Antes de identificar o conceito de antologia poética, é necessário desmembrar este primeiro termo. Originalmente e etimologicamente falando, a palavra antologia provém do grego anthologias. Seu significado seria “coleção de flores”. Algo de aparente pouca relação na mistura do termo junto à poesia.
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Contudo, a palavra originada do grego tem um importante recurso em seu significado: a palavra “coleção”. Antologia, do ponto de vista artístico (literário, neste caso), seria um conjunto (coleção) formado a partir de diversas obras. Seja ela de cunho dramaturgo, literário, cinematográfico ou ainda musical.
O ponto é explorar uma mesma temática, uma mesma autoria ou ainda um mesmo período. Ou seja, com uma raiz similar em todas as produções desta coleção, ou melhor, coletânea.
História do conceito de antologia
Na linha do tempo, o conceito de antologia começa com registro de autoria de um poeta na Grécia antiga, Meléagro. Contudo, o termo era utilizado como derivação de um outro conceito que definia sentenças como “romanceiro”, “florilégio” ou “flores”. Só a partir do século XVIII que a locução passou a ter o sentido de “coleção”.
É exatamente da botânica que o termo “antologia” começa a derivar a palavra coleção. Isso porque, nesta área científica, a sentença remetia a uma coleção de diversas flores selecionadas de forma individual. Uma seleção feita pelo pesquisador que analisaria de forma cuidadosa cada uma das espécies detalhadas.
A antologia literária: da prosa a antologia poética
No que abrange a literatura, a antologia é formada a partir da coletânea de textos. Sejam eles em prosas (contos) ou versos (poesias), esta obra é organizada dentro de um volume único. Eles formam essa coleção, em que comportam um tema em comum, um autor específico e/ou um período remetente a obra.
Um exemplo bastante visto popularmente está na junção de contos em prosa para formatar um texto. Atualmente, crônicas também tem tomado esta identidade, sendo selecionados por um autor e transformados em uma obra unitária. Luiz Fernando Veríssimo é um escritor contemporâneo reconhecido por seus livros de crônicas antológicos, como na obra Ed Mort.
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Entretanto, é na poesia que a antologia se prolifera de forma mais assídua. Uma antologia poética refere-se no apanhado de poemas (ou poesias) diversas reunidas em um livro. Estes são normalmente selecionados pelo próprio autor, seguindo um critério arbitrário e individual.
Uma antologia poética, no entanto, também pode apresentar uma coletânea de autores, não só de poesias de um mesmo. Para esta junção, basta que elas abordem um tema em comum ou sejam relativas ao mesmo período de produção. Exemplo direto são os movimentos literários ocorridos ao longo dos anos. Estes abrangeram diversos autores com uma linha de produção similar.
A antologia poética no Brasil
Carlos Drummond de Andrade é o precursor popular da Antologia Poética. Com o lançamento de sua obra de nome homônimo, o autor trouxe o conceito vigorado em uma obra. Organizada por Drummond – publicada em 1962 – Antologia Poética abrange textos originais que, inclusive ocuparam páginas de diversos outros livros.
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Entretanto é nesta obra que nota-se um universo temático específico em como o autor teve a intenção de organizar. A seleção revela um alto grau de compreensão do autor sobre a sua forma de pensar a poesia. Nos temas, nota-se aquilo que a crítica resumiria sua obra num futuro mais tardar.
A obra de Drummond tem grande relevância em provas de concurso e vestibulares no Brasil. Conhecê-lo é exercício para o que a proposição de questões que serão vistas em provas de múltipla escolha. O livro Antologia Poética, de Drummond, está sob domínio público e pode ser feito o seu download clicando aqui.
Referências
HILDEBRNDO, A. de André, 2ª Edição, Gramática Ilustrativa e Literatura Comparada, Editora Moderna, São Paulo. 1979, 447 p.
Por Mateus Bunde
Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Especialista em Linguagens pelo Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul) e Mestrando em Comunicação pela Universidade do Porto, de Portugal (UP/PT).
Bunde, Mateus. Antologia Poética. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/antologia-poetica. Acesso em: 21 de November de 2024.
01. [ENEM]
Aquele bêbado
— Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool.
O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio.
— Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos.
Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos.
ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991.
A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo da narrativa, ocorre uma
a) metaforização do sentido literal do verbo “beber”.
b) aproximação exagerada da estética abstracionista.
c) apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem.
d) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”.
e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas.
02. [ENEM]
Confidência do Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
[comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e
[sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa…
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.
Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima
a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.
b) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos.
c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo.
d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de Itabira.
e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.
01. [A]
O verbo “beber” não está no sentido literal, sobretudo na passagem “bebia paisagens”. Não relaciona-se, assim, ao significado provindo do etílico.
02. [C]
Através das inúmeras presenças do “mas”, o conflito em questão é evidenciado.