O existencialismo é uma corrente filosófica conhecida por trabalhar os temas da existência humana, como a liberdade e a angústia. Teve início no século XIX, mas se popularizou com os filósofos franceses do século XX. Seus principais representantes são Kierkegaard, Nietzsche, Sartre e Simone de Beauvoir. Confira as ideias centrais da teoria e os pensamentos de seus autores mais importantes.
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Resumo
O existencialismo é uma escola filosófica, um modo de investigação filosófica e, também, um movimento intelectual que teve início no século XIX e se popularizou no século XX, sobretudo nos anos de 1940 e 1950. O grande problema para o existencialismo, como o próprio nome sugere, é a existência humana, com foco na experiência do indivíduo que pensa, age e sente.
Relacionadas
Os temas trabalhados pelos filósofos existencialistas são: a angústia existencial, os problemas sobre o significado, o valor da existência humana e a liberdade. Não é consenso na comunidade filosófica sobre quem seria o primeiro filósofo existencialista, alguns atribuem o título a Kierkegaard, já outros, a Sartre. Mais filósofos existencialistas conhecidos são: Nietzsche, Sartre, Merleau-Ponty, Simone de Beauvoir e Camus.
O existencialismo, como escola filosófica, foi uma resposta aos pensadores anteriores que exaltavam a razão como única forma de apreensão de conhecimento. Assim como o movimento romântico, na literatura, o existencialismo também é a expressão da crise da razão e da subjetividade.
Como investigação filosófica, o existencialismo é uma crítica às filosofias sistemáticas e uma crítica ao enrijecimento da academia ao tratar das questões filosóficas e humanas. Para eles, as filosofias sistemáticas eram demasiadamente abstratas e não conseguiam expressar, de fato, a experiência humana em sua concretude.
Entre os anos de 1940 e 1950, o existencialismo atua como uma resposta à crise existencial a qual a humanidade se viu submetida durante e após os eventos da 2ª Guerra Mundial. Por isso, tornou-se, também, um movimento intelectual, que não se limitou à filosofia e atingiu outros meios, como a arte – na literatura, no teatro e no cinema.
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Características
As principais críticas do existencialismo são relativas aos pensadores racionalistas e aos idealistas. Na filosofia existencialista, a razão não é capaz de solucionar todos os problemas impostos pela realidade, a essência humana não é concebida como uma categoria pré-determinada e o que realmente importa é entender a existência e tudo o que circunspecta o existir humano.
- A existência precede a essência: isso significa dizer que primeiro nós existimos e, depois, construímos nossa essência a partir de nossas vivências.
- Autonomia moral: ou seja, a noção de que agimos sempre por uma escolha e devemos arcar com as responsabilidades de tal escolha. A liberdade é uma prática, não é apenas um conceito abstrato e passivo.
- Noção do absurdo: para o existencialismo, o absurdo é a ideia de que não há sentido no mundo, a não ser o sentido que lhe atribuímos. Essa falta de sentido também contempla a “injustiça” do mundo. O conceito de absurdo dispõe o entendimento de que não existe um propósito para a vida, como quer a religião, por exemplo, que compreende o propósito da vida como o de seguir as ordens de Deus. Viver pelo conceito do absurdo significa, portanto, rejeitar uma vida que procura um sentido específico para a existência humana, haja vista que não há nada para se encontrar.
- Busca pelo sentido e pelo significado: uma vez que não existe um sentido pré-determinado no mundo, é preciso que os homens atribuam, por si mesmos, sentido às coisas em sua cotidianidade.
- Sujeito ativo: segundo o existencialismo, o sujeito deve agir e buscar enfrentar os problemas postos pela realidade, deve, também, construir a vida a partir de sua própria consciência, superando suas limitações. Para os existencialistas, o homem não pode assumir um papel passivo diante de vi e do mundo. O homem é, portanto, um sujeito para-si e não em-si.
- Angústia existencial: é o conceito que deriva experiência da liberdade e responsabilidade humana. É o sentimento negativo, causado pela falta de um impeditivo imperativo. O exemplo clássico é de Kierkegaard, sobre o penhasco. Existe a liberdade de pular, o medo de ter a vontade de se jogar e o conhecimento de que não há nada que impeça o sujeito de praticar tal ação. Essa angústia, então, é fruto da própria liberdade.
