Hedonismo é uma filosofia de origem grega que produziu reflexões sobre o que é uma vida feliz. Essa palavra vem do grego hedoné, e coloca como objetivo central a busca do prazer e a fuga das dores. Portanto, a sensação ou o prazer constituem o princípio para alcançar a felicidade.
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Tipos de Hedonismo
Desde a sua origem grega, há diversas acepções do que se entende por hedonismo. Portanto, é necessário conhecer os diferentes sentidos dessa filosofia. Veja abaixo alguns desses tipos:
Hedonismo cirenaico
Aristipo de Cirene foi o primeiro filósofo que pensou sobre uma filosofia hedonista. Assim, fundou uma linha de pensamento que ficou conhecida como cirenaica. Sua grande premissa é de que o fim supremo da vida humana deve ser a busca do prazer e, ao mesmo tempo, evitar a dor.
Para o autor, o prazer é caracterizado por um movimento suave, enquanto a dor é brusca. Desse modo, nenhum prazer é melhor que o outro – existe apenas a diferença entre prazer e dor. Consequentemente, as pessoas deveriam procurar por todos os tipos de movimento que lhe proporcionem o sentimento prazeroso e, assim, alcançar a felicidade.
Hedonismo epicurista
Epicuro foi um filósofo grego bastante influenciado pelo hedonismo cirenaico. Entretanto, o hedonismo formulado por ele se difere daquele de Aristipo de Cirene, porque considera o prazer como aquilo que proporciona tranquilidade e equilíbrio. Diante disso, para Epicuro, não se deve buscar todos os prazeres, mas apenas os que trazem tais benefícios.
Em outras palavras, o hedonismo de Epicuro tem mais a ver com a ausência de sofrimento e perturbações do que ao gozo e as sensações prazerosas. Apenas pela busca de uma calma e de um equilíbrio seria possível alcançar esse prazer epicurista.
Hedonismo psicológico
Posteriormente aos filósofos gregos, o hedonismo foi retomado fortemente pelos utilitaristas, como Jeremy Bentham e Stuart Mill. Para Bentham, as ações humanas deveriam ser orientadas por um princípio de utilidade, ou seja, de promover atitudes que resultem em uma felicidade duradoura.
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Para os utilitaristas, a felicidade é equivalente ao prazer pensado na filosofia hedonista. Assim, o que fundamenta a sua ideia é o hedonismo psicológico: conforme essa perspectiva, toda a humanidade, universalmente, tende a buscar o prazer e evitar as possíveis dores.
Hedonismo ético
Se o hedonismo psicológico fundamenta a ideia utilitarista, esses pensadores propõem um hedonismo ético. Em outras palavras, os utilitaristas propuseram que as ações humanas – incluindo aquelas dos governantes – devem ser guiadas pelo princípio de utilidade.
Dessa forma, suas atividades devem ter como resultado proporcionar o máximo de felicidade geral. Nessa discussão, um grande problema enfrentado pelos utilitaristas foi a de definir “felicidade” ou “prazer”, assim como Aristipo de Cirene e Epicuro tiveram de fazer.
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Exemplos de hedonismo
O hedonismo é uma filosofia que coloca o prazer como o princípio para alcançar a felicidade. Entretanto, o que se define como prazer? Em que termos essa busca deve ocorrer? Esses são alguns dos problemas suscitados pelo hedonismo. Veja a seguir algumas frases que possuem tal preocupação hedonista:
- “A felicidade é parecida com a liberdade, porque toda a gente fala nela e ninguém a goza.” (Camilo Castelo Branco);
- “O desejo é uma árvore com folhas; a esperança, uma árvore com flores; o prazer, árvore com frutos.” (Guilherme Massien);
- “Se os homens estivessem satisfeitos consigo mesmos, estariam menos insatisfeitos com as suas mulheres.” (Voltaire);
- “Há na sensualidade uma espécie de alegria cósmica.” (Jean Giono).
