Lygia Fagundes Telles

Conhecida por fazer parte da Geração de 45, Lygia Fagundes Telles é uma das grandes escritoras da literatura brasileira. Suas obras retratam questões existenciais de maneira intimista.

Lygia Fagundes Telles é uma escritora consagrada na produção literária do Brasil. Seu nome ganhou importância política e social através da grande projeção de suas obras. Atualmente, ela é reconhecida e cobrada em diversas provas.

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A autora é considerada uma das representantes, na literatura brasileira, do pós-modernismo ou pós-Segunda Guerra Mundial. É influenciada por escritores como Marcel Proust e Virginia Wolf. Confira a seguir um resumo sobre sua vida e obra.

Biografia

Lygia Fagundes Telles nasceu em 1923 na cidade de São Paulo em uma família letrada. Começou a publicar livros desde muito nova, lançando textos que inicialmente foram considerados imaturos.

Foi com a publicação de seu primeiro romance, Ciranda de pedra, em 1954, que a autora foi reconhecida. Hoje, ela é legitimada como uma referência na literatura brasileira dos séculos XX e XXI.

Se formou na Escola Superior de Educação Física e na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Chegou a ocupar, em 1982, a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras e, em 1985, a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras. Em 2016, foi indicada ao Nobel de Literatura.

Características gerais de sua obra

Lygia Fagundes Telles faz parte da história da literatura brasileira marcada pelo fim da Segunda Guerra Mundial e uma série de mudanças políticas no país, como a redemocratização. Esse contexto proporcionou a produção de um tipo de literatura específico.

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A autora recorrentemente traz dramas de uma classe média e urbana. Esse grupo, com suas aparências diante da sociedade, enfrenta questões existenciais essencialmente humanas – o que é, entretanto, geralmente escondido por baixo dessas máscaras sociais.

A seguir, veremos alguns dos traços possíveis de serem apontados na obra da autora. Entretanto, é necessário lembrar que essas características não esgotam as possibilidades de interpretação da vasta produção literária de Telles.

Existencialismo

A obra de Lygia Fagundes Telles é descrita por muitos especialistas como existencialista. Essa classificação se dá porque ela explora as experiências interiores dos personagens, tratando abertamente suas questões existenciais e a busca por um sentido.

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O foco na experiência concreta dos indivíduos é bastante forte na autora, que era antenada em relação às tendências internacionais na literatura. Essa corrente filosófica, o existencialismo, tem como seu grande representante Jean Paul Sartre. Conforme o filósofo,

“[…] o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só posteriormente se define. […] O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo.”

Romance psicológico e fluxo de consciência

Nesse tipo literário, o que predomina é aquele que aborda com profundidade aquilo que se passa na consciência do personagem. Essa característica fica bastante evidente principalmente na obra As Meninas.

Nesse contexto, passam a ser importantes os sonhos, desejos e vontades do personagem, bem como suas percepções sobre o mundo exterior. O fluxo de consciência é uma técnica utilizada para narrar essa gama de pensamentos que se passa na mente humana. Nesse tipo de narrativa, o leitor tem acesso aos pensamentos dos personagens.

A marca feminina

Para alguns intérpretes, é possível sinalizar uma notável marca feminina nas obras de Telles. Isso porque a autora traz questões que dizem respeito à condição das mulheres, como a decadência do ideal romântico que dita que as moças devem se apaixonar, casar e procriar.

A complexidade das personagens femininas presentes na obra da autora também é notável. Estão presentes, por exemplo, o estereótipo de uma moça dócil em relação ao homem, reservada em relação às temáticas sexuais e esperançosa em relação ao matrimônio.

Além disso, há um tipo de escrita que remete ao modo intimista, confessional e bastante ligado a uma linguagem oral. Nesse estilo, a autora traz a complexidade e a diversidade das questões existenciais de suas personagens, revelando a difícil busca da mulher por uma identidade feminina.

A obra de Lygia Fagundes Telles, portanto, é bastante densa e traz uma perspectiva própria sobre as questões existenciais e sociais de sua época. Nesse sentido, ela mesma se considera uma autora engajada e compromissada em trazer à tona problemas coletivos que dizem respeito às desigualdades sociais.

Obras mais importantes

É possível elencar algumas das obras mais importantes de Lygia Faguntes Telles, em parte pela relevância e o reconhecimento destas. A seguir, há uma lista de obras e uma pequena descrição acerca de cada.

Ciranda de Pedra (1954)

É considerado o romance de estreia da autora. Nele é contada a história da personagem Virgínia, da infância até a adolescência. Segundo Telles, Virgínia é a mais instigante de suas personagens. Na trama, ela vive a solidão e a infelicidade de viver em duas casas diferentes, uma de sua mãe e outra de seu pai.

