Exemplo:
- Nem a riqueza nem o poder o livraram de seus inimigos.
É preferível a concordância no singular quando o verbo precede o sujeito.
Exemplo:
- Não o convidei eu nem minha esposa.
Quando há exclusão, isto é, quando o fato só pode ser atribuído a um dos elementos do sujeito.
Exemplo:
- Nem Berlim nem Moscou sediará a próxima Copa.
Núcleos do sujeito correlacionados
O verbo vai para o plural quando os elementos do sujeito composto estão ligados por uma das expressões correlativas não só… mas também, não só como também, tanto… como.
Exemplo:
- Não só a nação, mas também o príncipe estariam pobres.
Sujeitos resumidos por tudo, nada e inclusive
O verbo concorda, no singular, com o pronome resumidor.
Exemplo:
- Jogos, espetáculos, viagens, diversões, nada pôde satisfazê-lo.
Núcleos do sujeito no infinitivo
O verbo concordará no plural se os infinitivos forem determinados pelo artigo ou exprimirem ideias opostas; caso contrario, tanto é lícito usar o verbo no singular como no plural.
Exemplos:
- O comer e o beber são necessários.
- Rir e chorar fazem parte da vida.
Sujeito coletivo
O verbo concorda no singular com o sujeito coletivo no singular.
Exemplos:
- A multidão vociferava ameaças.
- O exército dos aliados desembarcou no sul da Itália.
A maior parte de, grande número de
Permitem as duas concordâncias, dependendo da ênfase que se quer dar.
Exemplos:
- A maior parte dos indígenas respeitava o pajé.
- Grande parte dos atuais governantes são corruptos.
Um e outro, nem um nem outro
O sujeito sendo uma dessas expressões, o verbo concorda, de preferência, no plural.
Exemplos:
- Uma e outra família tinham (ou tinha) parentes no Rio.
- Nem uma nem outra foto prestavam (ou prestava).
Um ou outro
O verbo concorda no singular.
Exemplo:
- Respondi-lhe que um ou outro colar lhe ficava bem.
Um dos que, uma das que
Quando, em orações adjetivas restritivas, o pronome que vem antecedido de um dos ou expressão análoga, o verbo da oração adjetiva flexiona-se no plural.
Exemplo:
- O príncipe foi um dos que despertaram mais cedo.
Mais de um
O verbo concorda, em regra, no singular. O plural será de rigor se o verbo exprimir reciprocidade, ou se o numeral for superior a um.
Exemplos:
- Mais de um excursionista já perdeu a vida nesta montanha.
- Mais de um dos circunstantes se entreolharam com espanto.
Pronomes quem e que, como sujeitos
O verbo concorda, em regra, na 3a pessoa.
Exemplos:
- Sou eu quem responde pelos meus atos.
- Eu sou o que presenciou o fato.
A regra também permite algumas concordâncias de ênfase com o sujeito da ação principal.
Exemplo:
- Sou eu quem prendo aos céus a terra.
Concordância com os pronomes de tratamento
Exige o verbo na 3a pessoa, embora se refiram à 2a pessoa do discurso.
Exemplo:
- Vossa Excelência agiu com moderação.
Concordância com certos substantivos próprios no plural
Certos substantivos próprios de forma plural levam o verbo para o plural quando são usados com artigo; caso contrario, o verbo concorda no singular.
Exemplo:
- Os Estados Unidos são o país mais rico do mundo.
- Campinas orgulha-se de ter sido o berço de Carlos Gomes.
É preferível e comum deixar o verbo no singular quando esse se relaciona com titulo de obras.
Exemplo:
- “Os Lusíadas” é um clássico da literatura.
Verbos impessoais
Os verbos haver, fazer (na indicação de tempo), passar de (na indicação de horas), chover e outros que exprimem fenômenos meteorológicos, quando usados como impessoais, ficam na 3a pessoa do singular.
Exemplos:
- Não havia ali vizinhos naquele deserto.
- Havia já dois anos que não nos víamos.
- Conhecera-o assim, fazia quase vinte anos.
- Quando saí de casa, passava das oito horas.
- Chovera e nevara depois, durante muitos dias.
Haja vista
Pode ser construída de 3 modos.
- Hajam vista os livros desse autor. (= tenham vista, vejam-se)
- Haja vista os livros desse autor. (= por exemplo, veja)
- Haja vista aos livros desse autor (= olhe-se para, atente-se para)
Concordância com numerais fracionário
A concordância efetua-se com o numerador.
Exemplos:
- Dois terços da população vivem da agricultura.
- Um quinto dos bens cabe ao menino.
Concordância com percentuais
O verbo deve concordar com os números expressos na porcentagem.
Exemplos:
- Só 1% dos eleitores se absteve de votar.
- Só 2% dos eleitores se abstiveram de votar.
Mais de, menos de
o verbo concorda com o substantivo que se segue a essas expressões.
Exemplos:
- Mais de cem pessoas perderam suas casas na enchente.
- Sobrou mais de uma cesta de pães.
Referências
CEGALLA, Domingos P. Novíssima gramática da língua portuguesa. 48o ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.
Por Priscila Nayade
Graduada em Letras Português - Licenciatura (UnB)
Nayade, Priscila. Concordância. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/portugues/concordancia. Acesso em: 04 de December de 2024.
1. [ESAF/2008] Assinale a opção em que a mudança de pessoa verbal provoca erro.
a) Requeremos a pavimentação da rua Vicente de Carvalho. – Requeiro a pavimentação da rua Vicente de Carvalho.
b) Apesar do espaço pequeno, temos certeza de que cabemos aí. – Apesar do espaço pequeno, tenho certeza de que caibo aí.
c) Se não nos precavemos a tempo, seremos ludibriados. – Se não me precavenho a tempo, serei ludibriado.
d) Graças ao seu auxílio, reaveremos os documentos. – Graças ao seu auxílio, reaverei os documentos.
e) Nós valemos tanto quanto acreditamos ser nosso valor. – Eu valho tanto quanto acredito ser meu valor.
2. [CESGRANRIO/2007] Tendo em vista as regras de concordância, assinale a opção em que qualquer uma das formas entre parênteses pode completar corretamente a lacuna do enunciado.
a) olhos e cabeceira _________(negro / negros);
b) pastel e empada __________(esborrachada / esborrachados):
c) homens e mulheres _______ (fanático / fanáticas);
d) massa e carne __________ (estragada / estragados);
e) ditos e zombaria _________ (desnecessária / desnecessárias).
1. [C]
Na verdade, na língua portuguesa, não existe a concordância “precavenho”. O certo é “precavejo”.
2. [B]
É a única alternativa onde é possível manter as duas concordâncias é esborrachada/esborrachados, já que pode concordar tanto com pastel e empada, por conta do masculino, como esborrachada, concordando com empada.