Nas mais diversas sociedades humanas, é possível encontrar histórias e mitos sobre a origem e o sentido do universo. Na história da filosofia, esse assunto é tratado a partir da cosmogonia. Saiba mais sobre esse assunto e a importância da ampliação dessa discussão na atualidade.
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Índice do conteúdo:
O que é cosmogonia
As cosmogonias são histórias ou mitos sobre a criação do universo, o sentido da vida humana e as relações com entidades sobrenaturais, divinas ou simplesmente não-humanas.
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O termo “cosmo” faz referência ao universo, e “-gonia” a uma ideia de geração ou criação. Assim, junto com a cosmogonia, há também a teogonia, que visa explicar a origem ou o nascimento dos deuses.
Cosmogonia na filosofia
A cosmogonia é importante para a história da filosofia ocidental porque diz respeito ao momento anterior ao surgimento do pensamento filosófico. Ou seja, antes do século VI a.C., na Grécia, ainda não havia surgido filósofos, e o que imperava era o pensamento mítico ou cosmogônico.
Assim, a cosmogonia explicava o universo em termos de uma criação de alguma entidade divina. Desse modo, o sentido da existência humana também era pautado nos mitos de geração.
Esse pensamento cosmogônico foi perdendo seu lugar a partir do crescimento da filosofia, que se propunha mais racional e não recorrer a seres divinos. No século VI a.C., o primeiro filósofo grego seria o Tales de Mileto, que pensou sobre o universo não mais a partir das cosmogonias.
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Cosmogonias antigas
Para entender mais concretamente o assunto, confira abaixo algumas cosmogonias ou mitos de origem e criação do universo antigos. Nessa lista, serão apresentados apenas alguns de seus aspectos mais gerais:
- Cosmogonia grega: o mito grego de origem postula o Caos como início da criação, seguindo a Terra (Gaia) e Céu (Urano). A partir desses deuses, uma variedade de outros são gerados, bem como os elementos do universo.
- Cosmogonia do antigo Egito: a cosmogonia do antigo Egito, localizado na África, é também conhecida por postular diversos deuses para a criação do mundo; por exemplo, as Enéades, que são nove entidades divinas criadas pelos deuses Atum e Nun.
- Cosmogonia maia: os maias são uma antiga civilização que viviam na América Central e também possuíam diversos deuses. Conforme seu mito de origem, o mundo surgiu do oceano onde viviam as entidades divinas que, por sua vez, criaram tudo o que existe.
Esses são alguns dos mitos de criação do universo bastante antigos. Assim, algumas cosmogonias podem ter raízes nessas mitologias. Nessa variedade de histórias, é importante cultivar o respeito e a curiosidade sobre a diversidade humana.
Exemplos de cosmogonia
A essa altura, já é possível notar como as cosmogonias são diversas e existem em toda a parte. A seguir, veja a alguns exemplos de mitos de origem formulados ao longo da história humana:
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Mito de Cronos
A obra Teogonia, de Hesíodo, escrito por volta do século VIII a.C., descreve a mitologia grega. Na sua narrativa, Cronos é filho do Céu e da Terra, mas torna-se um titã por causa de um conflito entre seus pais.
Conforme uma profecia, um dos filhos de Cronos se tornaria mais forte que ele e, por isso, passa a devorar toda a sua prole que nascia. Entretanto, a partir de uma trama, Zeus nasce e se torna aquele que reina sobre outros deuses.
Pan Ku e Nü Wa
Parte das mitologias chinesas, Pan Ku é a entidade que criou o mundo. Ele dormia no Caos, que era um ovo, durante milênios. Quando acordou, partiu o ovo em dois, formando o céu (Yang) e a terra (Yin). Logo, sua missão foi a de sustentar um equilíbrio entre ambas as partes.
Nü Wa é a deusa que criou a humanidade. Ela possuía um rosto humano e um corpo de serpente e, por estar solitária, cria os humanos a partir da terra.
Mito iorubá: Olorum
Os iorubás são um dos maiores grupos étnicos e linguísticos da África. Conforme seu mito de origem, Olorun é o único Deus e criador, possuindo autoridade sobre os Orixás – inspirando, portanto, religiões como o candomblé e a umbanda.
Assim, Olorun e outras divindades criaram a terra e seus elementos, que anteriormente era apenas um pântano. Do barro e do sopro da vida, também se fizeram os seres humanos.
O mito judaico-cristão
Na cultura judaico-cristã, o mito de origem do universo está baseado nos escritos de Gêneses, da Bíblia. Conforme a narrativa, há um Deus criador e supremo que decidiu gerar o universo, a terra e os seres que a habitam.
Assim, a sua obra teria durado sete dias. Nessa cosmogonia, o Deus é transcendente e sua existência independe de sua própria criação – ou seja, ele mesmo não foi criado.
Uma cosmogonia contemporânea: Silmarillion
A obra Silmarillion foi criada pelo famoso escritor J. R. R. Tolkien. Em seus vários livros, o autor se inspirou em mitologias de diversas regiões do mundo e criou um mundo com cultura, seres e idioma próprios.
Em sua história, anteriormente a qualquer criação, havia o Eru. Primeiramente, ele cria os Ainur, e com eles músicas que imaginam um mundo que virá a existir a partir de diversos conflitos.
Assim, além de atualmente as cosmogonias existirem ricamente nas sociedades humanas, elas também ganharam um valor literário. Portanto, podem gerar curiosidade e releituras atuais que podem enriquecer mais esse universo.
Cosmogonia e cosmologia
A cosmogonia se refere a um pensamento que dominava antes da filosofia na Grécia, pautada nos mitos e na criação divina do universo. Por outro lado, a partir do século VI a.C., com a filosofia, surge a cosmologia – uma visão do mundo pautada não mais em deuses, mas na razão e em elementos terrenos.
