Realismo no Brasil

Com Machado de Assis sendo o maior representante, o Realismo no Brasil foi uma escola literária com valores relacionados à racionalidade e à análise psicológica dos indivíduos em sociedade.

O Realismo no Brasil foi uma escola literária que se consolidou após o Romantismo e o marco inicial ocorreu com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881. Neste texto, você encontrará o contexto histórico do período, as principais características dessa escola literária, bem como seus principais autores e exercícios para fixar o conteúdo.

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Contexto histórico

Para compreender o momento histórico do Brasil durante o Realismo, é preciso revisitar também o que ocorria na Europa durante o período. Em linhas gerais, a segunda metade do século XIX foi marcada por uma série de avanços na ciência e na indústria, além de uma efervescência no âmbito social. A segunda fase da Revolução Industrial atingiu mais países, e tecnologias como a eletricidade, o motor a explosão, a locomotiva a vapor e diversos materiais foram desenvolvidos nesse período. No campo das ideias, o positivismo com Auguste Comte, o determinismo com Hippolyte Taine, o evolucionismo de Charles Darwin e o socialismo científico de Karl Marx foram os principais destaques. Vale frisar que essas teorias influenciaram o Realismo e o Naturalismo. O livro que marcou o início do Realismo na Europa foi Madame Bovary, de Gustave Flaubert.

Já no Brasil, a sociedade caminhava para grandes mudanças sociais e econômicas. Se durante o Romantismo, o sentimento nacionalista era propiciado pela independência; no Realismo, a Guerra do Paraguai (1864 – 1870), a abolição da escravatura (1888) e a Proclamação da República (1889) foram os três acontecimentos que marcaram o período. Ademais, é importante salientar que o Realismo no Brasil, em termos de datas oficiais, durou apenas cerca de vinte anos, durante o período inicial da República Velha, da sedimentação da política do café-com-leite e da tímida instalação de um parque industrial no país. Nesse contexto, a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, é considerada o marco oficial do movimento literário no Brasil.

Características

O Realismo pautou-se, principalmente, na descrição da realidade de forma palpável e objetiva, distanciando-se da idealização do cenário romântico. Os escritores realistas procuravam demonstrar em suas obras a sociedade por uma lente crítica, mas impessoal. A análise dos valores sociais da classe burguesa, que estava em plena expansão, mistura-se com o pessimismo que nasce a partir da racionalidade pelo qual os fatos eram tratados. Nesse sentido, as principais características do Realismo são:

  • Objetividade e impessoalidade: se no Romantismo havia um tom subjetivista nas obras; no Realismo, o escritor deveria manter uma aparente neutralidade diante da narração. Assim, as narrativas em terceira pessoa são predominantes, ao marcar um suposto afastamento do escritor em relação a suas personagens.
  • Racionalismo: foi reflexo das novas teorias que surgiram no fim do século XIX. Os escritores realistas procuravam realizar uma investigação predominantemente racional do caráter dos indivíduos, delineados por seus respectivos grupos sociais.
  • Análise psicológica: a investigação do tópico anterior recai justamente no psicológico das personagens, seus anseios, seus instintos como seres humanos e sua visão de mundo que permeia suas escolhas como indivíduos inseridos em sociedade.
  • Tipificação social: o indivíduo não existe por si só, isto é, sua representação necessita de um vínculo com a realidade do grupo social que ele está inserido. Não há, portanto, um isolamento total entre o ser individual e o ser coletivo.
  • Verossimilhança: o escritor deve reproduzir o mundo a seu redor da forma mais fiel possível. A partir da observação e da experiência, o fantástico e o imaginário ficam em segundo plano; o autor procura sempre dados da realidade para refletir em sua obra os mecanismos que regem a vida em sociedade.
  • Contemporaneidade: no Romantismo, os escritores voltavam com frequência para o passado; no Realismo, o foco recai no contemporâneo, no presente. As personagens e as situações retratadas são diretamente vinculadas aos costumes e aos acontecimentos observados pelo escritor.
  • Ambientação urbana: a cidade é o cenário que se desenvolve grande parte dos romances realistas, pois é nela que o escritor vê a vida social como um todo e procura desmistificá-la.
  • Pessimismo: a partir da observação, os escritores realistas são descrentes em relação aos valores burgueses. Por isso, as críticas são contundentes à classe dominante da época. Com isso, há uma desconstrução de algumas esferas sociais, como a igreja, o casamento e as demais relações intersociais.
  • Perfeição formal: a escrita passa ser vista como trabalho e não apenas como inspiração. Nesse sentido, os escritores realistas procuravam uma adequação total entre a forma e o pensamento, isto é, o cuidado com o como escrever é tão importante quanto o sobre o que escrever.
  • Sensorialismo: para descrever a realidade da forma mais palatável possível, os escritores realistas utilizavam-se de diversas descrições para aproximar as sensações da realidade na escrita.

