Três tigres tristes… O sabiá não sabia que o sábio sabia que o sabiá não sabia assobiar… A arara de Araraquara é uma arara rara… O que estes trava-línguas têm a ver com o tema deste tópico? Tudo! Aprenda a seguir o que é aliteração e descubra a relação desse recurso linguístico com a forma popular do trava-língua. Bons estudos!
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O que é aliteração
As palavras que iniciam com o mesmo som ou grupo de sons apresentam aliteração (pato-paca). As aliterações são conhecidas pelo uso da repetição de forma harmoniosa e ritmada. E é um importante recurso linguístico, que compõe o grupo das figuras de linguagem de som/fonética. Um uso desse recurso que pode ter passado despercebido por você é na forma popular do trava-línguas, por exemplo: O rato roeu a roupa do rei de Roma. Aqui tem-se a repetição do som consonantal de “r”.
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Aliteração x assonância
Assonância é uma figura de linguagem de som caracterizada pela repetição de vogais. Já a aliteração é uma figura de linguagem de som que é conhecida pela repetição das consoantes. Assim, não se devem confundir casos de assonância com casos em que ocorre aliteração. Por exemplo, nesta música de Caetano Veloso, tem-se a ocorrência das duas figuras:
Berro pelo aterro, pelo desterro
Berro por seu berro, pelo seu erro
Quero que você ganhe, que você me apanhe
Sou o seu bezerro gritando mamãe
Esse papo meu tá qualquer coisa e você tá pra lá de Teerã
Nesse trecho da canção Qualquer coisa, tem-se tanto a assonância das vogais “e”, quanto a aliteração causada pelo efeito sonoro das consoantes “rr”.
Exemplos de aliteração
A aliteração desloca a linguagem de seu sentido cotidiano e usual e a transforma em possibilidade literária e artística. Esse recurso é muito usado na poesia e música brasileiras. Confira abaixo alguns exemplos do uso dessa figura de linguagem tanto nas canções quanto nas poesias.
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Exemplos de aliteração em músicas
Muito utilizado pela linguagem poética, as aliterações fazem parte do cancioneiro popular brasileiro e pode ser encontrado em várias músicas. Acompanhe:
Já sei namorar
Tô te querendo
Como ninguém
Tô te querendo
Como Deus quiser
Tô te querendo
Como eu te quero
Tô te querendo
Como se quer
(Os Tribalistas)
Chove chuva
Chove chuva
chove sem parar
Chove chuva
chove sem parar
Chove chuva
chove sem parar
(Jorge Ben Jor)
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Pedro Pedreiro
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
(Chico Buarque)
Exemplos de aliteração em poemas
Abaixo, veja o uso desse recurso na poesia brasileira em poemas de Cruz e Souza, Wagner Martins e Castro Alves:
Violões que Choram
“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”
(Cruz e Souza)
Vovó viu a uva
mas não viu o vovô
que viveu a vida
voando
e velejando
em busca de vivas
(Wagner Martins)
Navio Negreiro
Auriverde pendão de minha terra
Que a brisa do Brasil beija e balança
(Castro Alves)
Como você, esse recurso é muito usado na poesia e na música, pois possibilita o deslocamento da linguagem cotidiana para o plano artístico, transformando-a. Agora, você poderá conferir os vídeos que tratam desse tema para consolidar seu aprendizado.
Vídeos sobre aliteração
Confira os vídeos a seguir para sanar as suas dúvidas e aprofundar seus conhecimentos:
Resumo: o que é aliteração
Nesse vídeo didático e curto, o professor Martins ensina o conceito do que é a figura de linguagem de som “aliteração”. Além disso, ele apresenta exemplos para explicar o funcionamento desse recurso.
Exemplo de aliteração
Nesse vídeo, o professor Laércio explica essa figura de linguagem por meio de um exemplo bem simples. Assista ao vídeo e aproveite para revisar o conteúdo estudado.
Diferenças entre as figuras de linguagem
Nesse vídeo, a professora Milena Marães explica as figuras de linguagem assonância, aliteração e paronomásia. Veja a aula e aprenda com os exemplos as características de cada figuras de linguagem de som.
Se você gostou de aprender mais sobre a aliteração, então confira o que é uma Hipérbole e bons estudos!
Referências
Consciência fonológica: rimas e aliterações no português brasileiro (2003) – Gabriela Castro de Freitas.
Por Beatriz Yoshida Protazio
O bom e velho Guimarães Rosa definiu bem: “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita”. Doutoranda em Letras (PLE/UEM).
Yoshida Protazio, Beatriz. Aliteração. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/portugues/aliteracao. Acesso em: 21 de November de 2024.
1. [USF-SP]
Leia estes versos:
“As ondas amarguradas
Encostam a cabeça nas pedras do cais.
Até as ondas possuem
Uma pedra para descansar a cabeça.
Eu na verdade possuo
Todas as pedras que há no mundo,
Mas não descanso”.
(Murilo Mendes)
A figura de linguagem que ocorre nos versos 5 e 6 é:
a) metáfora
b) sinédoque
c) hipérbole
d) aliteração
e) anáfora
A resposta correta é a letra c) hipérbole, visto que há um exagero na expressão do eu lírico que fiz que possui “todas as pedras que há no mundo”, não sendo isto realmente possível.
2. [UFPA]
Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
(MELO, João Cabral de. In: Poesias Completas. Rio de Janeiro, José Olympio, 1979)
Nos versos:
“E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo…”
tem-se exemplo de:
a) eufemismo.
b) antítese.
c) aliteração.
d) silepse.
e) sinestesia.
A resposta correta é a letra c) aliteração, haja vista que o que confere a harmonia e ritmo ao trecho destacado do poema de João Cabral é a repetição da consoante “t”.
3. [CEAP-AP - adaptada]
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar, convulso…
Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.
Nessa famosa estrofe do simbolista Cruz e Souza, a musicalidade se expressa por conta de:
a) metáfora
b) sinestesia.
c) aliteração
d) metonímia
e) pela repetição das palavras vozes e violões.
A resposta correta é a letra c) aliteração. A musicalidade da estrofe do poema de Cruz e Souza se expressa por conta da figura de linguagem de som “aliteração”, que é a repetição do consonantal, neste caso, da consoante “v”.