Jânio Quadros foi o primeiro presidente a tomar posse em Brasília, capital recém-inaugurada em 1960. Tendo João Goulart como vice, Jânio assumiu a presidência em 31 de janeiro de 1961, mas renunciou apenas sete meses depois, no dia 25 de agosto do mesmo ano. Sua trajetória política ficou marcada por medidas esdrúxulas, como a proibição de biquínis em praias.
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A vida de Jânio Quadros
Jânio da Silva Quadros – nome de registro do político brasileiro – nasceu no dia 25 de janeiro de 1917 na cidade de Campo Grande (MS). Com 18 anos, iniciou a faculdade de Direito em São Paulo, local para onde havia se mudado com sua família. Seu bacharelado foi concluído em 1939 e serviu como base para que ele iniciasse sua vida política poucos anos depois. Em 1942, Jânio casou-se com Eloá do Valle Quadros, com quem teve sua filha, Dirce Maria Quadros.
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Embora tenha exercido os cargos de advogado, professor e literato, Jânio Quadros ficou conhecido pela história devido a sua carreira na política. Antes de ocupar o cargo de presidente, ele já havia exercido outros mandatos. Sua trajetória pode ser resumida da seguinte forma:
- 8 de maio de 1947 a 14 de março de 1951: Vereador de São Paulo
- 14 de março de 1951 a 7 de abril de 1953: Deputado Estadual de São Paulo
- 8 de abril de 1953 a 31 de janeiro de 1955: 28º Prefeito de São Paulo
- 31 de janeiro de 1955 a 31 de janeiro de 1959: 43º Governador de São Paulo
- 2 de fevereiro de 1959 a 3 de fevereiro de 1959: Deputado Federal pelo Paraná
- 1 de agosto de 1960 a 1 de novembro de 1960: Deputado Federal pelo Paraná
- 31 de janeiro de 1961 a 25 de agosto de 1961: 22º Presidente do Brasil
- 1 de janeiro de 1986 a 1 de janeiro de 1989: 44º Prefeito de São Paulo
Para obter o cargo de presidente, Jânio contou com o apoio da UDN (União Democrática Nacional) e recebeu como vice um candidato da oposição: João Goulart. A presidência, entretanto, acabou sendo seu mandato mais breve. Após estar apenas sete meses no poder, Jânio Quadros renunciou ao cargo, gerando uma crise política que se instaurou no Brasil.
Em 1962, Jânio Quadros tentou candidatar-se ao governo de São Paulo, mas não obteve sucesso. Com o golpe militar de 1964, ele teve seus direitos políticos cassados pelo período de dez anos. Em 1968, devido a seus pronunciamentos, acabou sendo confinado na cidade de Corumbá (MS). Seu retorno à vida política ocorreu apenas depois da anistia, quando se candidatou novamente ao governo de São Paulo, em 1982. Como da vez anterior, não obteve sucesso.
Quase no fim de sua vida, Jânio Quadros tornou-se prefeito de São Paulo pelo PTB. Seu mandato durou de 1 de janeiro de 1986 a 1 de janeiro de 1989. Aos 75 anos de idade, acabou falecendo na cidade de São Paulo no dia 16 de fevereiro de 1992.
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Como foi o governo presidencial de Jânio Quadros?
A rápida ascensão de Jânio Quadros ao poder presidencial foi motivo de espanto para muitas pessoas. Em menos de 15 anos, o político construiu sua carreira política: passou de vereador à Presidente da República eleito com 5,6 milhões de votos, o maior número obtido no país até então.
Em 1960, Jânio participou das eleições como candidato à presidência pelo PTN (Partido Trabalhista Nacional). Derrotada nas últimas eleições, a UDN optou por apoiá-lo, renunciando a um candidato próprio. Assim, com o apoio da coligação PTN-PDC-UDN-PR-PL, Jânio venceu o marechal Henrique Lott na disputa política. O vice-presidente escolhido por sua chapa, entretanto, não conseguiu se eleger. Naquele momento, os eleitores do país votavam de forma individual para presidente e vice. Por isso, no lugar de Milton Campos, João Goulart (PTB) foi o vice-presidente eleito para governar o país junto a Jânio Quadros.
Todo esse desenrolar eleitoral de 1960 deu continuidade ao processo democrático iniciado em 1946, depois de a ditadura do Estado Novo (1937-1946) ter terminado. O novo presidente eleito trazia esperança, propondo modificações estratégicas que deveriam conduzir o país a uma fase de progresso, com controle da inflação e manutenção da democracia. O que ninguém esperava, no entanto, é que ele permaneceria tão pouco tempo no poder.