As principais características do existencialismo, são, portanto, os problemas filosóficos que concernem à existência humana, como a liberdade e a angústia.
O que é ser uma pessoa existencialista
Uma pessoa existencialista é normalmente associada àquela que se debruça sobre as questões da existência e que pensa sobre o seu agir. É uma pessoa que entende a sua liberdade e a exerce sem se eximir das responsabilidades, mas que também carrega uma grande angústia.
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Principais autores do existencialismo
Os principais autores dessa escola filosófica são: Søren Kierkegaard, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Friedrich Nietzsche, Maurice Merleau-Ponty e Albert Camus.
Sartre
Jean-Paul Sartre, nasceu em Paris em junho de 1905 e morreu em abril de 1980, foi um filósofo e escritor francês. Suas obras filosóficas mais importantes são: O ser e o nada: ensaio de uma ontologia fenomenológica (1943), A imaginação (1936), Ensaios: O existencialismo é um humanismo (1946) e Crítica da razão dialética (1960).
É de Sartre a frase “a existência precede a essência”, como explicado acima, isso significa dizer que o sujeito não é concebido por uma série de pré-determinações que constituem seu ser. Ao contrário, o sujeito só é a partir do momento em que ele se faz presente no mundo e se realiza, ou seja, a partir do momento em que ele existe. Antes de existir, o homem não é nada.
Também é de Sartre a frase “o homem é condenado a ser livre […] Condenado porque não se criou a si próprio; no entanto, livre, porque uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer.” Para o filósofo, a liberdade é o grande tema da existência. Essa liberdade, no entanto, não está isenta de responsabilidade, pois o homem é responsável por seus atos e escolhas. A experiência da liberdade também provoca a angústia, assim como para Kierkegaard.
Kierkegaard
Søren Aaybe Kierkegaard foi um filósofo e teólogo dinamarquês, nasceu em 1813 e morreu em 1855, em Copenhague. Suas principais obras são: Enten-Eller – Ou isto, ou aquilo – (1843), Temor e Tremor (1843), O Conceito de Angústia (1844) e O Desespero Humano (1849).
A grande finalidade da filosofia de Kierkegaard foi definir o que é a existência humana, por isso é considerado por alguns como o pai do existencialismo. Suas ideias mais conhecidas são a defesa da verdade subjetiva e o tema da liberdade. Teceu grandes críticas a Hegel, porque entendia que o homem é um ser da subjetividade, ou seja, não faz parte de um sistema, como propunha a filosofia hegeliana. Assim como os demais existencialistas, também criticou o racionalismo e os filósofos que viam, na razão, a possibilidade se solucionar todos os problemas da existência.
Kierkegaard dizia que “a angústia é a vertigem da liberdade”. A liberdade também é um tema central, entretanto, é abordada pela perspectiva da angústia. Para ele, a verdadeira liberdade só é realmente possível se houver angústia, pois é a angústia que guia o homem, é ela que lhe apresenta as suas possibilidades de escolha.
Na filosofia de Kierkegaard, o homem é um eterno vir-a-ser, está sempre em construção, justamente porque ele é capaz de escolher, de agir diante dos problemas do mundo e de se responsabilizar por essas ações.
Simone de Beauvoir
Simone de Beauvoir (1908-1986) foi uma filósofa, escritora e feminista francesa, nasceu em Paris em 1908 e morreu em 1986. Sua principal obra é O Segundo Sexo (1949).
A famosa frase “não se nasce mulher: torna-se” é dela. Simone de Beauvoir usou o tema da liberdade para falar da luta pela liberdade das mulheres. Nessa frase, podemos ver o postulado existencialista de que a existência precede a essência, considerando que nascer mulher seria a essência. Como a essência (ou seja, ser mulher) não é algo dado e pré-determinado, é preciso tornar-se, é preciso construir sua essência a partir das vivências experienciadas ao longo da vida.
A base de seu pensamento está em criticar o pensamento tradicional machista que coloca o ser humano diretamente relacionado ao homem e o toma como parâmetro, delegando às mulheres os papeis marginais e subalternos, como se fossem seres inferiores ou menos capazes.
