A origem da Festa Junina explora a multiculturalidade do Brasil de norte a sul. Os elementos que compõe uma celebração junina são a mistura da herança colonizadora europeia com a cultura negra e indígena. Assim como há diversidade cultural no país, há pluralidade nas festas juninas, o que as tornam um dos eventos mais brasileiros em termos culturais.
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História da Festa Junina
As comemorações e tradições que originaram a festas junina não possuem uma única origem ou lugar de partida. As influências dessa festividade vieram de países católicos da Europa, principalmente de Portugal. Sendo o Brasil um país colonizado por Portugal, é natural que as influências culturais brasileiras sejam uma mistura daquilo que foi trazido por eles e também pelos imigrantes dos outros países.
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A origem da Festa Junina popularmente conhecido pelos brasileiros tem como precedente as festas populares de São João, que aconteciam em Portugal. As celebrações chegaram ao Brasil de maneira que não é possível descrever com exatidão, por se tratar de algo cultural e que rapidamente fora incorporada aos costumes locais de pessoas indígenas e negros escravizados. Inicialmente, as festas eram chamadas de “Joaninas” por ocorrerem em homenagem a São João. No entanto, após a festa ser estabelecida por volta do mês de junho devido à colheita do milho, tornou-se como é conhecida: Festa Junina.
Festividades pagãs
Uma das possíveis origens das celebrações juninas são as festividades pagãs que celebravam os ciclos da natureza, a mudança das estações, plantios e colheitas. Contudo, assim como outras tradições pagãs, o catolicismo abraçou esses costumes para si de modo a converter os pagãos ao cristianismo. Consequentemente, as celebrações foram incorporadas ao calendário católico e ao chegar no Brasil. As celebrações pagãs celebravam os deuses e a vida como um todo. Eram festas abertas a todas as pessoas daquele círculo social. Assim como nas festas juninas, havia comidas, bebidas, músicas e danças, elementos milenares que são preservados até hoje.
Assim como os deuses eram evidenciados e louvados nessas datas, os santos tomaram esse lugar e passaram a protagonizar essas celebrações, como é o caso da tríade Santo Antônio, São João e São Pedro.
São João é relembrado nas festas juninas devido ao seu aniversário, em 24 de junho. Já Santo Antônio foi incorporado devido as tradições envolvendo seu nome, como as simpatias para conseguir casamento e as causas impossíveis. Em consequência da data de seu martírio, São Pedro também compõe a tríade de santos celebrados em junho.
Vale ressaltar ainda que, as celebrações dos deuses pagãos e dos santos cristãos possuem características análogas, fator que auxiliou no processo de reinvenção das festas pagãs pelo catolicismo. Nesse contexto, pode-se mencionar o fato que os ciclos e elementos da natureza são revividos nas festas juninas, como as fogueiras que trazem o elemento fogo, a água e a relação de São Pedro com o clima (santo das chuvas), os mastros erguidos relembrando as árvores e o elemento terra, entre outras ligações.
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Tradições e características das Festas Juninas
A origem da Festa Junina podem variar conforme a região do Brasil onde acontecem. No entanto, algumas tradições e características estão em quase todas as comemorações, como a quadrilha, a decoração típica e os alimentos. Veja abaixo algumas tradições e características em comum na maioria das festas juninas brasileiras.
Quadrilha
A quadrilha é uma das partes mais importantes de uma Festa Junina, principalmente nas festas de São João do nordeste e nas festas escolares. A dança, de origem francesa, tornou-se amplamente conhecida pelos brasileiros e não apresenta regras estritas. A coreografia da quadrilha é composta por passos afrancesados e também brasileiros, retomando a vida na roça e o casamento caipira. Alguns comandos vêm do francês, como changê, tur, balancer, já outros trazem a brasilidade, como o caminho da roça e o famosos “olha a cobra… é mentira”.
