No início da República, os conflitos sociais eram diversos. Afinal, transitava-se de um sistema político monárquico para outro, republicano. Ao mesmo tempo, as desigualdades sociais e uma cultura escravista permaneciam na sociedade brasileira, resultando em tensões como a Revolta da Armada.
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Impulsionada pela Marinha brasileira, esse episódio é considerado como uma das razões da renúncia do primeiro presidente eleito no país: Deodoro da Fonseca. Entenda mais sobre o assunto a seguir.
Índice do conteúdo:
O que foi a Revolta da Armada
A Revolta da Armada foi um conjunto de rebeliões promovidas em unidades da Marinha contra o primeiro e o segundo presidentes da República no Brasil. Assim, a Marinha, tradicionalmente monárquica, tinha insatisfações com o modo que a República havia se instaurado.
Em suma, os revoltosos não reconheciam a autoridade dos novos presidentes. Como consequência, ameaçaram bombardear a capital no Rio de Janeiro em 1891 e em 1893, comandados pelo almirante Custódio de Melo.
Contexto histórico
A instauração da República no Brasil ocorreu em 1889. Um ano antes, o sistema escravista havia acabado de ser oficialmente encerrado, gerando uma série de crises sociais. A população negra anteriormente escravizada não foi inserida socialmente e as elites planejavam tornar o Brasil uma nação republicana e moderna.
Esse contexto, que manteve as desigualdades sociais no país, foi um cenário para emergir, por exemplo, a Guerra de Canudos. E ainda, houve a Revolta da Chibata, promovida por marinheiros negros que sofriam escravidão ao serem chicoteados por brancos dentro da Marinha.
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Entretanto, outros setores da sociedade também estavam insatisfeitos com a nova forma de governo. A Marinha não admitia a autoridade do primeiro presidente, Deodoro da Fonseca, tampouco o seu sucessor, Floriano Peixoto. Consequentemente, surgia a Revolta da Armada.
Uma série de medidas de Deodoro da Fonseca motivaram a Marinha a ameaçar bombardear a capital, no Rio de Janeiro. No fim, o episódio fez o presidente renunciar ao cargo. Depois de Floriano Peixoto assumir a presidência, uma nova intimidação surgiu. Entretanto, dessa vez a revolta foi reprimida.
A Revolta da Armada
Na primeira eleição presidencial no Brasil em 1891, Deodoro da Fonseca foi eleito. Entretanto, uma relação instável entre o poder legislativo e o executivo já se formava, fazendo com que a Revolta da Armada ganhasse mais motivações.
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Primeira Revolta da Armada
Logo no primeiro ano de presidência de Deodoro da Fonseca, diversas crises se agravaram. Quando o Congresso Nacional votou por leis que diminuíam o poder executivo, o presidente vetou o projeto. Assim, essa queda de braço resultou na dissolução do Congresso e a instauração do estado de sítio no país por parte de Deodoro.
Em seguida, o almirante Custódio de Melo, da Marinha , ameaçou bombardear a capital – o Rio de Janeiro. Consequentemente, em 23 de novembro de 1891 Deodoro da Fonseca, com menos de um ano de governo, acabou renunciando para evitar uma guerra.
Segunda Revolta da Armada
Com a renúncia de Deodoro da Fonseca, assumiu o vice-presidente Floriano Peixoto. Todavia, o correto era a convocação de novas eleições, mas isso não aconteceu. Em março de 1892, foi publicado um manifesto contra o governo por generais da Marinha e estes foram presos por ordem do presidente.
Em 1893, o almirante Luís Filipe Saldanha da Gama declarou a necessidade da volta da monarquia. No mesmo ano, em 13 de setembro, a Marinha bombardeou o Rio de Janeiro, fazendo com que a capital fosse transferida para Petrópolis.
Ao contrário de seu antecessor, Floriano Peixoto não renunciou e foi ativo na repressão da revolta. Assim, ele teve consigo o apoio popular e do Exército, fazendo os marinheiros fugirem para o Sul, onde ocorria a Revolução Federalista. Logo, em março de 1894, a Revolta da Armada já tinha sido reprimida com sucesso.