Antes do Baile Verde (1970)

Esta obra trata-se de uma coletânea de contos, sendo também o nome dado a um deles. Nesse conto, a autora trabalha com o sentimento de dever da personagem Tatisa, colocando em choque a moral e as vontades individuais: a personagem, durante o carnaval, dá prioridade ao namorado em detrimento ao pai enfermo.

As Meninas (1973)

É o terceiro romance de Lygia Fagundes Telles, que repete, como em Ciranda de Pedra, um modelo de triângulo de personagens femininas: Lorena, Lia e Ana Clara. Esse livro foi escrito no período de maior repressão na Ditadura Militar no Brasil.

Seminário dos Ratos (1977)

É um conto que dá também o nome a uma coletânea. Nele há uma referência, mesmo que indiretamente, a um contexto político no Brasil chamado de o “milagre brasileiro.”

A Disciplina do Amor (1980)

Chamado pela própria autora como seu livro favorito, A disciplina do amor é uma obra confessional. Telles escreve, dentre várias questões, acerca de sua formação, o feminismo, o amor e a influência do romantismo.

As Horas Nuas (1989)

Esse é seu quarto romance, premiado com o Prêmio Pedro Nava de Melhor Livro do Ano e considerado também o melhor livro de toda a sua obra por alguns especialistas. Nele narra-se a história de uma artista decadente que se entrega ao alcoolismo.

Contemporânea, Lygia Fagundes Telles é uma escritora que tematiza importantes questões existenciais para a sociedade de nosso tempo. Assim, sua importância literária não se dissocia das possíveis reflexões que podem surgir a partir de suas obras.

Conheça mais sobre a autora

Toda obra está contextualizada em um tempo histórico, uma cultura, uma sociedade e, inclusive, em um corpo e em uma história de vida. Por isso, para conhecer a autora dos textos é importante ouvi-la falar ou ver suas expressões. A seguir, listamos alguns vídeos que poderão te guiar nesse caminho, bem como materiais audiovisuais que tratam da obra da autora.

Entrevista com Lygia Fagundes Telles

Ver e/ou ouvir a autora pode trazer uma outra dimensão à compreensão de sua obra. Confira uma entrevista feita por Manuel da Costa Pinto com e conheça-a mais profundamente.

Por onde começar Lygia Fagundes Telles

O canal Litera Tamy apresenta a seu modo a autora e sua recomendação de leitura. Como a forma de ler de cada um pode ser bastante particular, partir de uma indicação pode ser bastante útil para conhecer e criar sua própria leitura da obra.

O melhor livro da autora, segundo ela mesma

Lygia Fagundes Telles conta em uma entrevista qual é o seu melhor livro e discute como os autores e autoras são referenciados.

Telles é uma autora contemporânea, o que nos dá a oportunidade de conhecê-la em mídias audiovisuais e talvez entender melhor sua própria visão a respeito de sua obra. Além disso, sua proximidade temporal pode nos trazer identificações e um entendimento próprio de seus textos.

10 frases de Lygia Fagundes Telles

Algumas frases proferidas ou escritas pela autora podem dizer bastante a respeito de sua forma de escrever, de sua inspiração, de seus objetivos, suas filosofias e até alguns devaneios. Abaixo, há uma lista com algumas frases selecionadas de Lygia Faguntes Telles.

  1. “Estender, através da palavra, uma ponte para o próximo, comunicar-se com ele e ajudá-lo, mesmo com soluções ambíguas, na sua luta e na sua esperança. A esperança que o escritor tem que ter no coração.”
  2. “Quando eu passo pro papel, as personagens já estão prontas, sentadas no meu colo, aí já vai embora.”
  3. “É misterioso, mas é verdade isso, as personagens nascem dentro de mim e se instalam e depois elas mesmas ditam as regras e eu copio.”
  4. “As personagens são como nós mesmas, elas gostam de viver, elas querem viver e quando elas morrem, põem uma máscara e você não percebe, mas atrás da máscara está aquela que morreu e vem com outra cara… as máscaras.”
  5. “Para mim, [verde é] a cor da esperança, se eu tivesse uma bandeira ela seria vermelha e verde, esperança e paixão não destituída de cólera.”
  6. “Considero o meu trabalho de natureza engajada, ou seja, comprometido com a nossa condição nesse escândalo das desigualdades sociais.”
  7. “Eu não quero que os jovens percam tempo com eles [ – os seus livros imaturos]. Quero que conheçam o melhor de mim mesma, o melhor que eu pude fazer dentro das minhas possibilidades.”
  8. “Vivemos num planeta enfermo, a única saída é a compaixão, a solidariedade. Nossa salvação é ver o outro, sermos solidários, pode ser em relação a um vizinho, um cachorro, um gato.”
  9. Fiz as pazes com meu corpo porque fiquei com pena dele, faz o que pode para me agradar, para me corresponder, consegue? Fico comovida, tantos anos de luta, quase sessenta e esse corpo ainda de pé, perdendo um pouco o equilíbrio, mas de pé o pobrezinho.”
  10. “Através do sangue eu podia me apossar do idioma do meu doador. A palavra transmitida no sangue.”

