Liberalismo

O liberalismo defende a garantia das liberdades individuais e procura desconfiar dos poderes do Estado.

O liberalismo surge como um filho do iluminismo entre os séculos XVII e XVIII. Em resumo, essa doutrina defende a garantia da liberdade dos indivíduos. Após tantos anos, atualmente há muitos usos e significados desse termo, ao ponto de pessoas com posicionamentos completamente opostos serem igualmente liberais. Saiba mais:

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O que é o liberalismo

O liberalismo é uma doutrina que procura defender a liberdade dos indivíduos, desconfiando do poder exercido pelo Estado.

Relacionadas

Iluminismo
O Iluminismo influenciou uma série de transformações políticas e sociais no século XVIII.
Absolutismo
O absolutismo é uma forma de política que deixa o poder concentrado nas mãos de um rei.
Racionalismo
"Penso, logo existo", uma das frases mais conhecidas da filosofia pertence a um dos grandes racionalistas: René Descartes.

Afinal, a “liberdade” é frequentemente entendida como uma vida sem impedimentos ou repressões. Quando o liberalismo surgiu, seu alvo de crítica eram os Estados e reis absolutistas que influenciavam demais a vida das pessoas. Hoje, o debate já é outro porque o contexto é diferente.

Estado mínimo

Uma das marcas do liberalismo é a crítica aos poderes estatais. Nesse quesito, as opiniões divergem: há pensadores que defendem que o Estado é importante para garantir o básico da vida e apenas isso; outros, que o aparelho estatal deve agir mais para proteger os indivíduos de repressões.

O primeiro caso se refere aos grupos que defendem o Estado mínimo. Assim, esse liberalismo argumenta que o poder estatal deve interferir o mínimo possível na economia, principalmente, e trabalhar apenas para garantir direitos políticos e de propriedade.

O segundo caso, que realiza uma crítica aos defensores do Estado mínimo, geralmente é o grupo que argumenta a favor do Estado de bem-estar social. Ou seja, há fatores como a pobreza e a discriminação que reprime e reduz a liberdade dos indivíduos – e o Estado deve administrar esses problemas.

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Principais características do liberalismo

Por mais que existam diferentes visões sobre o liberalismo, há algumas características principais que podem ser levantadas para definir essa filosofia. Desse modo, é possível também evitar alguns enganos. Veja abaixo:

  • Garantia da liberdade: a ideia central nessa doutrina é a “liberdade”, e cada pensador pode definir esse termo de modo diferente. No entanto, a noção liberal defende que as pessoas devem ser livradas de proibições e constrangimentos de suas vidas para fazerem aquilo que desejam.
  • Racionalidade: tendo uma de suas inspirações do iluminismo, a corrente liberal se pauta bastante na confiança na racionalidade dos indivíduos. Portanto, é por meio da razão e das decisões bem ponderadas que as pessoas podem resolver seus problemas e tomar decisões.
  • Atenção ao indivíduo: a doutrina liberal é uma das filosofias que volta a sua atenção ao indivíduo, ou seja, que uma pessoa deve ser vista em si mesma, independentemente de seu pertencimento a um grupo ou classe social.
  • Preocupação com o poder: como nasce no contexto dos governos absolutistas, o liberalismo se preocupa com a distribuição do poder. Desse modo, pensadores liberais desconfiam geralmente de autoridades e órgãos que concentram grande poder.
  • Progresso: ao contrário de um pensamento conservador ou revolucionário, a ideia liberal é mais filiada ao progresso ou às reformas. Em outras palavras, as mudanças podem ser alcançadas aos poucos ao longo do tempo, com o acúmulo de experiência e conhecimento.

Essas são algumas das características fundamentais da filosofia liberal. Não obstante, é também necessário ter em vista que esses argumentos são refutados e criticados por outros posicionamentos políticos e econômicos.

Liberalismo econômico

O liberalismo econômico enfoca, obviamente, nas questões econômicas referentes à liberdade. Portanto, pensadores liberais defendem que o Estado deve interferir o mínimo possível na economia para incentivar o livre mercado e as iniciativas privadas.

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O autor clássico dessa doutrina é Adam Smith, com suas famosas proposições como a “mão invisível do mercado” – ou seja, segundo a sua concepção a economia pode funcionar e se desenvolver segundo suas próprias leis, independentemente do Estado. Contudo, essas ideias são atualmente contestadas.

Liberalismo político

O liberalismo político está relacionado com a conquista de direitos civis e políticos, como a liberdade de ir e vir, a igualdade perante a lei e a possibilidade de voto. Logo, é uma base fundamental da democracia liberal que conhecemos.

Essas ideias foram influenciadas pelo iluminismo que argumentavam a favor da racionalidade, autonomia e individualidade das pessoas. Desse modo, o Estado deveria garantir e respeitar esses direitos básicos. É daí que advêm, por exemplo, os direitos humanos.

Liberalismo francês

O famoso lema “igualdade, liberdade e fraternidade” tem origem na Revolução Francesa do século XVIII, e é de inspiração fortemente liberal. Naquele contexto, havia um processo de crítica e de luta contra a monarquia absolutista.

Com a crise do Estado absolutista, os privilégios da monarquia, os luxos da aristocracia, os poderes da Igreja e as posses hereditárias foram fortemente contestadas. Agora, o indivíduo deveria ser livre dessas repressões.