Logo, conforme essas definições, as duas palavras possuem significados opostos e também demarcam momentos diferentes na história da filosofia grega ou ocidental. No entanto, é importante pontuar que o pensamento mítico não é inferior ou oposto em relação ao modo de pensar filosófico.
Na verdade, as mitologias estão presentes em todos os lugares, e elas oferecem exemplos da riqueza dos pensamentos e das culturas humanas. Consequentemente, é também necessário o respeito às diferentes formas de pensar, lembrando dos seus efeitos para os grupos sociais.
5 vídeos sobre cosmogonia
Debater sobre as diferentes explicações para a origem e o sentido do universo pode ser prazeroso. Afinal, desde a infância ouvimos pelo menos alguma história cosmogônica. Confira, abaixo, alguns vídeos que revisam e trabalham esse assunto:
Revisando a definição do termo
No vídeo acima, recapitule algumas definições importantes para a disciplina de filosofia. Além do termo principal, cosmogonia, é também tratado sobre a sua diferença com a cosmologia.
Cosmogonias gregas
Você conhece alguns mitos e deuses gregos? As mitologias na Grécia antiga são ricas e inspiraram diversas obras artísticas na cultura ocidental. Assim, saiba mais sobre essas histórias.
Cosmogonias africanas
No Brasil, apesar de a maioria da população possuir uma ascendência africana, conhecemos pouco sobre as culturas e as histórias provenientes da África. Assim, conheça uma parte de seus mitos de origem.
Os diversos mitos de origem
Acima, foram citadas as cosmogonias grega e africana. No entanto, obviamente, há ainda uma variedade grande de mitos de origem do universo e o sentido da vida na Terra. Portanto, veja rapidamente alguns deles e a importância de valorizar e respeitá-los.
Para trabalhar com crianças
“Cada um explica do seu jeito, mas o fato é que o mundo começou então aqui”. Confira acima uma canção infantil – para adultos também ouvirem – que fala sobre as diferentes histórias sobre a origem do universo, e a importância do respeito a essa diversidade.
Desse modo, embora a cosmogonia pareça um assunto superado na história da filosofia, ela pode ser recuperada para tratar de assuntos atuais. Certamente, um dos debates mais importantes trata-se do respeito às diferenças, a diversidade cultural e a tolerância religiosa.
Referências
A cosmogonia em Hesíodo, Ovídio e Tolkien: a eterna contemporaneidade da mitologia na compreensão de universos – Larissa Candido da Silva;
Origem do universo e do homem – João E. Steiner;
Orisun ati awon ayie ati awon aráyé: a cosmogonia iorubá como uma proposta didática para a explicação da origem do mundo e da vida no ensino de história do 6º ano – Rosiléia Santana da Silva;
Os mitos da criação na cultura chinesa – Revista Macau.
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Cosmogonia. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/cosmogonia. Acesso em: 21 de November de 2024.
1. [ENEM]
A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e leva-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um.
NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural. 1999
O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos?
a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais.
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.
Resposta: c
Justificativa: a filosofia surge se contrapondo ao pensamento cosmogônico, tentando dar uma explicação racional e terrena para o mundo.
2. [UEL]
De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, então essa outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir da qual tudo é feito? A grande questão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas.
Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.43-44.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento da filosofia, assinale a alternativa correta.
a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da natureza e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável as histórias contadas acerca do mundo dos deuses.
b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que havia alguma substância básica, uma causa oculta, que estava por trás de todas as transformações na natureza e, a partir da observação, buscavam descobrir leis naturais que fossem eternas.
c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas de pensamento por volta do século VI a.C. partiram da ideia unânime de que a água era o princípio original do mundo por sua enorme capacidade de transformação.
d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homérica do mundo e reforçou o antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma explicação natural e regular acerca dos primeiros princípios que originam todas as coisas.
e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes e Heráclito, há um princípio originário único denominado o ilimitado, que é a reprodução da aparência sensível que os olhos humanos podem observar no nascimento e na degeneração das coisas.
Resposta: b
Justificativa: ao contrário do pensamento cosmogônico, os primeiros filósofos procuravam nos elementos terrenos – por meio de leis e princípios gerais – o sentido do universo.
3. [UFU]
A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada num exercício especulativo-racional. De fato, “[…] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento epistêmico de tipo próprio: empírico e racional”. SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32.
Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta.
a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades selvagens.
b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua metodologia.
c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber prático fundamental para a vida cotidiana.
d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica elaborada, crítica e radical, baseada no logos.
Resposta: c
Justificativa: o pensamento cosmogônico e mítico não são inferiores ou menos importantes que a filosofia, pois fazem parte de um saber prático e atrelado ao mundo que vivemos.
4. [UEG]
A influência de Sócrates na filosofia grega foi tão marcante que dividiu a sua história em períodos: período pré-socrático, período socrático e período pós-socrático. O período pré-socrático é visto como uma época de formação da filosofia grega, na qual predominavam os problemas cosmológicos. Ele se desenvolveu em cidades da Jônia e da Magna Grécia. Grandes escolas filosóficas surgem nesse período e muitos pensadores se destacam. Entre eles, um jônico, que ficou conhecido como pai da filosofia. Seu nome é:
a) Tales de Mileto
b) Leucipo de Abdera
c) Sócrates de Atenas
d) Parmênides de Eléia
Resposta: a
Justificativa: o primeiro filósofo conhecido foi Tales de Mileto, se contrapondo aos mitos de origem cosmogônicos.