Gêneros e escolas cinematográficas

Os estilos presentes nos gêneros e escolas cinematográficas foram moldados históricamente. Conheça as características e os contextos que construíram cada um desses tópicos no cinema.

Os gêneros cinematográficos reúnem filmes com características semelhantes e específicas. Eles determinam as emoções a serem despertadas no espectador e como o enredo será construído para atingir o efeito desejado. Dentro da história do cinema, os gêneros mudam conforme a sociedade e muitas vezes se tornam híbridos. Os gêneros também estão diretamente ligadas às escolas cinematográficas. Entenda mais sobre essa relação:

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Índice do conteúdo:

Gêneros cinematográficos

Atualmente, o conceito de gênero cinematográfico se tornou de conhecimento popular: pelo nome ou pela capa do filme, o espectador consegue identificar o gênero do filme e quais as emoções poderão ser extraídas dele.

Essa demarcação foi construída com o tempo, após a percepção de características semelhantes em filmes produzidos em um mesmo contexto histórico. A partir dessa análise, as películas passaram a ser divididas em categorias as quais carregam certas convenções de gênero. Agora, muitos filmes já são produzidos com o pensamento prévio de se encaixar em determinado gênero.

As convenções são o que fazem o espectador compreender os rumos da história e aceitar as causas e efeitos da narrativa. Por exemplo, mesmo que ninguém saia cantando e dançando no meio da rua, você aceita com naturalidade ver tal cena em um filme musical. Ou, ainda que monstros não existam, convém aceitar a existência de um criado por um médico, como na clássica história de Frankenstein. As convenções é que quebram as barreiras do inaceitável para que o espectador desfrute da experiência cinematográfica.

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Drama

É um tanto complexo definir o gênero drama, devido à variedade de seus significados. Em algumas teorias, basta ter um conflito que logo é considerado drama. Mas, se for assim, todo filme é dramático? Sim e não. Sim, pois, os enredos trazem atritos a serem resolvidos, ainda que levem ao riso, ao suspense ou ao terror. Filmes como “O exorcista” (1973), se visto pela perspectiva do sofrimento da menina e sua mãe, resultará em uma história de muita tristeza, por exemplo.

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O não pertencimento se dá porque, por mais que algumas obras tenham conflito dramático, características e emoções de outro gênero imperam. Ainda em “O exorcista”, há muito mais do sobrenatural, do asco, do “mal” demarcado e do claro intuito de causar o horror e a repulsa. Com isso, ele é indiscutivelmente classificado como filme de terror.

O que define o gênero dramático no cinema é a construção de conflitos que refletem diretamente o estado psicológico de suas personagens. Seus sofrimentos são acentuados com o intuito de fazer com que o espectador se identifique, compartilhe ou reconheça que a aflição do protagonista é legítima. Os obstáculos da trama geralmente estão ligados às relações humanas, deparando-se com dificuldades de concordância em uma relação amorosa, familiar, institucional, profissional, etc. Em seu desfecho, o gênero justifica tanto finais felizes, quanto também finalizações ambíguas ou definitivamente trágicas. Confira alguns exemplos:

  • Uma mulher sob influência, 1974, John Cassavetes
  • Encontros e desencontros, 2003, Sofia Coppola
  • Moonlight- sob a luz do luar, 2017, Barry Jenkins

Western

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A geração dos anos 90 talvez já não pense que o faroeste (western) seja um gênero importante para o cinema. Porém, é justamente pela sua relevância na história que não tem como não destacá-lo. Para se entender melhor o quão famoso o gênero foi, desde a década de 20, pode-se equipará-lo aos sucessos de filmes de heróis de hoje em dia.

O western é considerado a essência do cinema nos Estados Unidos. Fernando Simão Vugman (2008) mostra a influência do gênero sobre a cinematografia de outros países ao observar filmes de samurais japoneses, cangaceiros brasileiros, e o conhecido “Spaghetti westerns”, subgênero italiano representados por grandes nomes como o diretor Sergio Leone.

A base dos enredos do western se sustenta em uma personagem masculino, branco, que domina as lutas e as armas e não se torna vulnerável às forças da natureza e ao ataque dos índios. Ele consegue sempre resgatar a mulher, e é símbolo dos valores sociais e cristãos. Com o tempo, “a modernização da sociedade fez com que o gênero alterasse alguns estereótipos, principalmente ligado aos indígenas como representação maligna. As oposições, então, passaram a ser cultura versus natureza, leste contra oeste, indivíduo se opondo à comunidade, ordem versus anarquia, etc.”, explica Vugman (2018).

