Nelson Rodrigues foi dramaturgo, romancista, cronista, contista e jornalista. Sua obra é extensa e o autor é considerado o maior nome do teatro no Brasil. Controverso, é conhecido pelo seu humor ácido e politicamente incorreto. Neste texto, você conhecerá mais sobre a vida e as principais características da obra desse notável teatrólogo.
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Biografia
Nelson Falcão Rodrigues nasceu na cidade de Recife no dia 23 de agosto de 1912. Filho de Mário Rodrigues, influente jornalista da época, e Maria Esther, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1916. O início de sua carreira deu-se como repórter pelo jornal A Manhã. Seu irmão, Roberto Rodrigues, foi assassinado em 1929 e, um ano após, seu pai faleceu. No mesmo ano, começou a trabalhar para O Globo. Em 1949, casou-se com Elza Bretanha.
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Em 1942, estreou sua peça A mulher sem pecado e, no ano seguinte, Vestido de noiva, sua obra mais famosa. Em 1946, uma de suas peças, Álbum de família, foi censurada. A vida como ela é…, futura coletânea de contos, começou a ser publicada no jornal Última Hora, em 1951. Sua filha, Daniela Rodrigues, nasceu em 1963, mas viveu sua vida acamada devido à paralisia cerebral e ficou conhecida como a menina sem estrela.
O casamento, seu romance mais famoso, foi lançado em 1966, mas foi censurado logo em seguida. Seu filho, Nelson Rodrigues Filho, foi detido e preso devido ao seu envolvimento com grupos contrários ao governo militar. Sua última peça, A serpente, foi lançada em 1978. O dramaturgo pernambucano morreu dois anos após, em 21 de dezembro de 1980, aos 68 anos.
Características da obra de Nelson Rodrigues
Autor modernista, Nelson Rodrigues, em sua extensa produção, escreveu crônicas, romances e peças teatrais. O dramaturgo revolucionou o teatro brasileiro, principalmente pelo mergulho no psicológico das personagens e pelas técnicas utilizadas para compor o espaço de suas produções. A influência de Freud em suas peças é notável, constrói figuras arquetípicas e sonda seu consciente e subconsciente.
Mergulho no psicológico das personagens
As peças de teatro de Nelson Rodrigues colocam em primeiro plano o psicológico das figuras apresentadas. Não é apenas uma análise comportamental padrão, pois o autor destrói determinadas convenções e aproxima as personagens de um mundo destruído e, a partir desse ponto, revela seus instintos, mesmo os mais doentios.
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Obsessão pelo sexo
O afastamento dos valores patriarcais e cristãos e o apego à teoria freudiana resultam na formação de narrativas em que o sexo é tratado com certo protagonismo. Essa característica, porém, não torna Nelson Rodrigues um autor de peças eróticas ou ainda pornográficas, pois as figuras apresentadas em suas obras são vítimas de paixões arrebatadoras e, ao mesmo tempo, ruinosas.
Comportamento obsessivo e paranoico das personagens
As peças de teatro de Nelson Rodrigues tendem a ser complexas em sua encenação justamente por essa característica. A natureza humana é retratada pelos seus instintos, muitas vezes abomináveis. Esse comportamento leva as figuras criadas pelo dramaturgo ao suicídio, ao adultério, à neurose ou à loucura. O homem moderno, portanto, recai como vítima de suas próprias ações.
Outras características
- Clima mórbido: a morbidez está relacionada ao comportamento das personagens, que ao seguirem seus instintos, criam ambientes nos quais diversas convenções sociais são quebradas.
- Diálogos enxutos e multiplicidade de ações: o ritmo das peças de Nelson Rodrigues é ágil e direto; mas, ao mesmo tempo, composto de diversos núcleos narrativos.
- Trama folhetinesca: enredo focado no dia a dia, mas que ganha profundidade pela construção de dilemas morais e marcas das dualidades das personagens.
Além de dramaturgo, Nelson Rodrigues também se destacou como cronista. Entre as peculiaridades de suas crônicas, é possível citar também a criação de frases de efeito, o retrato iconoclasta dos costumes da sociedade brasileira e a fusão entre personagens reais e fictícias.
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Obras mais importantes
Destaque como teatrólogo e cronista, Nelson Rodrigues produziu muito ao longo de sua carreira. Seu legado conta com 17 peças publicadas, além de crônicas, contos e romances. As listas abaixo apresentarão a divisão comumente encontrada para a extensa obra do autor pernambucano.
No teatro
- Peças psicológicas: A mulher sem pecado (1941); Vestido de noiva (1943); Valsa nº 6 (1951); Viúva, porém honesta (1957); Anti-Nelson Rodrigues (1973). O enredo recai nos anseios e medos do homem dentro de uma sociedade hipócrita e decadente.
- Peças míticas: Álbum de família (1945); Anjo Negro (1947); Senhora dos afogados (1947); Doroteia (1949). São obras focadas nos instintos humanos e na análise da origem deles.
- Tragédias cariocas: A falecida (1953); Perdoa-me por me traíres (1957); Os sete gatinhos (1958); Boca de ouro (1959); Beijo no asfalto (1960); Otto Lara Resende ou Bonitinha mas ordinária (1962); Toda nudez será castigada (1965); A serpente (1978). As peças focam no mundo moderno e o desmascara, principalmente em relação à futilidade presente nele.
A principal peça de Nelson Rodrigues, Vestido de noiva, originalmente dirigida pelo diretor polonês Ziembinski, ganhou notoriedade rapidamente e se tornou a principal obra do autor. O enredo foca em Alaíde e seu processo de rememoração de fatos passados. A peça possui três planos: a realidade, a alucinação e a memória.
