Niilismo

A corrente filosófica que defende a falta de sentido para a existência humana. Conheça suas características e seus principais pensadores.

Corrente filosófica que se baseia no vazio e na falta de explicações metafísicas para a existência humana, o niilismo adentrou, no mundo contemporâneo, diversos campos, como o da arte, da ética e da moral. Neste texto, veremos quais são as principais características do niilismo e seus maiores representantes filosóficos.

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O que é niilismo

Niilismo é uma corrente filosófica que opera de forma radicalmente cética e pessimista sobre as interpretações acerca da realidade. O termo niilismo vem do latim “nihil”, que significa nada. No limite, o niilismo se fundamenta nas ideias de vazio, de ausência de verdades absolutas, de não explicação para a existência, de desvalorização ou aniquilamento do sentido e da não existência de um télos (fim ou finalidade).

É importante ressaltar que o niilismo não é limitado a uma única escola filosófica. Muitos pensadores conceituaram e utilizaram a noção niilista nas suas teorias – não necessariamente como o objeto central. Dada a forma como a humanidade está se desenvolvendo, pode-se dizer que o niilismo é uma, dentro muitas outras, das respostas possíveis para compreender o que é a vida e o existir o humano. A resposta niilista é que não existe um sentido e devemos aprender a viver com isso.

Características do niilismo

As principais características do niilismo, abarcando seus diversos tipos, são:

  • A falta de sentido: talvez a característica mais conhecida, é a que, conforme essa corrente filosófica, não existe um sentido para existência humana, nada explica nem justifica o fato de existirmos.
  • Ausência de fundamentação metafísica: não existe uma fundamentação metafísica para explicar a existência. Independente do conceito que se use (Deus, providência, destino causa final etc.), nada dá sentido a nossa existência, mesmo que seja uma explicação suprassensível.
  • Ceticismo: o niilismo é extremamente cético, ou seja, assume uma postura de constante dúvida e negação de conhecimentos que são tidos como certos.
  • Pessimismo: a corrente niilista também é pessimista, visto que opera mais sobre os aspectos negativos da realidade do que sobre os positivos.
  • Ausência de verdades absolutas: da mesma forma que não existe uma fundamentação metafísica que explique a existência, também não existe o conceito de verdade absoluta, ou seja, algo em que se possa apoiar para dar sentido a nossa existência.
  • Independência da religião e do Estado: para essa corrente, a felicidade do homem não pode depender da religião e de seus valores, tampouco do Estado e de seus juízos.

O niilismo tem várias características e cada filósofo apresentará o termo conforme a sua teoria e dentro dos propósitos que julgar necessário. O importante é saber que a principal característica é rejeitar qualquer coisa que explique o sentido da existência humana.

Tipos de niilismo

O niilismo é uma corrente ampla e, como vimos, está presente na teoria de diversos filósofos. Por isso, podemos classificá-lo em quatro tipos, para melhor entender como essa corrente opera em cada pensador.

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Niilismo negativo

O niilismo negativo é aquele, como o próprio nome sugere, que nega algo. Um bom exemplo são os filósofos que negam um mundo em detrimento de outro. Platão, ao negar o mundo das sombras e considerar que o mundo das ideias é melhor, se utiliza do niilismo negativo. Assim como Agostinho, quando preferiu a Cidade de Deus ao mundo terreno.

Niilismo reativo

É o niilismo que reage, que concebe a reação em relação a um estado de coisas, de modo a mudá-lo ou alterar um paradigma. Esse niilismo é mais moderno. Um exemplo é o niilismo que reage contra a religião e aponta a ciência como a alternativa viável para solucionar os problemas da vida.

Niilismo ativo

Na teoria nietzschiana, o niilismo ativo é aquele em que a evolução humana ocorre pela transvaloração dos valores, em que o homem se transformou em super-homem (ou além-homem) e disse “sim” à vida, ao eterno retorno e à existência humana.