Algumas películas famosas do gênero são:

  • O homem que matou o facínora, 1962, John Ford
  • Era uma vez no Oeste, 1968, Sergio Leone
  • A balada de Buster Scruggs, 2018, Irmãos Coen

Épico

A lista de Schindler – Wikimedia

O que difere este gênero cinematográfico dos filmes ditos “de época” ou aventuras é a extravagância de suas produções. Não se trata somente do desdobramento de um herói e sua jornada, como resumidamente se define o gênero, mas também o destaque a um evento histórico, a mitologia ou a fantasia.

Considera-se a trilogia de “O Senhor dos Anéis” um filme épico, pois há a presença do mitológico e cenários muito bem demarcados. O mesmo para o clássico “E o vento levou…” (1939), que conta com figurinos extravagantes e a guerra como pano de fundo, tirando proveito deste evento. Geralmente, filmes épicos também possuem uma grande duração e se desmembram em subgêneros, como filmes épicos de guerra, de romance, de fantasia, etc.

  • O paciente inglês, 1996, Anthony Minghella
  • A lista de Schindler, 1993, Stephen Spielberg
  • Desejo e reparação, 2007, Joe Wright

Comédia

O gênero cinematográfico da comédia nasce em simultâneo com o cinema. Em 1896, o filme “O regador regado”, dos irmãos Lumiére, tornou-se o primeiro do gênero. Sua influência certamente vem do teatro, já que o próprio cinema, à época, era uma espécie de “teatro filmado”.

Dentro do roteiro dessas obras eram incluídas as “gags”, formas de fazer graça por meios miméticos, exigindo dos atores que o riso fosse despertado a partir dos gestos exagerados, em situações repentinas e imprevisíveis. Algumas táticas são usadas até hoje, como perseguições, personagens levando tombos, etc.

Contudo, a sociedade se transformou e, assim, a forma de se fazer comédia também. O plano infalível para o grande público sempre foi desenvolver enredos com temáticas de fácil compreensão. Por isso, as instituições sempre serviram de campo para as histórias cômicas. A família, o casamento, a polícia, a igreja e muitas outras aparecem ou como tema central, ou como pano de fundo.

À época do cinema mudo, os principais nomes foram Charles Chaplin e Buster Keaton. O primeiro trazia uma comédia com toques de melancolia em suas histórias, como em “O garoto” (1920) e “Luzes da cidade” (1931). O segundo conseguia expressões bem mais sutis, porém de extrema qualidade, para passar suas emoções ao público. “Bancando o águia” (1924) e “O general” (1926) são duas de suas principais obras. A comédia também possui uma versatilidade que possibilita mesclar com outros gêneros, como as famosas comédias românticas, dramáticas ou de ação, além dos termos “comédia pastelão” e os “terrir”, humor com terror.

A comédia contemporânea está muito atrelada aos aspectos culturais do contexto em que é feita. O riso ganhou formas identitárias que podem limitar a sua globalização, mas aumentam a força no micro espaço de distribuição. O humor iraniano é certamente diferente do brasileiro, por exemplo. No mais, o gênero continua a utilizar de uma estrutura construída em sua origem, advinda do teatro, e atualizada conforme o contexto, os moldes das instituições e das relações pessoais, como modo infalível de fazer o público se identificar com a obra.

Confira algumas referências de filmes de comédia clássico:

  • Monty Python em busca do cálice sagrado, 1975, Terry Gilliam e Terry Jones
  • O auto da compadecida, 2000, Guel Arraes
  • Missão madrinha de casamento, 2011, Paul Feig

Terror

Um dos pilares da produção cinematográfica de ficção é o gênero terror. Filmes que levam o público a se estarrecer com monstros como Frankenstein, Drácula e Nosferatu ajudaram a construir o cinema e criar uma relação eficaz com o espectador.

A mistura do anseio pelo que é desconhecido e estranho com o receio da incapacidade de se defender formam a dualidade que o gênero provoca. David Bordwell e Kristin Thompson explicam que “o terror é mais reconhecido pelo efeito emocional que tenta causar. O filme de terror tenta chocar, causar asco, repelir, ou seja, aterrorizar. Esse impulso molda as outras convenções do gênero.”