Assim, o hedonismo nos ajuda a pensar no sentido dos prazeres da vida humana e até em como lidamos com eles na relação com os outros. Nessa direção, a filosofia hedonista é ainda importante para suscitar discussões sobre ética e moral.
Hedonismo da atualidade
Atualmente, um debate minucioso sobre o que é o prazer e seu lugar na filosofia hedonista parece ter um lugar limitado. Ao invés disso, o hedonismo passa a ter um significado mais geral, ligado a qualquer atitude humana que busca desenfreadamente o próprio prazer.
Consequentemente, o hedonismo atualmente é sinônimo muitas vezes de consumismo ou individualismo. Assim, em sua forma extrema, significa também buscar prazeres imediatos sem medir as consequências ou pensar no outro.
Essa visão do hedonismo é bastante fomentada por pessoas que criticam o modo de vida capitalista atual. Além disso, há frequentemente uma crítica por parte de religiosos, geralmente cristãos, que pregam contra a satisfação dos prazeres carnais.
Contudo, é importante lembrar que definir o que é prazer e o seu papel na felicidade humana é uma discussão importante na filosofia hedonista, independentemente de sua vertente. Desse modo, nem sempre o hedonismo precisa vir carregado com um peso moral negativo.
Entenda mais sobre hedonismo
Confira abaixo uma seleção de vídeos que podem lhe ajudar a explanar a temática do hedonismo, além de dar mais subsídios para discutir o assunto:
Origem da ideia de hedonismo
Como já explicado, o hedonismo tem origem na filosofia grega. Nesse vídeo, esse contexto de produção do pensamento hedonista é melhor explanado.
O sentido do hedonismo em Epicuro
Epicuro é ainda um dos filósofos mais conhecidos para tratar do hedonismo. Portanto, conheça mais sobre como esse assunto é tratado no autor.
Mais sobre Epicuro
Um dos objetivos da filosofia hedonista é pensar sobre a felicidade humana. Assim, saiba mais sobre a relação entre prazer e felicidade em Epicuro.
Assim, a filosofia hedonista pode suscitar discussões sobre a vida contemporânea e como lidamos com o prazer. De fato, a reflexão sobre a felicidade é um problema antigo na filosofia e o tema pode ser estendido ainda em um debate com outras vertentes do pensamento.
Referências
Ética utilitarista: problemas e respostas – Leandro Shigueo Araújo;
Hedonomia e propaganda: uma análise conceitual – Alberto de Oliveira Lima Filho;
O hedonismo de Epicuro e o hedonismo da escola cirenaica – Osmar Martins Souza; José Joaquim Pereira Melo.
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Hedonismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/hedonismo. Acesso em: 03 de December de 2024.
1. [ENEM]
Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.
EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974.
No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim:
A) alcançar o prazer moderado e a felicidade
B) valorizar os deveres e as obrigações sociais
C) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação
D) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber
Resposta: A
Justificativa: o argumento de Epicuro sobre o prazer se assenta em um prazer que resulta na tranquilidade e no equilíbrio, e não no movimento.
2. [UFF]
Filosofia
O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia.
Assinale a sentença do filósofo grego Epicuro cujo significado é o mais próximo da letra da canção “Filosofia”, composta em 1933 por Noel Rosa, em parceria com André Filho.
A) é verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que apreendemos pela intuição mental
B) para sermos felizes, o essencial é o que se passa em nosso interior, pois é deste que nós somos donos
C) para se explicar os fenômenos naturais, não se deve recorrer nunca à divindade, mas se deve deixa-la livre de todo encargo, em sua completa felicidade
D) as leis existem para os sábios, não para impedir que cometam injustiças, mas para impedir que as sofram
E) a natureza é a mesma para todos os seres, por isso ela não fez os seres humanos nobres ou ignóbeis, e, sim suas ações e intenções
Resposta: B
Justificativa: a centralidade das sensações e dos prazeres possui uma consequência ética e política de que, de fato, para se alcançar a felicidade, se depende apenas desses prazeres, que seriam essencialmente individuais.