Quilombo dos Palmares

Considerado um dos símbolos mais emblemáticos de resistência contra o sistema escravagista colonial, o Quilombo dos Palmares foi o maior quilombo que já existiu na América Latina.

O Quilombo dos Palmares foi o maior refúgio de escravizados foragidos da história do Brasil. Historiadores acreditam que, durante seus anos de ápice, sua população atingiu cerca de 20 mil habitantes. O legado e a luta por liberdade e igualdade permanecem vivos na memória brasileira como símbolos de resistência contra a discriminação e o racismo. Saiba mais no texto abaixo!

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O que foi o Quilombo dos Palmares?

O Quilombo dos Palmares foi um dos quilombos formados durante o período colonial brasileiro. Fundado ainda no século XVII, ficava localizado na Serra da Barriga – que, na época, pertencia à Capitania de Pernambuco. Sua população era, majoritariamente, composta por negros escravizados foragidos que resistiram por quase um século a inúmeras invasões.

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A Serra da Barriga, que atualmente pertence ao Estado de Alagoas, foi tombada em 1985 pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Graças à implantação do Parque Memorial do Quilombo dos Palmares em 2007, é possível visitar o local onde foram reconstruídas algumas das principais edificações do maior e mais duradouro quilombo que já existiu nas Américas.

Quilombo dos Palmares
Mapa da Capitania de Pernambuco, com representação do Quilombo dos Palmares – Frans Post (1647). Fonte: Wikimedia

A história do maior quilombo da América Latina

Surgido por volta de 1630, o Quilombo dos Palmares resistiu, oficialmente, até 1694, quando foi destruído após inúmeras invasões. Assim como outros mocambos formados ao longo da história colonial brasileira, Palmares foi construído a partir da fuga de pessoas escravizadas que conseguiram se rebelar contra seus antigos senhores.

Devido à presença de palmeiras na Serra da Barriga, os portugueses passaram a denominar os mocambos daquela região como Quilombo dos Palmares. Seus habitantes, por outro lado, preferiam a nomenclatura “Angola Janga” – que, em quimbundo (uma língua do tronco banto), significa “pequena Angola”.

Para entender melhor a criação desse quilombo ainda no século XVII, é preciso levar em consideração o contexto histórico pelo qual Portugal e a sua colônia na América portuguesa estavam passando. É importante lembrar que, em 1630, devido à União Ibérica (1580-1640), Portugal era comandado pelo governo espanhol. Para alguns pesquisadores, esse fato contribuiu para um certo relaxamento no controle colonial, que não teria conseguido impedir a formação de mocambos em território brasileiro.

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Apesar disso, é necessário lembrar que os quilombos foram uma das formas de resistências organizadas pelos negros durante o período colonial. Rebeliões, fugas, suicídios, assassinatos e revoltas marcaram a história de luta dos escravizados. Todas as estratégias foram ferozmente combatidas de forma violenta pela metrópole portuguesa. No caso do Quilombo dos Palmares, sua organização política, social, econômica e cultural foram cruciais para que seus habitantes pudessem resistir por tanto tempo.

Importância e cotidiano da pequena Angola

Por muito tempo, os documentos escritos por holandeses e portugueses entre os séculos XVII e XVIII foram os únicos materiais históricos utilizados para estudar a formação e a estrutura desse quilombo. No entanto, graças ao trabalho de arqueólogos e demais pesquisadores, atualmente, é possível aprofundar os conhecimentos e entender melhor como era a organização e o dia a dia dessas pessoas.

O Quilombo dos Palmares era composto por vários mocambos (nome dado aos núcleos de povoamento). Entre eles, destacavam-se Subupira e Cerca Real do Macaco, seu centro político. Localizados na Serra da Barriga, os quilombolas viviam da caça, pesca e agricultura de subsistência, composta principalmente de milho, banana, feijão, mandioca e cana-de-açúcar. O artesanato também estava presente, por meio da confecção de cerâmicas e tecidos de palha que podiam ser vendidos para as populações mais próximas.

