Buscar a felicidade por meio do prazer moderado é o princípio do epicurismo. Criada por Epicuro de Samos, a doutrina epicurista encontrou um novo jeito de olhar para a filosofia, tratando-a como uma prática. Conheça seus princípios e características.
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O que é o epicurismo
O epicurismo é uma escola filosófica desenvolvida por Epicuro, por volta do século IV a.C., portanto, na era pós-socrática. Seu princípio é a busca pela felicidade mediante os prazeres moderados. Diferentemente do que pensam, a busca pelo prazer, defendida pelos epicuristas, não significa entregar-se aos prazeres físicos inconsequentemente (como o hedonismo), mas cultivar o prazer intelectual. Ou seja, o estudo da filosofia, o cultivo à amizade e ao bem comum são formas de buscar a felicidade.
Para a doutrina epicurista, o prazer deve ser moderado e a vida precisa ser vivida de modo simples e humilde, pois o principal objetivo do epicurismo é atingir a felicidade. Porém, isso só é possível por meio da ataraxia e da aponia. A aponia é a ausência de dor física, já a ataraxia é a imperturbabilidade da alma, ou seja, a alma em seu estado de plenitude.
Essa doutrina foi difundida por toda a Grécia e, mais tarde, influenciou o pensamento de Lucrécio (98 – 55 a.C.), um poeta latino.
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Quem foi Epicuro
Epicuro de Samos (341 a.C.-271 a.C.) foi um filósofo grego do período helenístico. No começo de seus estudos, Epicuro se dedicava à filosofia atomista, cujo principal representante foi Demócrito. Diferente dos outros filósofos da Academia, Epicuro entendia que a filosofia deveria ser aplicada na vida, ou seja, ter um caráter prático. É a partir desse pensamento que Epicuro começa a desenvolver sua teoria sobre a busca da felicidade.
Epicuro fundou sua escola nos arredores de Atenas, em um casarão. Lá, abrigava seus discípulos, incluindo escravos e mulheres, coisa atípica para época. Essa escola ficou conhecida como ‘o Jardim’ ou ‘o Jardim de Epicuro’. Para o filósofo, somente pela aponia e ataraxia seria possível alcançar a felicidade. Além disso, é preciso que as pessoas usassem o Tetrapharmakon, um composto farmacêutico usado na Grécia Antiga, na qual Epicuro utiliza o termo para apontar os remédios que solucionariam as dores da alma. São eles: não há nada a temer em relação aos deuses, não se deve temer a morte, é preciso saber que a felicidade é possível e é possível escapar da dor.
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Características do epicurismo
Para alcançar a felicidade, pela ataraxia e pela aponia, é preciso compreender algumas características da filosofia epicurista. Veja:
1. Compreensão acerca dos deuses
Segundo Epicuro, não existe motivo algum para se temer aos deuses, porque eles não interferem na vida humana, como a sociedade da época costumava pensar. Os deuses são muito mais grandiosos do que os humanos e não possuem a mesma natureza dos homens, portanto não sentem inveja, ciúmes, medo ou paixão que pudesse levá-los a uma intervenção. Ou seja, tudo o que acontece na vida humana, de bom ou de ruim, não diz respeito aos deuses, mas às próprias ações humanas. O acerto e o erro são frutos da ação do indivíduo, pois o ser humano é livre para agir.
2. Compreensão acerca da morte
De acordo com Epicuro, temer a morte é uma tolice, pois, para ele, ela não é nada. Epicuro defende que a morte é o total aniquilamento da vida, ou seja, tudo o que existe em vida não existe na morte. Dessa forma, o sofrimento e a dor, a felicidade e o prazer, todas as sensações que existem enquanto se está vivo não existem quando se morre. Não existe dor na morte, portanto, não há porque temê-la.
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3. Compreensão acerca do prazer e dos desejos
Para o epicurismo, o prazer não é livre e desenfreado, mas moderado e simples. O desejo também deve ser dessa forma, pois ele indica uma falta, tanto da natureza quanto do mundo. Deve-se desejar as coisas necessárias, naturais e possíveis, sem ganância. Segundo Epicuro, “a quem não basta pouco, nada basta” (1985), assim, é preciso desejar algo palpável e fácil de ser obtido. É por isso que Epicuro defende que as necessidades imediatas sejam satisfeitas, porque devem ser simples e viáveis. Assim, Epicuro divide os desejos em:
- Desejos naturais e necessários: aqueles que livram o corpo da dor da fome e da sede e atingem a felicidade.
