Thomas Hobbes foi um dos primeiros grandes filósofos a escrever em Língua Inglesa. Ele ficou conhecido como o pai do contratualismo. A famosa frase “o homem é o lobo do homem” está presente em seu livro “Do Cidadão”. A seguir, entenda seus principais pensamentos e obras.
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Biografia
Thomas Hobbes nasceu em 5 de abril de 1588, na Aldeia de Westport, próximo à Malmesbury – condado de Wiltshire, na Inglaterra. Ele morreu em 4 de dezembro de 1679, em Hardwick Hall, Inglaterra. Além de filósofo, teórico político e matemático, foi responsável por disseminar a frase “o homem é o lobo do homem”, utilizada para explicar sua concepção da natureza humana.
Seu pai era um vigário de Charlton e Westport, mas deixou a família depois de um desentendimento com outro vigário da região. Por causa disso, aos sete anos, Hobbes foi tutelado pelo seu tio Francisco, que arcou com seus estudos.
Primeiro, Thomas Hobbes estudou em Malmesbury e, anos depois, em Westport, onde teve contato com os clássicos. Em 1603, Hobbes entrou para a Magdalen Hall, uma das faculdades de Oxford. Depois de terminar a graduação, em 1610, ele viajou pela Europa com William Cavendish, de quem era mentor. Nessa época, os pensamentos da escolástica (apropriação da filosofia aristotélica pelos filósofos medievais) já estavam em declínio. Assim Hobbes percebeu que as soluções desse método não correspondiam às demandas filosóficas de sua época.
Em 1621, Hobbes se tornou assistente de Francis Bacon, por quem foi muito influenciado. Em 1628, trabalhou como preceptor do filho de Sir Gervase Clifton. Nessa época, retornou à França e entrou em contato com o pensamento e a teoria matemática euclidianos.
Na década de 1630, Hobbes voltou a ser preceptor da família Cavendish e, acompanhado de seu aluno, mais uma vez viajou para o continente europeu. Nessa viagem, o filósofo conheceu Descartes e Galileu.
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Da vida no continente ao exílio e retorno à Inglaterra
Hobbes viveu na França de 1634 a 1637. Durante esses anos, viajou por alguns países, estudou a filosofia cartesiana, euclidiana e galileia. Nesse período, começou a esboçar sua teoria filosófica e política.
Em 1637, Hobbes e seu aluno retornaram à Inglaterra. Em 1640, o filósofo publicou o texto “Elementos da Lei Natural e Política” (presente também no livro “Do cidadão” – 1642), abordando as relações entre a Igreja e o Estado.
Nessa época, a Inglaterra vivia uma Guerra Civil, disputada entre o Rei Carlos I e o parlamento – liderado por Cromwell, que acabou com a morte do monarca. Em 1640, quando o Arcebispo Laud e o Conde de Strafford, principais auxiliares do rei, foram levados à torre e acusados de conspiração, Hobbes se exilou na França, pois ele também defendia a monarquia. Entretanto, com a publicação de “Do Cidadão”, em 1642, o filósofo foi oficialmente exilado. A defesa do absolutismo presente no livro não era aceita pelos vitoriosos da Revolução Inglesa.
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Em 1646, Hobbes se tornou professor do Príncipe Carlos, futuro rei inglês, que também estava exilado na França. Em 1651, ainda em exílio, o filósofo publicou sua magnum opus, “O Leviatã”, apresentando sua teoria contratualista e jusnaturalista para defender a monarquia como regime político capaz de combater a natureza humana.
Por fim, também em 1651, Hobbes finalmente retornou à Inglaterra. Em 1655, publicou “O Corpo” e, em 1658, “O Homem”. No próximo tópico, entenda o que o filósofo defendia.
Principais ideias
Thomas Hobbes foi um filósofo que se dedicou especialmente aos estudos da natureza humana e das relações políticas entre os homens. Abaixo, confira suas principais ideias:
- O homem é naturalmente agressivo e belicoso: para Hobbes, o estado de natureza do ser humano é a agressividade e a guerra de todos contra todos. Os impulsos de sobrevivência, guiados pelo medo, obrigam os homens a lutarem entre si até se aniquilarem. Daí a célebre frase “o homem é o lobo do homem”.
- O homem é uma máquina: as análises de Hobbes são mecanicistas (comuns à época). Para ele, o homem é uma máquina que age sozinha e as questões giram em torno de compreender os corpos e seus movimentos. Além disso, de acordo com o filósofo, a paixão move o ser humano, então, a liberdade é apenas uma ausência de impedimento para agir.
- Defesa de exercer o poder de forma absoluta: de acordo com Hobbes, o poder só pode ser eficaz quando exercido de modo absoluto, ou seja, apenas um soberano é capaz de organizar a sociedade civil.
- O universo é corpóreo: para Hobbes, o universo tem um corpo, portanto, tudo tem comprimento, largura, profundidade e uma natureza física. Por isso, tudo pode ser percebido pela mente humana.
- Contratualismo: Hobbes é considerado o pai da filosofia contratualista. Ele defende a necessidade de um contrato entre os indivíduos e o Estado para o êxito da sociedade.