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Características do governo
- Política externa independente
- Decretos pautados pela defesa da moralidade e costumes
- Ações contraditórias e polêmicas
Jânio chamava a atenção por seu perfil exibicionista e por uma campanha baseada na defesa da moralidade. Embora não fosse um dos candidatos mais populares, ganhou seu eleitorado comprometendo-se a investigar a corrupção instaurada no Brasil. A vassoura tornou-se símbolo de sua candidatura. Prometendo “varrer” a sujeira do país, o político usou o símbolo diversas vezes em discursos e “jingles”, chegando, inclusive, a distribuir vassourinhas aos seus eleitores.
Após eleito, Jânio não deixou de chamar a atenção das pessoas e da mídia para suas ações. Ao contrário, deu início a uma série de medidas que ficaram conhecidas mundialmente por suas características um tanto quanto peculiares.
Polêmicas
Dentre as proibições mais comentadas e debatidas pela opinião pública da época, estavam: a proibição dos biquínis nos concursos de miss, a suspensão das rinhas de galo, a interdição do uso lança-perfume em bailes de carnaval, e a tentativa de regulamentar o carteado.
Outra medida que ganhou atenção foi o fato de Jânio ter empregado o método de comunicação utilizado pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Winston Churchill, durante conflitos bélicos. O presidente brasileiro comunicava-se com seus assessores e ministros através de memorandos, os famosos “bilhetinhos de Jânio”, como ficaram conhecidos. Além de provocar estranheza dos conservadores, esse método foi zombado por seus opositores.
A maior de todas suas proezas, entretanto, ocorreu na data de 19 de agosto de 1961. Em plena Guerra Fria, Jânio condecorou Ernesto Che Guevara – o guerrilheiro da Revolução de Cuba – com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, homenagem concedida tradicionalmente às personalidades estrangeiras dignas do reconhecimento da população brasileira. A justificativa de Jânio foi a de que estava agradecendo Guevara por ter libertado mais de 20 sacerdotes presos e condenados ao fuzilamento em Cuba que, ao invés de mortos, foram exilados na Espanha. Como esperado, a medida acabou tendo uma repercussão imediatamente negativa.
Desde que assumiu o poder, a bipolaridade mundial influenciava as decisões políticas de seu governo. Jânio, no entanto, afirmou que a disputa ideológica entre Estados Unidos e União Soviética não iria pautar as relações externas do Brasil. Assim, defendendo uma política externa independente, Jânio fez acordos comerciais tanto com o bloco capitalista quanto com o socialista. O problema é que, ao tentar agradar os dois lados, não agradava nenhum completamente.
A renúncia do mandato que durou menos de um ano
Mesmo com todas as críticas que recebia, o governo de Jânio Quadros nunca passou por nenhuma crise militar ou política, como ocorreu com presidentes antes dele. Obviamente, existiam opositores ao seu mandato, mas estes não possuíam nada concreto que pudesse fazê-lo perder o cargo presidencial. A surpresa foi geral quando o próprio Jânio decidiu que renunciaria ao poder. Em 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros comunicou sua renúncia ao Congresso por meio de um bilhete.
Posteriormente, em sua carta, escreveu o seguinte trecho:
“Fui vencido pela reação e, assim, deixo o Governo. Nestes sete meses, cumpri meu dever. Tenho-o cumprido, dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções nem rancores. Mas, baldaram-se os meus esforços para conduzir esta Nação pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, o único que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.” (QUADROS, 1961).
Caracterizado por suas medidas polêmicas, Jânio renunciou ao poder sem dar muitas explicações. Em sua carta, informou somente que “forças terríveis” haviam se levantado contra ele. Muitos historiadores acreditam que a medida pode ter sido uma forma de ganhar apreço popular, acreditando que o povo pediria para ele não desistir da presidência. O desfecho, no entanto, não foi esse. Após apresentar seu pedido, Jânio Quadros deixou a presidência.
Segundo a Constituição, quem deve assumir o poder diante da renúncia do presidente é seu vice. A questão é que João Goulart encontrava-se em uma visita à China naquele momento. Como não conseguiu assumir de imediato, quem entrou no poder foi Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados. Diante das críticas de ministros militares, Jango só conseguiu assumir o poder em 7 de setembro de 1961 através do parlamentarismo aprovado pelo Congresso Nacional.
Videoaulas
Seguem abaixo 3 videoaulas que irão auxiliar e complementar os estudos sobre Jânio Quadros e o período em que ele esteve na presidência da república.
O governo de Jânio Quadros:
Através de uma linguagem acessível e didática, esse vídeo resume os principais acontecimentos e características do curto governo de Jânio Quadros. As imagens apresentadas ao longo da explicação também ajudam na criação de mapas mentais que vão sendo apresentados aos poucos.