Intervenção americana e o Caso do Rio de Janeiro
Na Revolta da Armada, a Marinha podia contar com a ajuda ou alguma simpatia de monarquias europeias. Contra isso, estava o financiamento e o apoio dos Estados Unidos na República brasileira, juntamente com o resto do Exército que tinha um posicionamento republicano.
Em um episódio que ficou conhecido como o Caso do Rio de Janeiro, houve um apoio norte-americano direto na repressão da revolta. Supostamente, a Marinha brasileira revoltosa teria atacado frotas dos Estados Unidos. Consequentemente, o governo federal contou com o apoio externo para reprimir a Revolta da Armada.
O Caso Português
Perto da derrota, o almirante Saldanha da Gama e outros marinheiros conseguiram asilo em Portugal. Entretanto, o governo brasileiro e a política de Floriano Peixoto não admitiam que esses revoltosos tivessem a proteção em outro país. Apesar disso, Portugal insistiu, tratando-os como criminosos políticos e não os entregou. Como consequência, as relações entre os dois países foi rompida temporariamente.
Desse modo, a Revolta da Armada teve impactos políticos importantes na época. Afinal, reprimir esse conflito era uma forma de defender a República e a legitimidade desse novo sistema político.
Resultados e consequências
A Revolta da Armada foi reprimida pelo governo federal de Floriano Peixoto. Ele, por sua vez, ficou conhecido pelo seu pulso firme e governou até 1984. Ainda, o almirante Custódio de Melo tentou uma aliança com os federalistas no Sul, o que não se desenvolveu.
Após Floriano, quem assumiu a presidência foi Prudente de Morais. Esse novo governo foi o marco para o que foi conhecido como República das Oligarquias. Desse modo, os conflitos como a Revolta da Armada foram um precedente dos diversos setores sociais que emergiam, disputando poder na Primeira República.
Triste Fim de Policarpo Quaresma
A obra Triste Fim de Policarpo Quaresma foi escrita por Lima Barreto e retrata justamente o período inicial da Primeira República. Assim, seu personagem principal, Policarpo Quaresma, é um nacionalista fanático que quer descobrir o que há de melhor na cultura nacional e defender seu país.
Na história, Policarpo Quaresma se voluntaria para participar da repressão da Revolta da Armada. Além disso, tece diversos elogios a Floriano Peixoto. No entanto, quando entra no combate, acaba observando atitudes ruins dos militares e as denuncia ao presidente.
Por fim, Floriano Peixoto acaba mandando prender Policarpo Quaresma por suas denúncias. Consequentemente, o nacionalismo do personagem principal acaba o prejudicando. Portanto, a obra de Lima Barreto é uma crítica a diversas classes sociais da Primeira República.
5 curiosidades sobre a Revolta da Armada
A Revolta da Armada foi um episódio relevante da Primeira República. Confira a seguir algumas curiosidades sobre esse conflito:
- Na Primeira Revolta da Armada, o então presidente Deodoro renunciou logo após quatro horas da ameaça do almirante.
- O segundo presidente, Floriano Peixoto, que não renunciou e decidiu reprimir a Segunda Revolta da Armada, ficou conhecido como Marechal de Ferro.
- Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto eram de partidos diferentes e representavam interesses distintos. Na época, os cargos de presidência e vice-presidência eram eleitos separadamente.
- Quem sucedeu Floriano Peixoto foi Prudente de Morais, que era o candidato à presidência na mesma chapa que ele, e que havia perdido para Deodoro da Fonseca.
- Revoltosos se uniram na guerra civil em 1893 aos federalistas contra Julio de Castilhos. Mais tarde, Castilhos foi apoiado por Floriano Peixoto.
Sendo assim, é possível observar que a sociedade brasileira se dividia em algumas classes que disputavam por poder dentro da Primeira República. Esses grupos são importantes para entender os conflitos que ocorriam, como a Revolta da Armada.