Como se pode notar, o Realismo possui diversas características que se relacionam, primordialmente, aos avanços científicos e às novas tendências teóricas do século XIX. O olhar crítico em relação à realidade somado à análise psicológica dos sujeitos em sociedade foram os preceitos basilares do movimento literário aqui estudado.

Realismo e Naturalismo

O Realismo ocorreu juntamente com outra escola literária: o Naturalismo. Todavia, é necessário distinguir os dois movimentos e não os confundir, apesar da proximidade entre eles. Primeiramente, o Realismo propunha uma análise social de dentro para fora, ou seja, há a pretensão de reformar a sociedade a partir de uma literatura crítica, também chamada de romance de revolução. Já o Naturalismo foca na análise social de fora para dentro e utiliza os romances como vitrine para as diversas teorias que surgiram no século XIX, ao construir o chamado romance de tese.

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Além disso, se no Realismo havia uma preocupação com a análise psicológica das personagens; no Naturalismo, a descrição do coletivo sobrepunha a do individual. É importante salientar que os escritores realistas utilizavam a tipificação social como elemento de suas obras, mas esse aspecto não substituía, como nos naturalistas, o olhar para o interior dos sujeitos narrados.

Por fim, a partir da objetividade, os realistas permitiam que os leitores tirassem as próprias conclusões em relação ao material lido. Por outra lado, os naturalistas guiavam o leitor para uma conclusão específica, o que empobrece o texto no nível interpretativo.

Principais autores e obras do Realismo brasileiro

O Realismo no Brasil foi um movimento prolífico em autores e permitiu uma consolidação ainda maior da literatura brasileira. Nesse sentido, o principal nome do período foi Machado de Assis, porém é possível citar outros autores, como Raul Pompéia, Manuel de Oliveira Paiva e Domingos Olímpio.

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Machado de Assis: o maior nome do Realismo no Brasil

Machado de Assis é considerado o maior ficcionista brasileiro e sua obra redefiniu a produção literária no Brasil. O autor fluminense mergulhou, em sua segunda fase, na hipocrisia latente da sociedade burguesa da época e entregou obras-primas, como Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. Além disso, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Além de romancista, foi contista, cronista, poeta, tradutor e dramaturgo. As principais características de sua obra são: a análise psicológica; a destruição da narrativa linear; a dualidade entre aparência e essência; a análise dos valores sociais; o pessimismo; o humor; a desfaçatez de classe e a perfeição expressiva.

Outros escritores realistas brasileiros

Além de Machado de Assis, o Realismo no Brasil contou com outros autores. É possível citar três que ganharam notoriedade durante o período.

  • Raul Pompéia: o autor também escreveu poemas e uma novela, mas O Ateneu (1888) é o título mais lembrado, sendo considerado um romance singular na literatura brasileira. A corrupção, a dissolução de todos os valores, a degradação e a linguagem denominada prosa artística são as principais características de sua obra.
  • Manuel de Oliveira Paiva: escritor cearense, fixa sua obra no sertão nordestino. Funde a descrição física com a análise psicológica das personagens afetadas pelo meio que vivem. Não publicou nenhuma obra em vida, mas seus principais romances, Dona Guidinha do Poço e A Afilhada, foram editados postumamente.
  • Domingos Olímpio: também cearense, o autor se vinculou ao realismo sertanejo. O escritor foca na força das personagens flageladas pela seca. Sua principal obra é Luzia-Homem (1903).

É importante ressaltar que, por exemplo, Manuel de Oliveira Paiva e Domingos Olímpio são enquadrados como naturalistas por alguns críticos literários. Isso se deve, principalmente, pela proximidade entre o Realismo e o Naturalismo. Por isso, é sempre bom frisar: o caráter didático das escolas literárias não substitui os períodos de transição, isto é, vários autores podem ser influenciados por várias correntes artísticas.