Na crônica
- Crônicas esportivas: Nelson Rodrigues era apaixonado por futebol, mas em suas crônicas não era o esporte em si que saltava aos olhos. A partir de metáforas, o autor focava nas batalhas primordiais do homem, de sua existência.
- Crônicas sociais e comportamentais: o autor nunca se posicionou plenamente em relação à ditadura militar, mas sempre fez críticas à esquerda brasileira. Além disso, sentia saudades da Belle Époque e via um Brasil que se perdeu em sua modernidade.
- Crônicas memorialistas: são crônicas que se passam na época de Machado de Assis, especificamente no Rio de Janeiro. Escritas com extremo lirismo, as memórias de Nelson Rodrigues perpassam a visão de um menino e sua visão saudosista do mundo.
Os principais livros de crônicas de Nelson Rodrigues são O óbvio ululante (1969), A cabra vadia (1970) e O reacionário (1977). Entre seus contos, o mais notório é a série A vida como ela é…, publicada pelo jornal Última Hora.
Frases de Nelson Rodrigues
Nelson Rodrigues era conhecido pela sua acidez, pelo humor politicamente incorreto e dono de expressões provocantes. Abaixo você poderá ler alguns trechos de diversas obras do autor pernambucano. Repare como não há uma idealização plena dos sentimentos; mas, sim, uma relação deles com elementos contrários em essência.
- O amoroso é sincero até quando mente. (O reacionário)
- Só acredito em amor que chora. (O berro impresso das manchetes)
- Há no ódio mais obstinação, mais exclusividade, mais fidelidade do que no amor. (A vida como ela é…)
- Tudo é falta de amor: um câncer no seio ou um simples eczema é o amor não possuído! (Perdoa-me por me traíres)
- Antigamente, havia, em torno de um beijo, todo um sigilo, toda uma solidão. (A cabra vadia)
- A fidelidade devia ser uma virtude facultativa. (A mulher sem pecado)
- O que estraga o adultério é a clandestinidade. (Viúva, porém honesta)
Há na escrita do dramaturgo sempre uma acidez e marcas de pessoalidade inconfundíveis. São, em geral, frases de efeito, na maior parte do tempo divertidas, mas nem sempre consideradas de bom gosto.
Conheça mais sobre o autor
O teatro brasileiro sofreu uma grande mudança após o trabalho de Nelson Rodrigues e suas obras influenciaram enormemente a produção teatral brasileira. Nos vídeos abaixo, você poderá acompanhar um pouco mais sobre a carreira do dramaturgo e algumas opiniões sobre sua produção artística.
O teatro de Nelson Rodrigues
Ruy Castro, autor da biografia O anjo pornográfico, apresenta um pouco sobre a obra e as influências de Nelson Rodrigues.
Uma conversa sobre Nelson Rodrigues
Neste vídeo, o filósofo Luiz Felipe Pondé e os jornalistas Carlos Graieb e Jerônimo Teixeira conversam sobre a extensa obra de Nelson Rodrigues. É possível verificar como o autor é reconhecido como o maior dramaturgo do Brasil.
Nelson Rodrigues por Luiz Felipe Pondé
Luiz Felipe Pondé, proeminente filósofo, fala um pouco sobre o porquê de ele gostar tanto do teatrólogo brasileiro. Pondé pontua sobre a construção das personagens de Nelson Rodrigues e sua relação com o mundo.
Portanto, Nelson Rodrigues é reconhecido como o maior dramaturgo brasileiro e influenciou enormemente a produção teatral no Brasil. Suas obras compostas por um ritmo ágil e multiplicidade de ações, mas focadas na psicologia das personagens, mostram-se complexas e são sempre revisitadas por essas características.
Referências
Curso de literatura brasileira – Sergius Gonzaga;
Nelson Rodrigues – Site Oficial.
Por Leonardo Ferrari
Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá. É professor assistente em colégio de ensino médio. Nas horas livres, dedica-se à família, aos amigos, à sétima arte e à leitura.
Ferrari, Leonardo. Nelson Rodrigues. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/nelson-rodrigues. Acesso em: 21 de November de 2024.
1. [FCC/BA]
Peça de Nelson Rodrigues que se desenvolve em diferentes planos: o da vida real, concreta, objetiva; o da vida da imaginação, desregrada, liberta. Consiste no que se pode chamar de “tragédia da memória” e afirmou-se como um marco do teatro moderno brasileiro. Trata-se de:
a) Álbum de família
b) A falecida.
c) Vestido de noiva.
d) Navalha na carne.
e) Beijo no asfalto.
Correta: c.
Justificativa: A peça Vestido de noiva, encenada originalmente em 1943, é considerada um dos marcos do teatro nacional.
2. [UFAC]
Em Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues, observa-se a instauração de 3 planos distintos de ações. Considerando essa afirmativa, marque a alternativa que se relaciona corretamente com a obra.
a) Não há nenhuma relação evidente entre esses planos.
b) No plano da realidade, os conflitos familiares da protagonista são expostos.
c) No plano do delírio, a protagonista revela toda sua verdadeira natureza.
d) No plano da realidade, a protagonista encontra as respostas que busca.
e) No plano da memória, a protagonista resgata aspectos de sua vida.
Correta: e.
Justificativa: É nesse plano que Alaíde busca reordenar sua memória em relação às cenas do dia do casamento. Em relação às incorretas: a) todos os planos são interligados; b e d) essa parte é o início da obra no qual o foco é apenas o acidente e as consequências imediatas; c) a protagonista revela apenas uma parte específica de sua natureza, relacionada à sexualidade da personagem.