Na pluralidade cultural da quadrilha, existem os regionalismos e também a possibilidade de criar novos passos ou usar músicas diferentes. Ela é reinventada cada vez que ocorre. Tradicionalmente é uma dança de pares, sendo um homem e uma mulher, no entanto, há liberdade para haver pares de duas mulheres, dois homens, três pessoas ou ainda homens que se vestem de mulheres e vice versa.
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Pau de sebo
O pau de sebo é uma brincadeira típica de Festa Junina que tem origem portuguesa.
Como o próprio nome diz, trata-se de um pedaço de pau que pode ter até 8 metros de altura que é colocado nas festas para que as pessoas tentem subir. No entanto, essa madeira é regada com muito sebo animal ou outra substância gordurosa. O objetivo da brincadeira consiste em escalar o pedaço de pau até o fim. Essa brincadeira tradicional mantem-se viva em Portugal, na cidade de Póvoa de Varzim. A brincadeira costumava ser permitida apenas para os homens, o que mudou com o tempo.
Bandeiras coloridas
As tradicionais bandeirinhas são utilizadas para enfeitar as celebrações juninas, no entanto, há uma origem do uso desses elementos. Anteriormente, eram usadas nas festas juninas bandeiras com a imagem dos santos, como proteção e também homenagem. Com o passar das décadas, as bandeirinhas foram reinventadas e atualmente não carregam imagens, apenas cores e formatos diversos.
Correio elegante
Uma das brincadeiras mais comuns nas festas juninas é o correio elegante. A tradição consiste em enviar bilhetes com frases, poemas e mensagens de amor e amizade. O correio elegante é oriundo dos tempos onde as pessoas cortejavam aqueles com quem desejavam estar. Geralmente as mensagens enviadas por esse meio continham cantigas populares e alguns versos. Atualmente, o correio elegante compõe majoritariamente as festas juninas escolares, nas quais os alunos cobram um valor simbólico para enviar recados e o dinheiro arrecadado geralmente é utilizado para pagar despesas de formatura.
Fogueira
As fogueiras são um elemento essencial nas festas juninas e não há uma origem específica sobre o uso delas nas comemorações juninas. A versão mais conhecida diz respeito a virgem Maria e a Santa Isabel. Isabel foi à casa de Nossa Senhora (Maria) e disse a ela que estava grávida e que quando seu filho nascesse (São João), acenderia uma fogueira para que Maria soubesse do nascimento e fosse visita-la.
Há também a crença de que tanto a fogueira quanto os fogos de artifício eram usados para despertar São João, que dormia o dia todo durante seu aniversário (24 de junho).Acredita-se ainda que fogueiras espantam os maus espíritos e por isso são acesas durante as festividades, como um resquício das práticas pagãs. As fogueiras também eram utilizadas para atrair indígenas e negros escravizados para as comemorações a fim de converter-lhes ao cristianismo.
Balões
Mesmo sendo um símbolo das comemorações juninas, soltar balões tornou-se um crime ambiental porque causam incêndios dependendo do lugar onde caem. Soltar balões era um costume das populações antigas e medievais. Na China antiga, os balões representavam o fim da colheita de arroz e também eram usados para comunicação entre aldeias. Outras tradições apontam que soltar um balão é uma maneira de comunicar-se com o divido, e por essa razão, as pessoas soltam balões fazendo pedidos aos santos juninos.
Comidas típicas
Sabendo que as celebrações das festas juninas são um mundo plural, as comidas consumidas nessas datas apresentam variedade e particularidades de acordo com cada região. As comidas típicas de festas juninas não seguem uma regra mas costumam ser semelhantes por todo Brasil. Além disso, os alimentos consumidos nessa data carregam questões históricas e culturais.
As receitas e comidas foram adaptadas de acordo com os alimentos disponíveis na mesma época das festas. Nesse caso, podemos citar o milho, que pertencia a culinária indígena e foi incorporado nas comemorações juninas. Outros ingredientes abundantes da culinária brasileira também foram incorporados, como a mandioca, amendoim e o coco. Não somente esses alimentos compõe as comidas típicas como alimentos à base dessas matérias.
