O movimento na arte é um assunto recorrente e grande parte dos movimentos e escolas se voltam à sua representação. Isto é perceptível desde as pinturas rupestres e no Barroco, por exemplo. Contudo, alguns artistas no século XX foram além da representação e criaram um movimento artístico que não representa e sim é movimento, a chamada Arte Cinética.
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O que é Arte Cinética?
A cinética é um campo da física que estuda o movimento dos corpos. Por analogia, podemos entender a arte cinética, investiga o movimento. Assim, enquanto arte, nem sugere e nem representa o movimento, mas é o próprio movimento. As obras desse movimento artístico se constituem no movimento das formas e das coisas e rompem com a ideia estática das pinturas.
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São obras que borram as fronteiras entre a pintura e escultura, produzindo imagens ricas em perspectiva e tridimensionalidade. A visão e a relação do espectador com a obra são fatores essenciais para a concretização da ideia de arte em movimento.
História do movimento
Historiadores da arte reconhecem o movimento após a exposição O Movimento (Le Moviment), que foi realizada em Paris em 1955, com obras de Marcel Duchamp, Vasarely, Alexander Calder, Jesus Raphel Soto e outros artistas. Outras indicações históricas são o Manifesto Realista de Antoine Pevsner e Naum Gabo e a revista argentina Madí.
A Arte Cinética causa impacto por se tratar de uma criação que está em movimento, que rompe com a ideia de escultura e pintura, pois conta com o auxilio de inventividades e outras questões mecânicas, além da imagem, para colocar a obra em movimento. A inovação estética causa repulsa ao desejo dos artistas, principalmente por não se enquadrar nas técnicas artística conhecidas.
É possível notar uma certa semelhança com a Op Art, que também explora a visão do espectador na obra com a sensação do movimento, porém a Arte Cinética vai além da percepção visual no plano bidimensional. Críticos de arte consideram a Op Art como parte integrante da Arte Cinética, que por sua vez é compreendida como arte contemporânea.
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Características da arte cinética
Já que as obras cinéticas exploram formas de movimento da obra e se concretizam no movimento, as possibilidades de invenção e criação dos artistas são inúmeras. Entretanto, podemos reconhecer algumas características gerais:
- Tridimensionalidade;
- Presença de perspectiva;
- Não há presença estática na obra;
- Conhecimentos de engenharia e mecânica por parte dos artistas;
- Uso de diversos tipos de materiais para criação das obras;
- Alteração e dilatação da percepção do tempo;
- Utilização de recursos de energia como eletromagnetismo, vento, água, força manual e motores;
A multiplicidade de técnicas e possibilidade para produzir movimento criam obras com diferentes qualidades, que podem ser encontradas dentro de salas de exposição, ou ao ambiente externo. A principal característica do movimento artístico é compreender que o movimento é a obra em si.
A arte cinética no Brasil
No Brasil, alguns trabalhos dos artistas Sérgio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988) e Mira Schendel (1919-1988), antecipam ideias da Arte Cinética a partir da compreensão da “linguagem do movimento” presente nas suas obras. O movimento, o cientismo e a questão da percepção visual das obras são questões que inspiraram artistas brasileiros a desenvolverem Arte Cinética no país.
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Dentre os principais artistas se destacam: Lothar Charoux (1912-1987) e Ivan Serpa (1923-1973). Porém, o artista representante do movimento no país é Abraham Palatnik (1928-2020), considerado um pioneiro do movimento, devido a sua participação e reconhecimento em uma Bienal Internacional de São Paulo.
Principais artistas e obras da arte cinética
Os artistas exploraram e desenvolveram suas técnicas diante dos seus caminhos pessoais com a arte e com o conhecimento sobre cinética e movimento mecânico. Essa diversidade formativa dá à Arte Cinética uma variedade estética devido a contribuição de cada artista. Vamos conhecer alguns:
Naum Gabo (1890-1977)
Considerado um escultor, se dedicou ao construtivismo Russo e a Arte Cinética. Suas obras exploram a construção da plasticidade no espaço.
Alexander Calder (1898-1976)
Alexander era estadunidense, considerado pintor e escultor. Ficou famoso pela construção de seus móbiles, que são considerados arte cinética.
Jesús Rafael Soto (1923-2005)
Foi um artista venezuelano que se relacionou com o abstracionismo e a arte cinética. Suas obras são ricas em interação com os espectadores.
George Rickey (1907-2002)
Estadunidense, foi um escultor da arte cinética, conhecido por suas obras expostas em espaços urbanos.