Entenda mais sobre a Revolta da Armada
A Revolta da Armada é um dos episódios de conflitos sociais organizados no Brasil. Particularmente, o contexto social da Primeira República é importante de conhecer porque foi o palco dessas tensões. Veja a seguir uma lista de vídeos que vão explanar o assunto:
Mais sobre a Revolta da Armada
Este vídeo contém mais informações e uma revisão do tema sobre a Revolta da Armada. Assim, rever o assunto por meio de um material audiovisual pode ajudar a estudar melhor.
O contexto histórico da Primeira República
Para entender como se chegou à Revolta da Armada, é necessário compreender o contexto histórico mais geral da Primeira República. Desse modo, o vídeo acima pode ajudar a explanar o tema.
Floriano Peixoto e a República
O segundo presidente do Brasil, Floriano Peixoto, foi quem reprimiu a Revolta da Armada. Portanto, sua trajetória e seu estilo político são importantes para entender por qual razão surgiu a revolta e como ela foi coagida.
Consequentemente, a Revolta da Armada é um episódio importante para entender os atores sociais envolvidos na instauração da República brasileira. Uma vez que a sociedade é complexa, muitas classes sociais estão envolvidas nas transformações estruturais.
Assim sendo, a história brasileira é cheia de situações nacionais e até internacionais complexas. Nesse cenário, houve muitos avanços e retrocessos em relação a um projeto democrático, liberal e capitalista. A Revolta da Armada faz parte dessa história.
Referências
A diplomacia do Marechal: intervenção estrangeira na Revolta da Armada – Serio Corrêa da Costa;
Revolta da Armada – Beatriz Coelho Silva;
Revolta da Armada e Revolução Federalista: contexto histórico, político e jurídico – Joel de Oliveira Melo; Paulo Augusto da Silva Brígido;
Cronologia resumida da Guerra de Canudos – Carla Costa.
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Revolta da armada. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/revolta-da-armada. Acesso em: 24 de November de 2024.
1. [FGV]
Vai-se o marechal ingente, / vai-se o grande alagoano. / E eu leitor, digo somente: Floriano foi um prudente; / seja o Prudente um Floriano.” Essa é uma quadrinha do escritor Artur de Azevedo. A respeito dos personagens e do período aos quais se refere podemos dizer que:
a) O escritor, como um crítico dos governos militares, posicionara-se contra a decretação do estado de sítio e o fechamento do Congresso por parte de Floriano Peixoto.
b) O escritor, como um defensor dos ideais socialistas no Brasil, fora contrário ao estado de sítio decretado por Deodoro da Fonseca e prorrogado por Floriano Peixoto.
c) O escritor, como um defensor do “marechal de ferro”, mostrava-se satisfeito com a prudência do presidente que, com pulso firme, havia debelado a Revolta de Canudos.
d) O escritor, como um admirador de Floriano Peixoto, saudava a prudência do ex-presidente, que teve de lidar com a Revolução Federalista e com a Revolta da Armada.
e) O escritor, como um democrata, reconhecia o despojamento de Floriano, que aceitou a realização imediata de eleições logo após a renúncia de Deodoro da Fonseca.
Resposta: d
Justificativa: a Revolta da Armada e a Revolução Federalista foram dois conflitos marcantes durante o governo de Floriano Peixoto.
2. [UNIRIO]
Desde o ano de 1993 vários eventos vêm sendo realizados em rememoração da Revolta da Armada e da Revolução Federativa, as quais podem ser consideradas como:
a) Representativas dos movimentos monárquicos restauradores do início da República.
b) Projeção das diversas concepções republicanas existentes no país.
c) Reações contra o Federalismo republicano, que defendia a eliminação da autonomia dos Estados.
d) Reações de segmentos sociais emergentes do domínio oligárquico no Estado Republicano.
e) Exemplo do confronto civilismo x militarismo, que caracterizaram o início da República.
Reposta: d
Justificativa: a Revolta da Armada mostrou os interesses diversos de classes sociais emergentes na época.