Entretanto, os modos de se buscar atingir o espectador com esses efeitos foram se alterando conforme as décadas e as inseguranças da sociedade. Esses receios rondam situações como a não naturalidade de algum animal atingir um tamanho gigantesco (King Kong, Godzilla), a violação da fronteira entre a vida e a morte (Drácula, A noite dos mortos vivos), uma ameaça que fragiliza os conhecimentos científicos (Alien), o sobrenatural que desafia a crença e a sanidade psicológica (O Exorcista, O bebê de Rosemary, Invocação do Mal) e o próprio ser humano, referenciando a maldade humana e a ameaça que está do lado de fora de casa, como os slashers movies (Pânico, Halloween).

O gênero passou por pequenas crises de originalidade, embora tenha sempre permanecido como o mais procurado, principalmente pelo público jovem. Segundo Bordwell e Thompson (2018. p.521), muitos filmes de terror “podem refletir a fascinação dos jovens e suas ansiedades simultâneas relacionadas à violência e à sexualidade”.

Portanto, a produção de filmes do gênero nunca parou de ser lucrativa, por isso há um grande número de refilmagens, tanto de clássicos antigos quanto de longas internacionais, em especial o horror asiático. A obra “O chamado” (2002) ganhou grande popularidade e foi um enorme sucesso de público, sendo uma refilmagem do terror japonês “Ringu”, de 1998.

O gênero continua a fluir principalmente ao se mesclar com outros. Ele permite essa flexibilidade devido às suas convenções, possibilitando que um drama ou uma comédia possua elementos do terror. Bordwell e Thompson (2018) também atestam que “através da combinação de gênero e da troca entre os gostos do público e a ambição dos cineastas, os filmes de terror mostraram que o equilíbrio entre convenção e inovação é essencial para todo gênero”.

Essa inovação esteve ausente por alguns anos. O que fez que, quando grandes filmes de terror voltaram a surgir, tentasse-se estipular o início de um movimento chamado “pós-horror”. A denominação foi considerada controversa, pois, por mais que esses novos longas apresentassem inovações, ainda assim, alicerçavam-se nas convenções do gênero.

Obras recentes como “Hereditário” (2018), de Ari Aster, possui elementos muito semelhantes ao “Bebê de Rosemary” (1968), por exemplo. Além do filme de Aster, outros como “Corra!” (2017) e “Nós”(2019), de Jordan Peele, “A Bruxa”(2015) e “O farol” (2019), de Robert Eggers fazem parte dos exemplares recentes do terror de qualidade. Outras obras marcantes do gênero são:

  • O Bebê de Rosemary, 1968, Roman Polanski
  • REC, 2007, Paco Plaza e Jaume Balagueró
  • Hereditário, 2018, Ari Aster

Muitos dos gêneros ganharam características dentro de algumas escolas cinematográficas. Veja a seguir o conceito de algumas delas.

Escolas cinematográficas

Para que se haja uma escola é necessário considerar os seguintes tópicos: (1) um artista para liderar o pensamento que move o grupo, (2) a publicação de um manifesto, geralmente declarando oposição a algum outro aporte artístico, (3) a promoção midiática, e, claro, (4) um conjunto de artistas e obras que constróem certas características e as seguem religiosamente. Conheça as principais escolas a seguir:

Surrealismo

O surrealismo surgiu em várias manifestações artísticas e chegou ao cinema com a obra “Um cão andaluz”, de 1929, dirigido por Luis Buñuel e o pintor Salvador Dali. O líder da escola foi André Breton, poeta e psiquiatra, que, em 1924, estabeleceu as bases das concepções surrealistas. As características do conteúdo e da estética envolviam “o desprezo pelo pensamento logicamente encadeado, ao mesmo tempo que se valoriza o inconsciente, o irracional e o sonho” (SABADIN, 2018, p. 66). O contexto de desenvolvimento da psicanálise de Freud influenciou fortemente a base dessa escola, justificando as obras que quebravam com padrões socialmente estabelecidos.