Contrato social
O conceito de Contrato Social é defendido por alguns filósofos da época, como Rousseau e John Locke. Nessa concepção, visando o pleno desenvolvimento social, os indivíduos precisam firmar um contrato com o Estado, pois a natureza do ser humano e a natureza da sociedade são incompatíveis.
Como já apontado, para Hobbes, a natureza do indivíduo é agressiva e bélica. O homem é movido pelo instinto de sobrevivência e constantemente guiado pelo medo. Por isso, Hobbes declara que a natureza humana é um estado de “guerra de todos contra todos”, como uma eterna competição. Nessa perspectiva, todos os homens são iguais, pois, na luta pela sobrevivência, até o mais fraco pode matar o mais forte, dependendo das circunstâncias.
A concepção de Hobbes não deve ser associada à descrição do homem primitivo ou ao ser humano anterior às organizações sociais, como é o caso de Rousseau (com a teoria do “bom selvagem”). É uma natureza que descreve o comportamento humano em um caso de suspensão das leis e convenções.
Essas são as principais ideias de Hobbes acerca da sociedade e da natureza do homem. Ele também entende que os papeis da Igreja devem ser separados dos papeis do Estado e, por conta disso, sofreu algumas perseguições.
Principais obras de Thomas Hobbes
Embora seja muito conhecido por causa do livro “O Leviatã”, Hobbes escreveu outras obras importantes, refletindo sobre a política, o mecanicismo e a natureza humana. Entre elas, estão:
- Elementos da Lei Natural e Política (1640);
- Do Cidadão (1642);
- O Leviatã (1651);
- O Corpo (1655);
- O Homem (1658).
- O medo dos poderes invisíveis, inventados ou imaginados a partir de relatos, chama-se religião.
- Aqueles que concordam com uma opinião chamam-lhe opinião; mas os que discordam chamam-lhe heresia.
- O homem é o lobo do homem, em guerra de todos contra todos.
- O universo é corpóreo; tudo o que é real é material, e aquilo que não é material não é real.
- Minha mãe pariu gêmeos, eu e o medo.
- A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los [os indivíduos] das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes, assim, uma segurança suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda a sua força e poder a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possam reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade.
- As leis são feitas pela autoridade e não pela verdade.
Leviatã (1651)
Obra escrita e publicada em inglês (raro para época, pois os filósofos publicavam seus textos em latim), “O Leviatã” é o livro mais importante de Hobbes. Nele, o filósofo expõe algumas considerações sobre a natureza humana e desenvolve o mote “o homem é o lobo do homem”, apresentado em “Do Cidadão”.
O contrato social também é discutido no decorrer do livro. O título faz referência ao Leviatã do livro de Jó, na Bíblia, um monstro que governa o caos primitivo. Para Hobbes, o Estado é o Grande Leviatã que consegue governar a sociedade.
O livro é dividido em duas partes: “a respeito do homem” e “do Estado”. Na primeira parte, Hobbes descreve a sociedade, seus comportamentos, além de tentar definir o homem e suas sensações. O filósofo usa o método axiológico, isto é, como se estivesse fazendo um tratado geométrico.
Na segunda parte, o filósofo elabora as noções de Estado, do contrato social, da função do soberano, da liberdade dos súditos, dos direitos naturais. Segundo o autor, um soberano é melhor do que uma assembleia devido aos conflitos entre os partidos que podem retomar o estado natural caótico do homem.
Hobbes também descreve seu conceito de justiça: um meio para os homens resolverem os problemas de ordem objetiva de acordo com seus interesses. Enfim, “O Leviatã” é considerado um dos livros mais influentes na filosofia política e no Direito.
7 frases de Thomas Hobbes
Abaixo, confira algumas frases que refletem o pensamento de Hobbes em diversos temas, como política, religião e as questões relativas ao homem.
Nessas frases, é possível entender que a filosofia de Hobbes parte do pressuposto que a natureza humana é caótica e, por isso, o Estado e as leis precisam existir. Os indivíduos devem renunciar à liberdade para o soberano absoluto tomar as decisões voltadas ao bem comum.
3 vídeos para fixar o pensamento de Hobbes
Nos vídeos a seguir, você poderá revisar as ideias trabalhadas nessa matéria, conhecendo melhor o livro “O Leviatã” e entendendo os pormenores do contrato social de Thomas Hobbes.
O homem em seu estado de natureza
Nesse vídeo do canal Isto não é filosofia, o professor Vitor Lima explica o conceito de homem para Hobbes, considerando seu comportamento em estado de natureza e como o indivíduo age na sociedade. A partir de trechos do livro “O Leviatã”, o professor explica alguns conceitos, como a igualdade, a competição e a ideia de medo constante. Ele também fala sobre um quadro de Piero di Cosimo pela perspectiva de Hobbes.
O que é o contrato social
O professor Matheus Passos explica os conceitos de contrato social, como o homem passa do seu estado de natureza para o estado social e quais são as funções do soberano absoluto e dos súditos.