Portanto, o liberalismo e o seu movimento francês foram marcos importantes no desenvolvimento do capitalismo.

Liberalismo e o neoliberalismo

Após as críticas e as derrubadas aos Estados absolutistas, os pensadores liberais encontraram um outro contexto de reflexão. Agora, o poder estatal não era a simples fonte das repressões aos indivíduos.

Na verdade, haviam problemas como a pobreza e a discriminação que também restringiam a liberdade individual. Assim, o Estado devia trabalhar no sentido de administrar e reduzir a desigualdade social. Nesse contexto, em parte surge o Estado de bem-estar social.

Entretanto, esse modelo de Estado de bem-estar social é logo criticado por uma nova doutrina: o neoliberalismo. Nessa nova vertente, a garantia dos direitos sociais é chamada de ‘assistencialista’, vista como algo negativo. Assim, ressurgem ideias do liberalismo econômico e do Estado mínimo.

Vídeos sobre as ideias liberais

O assunto tratado é bastante amplo, e pode desembocar em uma série de debates. Por isso, confira uma seleção de vídeos a seguir que apresenta o liberalismo tanto em acepções originais como as discussões que cercam esse termo hoje:

O que são os liberalismos

Para começar, é importante recapitular os sentidos que esse termo carrega em diferentes contextos. Desse modo, será possível iniciar uma discussão mais responsável sobre a temática.

A fonte iluminista

O liberalismo emerge em grande parte com o impulso dado pelo movimento iluminista. Nesse contexto, a Razão era levantada como aquilo que deveria nortear as decisões humanas.

O liberalismo econômico clássico: Adam Smith

Adam Smith é considerado por muitos o “pai do liberalismo”. De fato, ele foi responsável por elaborar um pensamento mais voltado às questões econômicas. Saiba mais.

O liberalismo na atualidade

Atualmente, essa corrente filosófica possui diversas acepções, e está sempre relacionada com movimentos políticos – se relacionando, surpreendentemente, com o conservadorismo, por exemplo. Entenda sobre como esses fenômenos ocorrem.

Sobre formas de repressão: o racismo

Um dos debates contemporâneos importantes é sobre como a desigualdade social interfere na liberdade dos indivíduos, impedindo sua ascensão social. Mesmo que a leitura não seja liberal, o racismo é um fenômeno que deve ser discutido no mundo hoje.

Portanto, discutir sobre o liberalismo pode ser uma tarefa difícil hoje. Entretanto, o debate pode ficar mais produtivo e respeitoso ao entendermos de onde cada concepção vem, e a quais movimentos elas se ligam. Além disso, compreender sua origem também é imprescindível.

Referências

A sujeição das mulheres – John Stuart Mill;

O federalista – Alexander Hamilton; James Madison; John Jay;

O que é liberalismo, afinal? – Alexandra Strommer Godoi.

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Liberalismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/liberalismo. Acesso em: 22 de November de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [ENEM]

O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela algumas características de uma determinada corrente de pensamento:
Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a utilização do mesmo é muito incerta e está constantemente exposto à invasão de terceiros porque, sendo todos senhores tanto quanto ele, todo o homem igual a ele e, na maior parte, pouco observadores da equidade e da justiça, o proveito da propriedade que possui nesse estado é muito inseguro e muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade. (Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.)
Do ponto de vista político, podemos considerar o texto como uma tentativa de justificar:
a) A existência do governo como um poder oriundo da natureza.
b) A origem do governo como uma propriedade do rei.
c) O absolutismo monárquico como uma imposição da natureza humana.
d) A origem do governo como uma proteção à vida, aos bens e aos direitos.
e) O poder dos governantes, colocando a liberdade individual acima da propriedade.

Resposta: d

Justificativa: o Estado defendido classicamente pelos liberais é aquele mínimo, ou seja, que se dispõe a garantir às proteções básicas para o sustento da vida apenas.

2. [FAAP]

Os pensadores do liberalismo econômico, como Adam Smith, Malthus e outros, defendiam:
a) intervenção do Estado na economia
b) o mercantilismo como política econômica nacional
c) socialização dos meios de produção
d) liberdade para as atividades econômicas
e) implantação do capitalismo de Estado

Resposta: d

Justificativa: os pensadores liberais defendem a liberdade em diversos sentidos a depender do contexto. No caso dos pensadores clássicos como Adam Smith, era forte a argumentação a favor da liberdade econômica, ou seja, pela mínima intervenção do Estado na economia.

3. [UFV]

Exalta o direito de propriedade individual e da riqueza; opondo-se, consequentemente, à intervenção do estado na economia. Defende intransigentemente que deve haver total liberdade de produção, circulação e venda. Considera que o homem, enquanto indivíduo, deve desfrutar de todas as satisfações, não se submetendo senão aos limites da Razão. Crê no Progresso como sendo resultado de um fenômeno natural e decorrente da livre concorrência que, ao estimular as atividades econômicas, é a única forma aceitável de proporcionar liberdade, felicidade, prosperidade e igualdade entre todos os homens.
O trecho acima pode ser considerado uma síntese dos valores constitutivos da ideologia política intitulada:
a) Catolicismo social.
b) Socialismo utópico.
c) Socialismo científico.
d) Liberalismo.
e) Anarquismo.

Resposta: d

Justificativa: a garantia da liberdade e do bem individual, permitindo que este faça aquilo que lhe convém, é uma das premissas centrais do liberalismo.

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