Para Simone de Beauvoir, portanto, o gênero não é inerente ao ser humano, é um papel socialmente adquirido. A filósofa francesa é uma das teóricas cujo pensamento fundamenta o feminismo do século XX.
Nietzsche
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 1844, em Röcken, Alemanha e morreu em Weimar em 1900, foi filósofo, escritor, filólogo e crítico cultural prussiano (atualmente Alemanha). Publicou diversos livros, os mais importantes são: O Nascimento da Tragédia (1871), O Eterno Retorno (1881), Assim falou Zaratustra (1882-1883), Para Além de Bem e Mal” (1886), A Genealogia da Moral (1887).
A filosofia de Nietzsche se baseia em dois atributos, como constituintes do ser e da própria sociedade, o Apolíneo e o Dionisíacos, derivados de Apolo – ícone de lucidez, harmonia e ordem – e Dionísio, representante da embriaguez, exuberância e desordem.
Nietzsche foi um grande crítico da moral e dos bons costumes, além de criticar a noção de História desenvolvida por Hegal. Para Nietzsche, essa moral resulta na revolta dos indivíduos inferiores, de classes subalternas e escravas contra a classe superior e aristocrática. Ele também entende que a classe aristocrática, dos senhores, sofre de má consciência justamente por seguir essa moral tradicional.
Conforme a sua filosofia, a vida só se mantém por meio da luta entre os escravos e os senhores. Os escravos que desejam se tornar senhores e os senhores que podem virar escravos. Por isso, para Nietzsche, a vida é vontade de potência.
O homem, em Nietzsche, é individualidade irredutível. A razão não é suficiente para resolver os limites impostos. Para ele, o mundo não tem ordem, forma nem inteligência, existe apenas o acaso. A única solução possível é a arte, capaz de transfigurar a desordem do mundo em algo belo, tornando os problemas e o caos em algo aceitável.
Merleau-Ponty
Maurice Merleau-Ponty foi um filósofo francês que nasceu em 1908 e morreu 1961. Ele e Sartre fundaram a revista filosófica e política “Os Tempos Modernos”. Suas principais obras são: Fenomenologia da Percepção (1945) e O Visível e o Invisível (1964 – seleção póstuma de textos).
Merleau-Ponty, além de existencialista, era um filósofo da fenomenologia da percepção, segundo ele “a Filosofia é um despertar para ver e mudar o nosso mundo.” Sua teoria entendia que quando o sujeito se depara com algo que se apresenta para a sua consciência, primeiro ele percebe esse objeto em completa harmonia com a sua forma, a partir de sua consciência perceptiva. Depois da percepção, o objeto entra em sua consciência e se torna um fenômeno.
Seguindo o conceito de intencionalidade de Husserl, Merleau-Ponty entende que, ao ter intenção de perceber o objeto, o sujeito intui algo sobre ele, imagina-o em toda sua plenitude, tornando-se apto a descrever o que, de fato, é. O conhecimento do fenômeno, portanto, é construído de acordo com o próprio fenômeno.
Camus
Albert Camus foi um filósofo e escritor argelino, nasceu em 1913 e morreu em 1960. Um dos principais pensadores do “absurdismo”, tema trabalhado em O mito de Sísifo (1942). Escreveu outros romances como O estrangeiro (1942), A Peste (1947), A Queda (1956). Em 1957, venceu o prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto de sua obra.
Na filosofia, sua grande contribuição foi com o tema do absurdismo. Para Camus, o mundo e o homem não são, em si, um absurdo. O conceito só aparece quando acontece o encontro dos dois e a vida passa a ser absurda, devido à incompatibilidade entre o ser humano e o mundo em que vive.
Para ele, assim como para os demais existencialistas, não existe um sentido pré-estabelecido e é por ter consciência disso que ele afirma que “há apenas um problema filosófico verdadeiramente sério, o suicídio”. O sujeito, sabendo da falta de sentido e da sua total liberdade para agir, sente desespero e angústia, nesse sentido é que o suicídio acaba sendo o único problema realmente sério.
Esses foram os principais autores do existencialismo e seus principais pensamentos. Veja alguns vídeos abaixo para aprimorar o conteúdo.