Resumindo a teoria de Hobbes
O vídeo do canal Glowupper é bom para fixar as principais ideias apresentadas ao longo dessa matéria, como o contrato social, o significado da frase “o homem é o lobo do homem”, o estado de guerra de todos contra todos e o papel do Leviatã.
Nessa matéria, você conheceu o pensamento e a obra de Thomas Hobbes. Gostou do tema? Conheça o pensamento de outro filósofo importante para o pensamento político: Montesquieu.
Referências
A linguagem religiosa do medo em Hobbes: uma leitura do Leviatã (2020) – Ashbell Simonton Rédua
Do cidadão (1998) – Thomas Hobbes
Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado Eclesiástico e Civil (2003) – Thomas Hobbes
Iniciação à história da filosofia (2007) – Danilo Marcondes
Por Marilia Duka
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá em 2016. Graduada em Letras Português/Francês na Universidade Estadual de Maringá em 2022.
Duka, Marilia. Thomas Hobbes. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/thomas-hobbes. Acesso em: 23 de November de 2024.
1. [UNIOESTE 2011]
“A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro não é suficientemente considerável para que qualquer um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que outro não possa também aspirar, tal como ele. (…) Desta igualdade quanto à capacidade deriva a igualdade quanto à esperança de atingirmos nossos fins. Portanto, se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo (…) esforçam-se por se destruir ou subjugar um ao outro. (…) Com isto se torna manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama de guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens”.
Com base no texto citado, seguem as seguintes afirmativas:
I) Os homens, por natureza, são absolutamente iguais, tanto no exercício de suas capacidades físicas, quanto no exercício de suas faculdades espirituais.
II) Sendo os homens, por natureza, “tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito” é razoável que cada um ataque o outro, quer seja para destruí-lo, quer seja para proteger-se de um possível ataque.
III) Na inexistência de um “poder comum” que “mantenha a todos em respeito”, a atitude mais racional é a de manter a paz e a concórdia na “esperança” de que todos e cada um atinjam seus fins.
IV) A condição dos homens que vivem sem um poder comum é de guerra generalizada, de todos contra todos.
V) O homem, por natureza, vive em sociedade e nela desenvolve suas potencialidades, mantendo relações sociais harmônicas e pacíficas.
Hobbes.
Assinale a alternativa correta.
a) Apenas I está correta.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I e V estão corretas.
d) Apenas II e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
Alternativa D está correta.
Para Hobbes, a natureza do homem é caótica. Sem a criação de um Estado, onde o indivíduo abre mão de sua liberdade para o soberano, não há paz.
2. [UFPA 2013]
“Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é consequência: que nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais. A justiça e a injustiça não fazem parte das faculdades do corpo ou do espírito. Se assim fosse, poderiam existir num homem que estivesse sozinho no mundo, do mesmo modo que seus sentidos e paixões.”
HOBBES, Leviatã, São Paulo: Abril cultural, 1979, p. 77.
Quanto às justificativas de Hobbes sobre a justiça e a injustiça como não pertencentes às faculdades do corpo e do espírito, considere as afirmativas:
I) Justiça e injustiça são qualidades que pertencem aos homens em sociedade, e não na solidão.
II) No estado de natureza, o homem é como um animal: age por instinto, muito embora tenha a noção do que é justo e injusto.
III) Só podemos falar em justiça e injustiça quando é instituído o poder do Estado.
IV) O juiz responsável por aplicar a lei não decide em conformidade com o poder soberano; ele favorece os mais fortes.
Quais alternativas estão corretas?
a) I e II
b) I e III
c) II e IV
d) I, III e IV
e) II, III e IV
Alternativa B está correta.
Ao explorar o tema da justiça, Hobbes não parte da ideia de Deus, nem da moral, mas, sim, da própria sociedade civil.
3. [UFU 2013]
Porque as leis de natureza (como a justiça, a equidade, a modéstia, a piedade, ou, em resumo, fazer aos outros o que queremos que nos façam) por si mesmas, na ausência do temor de algum poder capaz de levá-las a ser respeitadas, são contrárias a nossas paixões naturais, as quais nos fazem tender para a parcialidade, o orgulho, a vingança e coisas semelhantes.
HOBBES, Thomas. Leviatã. Cap. XVII. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 103.
Em relação ao papel do Estado, Hobbes considera que:
A) O seu poder deve ser parcial. O soberano que nasce com o advento do contrato social deve assiná-lo, para submeter-se aos compromissos ali firmados.
B) A condição natural do homem é de guerra de todos contra todos. Resolver tal condição é possível apenas com um poder estatal pleno.
C) Os homens são, por natureza, desiguais. Por isso, a criação do Estado deve servir como instrumento de realização da isonomia entre tais homens.
D) A guerra de todos contra todos surge com o Estado repressor. O homem não deve se submeter de bom grado à violência estatal.
Alternativa B está correta.
Como para Hobbes o homem é agressivo por natureza, em estado de guerra de todos contra todos, a única saída para a sociedade civil prosperar é por meio de um Estado pleno.