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O fato de terem sido atacados inúmeras vezes e resistido mesmo assim demonstra que esse quilombo tinha uma grande organização política e militar. A segurança era uma das principais preocupações de seus habitantes. Por isso, os mocambos foram organizados em um território despovoado e com densas matas, cujas entradas não eram de fácil reconhecimento. Para alguns historiadores, Palmares possuía uma organização política bem próxima das encontradas nos reinos africanos, nas quais o poder aparece centralizado nas mãos de um líder.

Líderes de Palmares

Embora seja reconhecido mundialmente através da figura de Zumbi, o primeiro grande líder de Palmares foi Ganga Zumba. Filho da princesa Aqualtune, Ganga nasceu no Congo, mas foi capturado e trazido como escravo para o Brasil. Junto a outros companheiros, conseguiu fugir da fazenda onde era escravizado, formando os primeiros mocambos da região da Serra da Barriga.

Seu governo durou de 1670 até 1678, ano em que viajou para Recife a fim de firmar um acordo de paz com Pedro de Almeida – governador de Pernambuco naquele momento. A partir desse acordo, Ganga comprometia-se a não aceitar mais foragidos em Palmares. A Coroa portuguesa, em troca, garantiria a liberdade dos ex-escravizados que viviam no quilombo, exigindo que eles se mudassem para o Vale do Cucaú.

Ganga Zumba, entretanto, morreu misteriosamente enquanto retornava dessa viagem. Foi a partir de então que seu sobrinho, o lendário Zumbi, passou a liderar o Quilombo dos Palmares. Zumbi dos Palmares, como ficou conhecido, nasceu em 1655 na Serra da Barriga. Ele era um homem livre, mas, com cerca de 6 anos de idade, foi capturado pela expedição de Brás da Rocha Cardoso e enviado ao padre português Antônio Melo.

Na posse do padre, ele foi batizado, recebeu os sacramentos católicos, aprendeu português e latim. Ao completar 15 anos, Zumbi conseguiu fugir e retornou ao Quilombo dos Palmares. Alguns pesquisadores afirmam que ele teria desafiado seu tio e discordado de seus acordos com a Coroa portuguesa. De qualquer forma, o que se sabe é que ele assumiu o controle do quilombo logo após a morte de Ganga.

Durante todo o seu governo, Zumbi apresentou uma postura de enfrentamento contra o governo colonial. Junto dele, lutou sua esposa Dandara – uma das mulheres negras que, por muito tempo, foi apagada da história.

Assim como Zumbi, Dandara dos Palmares teve um papel importantíssimo na construção e no comando do Quilombo dos Palmares. Devido a suas técnicas de capoeira e seu destaque em conflitos, ela ficou conhecida como uma guerreira de seu quilombo. Infelizmente, não há muitos registros sobre a vida de Dandara. O pouco que se sabe é que ela teria chegado ainda menina em Palmares, onde participou tanto das lutas quanto das atividades cotidianas.

Acredita-se que ela também era oposta ao tratado de paz com a Coroa portuguesa. Segundo relatos, ela teria se suicidado ao pular de uma pedreira em 6 de fevereiro de 1694, quando havia sido capturada. Dandara preferiu morrer a ser escravizada novamente.

A Guerra dos Palmares

Durante seus anos de existência, Palmares foi alvo de muitas invasões e campanhas militares. Os conflitos entre as expedições organizadas pela Coroa portuguesa e os quilombolas da Serra da Barriga ficaram conhecidos como Guerra dos Palmares. Inúmeras investidas frustradas antecederam a invasão que colocou fim ao maior quilombo das Américas.

Liderada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho e pelo capitão-mor Bernardo Vieira de Melo, a última empreitada contra Palmares foi organizada em 1692, pelo então governador e capitão-geral da capitania de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro. Essa expedição reuniu milhares de homens e munições que chegaram a incluir canhões de guerra. Em 1694, Palmares chegou ao fim depois que a Cerca Real do Macaco foi destruída.

