Escritora e jornalista nascida na Ucrânia em 10 de dezembro de 1920, Clarice Lispector naturalizou-se brasileira e foi tida como uma das mais importantes escritoras do século XX no Brasil, tendo contribuído para a literatura brasileira com romances, contos e ensaios.
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Lispector chegou ao Brasil com apenas dois meses com seus pais, mais precisamente em Maceió, onde viveu junto aos pais e irmãs até 1924, quando mudaram-se para Recife. Lá, Clarice começou a frequentar o grupo escolar João Barbalho. Com oito anos de idade, ela perde a mãe e três anos depois muda-se com seu pai e suas irmãs para o Rio de Janeiro.
No ano de 1929, Clarice Lispector ingressa no curso de Direito, e forma-se em 1943, mesmo ano em que casa-se com Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos e viveu fora do Brasil por algum tempo. Atuou, profissionalmente, como redatora na Agência Nacional, além de jornalista no jornal “A Noite”. No ano de 1944, tem seu primeiro romance publicado, denominado “Perto do Coração Selvagem”, ganhando, no ano seguinte, o prêmio Graça Aranha da Academia Brasileira de Letras. Em 1946, publica “O Lustre”, e em 1954 tem sua primeira edição francesa de “Perto do Coração Selvagem”, tendo, inclusive, sido ilustrado por Henri Matisse. Dois anos depois, escreve “A Maçã no Escuro”, e passa a publicar contos para colaborar com a revista Senhor. Separou-se de seu marido e passou a firmar residência no Rio de Janeiro. Em 1960, publicou livros como “Laços de Família”, seu primeiro livro de contos, “A Legião Estrangeira”, e “A Paixão Segundo G. H.”, sendo este último bastante famoso e considerado um marco na literatura brasileira.
No ano de 1967, sofreu queimaduras graves em um incêndio em sua casa, causado por um de seus cigarros. Passou a escrever contos infantis como “A Mulher que Matou os Peixes”, além de trabalhos como “Felicidade Clandestina e “Uma Aprendizagem”. Em 1970, publicou outros livros como “Água Viva”, “A Imitação da Rosa”, “Via Crucis do Corpo”, entre outros. Seis anos depois, foi premiada pela Fundação Cultural do Distrito Federal por suas obras, e, em 1977, publicou “A Hora da Estrela”, outro de seus livros mais populares atualmente e que, inclusive, foi adaptado, no ano de 1985, para o cinema. A escritora veio a falecer em decorrência de câncer no dia anterior ao seu aniversário, quando completaria 57 anos.
Referências
Ensino de Literatura – Willian Roberto Cereja
Por Natália Petrin
Formada em Publicidade e Propaganda. Atualmente advogada com pós-graduação em Lei Geral de Proteção de Dados e Direito Processual Penal. Mestranda em Criminologia.
Petrin, Natália. Clarice Lispector. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/clarice-lispector. Acesso em: 03 de December de 2024.
01. [Enem] Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[…]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador
a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.
b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem.
c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.
d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.
e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.
02. [UFPR] “(…) As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias. (…)”
(de “Os desastres de Sofia”)
(…) Na verdade era uma vida de sonho. Às vezes, quando falavam de alguém excêntrico, diziam com a benevolência que uma classe tem por outra: “Ah, esse leva uma vida de poeta”. Pode-se talvez dizer, aproveitando as poucas palavras que se conheceram do casal, pode-se dizer que ambos levavam, menos a extravagância, uma vida de mau poeta: vida de sonho. Não, não era verdade. Não era uma vida de sonho, pois este jamais os orientara. Mas de irrealidade . (…)”
(de “Os obedientes”)
Com base nos fragmentos acima transcritos, extraídos de contos do livro Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, considere as seguintes afirmativas:
I. Narrar ou deixar de narrar, avaliar de diferentes maneiras um mesmo fato narrado são hesitações frequentes dos narradores de Clarice Lispector. Como nos fragmentos acima, também em outros contos prioriza-se a abordagem da vida interior, própria ou alheia, revelando sutis alternâncias de percepção da realidade.
II. O aspecto metalinguístico está presente no primeiro fragmento.
III. Na ficção de Clarice Lispector, as diferenças entre a percepção masculina e a feminina não são tematizadas, pois o ser humano está sempre condenado a viver num mundo incompreensível.
IV. Na ficção de Clarice Lispector, apenas as personagens adultas têm consciência de seus processos interiores. As crianças e adolescentes sofrem o impacto de novas descobertas, mas sua inocência os afasta de qualquer comportamento perverso e os protege dos riscos de viver mais intensamente.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas 3, 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
01. [C]
02. [C]