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Niilismo passivo

É a expressão do pessimismo, talvez a concepção mais conhecida do niilismo. É o tipo em que a evolução do homem acontece, porém, sem que os valores sejam alterados e a noção de senhor e escravo permanece.

O conceito de niilismo é muito importante para a filosofia, sobretudo no período mais moderno da história da filosofia. Essa classificação é uma das formas de abordar esse conceito que pode ser amplamente explorado em diversas áreas.

Filósofos do niilismo

Alguns filósofos usaram o termo para explicar determinados pontos em suas teorias, outros tomaram o conceito como ponto central de suas filosofias, dentre eles, Nietzsche e Schopenhauer são os mais conhecidos.

Friedrich Nietzsche

Foi um dos mais conhecidos filósofos niilistas. Nietzsche associa o conceito de niilismo com o de eterno-retorno, transvaloração de valores e super-homem. Na verdade, o niilismo, para ele, é muito mais um processo do que um simples conceito e acontece em etapas, as quais o homem deve superar.

Para Nietzsche, existem dois tipos de niilismo: o passivo (ou incompleto) e o ativo (ou completo). No passivo, existe um desenvolvimento do indivíduo, mas não é o suficiente para destruir os valores e a moral. No ativo, o homem se destitui dos valores metafísicos (da religião, dos costumes, dogmas, tradições e crenças) e, ao fazer isso, por meio da vontade de potência, consegue destruir a moral e se ver como criador de si mesmo e de seus próprios valores.

Esse processo faz dele um homem livre das instituições que poderiam corrompê-lo, tornando-se, portanto, o super-homem (ou além-homem). Quando o super-homem entende que não existe um Deus nem um além-vida, ele deve entender que a vida é um eterno-retorno. É quando todo esse processo acontece, que Nietzsche entende que acontece a transvaloração (a transmutação) de todos os valores.

Arthur Schopenhauer

Diferente de Nietzsche, que conseguiu desenvolver um niilismo ativo, que liberta o homem, Schopenhauer tem uma visão totalmente pessimista da vida e da existência. Para ele, a falta de sentido da natureza é insuportável. O homem tem acesso ao que ele chama de “todo sem-sentido” da existência, porque é a expressão mais complexa e bem acabada de vida.

Segundo Schopenhauer, não vale a pena viver, já que assim que saciamos uma vontade, logo ela se torna tédio e outra vontade a substitui. Por isso a vida não passa de sofrimento e a concepção do homem schopenhaueriano não consegue aceitar a realidade. A solução que o filósofo encontra é a total contemplação do espetáculo do mundo, porém, de modo a abdicar de toda vontade.

Martin Heidegger

Para Heidegger, um filósofo existencialista, o niilismo é um fenômeno histórico-ontológico, ou seja, é um conceito cunhado na história, sendo determinada, que analisa o ser. Heidegger critica a conceituação de Nietzsche, pois para ele, a superação niilista não pode se restringir à transvaloração de valores, mas deve, também, refletir sobre a essência de tais valores.

Esse são os principais filósofos em que o pensamento niilista aparece com mais expressão, no entanto, há outros. Vale conferir Husserl e Camus.

Para não deixar escapar nada, confira estes vídeos!

Estes três vídeos trazem uma boa explicação do niilismo, sobretudo o nietzschiano. Além disso, mostram como esse conceito aparece na vida cotidiana e também como se relaciona com a história da filosofia.

Niilismo nas mídias!

Nesse vídeo do canal Universidade Andarilho, é possível ver como os conceitos aqui trabalhados não são desprendidos da vida e como eles aparecem em nosso cotidiano. No caso desse vídeo, é mostrado como ele aparece em um desenho animado: Rick e Morty.

Aprofundando conceitos: visão de Nietzsche

Mateus Salvadori explica o niilismo em Nietzsche e sua relação com os conceitos de eterno retorno, super-homem e vontade de potência.