Por dentro da filosofia de Sartre
Nestes três vídeos, todos sobre Sartre, você poderá se aprofundar nos conceitos brevemente expostos nessa matéria. Sartre é considerado por muitos como o grande existencialista, por isso vale a pena conferir os vídeos.
Existencialismo: entre Sartre e Kierkegaard
No vídeo do Canal Superleituras, é apresentada a obra de Sartre, algumas explicações sobre sua figura controvérsia. Além disso, evidencia a diferença entre o existencialismo de Sartre e Kierkegaard.
As influências de Sartre e seu existencialismo
O canal Expresso Filosofia faz uma síntese animada da filosofia sartreana. O vídeo traz diversas frases de Sartre e as explica de acordo com a sua filosofia. Mostra também a influência de Husserl e Heidegger.
A angústia da liberdade
No canal Doxa e Episteme, o vídeo apresenta a vida de Sartre e sua relação com Simone de Beauvoir. Além disso, trata da questão da angústia que a experiência da liberdade proporciona.
O existencialismo é uma filosofia que se preocupa com o existir, com a liberdade e com a angústia. Gostou dessa matéria? Então leia também sobre a fenomenologia, uma escola que influenciou o existencialismo.
Referências
ARANHA, M. L. A., MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 4ª ed. São Paulo: Moderna, 2009.
BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
BRITO, J. W. R. Angústia como condição de liberdade em Kierkegaard. Revista Humus v. 7, n. 19, 2017.
CAMUS, A. O mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
KIERKEGAARD, S. Temor e tremor. São Paulo: Abril Cultural, 1974 (Os pensadores).
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1994
SARTRE, J.P. O Ser e o Nada. Petrópolis: Vozes, 2005
Por Marilia Duka
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá em 2016. Graduada em Letras Português/Francês na Universidade Estadual de Maringá em 2022.
Duka, Marilia. Existencialismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/existencialismo. Acesso em: 24 de November de 2024.
1. [UNIOESTE/2013]
Questão 1. “Quando dizemos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe a si próprio; mas com isso queremos também dizer que, ao escolher-se a si próprio, ele escolhe todos os homens. Com efeito, não há de nossos atos um sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como julgamos que deve ser. Escolher isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos. Se a existência, por outro lado, precede a essência e se quisermos existir, ao mesmo tempo em que construímos a nossa imagem, esta imagem é válida para todos e para a nossa época. Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade” – Sartre
Considerando o texto citado e o pensamento sartreano, é INCORRETO afirmar que:
a) o valor máximo da existência humana é a liberdade, porque o homem é, antes de mais nada, o que tiver projetado ser, estando “condenado a ser livre”.
b) totalmente posto sob o domínio do que ele é, ao homem é atribuída a total responsabilidade pela sua existência e, sendo responsável por si, é também responsável por todos os homens.
c) o existencialismo sartreano é uma moral da ação, pois o homem se define pelos seus atos e atos, por excelência, livres, ou seja, o “homem não é nada além do conjunto de seus atos”.
d) o homem é um “projeto que se vive subjetivamente”, pois há uma natureza humana previamente dada e pré definida, e, portanto, no homem, a essência precede a existência.
e) por não haver valores preestabelecidos, o homem deve inventá-los através de escolhas livres, e, como escolher é afirmar o valor do que é escolhido, que é sempre o bem, é o homem que, através de suas escolhas livres, atribui sentido a sua existência.
Alternativa D é a correta.
Para Sartre, assim como os demais existencialistas, a natureza humana não é dada, nem pré-determinada, ela se constrói conforme o indivíduo vive e acumula conhecimento.
2. [UPE]
Questão 2. Atente ao texto a seguir referente à concepção filosófica da liberdade humana:
Sartre afirma que estamos condenados à liberdade. É ela que define a humanidade dos humanos, sem escapatória. Para o filósofo, é a escolha incondicional que o próprio homem faz de seu ser e de seu mundo.
(CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia, 1996, p. 361. Adaptado)
A autora salienta acima o enfoque filosófico da liberdade no pensamento de Jean-Paul Sartre.
Sobre esse enfoque, é CORRETO afirmar que tais ideias estão alinhadas à concepção
a) essencialista.
b) materialista.
c) existencialista.
d) espiritualista.
e) realista.
Alternativa C é a correta.
Sartre foi um pensador existencialista.