Embora tenha conseguido fugir, Zumbi foi denunciado, emboscado e morto em 20 de novembro de 1695. Após decapitado, teve sua cabeça exposta pelas ruas de Recife. A fim de que Palmares não pudesse se reerguer, as tropas portuguesas permaneceram ocupando a Serra da Barriga até o século seguinte. Devido às resistências enfrentadas na região, alguns pesquisadores consideram que Palmares tenha existido até 1710.

A importância do Quilombo dos Palmares

O Quilombo dos Palmares é reconhecido pela história como o maior símbolo de resistência contra o sistema escravagista implantado na América portuguesa. Em um país com mais de 300 anos de escravidão, a busca dos quilombolas por liberdade é relembrada até os dias de hoje como sinônimo de luta e força. Conhecer e estudar tais formas de resistência é de extrema importância para a compreensão da história do país.

É imprescindível lembrar que, em nenhum momento, os povos escravizados foram passivos e aceitaram a escravidão sem nenhuma reação. Ao contrário, o exemplo de Palmares demonstra como houve organização e luta por parte das pessoas que tiveram sua liberdade roubada.

Desde 2003, o dia da morte de Zumbi (20 de novembro) é relembrado todos os anos como o Dia da Consciência Negra no Brasil. A data é um marco para que se possa refletir, durante todo o ano, sobre questões de racismo, discriminação, desigualdade social e inclusão dos negros na sociedade atual.

Videoaulas com mais informações sobre o Quilombo dos Palmares

Abaixo, há uma seleção de vídeos para que você possa aprofundar seus estudos sobre o Quilombo dos Palmares, seu líder Zumbi e as populações quilombolas. Confira:

Cotidiano no Quilombo dos Palmares

Ao longo desse vídeo, o professor Danilo relembra a história da escravidão no Brasil e apresenta os quilombos como uma das maiores formas de resistência da população negra contra o sistema escravista. O cotidiano do Quilombo dos Palmares aparece para exemplificar como esses mocambos funcionavam e resistiam.

Dandara dos Palmares

Com uma linguagem acessível e, ao mesmo tempo, descontraída e crítica, esse vídeo narra a história de Dandara dos Palmares – guerreira que liderou as lutas de resistência contra as invasões sofridas no Quilombo dos Palmares.

“Quilombos do século XXI”

O documentário “Quilombos do Século XXI” reflete sobre o racismo estrutural presente na história Brasil. Além disso, debate acerca das leis, publicadas ainda no período imperial, que impediram a emancipação dos descendentes de escravizados.

A escravidão impactou profundamente a história do Brasil e deixou consequências que podem ser observadas até os dias atuais na sociedade. Caso deseje aprofundar ainda mais seus conhecimentos sobre essa temática, entenda melhor sobre a Escravidão no Brasil.

Referências

O Quilombo – Forma de Resistência Histórica dos Escravos (2007) – Marc Berger

Parque Memorial Quilombo dos Palmares – Fundação Cultural Palmares – Governo Federal

Quilombo dos Palmares: a história narrada (2015) – Carlos Eduardo Nicolette

Nathália Moro
Por Nathália Moro

Doutoranda, mestre e graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Nas horas vagas, costuma aproveitar seu tempo com a família ou em sua própria companhia. Adora viajar para lugares históricos, conhecer novas culturas, experimentar pratos típicos, conversar com pessoas mais velhas e bater um bom papo sobre alimentação.