Deste modo, não se pode afirmar quando ou porquê certos alimentos compõe a culinária junina. O que se deve ter em mente é que são alimentos diversos e que muitas vezes dependem do regionalismo ou da disponibilidade dos mesmos para estar presentes nas mesas das celebrações juninas.
Casamento caipira
O casamento caipira geralmente ocorre antes da quadrilha, como se fosse um teatro.
A representação do casamento de forma satirizada em uma Festa Junina retrata o panorama dos casamentos forçados. Além disso, também ocorre a representação de questões consideradas “problemáticas” pela sociedade conservadora acerca de um matrimônio. Sexo antes do casamento, gravidez e traições compõe o roteiro de um casamento caipira. Geralmente há a figura do padre ou de um delegado e um dos noivos não deseja o casamento. Sendo assim, não há um motivo específico para justificar a tradição do casamento caipira. É um elemento de caráter mais lúdico do que tradicional.
Apesar das tradições e características das festas juninas serem semelhantes, vale ressaltar que há o regionalismo quando se trata dessa festividade. Em cada lugar do Brasil as festas tem suas particularidades, o que não desmerece uma comemoração ou outra. Além disso, as festas juninas nem sempre ocorrem de maneira grandiosa; algumas famílias optam por fazer suas próprias comemorações com poucas pessoas.
Vídeos sobre a origem da Festa Junina, quadrilha e comidas típicas
Os vídeos abaixo trazem um conteúdo mais específico sobre as quadrilhas, os alimentos e as origens da Festa Junina como um todo. Assista-os e complemente seus saberes acerca de uma das festas mais importantes do Brasil.
Origens das quadrilhas juninas
Neste vídeo, o professor Ricardo Ferreira explica sobre a origem da dança típica das festas juninas: a quadrilha
Festas juninas no nordeste
Neste vídeo você aprenderá mais sobre as origens das festas juninas com ênfase nas comemorações de São João no nordeste do Brasil
Comidas típicas de Festa Junina
Neste vídeo, o canal cultura apresenta algumas comidas típicas de festas juninas e suas origens. Saiba de onde vem a tradição de consumir determinados alimentos nas festas juninas.
Agora que você já leu sobre a origem da Festa Juninas e constatou como essas festividades apresentam uma mistura de elementos culturais, leia sobre o folclore brasileiro para entender de maneira mais ampla a diversidade brasileira
Referências
Festas barrocas no Brasil Colonial – José Manuel Tedin (1990)
Festas na Capitania de São Paulo- Cecília Maria Westphalen (1992)
Arraial: festa de um povo. As romarias portuguesas – Pierre Sanches (1983)
Festas e tradições populares no Brasil – Alexandre José de Mello Moraes Filho (1979)
Por Mayara Carrobrez
Historiadora e Mestra em Letras pela Universidade Estadual de Maringá. Professora de língua inglesa, tradutora e redatora.
Carrobrez, Mayara. A origem da Festa Junina. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/origem-da-festa-junina. Acesso em: 26 de December de 2024.
1. [ENEM]
Folclore designa o conjunto de costumes, lendas, provérbios, festas tradicionais populares, manifestações artísticas em geral, preservado, por meio da tradição oral, por um povo ou grupo populacional. Para exemplificar, cita-se o frevo, um ritmo de origem pernambucana surgido no início do século XX. Ele é caracterizado pelo andamento acelerado e pela dança peculiar, feita de malabarismos, rodopios e passos curtos, além do uso, como parte da indumentária, de uma sombrinha colorida, que permanece aberta durante a coreografia. As manifestações culturais que integram a mesma categoria folclórica descrita no texto são
A) O bumba-meu-boi e a Festa Junina.
B) A cantiga de roda e a parlenda.
C) O saci-pererê e o boitatá.
D) O maracatu e o cordel.
E) A catira e o samba.