O contexto histórico pós primeira guerra também teve forte influência na construção do surrealismo, que, com o trauma da destruição nefasta da guerra, viu na loucura uma forma de se comunicar com o mundo e consigo mesmo. Luís Buñuel tornou-se o principal nome da escola, mas filmes como “A concha e o clérigo” (1929), de Germaine Dulac, e `O sangue e o poeta’ (1932), de Jean Cocteau, são filmes que representam o surrealismo no final da década de 20. Outros filmes dessa escola são:

  • O discreto charme da burguesia, 1972, Luis Buñuel
  • Cidade dos sonhos, 2001, David Lynch
  • Holy Motors, 2012, Leos Carax

Expressionismo alemão

“Expressou-se o que a alma sente, e não o que os olhos vêem” é o que afirma Celso Sabadin (2018,p. 71) sobre o Expressionismo alemão. Estando a Alemanha situada no olho do furacão da guerra, o país se viu devastado e a forma de comunicabilidade artística se tornou distorcida, angustiante e depressiva. O teórico também atesta que “deliberadamente artificiais, os cenários foram pintados de forma distorcida, fora de perspectiva. As angulações de câmera enfatizaram o fantástico e o grotesco, o contraste de luzes e sombras tornou-se mais forte, e as interpretações dos atores, teatralmente histriônicas” (idem). Ou seja, toda composição visual estava ligada ao conteúdo da loucura, do pesadelo e do horror de suas histórias.

O filme “O gabinete do Dr. Caligari” (1920), de Robert Wiene, tornou-se a obra modelo da escola. Em seu enredo, após uma sequência de assassinatos em um pequeno vilarejo, um hipnotizador e um sonâmbulo se tornam os principais suspeitos. Por meio desse contexto, o filme cria o contraponto entre a sanidade e a loucura enfatizada não somente pelas linhas do texto, mas também pelo cenário com as características supramencionadas. Em certos momentos, as personagens caminham de modo a se confundirem com os objetos em cena. Além de Wiene, Fritz Lang, Paul Wagener, F.W. Murnau e Paul Leni foram os nomes do Expressionismo no cinema. Alguns filmes dessa escola são:

  • Metropolis, 1927, Fritz Lang
  • Nosferatu, 1922, F.W. Murnau
  • A morte cansada, 1921, Fritz Lang

Impressionismo francês

Em 1923, o texto “Reflexions sus le septième art” estabeleceu o cinema como a sétima arte. Essa consolidação foi o resultado da empreitada de cineastas franceses para tirar o cinema de um mero instrumento popular e colocá-lo no perfil de uma manifestação artística. Essa jogada foi uma tentativa de voltar ao posto de liderança do mercado cinematográfico, que foi tomado pelos Estados Unidos.

A escola almejava criar um contraponto com as influências da literatura e do teatro, fazendo um cinema que se pautava unicamente pela linguagem imagética, buscando usar o mínimo possível de letreiros para narrar a sua história.

Sabadin (2018, p.77) explica que “criou-se, assim, um apuro artístico-estético de cada plano a ser filmado, de cada enquadramento, na mesma medida em que se reduziu o número de cartelas de textos. Valorizou-se a imagem em suas cargas poéticas e afetivas. Mostrar na tela, sem diálogos, o que os protagonistas pensavam, sonhavam, imaginavam ou aspiravam também era uma das marcantes características do período.”

Os meios para que as emoções e sentimentos atravessassem a tela e atingissem o espectador vinham da distorção de foco na câmera, sobreposição de imagens, difusões, etc. Esses são modos mecânicos, mas que constroem subjetividades, podendo uma imagem distorcida representar a confusão mental de uma personagem, por exemplo.

A preocupação estética também almejava a beleza e a poeticidade. Com isso, cada enquadramento feito era pensado, desde a posição da câmera até o trabalho com a iluminação. Em suas temáticas, o drama psicológico se sobressai. Os principais nomes da escola foram Louis Delluc, Jean Epstein, Abel Gance, Carl Theodor Dreyer e a diretora Germaine Dulac. Confira algumas obras:

  • Napoleão, 1927, Abel Gance
  • Fièvre, 1921, Louis Delluc
  • A sorridente senhora Beudet, 1923, Germaine Dulac

Visto que os Estados Unidos tomaram a soberania cinematográfica da França, não deixe de conferir o texto Cinema e Hollywood e veja sobre a ascensão do cinema hollywoodiano

Referências

A arte do cinema (2018) – David Bordwell e Kristin Thompson.
A história do cinema para quem tem pressa (2018) – Celso Sabadin
Western – Fernando Simão Vugman in História do Cinema mundial – Fernando Mascarello (org.)

Alyson Santos
Por Alyson Santos

Professor, mestre em Letras, especialista em Cinema e Linguagem Audiovisual e História do Cinema.

Como referenciar este conteúdo

Santos, Alyson. Gêneros e escolas cinematográficas. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/artes/generos-cinematograficos. Acesso em: 03 de December de 2024.

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