O naturalismo foi uma vertente do realismo, com algumas particularidades. Durante o século XIX, surgiram diversas novas concepções não somente em torno do homem, mas também em torno da vida em sociedade e de estudos como da área psicológica, biológica e sociológica. O Naturalismo apresenta algumas semelhanças com o Realismo. Este, retrata o homem interagindo com seu meio social, enquanto o naturalismo, por sua vez, mostra o homem como um produto das forças naturais. Os naturalistas, de uma forma geral, passaram a fazer uma análise do comportamento humano e social, analisando o comportamento patológico e o lado animalesco presentes nas pessoas.
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Eram inspirados pela perspectiva evolutiva de Charles Darwin, acreditando que a seleção natural era impulsionadora da transformação das espécies. Trata-se de uma ramificação do realismo cuja principal característica é a retratação da sociedade de uma forma bem objetiva. A existência humana é abordada pelos naturalistas de uma forma bastante objetiva e materialista. O homem é, portanto, visto como um produto biológico que age de acordo com os instintos, sendo, pelo naturalismo, comparado com os animais.
Ainda para o naturalismo, o ser humano não é provido do livre arbítrio, como se comumente acredita, sendo, ao contrário, uma máquina guiada por fatores da sociedade e da natureza, como o meio social, a hereditariedade, as leis químicas e físicas. O homem é visto como um objeto de estudo que está sempre enfrentando forças que não pode controlar, sendo manipulado pelo destino.
Quais as características do naturalismo?
Como característica central, temos o cientificismo exagerado, cujo objeto de estudo é o homem, além da sociedade. Na literatura, as descrições são minuciosas e a linguagem usada é bastante simples.
Há uma preferência de temáticas patológicas, visando analisar as “podridões” humanas e sociais sem que haja uma preocupação com a reação daqueles que vão ler ou analisar as obras. São comuns temas como problemas sociais, taras sexuais, crimes, adultério e miséria, por exemplo. O naturalista, analisando os problemas sociais, demonstra ainda uma vontade de reformar a sociedade fazendo a denúncia desses problemas.
Principais autores e obras
Dentre muitos autores que podemos citar, pertencentes ao naturalismo, comentaremos alguns. Aluísio de Azevedo, por exemplo, consagrou-se como autor naturalista com a publicação de “O Mulato”, em 1881, marcando o início do naturalismo no Brasil. Não só entre o clero e a alta sociedade, mas principalmente, a obra causou um grande impacto na sociedade de São Luís do Maranhão, abordando temas como o racismo, o anticlericalismo e o puritanismo sexual. Também com uma obra de Aluísio de Azevedo, “O Cortiço”, o naturalismo atinge seu ápice no Brasil, no ano de 1890, apresentando, neste trabalho, diversos personagens marginalizados. Estudiosos afirmam que a face do naturalismo pode ser vista de forma perfeita em “O Cortiço”, pois a obra envolve o indivíduo no meio, tendo um cenário bastante insalubre e promíscuo, falando sobre a exploração do homem, o cruzamento das raças, a violência e a explosão da sexualidade.
No ano seguinte, 1891, “O Missionário”, obra de Inglês de Souza, é publicada abordando as influências que os indivíduos sofrem a partir do meio. Em 1892, Adolfo Caminha publica “A Normalista”, e três anos depois “O Bom Crioulo”, falando sobre desvios sexuais e o homossexualismo.
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Referências
Literatura: História e Texto – Samira Yousseff Campadelli
Por Natália Petrin
Formada em Publicidade e Propaganda. Atualmente advogada com pós-graduação em Lei Geral de Proteção de Dados e Direito Processual Penal. Mestranda em Criminologia.
Petrin, Natália. Naturalismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/naturalismo. Acesso em: 21 de November de 2024.
01. [Unifesp]
O cortiço
Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.
(Aluísio Azevedo. O cortiço)
O caráter naturalista nessa obra de Aluísio Azevedo oferece, de maneira figurada, um retrato de nosso país, no final do século XIX. Põe em evidência a competição dos mais fortes, entre si, e estes, esmagando as camadas de baixo, compostas de brancos pobres, mestiços e escravos africanos. No ambiente de degradação de um cortiço, o autor expõe um quadro tenso de misérias materiais e humanas. No fragmento, há várias outras características do Naturalismo. Aponte a alternativa em que as duas características apresentadas são corretas.
a) Exploração do comportamento anormal e dos instintos baixos; enfoque da vida e dos fatos sociais contemporâneos ao escritor.
b) Visão subjetivista dada pelo foco narrativo; tensão conflitiva entre o ser humano e o meio ambiente.
c) Preferência pelos temas do passado, propiciando uma visão objetiva dos fatos; crítica aos valores burgueses e predileção pelos mais pobres.
d) A onisciência do narrador imprime-lhe o papel de criador, e se confunde com a ideia de Deus; utilização de preciosismos vocabulares, para enfatizar o distanciamento entre a enunciação e os fatos enunciados.
e) Exploração de um tema em que o ser humano é aviltado pelo mais forte; predominância de elementos anticientíficos, para ajustar a narração ao ambiente degradante dos personagens.
02. [PUCPR] Assinale a alternativa que contém a afirmação correta sobre o Naturalismo no Brasil.
a) O Naturalismo, por seus princípios científicos, considerava as narrativas literárias exemplos de demonstração de teses e ideias sobre a sociedade e o homem.
b) O Naturalismo usou elementos da natureza selvagem do Brasil do século XIX para defender teses sobre os defeitos da cultura primitiva.
c) A valorização da natureza rude verificada nos poetas árcades se prolonga na visão naturalista do século XIX, que toma a natureza decadente dos cortiços para provar os malefícios da mestiçagem.
d) O Naturalismo no Brasil esteve sempre ligado à beleza das paisagens das cidades e do interior do Brasil.
e) O Naturalismo do século XIX no Brasil difundiu na literatura uma linguagem científica e hermética, fazendo com que os textos literários fossem lidos apenas por intelectuais.
01. [A]
02. [A]