- Desejos naturais e não necessários: os que provém da vontade de variar e mudar, como experimentar comidas e bebidas novas para diversificar o prazer do corpo.
- Desejos não naturais e não necessários: são aqueles que surge da falseabilidade do mundo, por serem incentivados pelos sentimentos de vaidade, orgulho ou inveja.
Os desejos não naturais e não necessários, também chamados de frívolos ou inúteis, podem ser subdivididos em artificiais e irrealizáveis. Os primeiros se relacionam à ganância, busca pelo poder ou pela riqueza, já os segundos são aqueles que estão além das capacidades humanas, como a imortalidade.
4. Paradoxo de Epicuro
A discussão sobre os deuses não interferirem na vida humana causa um paradoxo que diversos teólogos e filósofos vêm tentando responder. Essa questão é formulada por três proposições: se Deus está disposto a intervir e prevenir o mal, porém não é capaz, logo, ele não é onipotente; se Deus consegue intervir e prevenir o mal, mas não está disposto, então ele é malévolo; mas, se ele é capaz e está disposto a intervir, então de onde vem o mal?
Como todo paradoxo, esses questionamentos não têm uma solução. Alguns filósofos, como Santo Agostinho, explicam a questão do mal por meio do livre arbítrio. Deus é onipotente e benévolo, porém concedeu o livre arbítrio à humanidade para agir conforme sua liberdade.
Gostou de conhecer as principais características do epicurismo? Para sintetizar os tópicos, lembre-se que as principais marcas são: buscar a felicidade e a sabedoria, cultivar as amizades e realizar o bem coletivo, satisfazer as necessidades e desejos imediatos e negar o prestígio social e levar uma vida simples.
Videoaulas para atingir a ataraxia do epicurismo
Nestes três vídeos você poderá compreender com mais detalhes sobre a escola epicurista, como a noção do que é o prazer moderado, o que é o desejo, quais os meios de atingir a ataraxia e a aponia e o que é o tetrapharmakon:
Panorama do epicurismo
Este vídeo dá uma visão geral do que é a filosofia proposta por Epicuro, o paradoxo sobre Deus e principalmente sobre como alcançar a felicidade por meio dos prazeres moderados. Ótima aula para começar as discussões sobre o assunto!
Quem foi e o que pensou Epicuro?
Aqui você confere o epicurismo de modo mais detalhado, dando ênfase nos tipos de prazeres e recebendo explicações de forma exemplificada sobre os 4 remédios da alma para atingir a ataraxia, além de explicar o que é ataraxia e aponia.
O que é o Tetrapharmakon?
Ficou um pouco perdido na hora que se deparou com essa palavra? Sem problemas! Nesse vídeo, o professor explica detalhadamente quais são os quatro remédios propostos por Epicuro. Confira a história dessa palavra e entenda como Epicuro utilizou esse significado para criar seus conceitos.
Gostou da matéria? Conheça uma filosofia completamente oposta ao epicurismo, o Estoicismo.
Referências
Antologia de textos (1985) – Epicuro;
Convite à Filosofia (2000) – Marilena Chauí;
Filosofando: introdução à filosofia (2009) – Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins.
Por Marilia Duka
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá em 2016. Graduada em Letras Português/Francês na Universidade Estadual de Maringá em 2022.
Duka, Marilia. Epicurismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/epicurismo. Acesso em: 21 de November de 2024.
1. [UEM]
“Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade. Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo, portanto, quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera” (Epicuro, Carta sobre a felicidade [a Meneceu]. São Paulo: ed. Unesp, 2002, p. 27. In: COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. SP: Saraiva, 2006, p. 97).
A partir do trecho citado, são corretas as afirmativas:
I) a morte, por ser um estado de ausência de sensação, não é nem boa, nem má.
II) a vida deve ser considerada em função da morte certa.
III) o tolo não espera a morte, mas vive apoiado nas suas sensações e nos seus prazeres.
IV) a certeza da morte torna a vida terrível.
V) a espera da morte é um sofrimento tolo para aquele que a espera.
A) I, III e V
B) I e V
C) II, III, IV e V
D) I, III, VI
E) I e III
Alternativa B está correta.
Para Epicuro, a morte não deve ter influência sobre a vida.
2. [ENEM]
Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.
EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974
No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim
a) alcançar o prazer moderado e a felicidade.
b) valorizar os deveres e as obrigações sociais.
c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.
d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.
e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.
Alternativa A está correta.
Segundo Epicuro, a felicidade é o fim e ela deve ser alcançada mediante os prazeres moderados.