Desenhando o niilismo

No quadro “quer que desenhe” do canal Descomplica, a explicação do niilismo nietzschiano é feita de forma bem visual – com um mapa mental, para fixar bem na cabeça. No vídeo, Francisco Pereira mostra como o niilismo aparece na sociedade, além de explicar detalhadamente o conceito, sempre relacionando com a sociedade e a história da filosofia.

Nessa matéria, vimos a definição do conceito de niilismo como um tipo de pensamento filosófico que defende a ausência de sentido da existência humana, além disso, pontuamos algumas das principais características e alguns dos principais pensadores, dentre eles, Nietzsche é o que merece maior destaque.

Gostou dessa matéria? Confira o existencialismo, outra corrente filosófica que aborda o tema da existência humana.

Referências

DANTAS, L.T.F. O niilismo histórico-ontológico em Heidegger. Tese de mestrado. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2013.
NIETZSCHE, F. W. Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
NIETZSCHE, F. W. Genealogia da moral: uma polêmica. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
LOPES, R. A., BUENO, D. A. A leitura de Heidegger acerca do niilismo e da sentença de Nietzsche “Deus está morto”. Revista Cultura Teológica. v. 20 – n. 78 – ABR/JUN 2012. pp. 59-72.

Marilia Duka
Por Marilia Duka

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá em 2016. Graduada em Letras Português/Francês na Universidade Estadual de Maringá em 2022.

Como referenciar este conteúdo

Duka, Marilia. Niilismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/niilismo. Acesso em: 22 de November de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [Filosofia na escola]

No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche vislumbrou o advento do “super-homem” em reação ao que para ele era a crise cultural da época. Na década de 1930, foi criado nos Estados Unidos o Super-Homem, um dos mais conhecidos personagens das histórias em quadrinhos.

A diferença entre os dois “super-homens” está no fato de Nietzsche defender que o super-homem

a) agiria de modo coerente com os valores pacifistas, repudiando o uso da força física e da violência na consecução de seus objetivos.

b) expressaria os princípios morais do protestantismo, em contraposição ao materialismo presente no herói dos quadrinhos.

c) abdicar-se-ia das regras morais vigentes, desprezando as noções de “bem”, “mal”, “certo” e “errado”, típicas do cristianismo.

d) representaria os valores políticos e morais alemães, e não o individualismo pequeno burguês norte-americano.

Alternativa C é a correta. Como vimos, o super-homem é um estágio do homem livre, em que os valores metafísicos são destruídos.
Como o niilismo de Nietzsche é contra a manutenção dos valores das instituições, as alternativas A, B e D não podem estar corretas.

2. [ENEM 2016]

(Enem/2016) Vi os homens sumirem-se numa grande tristeza. Os melhores cansaram-se das suas obras. Proclamou-se uma doutrina e com ela circulou uma crença: Tudo é oco, tudo é igual, tudo passou! O nosso trabalho foi inútil; o nosso vinho tornou-se veneno; o mau olhado amareleceu-nos os campos e os corações. Secamos de todo, e se caísse fogo em cima de nós, as nossas cinzas voariam em pó. Sim; cansamos o próprio fogo. Todas as fontes secaram para nós, e o mar retirou-se. Todos os solos se querem abrir, mas os abismos não nos querem tragar!
NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra, Rio de Janeiro. Ediouro, 1977.

O texto exprime uma construção alegórica, que traduz um entendimento da doutrina niilista, uma vez que
A) reforça a liberdade do cidadão.
B) desvela os valores do cotidiano.
C) exorta as relações de produção.
D) destaca a decadência da cultura.
E) amplifica o sentimento de ansiedade.

Alternativa D é a correta.
Niilismo é a corrente filosófica que defende a falta de sentido, o nada e o vazio. É um modo de ver e pensar cuja característica é a negação de todos os valores de uma sociedade, sejam eles religiosos, políticos ou sociais.
O niilismo prega uma nadificação da cultura, por isso é uma decadência – como mostra o trecho do texto.

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