Jingle da campanha:
Durante toda sua campanha eleitoral, Jânio Quadros utilizou a imagem de uma vassoura para representar a ideia de que, caso assumisse o poder, iria combater a corrupção do país. No jingle acima, é possível perceber que, além de citada várias vezes na canção, a vassoura também pode ser identificada pelo barulho de alguém “varrendo” alguma sujeira. Embora tenha assumido essa postura na candidatura, Jânio Quadros acabou sendo acusado de casos de corrupção em seu governo após seu mandato ter chegado ao fim.
Resumo animado do governo de Jânio:
Nesse vídeo, o professor de história Orlando Zanella explica de forma resumida e animada os principais aspectos que envolveram o governo e a renúncia de Jânio Quadros.
O fim do governo de Jânio Quadros deixou muitas questões na política brasileira que teriam de ser revolvidas. Toda essa situação gerou consequências e trouxe a instabilidade política que, posteriormente, contribuíram para o golpe militar de 1964. Para compreender melhor o que foi esse período, acesse A ditadura militar no Brasil.
Referências
Entre o mito e a propaganda política: Jânio Quadros e sua imagem pública (1959-1961) (2008) – Jefferson José Queler.
Jânio: Vida e Morte do Homem da Renúncia (2012) – Bernardo Schmidt.
Jânio da Silva Quadros – Arquivo Nacional, Centro de Referência de Acervos Presidenciais.
Por Nathália Moro
Doutoranda, mestre e graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Nas horas vagas, costuma aproveitar seu tempo com a família ou em sua própria companhia. Adora viajar para lugares históricos, conhecer novas culturas, experimentar pratos típicos, conversar com pessoas mais velhas e bater um bom papo sobre alimentação.
Moro, Nathália. Jânio Quadros. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/janio-quadros. Acesso em: 21 de November de 2024.
1. [UDESC 2019/2]
Ao se observar o panorama político brasileiro, no século XX, Jânio Quadros, presidente do Brasil entre 31 de janeiro e 25 de agosto de 1961, emerge como uma personalidade extravagante. Seu governo foi marcado por contradições e polêmicas, deambulando entre esquerda e direita política.
Dentre as atitudes polêmicas, que marcaram seu curto governo, citam-se:
a) O fechamento do congresso e a instauração do parlamentarismo.
b) A proibição da prática do Skate e a tentativa de assassinato de João Goulart.
c) O rompimento de relações democráticas com os EUA e a instauração do comunismo.
d) A instauração do bipartidarismo e o estreitamento de laços com a Rússia.
e) A proibição do uso de biquínis nas praias e a condecoração de Che Guevara.
e) A proibição do uso de biquínis nas praias e a condecoração de Che Guevara.
Justificativa:
Dentre todas as medidas de Jânio Quadro, as que mais chamaram atenção e geraram polêmicas foram a proibição do uso de biquínis em praias e a condecoração do revolucionário marxista Che Guevara.
2. [Mackenzie]
Foram características do breve governo Jânio Quadros em 1961:
a) a política externa totalmente alinhada aos interesses norte-americanos.
b) a ausência de medidas anti-inflacionárias, gerando a forte pressão do FMI.
c) o estilo personalista e polêmico do presidente, além da oposição conservadora à política externa independente de seu governo.
d) a intensa colaboração entre presidente e Congresso nas questões administrativas.
e) a total dependência política do presidente em relação ao seu partido, a UDN.
c) o estilo personalista e polêmico do presidente, além da oposição conservadora à política externa independente de seu governo.
Justificativa:
O governo de Jânio Quadros ficou reconhecido por suas políticas extravagantes e esdrúxulas durante os sete meses em que esteve no poder. Além de suas ações contraditórias, Jânio também jogava entre a direita e a esquerda na política interna e externa do país.
3. [UERJ - 2003]
Varre, varre, varre, varre, vassourinha.
Varre, varre a bandalheira,
Que o povo já está cansado
De sofrer desta maneira.
Jânio Quadros é a esperança deste povo abandonado.
(Nosso Século. São Paulo: Abril Cultural, 1980).
Esse “jingle” acompanhou o candidato Jânio Quadros durante a sua campanha à presidência da República, em 1960. A letra sintetiza a seguinte política de resolução dos problemas da época:
a) a austeridade do governo e o controle dos gastos públicos conteriam a inflação e a corrupção oficial.
b) a disputa de mercados externos e a ideologia nacionalista aumentariam o superavit comercial e a geração de renda.
c) o atendimento à economia popular e à produção de alimentos baixariam o custo de vida e os gastos do governo.
d) a defesa dos interesses nacionais e a adoção de uma política externa independente gerariam emprego e novas possibilidades econômicas.
a) a austeridade do governo e o controle dos gastos públicos conteriam a inflação e a corrupção oficial.
Justificativa:
A “vassoura” foi usada durante a campanha e carreira política de Jânio Quadros para representar o combate à “sujeira”, corrupção, do país. Apesar disso, já ao final de sua vida, o ex-presidente acabou sendo acusado de corrupção.