Vamos revisar o conteúdo?

O Realismo no Brasil foi um período rico em escritores e em abordagens temáticas, além de ser o berço do maior ficcionista brasileiro, Machado de Assis. Nos vídeos abaixo, você poderá revisar sobre esse movimento literário, seu principal autor e a obra que marcou o início formal do período no Brasil.

O Realismo no Brasil

O que foi o Realismo? Quais são suas principais características como movimento literário? Neste vídeo, você poderá ter a resposta para essas perguntas e sedimentar seu conhecimento sobre o assunto.

Quem foi Machado de Assis?

Machado de Assis é considerado o maior escritor brasileiro e possui diversas obras publicadas. Neste vídeo, exibido originalmente na TV Escola, você assistirá um apanhado geral sobre a obra machadiana.

Qual foi a principal obra do Realismo no Brasil?

Neste vídeo, você poderá acompanhar um resumo e uma análise da maior obra do Realismo no Brasil, Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Assim, o Realismo é um movimento riquíssimo e auxiliou, assim como o Romantismo, na consolidação de uma literatura propriamente nacional. Machado de Assis, principal nome dessa escola literária, é reconhecido internacionalmente como um dos maiores escritores em língua portuguesa, o que demonstra a força da era realista no Brasil.

Referências

Curso de literatura brasileira – Sergius Gonzaga;
História concisa da literatura brasileira – Alfredo Bosi;
Literatura – Fábio D’Ávila. E Danton Pedro dos Santos;
O ambiente do realismo literário no Brasil – Júlio César Tavares Dias.

Leonardo Ferrari
Por Leonardo Ferrari

Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá. É professor assistente em colégio de ensino médio. Nas horas livres, dedica-se à família, aos amigos, à sétima arte e à leitura.

Como referenciar este conteúdo

Ferrari, Leonardo. Realismo no Brasil. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/realismo-no-brasil. Acesso em: 21 de November de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UNIRIO]

Sobre o Realismo, assinale a alternativa correta.
a) O romance é visto como distração e não como meio de crítica às instituições sociais decadentes.
b) Os escritores realistas procuram ser pessoais e objetivos.
c) O romance sertanejo ou regionalista originou-se no Realismo.
d) O Realismo constitui uma oposição ao idealismo romântico.
e) O Realismo vê o Homem somente como produto biológico.

Correta: d.
Justificativa: Em relação às alternativas incorretas: o romance era visto como uma forma de criticar e ser um vetor de mudança social (romance de revolução) para os realistas (letra a); os escritores realistas procuravam marcar uma impessoalidade em relação aos textos que produziam (letra b); já havia exemplares de romances regionalistas no Romantismo (letra c); o Naturalismo possuía a visão de homem como produto biológico (letra e). Portanto, a letra d é a correta, pois as características relacionadas ao racionalismo contrapunham o idealismo romântico.

2. [UMC-SP]

Sobre o Realismo pode-se afirmar:
I. o Realismo e o Naturalismo são introduzidos em 1881 com as obras Memórias Póstumas de Brás Cubas e O Mulato.
II. no Realismo há predomínio da análise psicológica e no Naturalismo, da análise científica.
III. o melhor da produção realista está na poesia.

a) são corretas as afirmações II e III.
b) apenas a afirmação I é correta.
c) as três afirmações são corretas.
d) são corretas as afirmações I e II.
e) as três afirmações são incorretas.

Correta: d.
Justificativa: Apenas a III está incorreta, pois a produção em prosa no Realismo foi a mais substancial. Pode-se elencar obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e O Ateneu.

3. [FCC-MG]

Assinale a alternativa onde estão indicados os textos que analisam corretamente alguns aspectos do romance realista.
I. As personagens independem do julgamento do narrador, reagindo cada uma de acordo com sua própria vontade e temperamento.
II. A linguagem é praticamente poeticamente elaborada nos diálogos, mas procura alcançar um tom coloquial, com traços da oralidade, nas partes narrativas e descritivas.
III. Observa-se o predomínio da razão e da observação sobre o sentimento e a imaginação.

a) I, II e III.
b) I e II.
c) II e III.
d) I e III.
e) II.

Correta: d.
Justificativa: Apenas a II está incorreta, pois os escritores realistas procuravam elaborar suas obras com o máximo de perfeição estética possível. Isso descarta, em termos puristas, o tom coloquial e a oralidade.

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