Lygia Fagundes Telles é uma escritora contemporânea de grande relevância na literatura de nossa época. Conhecer sua obra é também entender um pouco mais sobre o tempo que vivemos, as aspirações coletivas e as preocupações de nossa sociedade.

Referências

Os romances de Lygia Fagundes Telles: uma tessitura narrativa na senda do humano – Dina Teresa Chainho Chora;

A escrita feminina de Lygia Fagundes Telles – Maria Jeanine de Miranda Salvaterra;

A ficção firatória de Lygia Fagundes Telles – Fábio Lucas;

A arte e a literatura de resistência, a partir de As Meninas, de Lygia Fagundes Telles – Regina de Andrade e Maria Ivane de Souza Loz;

Mistérios de Lygia Fagundes Telles: uma leitura sob a óptica do fantástico – Juliana Seixas Ribeiro;

O romance psicológico e o existencialismo sartreano na obra As Meninas, de Lygia Fagundes Telles – Karin Bezerra de Oliveira.

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Lygia Fagundes Telles. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/lygia-fagundes-telles. Acesso em: 23 de November de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [Unijuí-RS]

“Ser testemunha de seu tempo, testemunha e participante.” Essa é a expressão tomada emprestada de Maiakovsky que serve como resposta dada por Lygia Fagundes Telles quando questionada sobre a função do escritor. Suas personagens situam-se num espaço essencialmente urbano e conduzem enredos que encerram a problemática do homem moderno. Dos vários livros que publicou, três são romances. São eles:
a) Seminário dos ratos; Madame Bovary; Galvez, o imperador do Acre.
b) As três mulheres; Laços de família, O 35o ano de Inês.
c) A força do destino; A casa da paixão; A república dos sonhos.
d) Ciranda de pedra; Verão no aquário; As meninas.

Resposta: D

Justificativa: Dois dos romances mais conhecidos publicados por Lygia Fagundes Telles estão presentes apenas na letra D, isto é, “Ciranda de Pedra” e “As meninas”. O “Verão no Aquário”, mesmo sendo menos citado, é o segundo romance da escritora.

2. [FUMEP]

No conto “Antes do baile verde”, a escritora paulista Lygia Fagundes Telles conta a história da jovem Tatisa, que se prepara animada para o grande baile de fantasia de sua cidade, em que todos devem comparecer vestidos com roupas verdes. Considerando os traços estilísticos e temáticos do conto, NÃO seria correto afirmar que:
a) Lygia Fagundes Telles faz uma radiografia moral do egoísmo e da mesquinharia humana. De um lado, o pai enfermo, do outro, a filha que só pensa em si. Dois sentimentos tomam conta de Tatisa: a angústia com o sentimento de culpa (relacionada ao pai) e o medo (voltado para a reação do namorado caso ela se atrasasse). Nota-se que a personagem prioriza o namorado ao pai.
b) O tempo é cronológico, a ação se passa durante um dia de carnaval. O espaço é um apartamento.
c) O emprego dos diálogos por meio dos quais autor e narrador constroem as personagens, desenvolvem o enredo e transmitem as informações ao leitor, é feito de maneira primorosa e também contribui para a rapidez narrativa de Lygia.
d) Tal como em outras obras de Lygia Fagundes Telles, no conto “Antes do baile verde”, as personagens captadas pela câmera da autora representam as famílias urbanas brasileiras de classe média alta, com aparência distinta diante da sociedade, mas com dramas e conflitos comuns a qualquer ser humano, que, na maioria das vezes, tentam esconder dentro dos armários ou debaixo dos tapetes.
e) O clímax da história é simplesmente a dúvida que prevalece na cabeça da jovem, principalmente depois de ouvir o que a empregada disse. No fim, Talisa, ao contrário do que a maioria dos leitores pensava, desiste de ir ao baile para socorrer o pai.

Resposta: E

Justificativa: A trama do conto “Antes do baile verde” traz à tona essencialmente conflitos morais entre a vontade individual e o dever moral. Assim, a personagem Tatisa acaba por não ceder aos seus deveres e vai ao baile.

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