O simbolismo refere-se a uma estética literária predominante durante o século XIX, opondo-se à objetividade parnasiana, apresentando uma renovação do romantismo. Sua origem se deu na França, e, mesmo lá, onde surgiu, o simbolismo foi um movimento bastante conturbado e relativamente curto.
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Características do Simbolismo
O simbolismo apresenta uma linguagem simbólica e sugestiva, e os textos são desenvolvidos com subjetividade. São características marcantes dessa fase literária o antimaterialismo, o antirracionalismo, a religiosidade e o misticismo, o transcendentalismo, o interesse intenso pelo inconsciente e subconsciente, bem assim pela loucura e pelo onírico, e a utilização de metáforas, assonâncias, aliterações e sinestesias.
Simbolismo se difunde
Ainda que tenha tido destaque na Europa quando comparado ao parnasianismo, no Brasil o movimento não teve tanto destaque, ganhando a simpatia somente das camadas mais cultas, principalmente em decorrência da preocupação com a estética, da métrica e da linguagem.
É claro que, ainda que tenha sobrevivido às sombras da outra escola literária, o simbolismo trouxe contribuições bastante significativas, principalmente como prenúncio dos movimentos literários presentes no século XX.
Alguns estudiosos afirmam, inclusive, que o movimento não teve grande desenvoltura no Brasil em decorrência da temática que, aparentemente, se distanciava muito dos problemas sociais enfrentados no país na época. Pode-se dizer, entretanto, que foi o simbolismo que abriu as portas para o modernismo.
No Brasil
Com início no ano de 1893, o Simbolismo chegou ao Brasil e teve como marco inicial, segundo estudiosos, a publicação de duas obras de Cruz e Souza, a saber Missal, e Broquéis, esta última de poemas.
As obras de João da Cruz e Souza, precursor do simbolismo, teve suas obras marcadas pela sensibilidade, espiritualidade, misticismo e religiosidade, tendo como temas principais a morte, a solidão, o amor e o sofrimento.
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Augusto dos Anjos também foi um dos grandes poetas brasileiros deste período literário, ainda que sua obra, de acordo com os críticos literários, apresentem um cunho pré-moderno em alguns casos. Seus poemas exploravam temas sombrios, motivos pelos quais ficou conhecido como o “Poeta da Morte”.
Além destes, Alphonsus de Guimarães também foi um grande poeta do período, escrevendo sua primeira obra no ano de 1899. Com a temática da loucura e da espiritualidade, Ismália é um de seus poemas considerados ícones da estética, apresentando versos em redondilha maior e rima regular.
Podemos citar ainda como importantes autores do período Gilka Machado, que publicou sua primeira obra em 1915, carregado de tom sensual, sendo, inclusive, comparada à Florbela Espanca.
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Referências
CASTELLO, Jose Aderaldo. Presença da Literatura brasileira: Do Romantismo ao simbolismo. Rio de Janeiro, Difel, 1978, pp 99-23.
Por Natália Petrin
Formada em Publicidade e Propaganda. Atualmente advogada com pós-graduação em Lei Geral de Proteção de Dados e Direito Processual Penal. Mestranda em Criminologia.
Petrin, Natália. Simbolismo no Brasil. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/simbolismo-no-brasil. Acesso em: 21 de November de 2024.
01. [ENEM] Vida obscura
“Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro
ó ser humilde entre os humildes seres,
embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sofrimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo,
Mas eu que sempre te segui os passos
sei que a cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!
(SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961)
Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Souza transpôs para seu lirismo uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se em:
a) sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação.
b) tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social.
c) extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes.
d) frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais.
e) vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.
02. [ENEM] Cárcere das almas
“Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!”
(CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993. )
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são:
a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.
b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.
c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais.
d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas inovadoras.
e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do cotidiano.
01. [A]
02. [C]