E) A catira e o samba por se tratar de um estilo de dança e um ritmo musical. A catira, assim como o frevo, possui coreografias próprias e também uma indumentária específica enquanto o samba, que é um ritmo e uma dança, com características próprias em relação à coreografia e indumentária.
2. [ENEM]
FESTA DE SÃO JOÃO TRANSFORMA AVENIDA PAULISTA EM ARRAIAL NORDESTINO
(1) A frente da mais poderosa federação industrial do país foi dominada por quadrilhas. Seus integrantes não carregavam malas tampouco usavam terno e gravata, como os bandos que dominam o noticiário dos últimos anos.
(2) Era um look festivo, composto de camisa xadrez e vestido de chita. Também não faltaram, nesse domingo de sol e frio, os tradicionais chapéus de palha desfiados, na primeira Festa de São João da Avenida Paulista.
(3) João do Pife, como é conhecido o músico caruaruense, há 59 anos toca o pequeno instrumento de sopro produzido com bambu. É líder da Banda de Pífanos Dois Irmãos, criada pelo pai dele, em 1928, uma das seis atrações de Caruaru (PE) que se apresentaram no palco do arraial montado na Paulista. (…)
(4) Organizada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e pelo Sesi-SP (Serviço Social da Indústria), a quermesse pernambucana colocou famílias inteiras para dançar forró pé de serra, xaxado, xote e baião. As duas entidades investiram R$ 200 mil no evento.
(5) “Nunca tivemos um assédio tão grande”, espantou-se o professor Janduir João dos Santos, comandante do Batalhão de Bacamarteiros, após posar para “mais de uma centena de selfies”. O grupo de bacamarteiros possui 42 integrantes, mas apenas oito participaram do São João daqui. (…)
(6) Ao lado da filha, Isabelly, 9, e da vizinha, Iasmin, 8 – ambas caracterizadas de caipira –, a auxiliar de ambulância Patrícia Regina do Nascimento era só animação. “Festa Junina tem que ser assim: com música de raiz. Não dá para misturar funk ou sertanejo.” No início do mês, a cantora Elba Ramalho, um dos ícones do São João nordestino, criticou a programação de Campina Grande (PB), por dar espaço demasiado aos artistas sertanejos.
(7) Na Paulista podia dançar homem com homem e mulher com mulher, como fez Maria Celestina de Oliveira Marciano, 66. De camisa estampada com flores e frutas, calças jeans e sapatinho preto baixo, “para não apertar o pé”, ela queria mesmo era “ficar no remelexo”. “Isso me lembra o tempo da roça”, disse. Após uma longa pausa, continuou: “Foi num dia de São João que perdi o segundo dos meus cincos filhos. Morreu dormindo”, contou, emocionada. “Agradeço por ele ter vivido por 26 anos.” Revigorada pela sanfona, a mineira de Lambari, antes de dançar mais um bocadinho, completou: “Viva São João! E todos os santos”.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/06/1895969-festa-de-sao-joao-transforma-avenidapaulista-em-arraial-nordestino.shtml Acesso em: 26/06/2017. Adaptado.
Considerando o teor jornalístico do Texto 1, é CORRETO afirmar que seu propósito comunicativo é:
A) apoiar a iniciativa da Fiesp e do Sesi-SP de realizar uma festa junina com atrações nordestinas na capital paulista.
B) criticar a situação política do país quanto a fatos amplamente divulgados pela imprensa nacional.
C) combater certo tipo de preconceito contra a população nordestina, algo que ainda é muito comum em São Paulo.
D) informar o leitor acerca de fato inusitado: uma festa junina com atrações culturais pernambucanas, no centro de São Paulo.
E) protestar contra a invasão de gêneros musicais estranhos aos tradicionais ritmos populares do Nordeste, no período junino.
D) informar o leitor acerca de fato inusitado: uma Festa Junina com atrações culturais pernambucanas, no centro de São Paulo.
Tendo em vista o conteúdo apresentado nos parágrafos, o tema em comum são as festas juninas, por essa razão a alternativa está correta.