Jean Tinguely (1925-1991)
Escultor suíço, se envolveu com a arte cinética e com o Novo Realismo. Suas obras são construídas a partir de objetos cotidianos.
Martha Boto (1925-2004)
Artista argentina, que se aventurou pela arte cinética e pela Op Art.
Abraham Palatnik (1928-2020)
Brasileiro, considerado escultor e pintor, explorou a ideia da arte cinética a partir de estruturas mecânicas e jogos de luz.
Estes são alguns dos artistas cinéticos de grande reconhecimento no campo das artes. Muitas outras obras são interessantes e merecem a sua pesquisa, assim como os outros artistas citados nessa matéria. Esses artistas estivem a frente do seu tempo e trouxeram à arte novas possibilidades.
Vídeos sobre a arte-movimento
Agora que você já se familiarizou com os principais artistas, com a história e a teoria que embasa o movimento, separamos alguns vídeos para complementar seus estudos!
Uma síntese da arte em movimento
O vídeo do canal Arte e Educação apresenta uma síntese do que foi e dos principais artistas da Arte Cinética. Com o auxilio das imagens e a explanação feita, você consegue registrar com eficiência o assunto.
Revendo a história
O Victor, neste vídeo, conta com mais detalhes a história e o desenvolvimento da arte cinética nas galerias de arte pelo mundo. Além disso, ele narra a história de um dos principais nomes do movimento
Um brasileiro cinético
Neste vídeo, a Vivi leva você em uma viagem a uma exposição do Abraham Palatnik que aconteceu no Rio de Janeiro. O artista é uma dos principais nomes do movimento e é brasileiro.
O movimento é a própria arte e as fronteiras entre pintura e escultura são borradas, como os movimentos e escolas da arte contemporânea. Para continuar estudando sobre a relação entre arte e visão, leia nossa matéria sobre a Op Art
.
Referências
ARTE Cinética. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020.
Por Vanderlei Bachega Junior
Professor de Arte e Teatro. Graduado em Artes Cenicas pela Universidade Estadual de Maringá, habilitação em licenciatura. Mestre e doutorando em Teatro pelo PPG em Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina. Possui especialização em Voz Profissional pela Unyleya. Artista e produtor cultural em Maringá. Dedicado ao ensino fundamental e médio e ao ensino superior.
Bachega Junior, Vanderlei. Arte Cinética. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/artes/arte-cinetica. Acesso em: 24 de November de 2024.
1. [ENEM]
Observe a obra “Objeto Cinético”, de Abraham Palatnik, 1966.
A arte cinética desenvolveu-se a partir de um interesse do artista plástico pela criação
de objetos que se moviam por meio de motores ou outros recursos mecânicos. A obra
“Objeto Cinético”, do artista plástico brasileiro Abraham Palatnik, pioneiro da arte
cinética,
a) a é uma arte do espaço e da luz.
b) muda com o tempo, pois produz movimento.
c) capta e dissemina a luz em suas ondulações.
d) é assim denominada, pois explora efeitos retinianos.
e) explora o quanto a luz pode ser usada para criar movimento
Resposta: B
Comentário: Visualize a obra “Objeto cinético” em sua tridimensionalidade original. O enunciado auxilia essa visualização, ao informar que a arte cinética se compunha de “objetos que se moviam por meio de motores e outros recursos mecânicos”. O conceito de movimento, da área da Física, também serve de auxiliar para se chegar à conclusão de que, de fato, a obra de arte cinética se modifica, na medida em que seus componentes materiais estão em constante movimento
2. [SEE/MG]
Julio Le Parc, artista argentino, teve uma excelente retrospectiva em Miami, em 2016 e em São Paulo, em 2017-18. A mostra com o título, Julio Le Parc: da Forma à Ação, trouxe obras que caminham pela op art, passa pela arte cinética e se desdobra em grandes instalações luminosas.
De acordo com a obra do artista e dos conhecimentos sobre a op art, identifique uma de suas carac-terísticas.
A.Representação do movimento através da pintura, apenas com a utilização de elementos gráficos.
B.Restauração dos sentimentos humanos e do instinto como ponto de partida para uma nova linguagem artística.
C.Temas concebidos como simples motivos que justificam a realização da pintura.
D.Uma arte solta das amarras racionalistas, resultado do automatismo psíquico, combinando elementos por acaso.
E.Valorização do desenvolvimento industrial e tecnológico, se encantando com a velocidade das máquinas.
Resposta: A
Comentário: A Op Art utiliza composições geométricas e visuais para representar a ideia de movimento, assimilada pela cérebro do espectador.