Como referenciar este conteúdo

Moro, Nathália. Quilombo dos Palmares. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/quilombo-dos-palmares. Acesso em: 21 de November de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [FUVEST 1996]

Em 1694, uma expedição chefiada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho foi encarregada pelo governo metropolitano de destruir o quilombo de Palmares. Isto se deu porque:

a) os paulistas, excluídos do circuito da produção colonial centrada no Nordeste, queriam aí estabelecer pontos de comércio, sendo impedidos pelos quilombos.
b) os paulistas tinham prática na perseguição de índios, os quais aliados aos negros de Palmares ameaçavam o governo com movimentos milenaristas.
c) o quilombo desestabilizava o grande contingente escravo existente no Nordeste, ameaçando a continuidade da produção açucareira e da dominação colonial.
d) os senhores de engenho temiam que os quilombolas, que haviam atraído brancos e mestiços pobres, organizassem um movimento de independência da colônia.
e) os aldeamentos de escravos rebeldes incitavam os colonos à revolta contra a metrópole visando trazer novamente o Nordeste para o domínio holandês.

Resposta correta:

c) o quilombo desestabilizava o grande contingente escravo existente no Nordeste, ameaçando a continuidade da produção açucareira e da dominação colonial.

Justificativa:

Devido a seu tamanho e sua força, o Quilombo dos Palmares representou grande ameaça ao sistema escravagista e à produção açucareira no Nordeste, toda sustentada pelo trabalho escravo.

2. [FATEC 2004]

Apesar das condições desfavoráveis e da grande vigilância por parte dos colonos portugueses, os negros escravos desenvolveram diferentes formas de resistência, entre as quais:

a) a religião e a língua, que, por serem as mesmas em todo o continente africano, ajudaram na união dos negros em torno de seus deuses e seus costumes.
b) a formação de quilombos, uma tradição indígena incorporada pelos negros, sendo o mais famoso o Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga, atual Estado de Alagoas.
c) o banzo, momento de euforia dos escravos, que se manifestava em festa ao som dos atabaques, causando grande temor aos brancos.
d) os quilombos, acampamentos organizados por grupos de escravos fugitivos, sendo o maior da América portuguesa o Quilombo dos Palmares, cujo primeiro grande chefe conhecido foi Ganga-Zumba.
e) os suicídios de escravos e os assassinatos de senhores, que foram a mais efetiva forma de resistência escrava, trazendo o fim da escravidão ainda no final do século XVIII.

Resposta correta:

d) os quilombos, acampamentos organizados por grupos de escravos fugitivos, sendo o maior da América portuguesa o Quilombo dos Palmares, cujo primeiro grande chefe conhecido foi Ganga-Zumba.

Justificativa:

Os quilombos foram uma das formas de resistência adotadas pelos negros escravizados. De todos, o Quilombo dos Palmares foi o maior refúgio de escravizados foragidos de toda a América portuguesa.

3. [UECE]

A Confederação dos Quilombos de Palmares é considerada por alguns historiadores como a maior ameaça à ordem escravista conhecida pelo estado colonial brasileiro.

No que tange à citada confederação, assinale a opção que contém afirmação INCORRETA.

a) Inicialmente, as “comunidades” quilombolas procuravam apenas passar despercebidas aos colonos e grandes proprietários de terras.
b) Os quilombos eram reprimidos pelos capitães-do-mato, pelas tropas particulares contratadas pelos grandes proprietários e por milícias oficiais.
c) O Quilombo de Palmares foi apenas um entre tantos outros quilombos existentes no Brasil e em nada se diferenciou de tantos outros perdidos nas matas brasileiras.
d) O Quilombo de Palmares era cercado por paliçadas, fossos e armadilhas e durante décadas resistiu aos ataques de tropas particulares e oficiais.

Resposta correta:

c) O Quilombo de Palmares foi apenas um entre tantos outros quilombos existentes no Brasil e em nada se diferenciou de tantos outros perdidos nas matas brasileiras.

Justificativa:

Está alternativa é a incorreta por afirmar que o Quilombo dos Palmares não se diferenciou em nada dos outros quilombos no Brasil. Na realidade, ele foi o maior dos quilombos existentes na história do Brasil, chegando a reunir cerca de 20 mil pessoas.

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