No Brasil, o Modernismo começou oficialmente na Semana de Arte Moderna de 1922. Apesar dos valores distantes do tradicionalismo literário terem sido alvos de crítica inicialmente, o movimento consolidou-se e mostrou sua força na produção literária brasileira. Neste texto, você aprenderá sobre o que foi o Modernismo, suas características e principais autores.
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O que foi o Modernismo?
O Modernismo deve ser compreendido em duas vertentes: como um grande movimento internacional e como uma denominação de um movimento específico organizado por jovens paulistas entre 1922 e 1930. No primeiro caso, trata-se de um grande processo que ocorreu em diversos países e se somou a outras correntes artísticas, era uma quebra em relação à tradição enraizada nos costumes e nas artes.
Já no segundo enfoque, o termo modernismo foi utilizado para demarcar um movimento, também vanguardista no Brasil, que quebrou múltiplos paradigmas da cultura nacional. Se o Modernismo, como corrente internacional, durou a maior parte do século XX; o Modernismo paulista, em sua fase radical, durou cerca de dez anos.
É importante salientar que o movimento já havia começado sua sedimentação anos antes da Semana de Arte Moderna de 1922; porém, foi durante o evento que as propostas dos modernistas paulistas foram explicitadas ao público. Naquele momento, Oswald de Andrade afirmou: “Não sabemos o que queremos. Mas sabemos o que não queremos”. Isso demonstrava a quebra que o Modernismo brasileiro viria a representar na cultura nacional, ou seja, havia um desejo de atualização.
Na segunda noite do evento, Ronald de Carvalho leu o poema Os sapos, de Manuel Bandeira, considerado uma afronta pela ironia que tratava a obra dos parnasianos e seu tradicionalismo. Em linhas gerais, Mário de Andrade apresentou e sintetizou a herança de 1922: a desintegração do passado artístico; o uso das vanguardas estéticas europeias como forma de atualização intelectual; o direito permanente de criação estética; e o desenvolvimento de uma consciência verdadeiramente nacional.
Contexto histórico
Na Europa, o Modernismo consolidou-se na primeira década do século XX. Naquele momento, diversas inovações, correntes artísticas e fatos históricos ocorriam. Dentre eles, a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) e a Revolução Russa (1917) foram os acontecimentos mais marcantes, juntamente com a fim da Belle Époque europeia.
Além disso, diversas vanguardas consolidavam-se, entre elas, o Futurismo, o Cubismo, o Dadaísmo e o Surrealismo. Outros grandes eventos ocorreriam em um futuro próximo, como a Quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, e a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945.
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Como se pode notar, a primeira metade do século XX foi marcada por uma efervescência cultural e grandes mudanças no cenário mundial.
Já no Brasil, o século XX começa com a sedimentação da política do café com leite e, assim, a manutenção das oligarquias rurais. No mesmo período, porém, a burguesia industrial estava em plena expansão, principalmente em São Paulo, o que deixou o estado em uma posição de destaque no cenário nacional. O processo de migração interna e a imigração europeia também ganham força na primeira metade do século XX.
O movimento tenentista, a criação do Partido Comunista Brasileiro e a Guerra do Contestado foram alguns dos acontecimentos marcantes do período. Já entre os anos de 1930 e 1945, a Era Vargas, suas reformas e seu viés autoritário entraram em vigor. Em resumo, o Brasil era um país que crescia, mas ainda apresentava diversos problemas de ordem econômica e social.
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As fases do Modernismo no Brasil
O Modernismo no Brasil foi prolífico em autores e em temáticas. Deve-se ressaltar que as características gerais de cada fase não sobrepõem as particularidades de cada autor e sua respectiva obra.
O movimento é dividido didaticamente em três fases: a primeira, considerada radical; a segunda, na qual houve um equilíbrio entre forma e discurso; e a terceira, considerada um período de renovação na prosa, a chamada ficção de vanguarda brasileira.
Primeira fase: a geração de 1922
A primeira fase do Modernismo desdobrou-se a partir da Semana de Arte Moderna de 1922 e é conhecida como a Fase Heroica do movimento. A principal característica, além da própria ruptura que o movimento representou, é a valorização da cultura brasileira e a busca por uma arte que expressasse a brasilidade.
Nesse sentido, surgiu o Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, que salientava como a produção artística brasileira deveria aproveitar as influências modernas estrangeiras; mas, ao mesmo tempo, ser autenticamente do Brasil.
As outras características são a quebra com o passado, inclusive em termos de linguagem, ao desintegrá-la por meio do coloquialismo, da pontuação relativa e da paródia. Com isso, houve uma ruptura estética, principalmente assimilada em conjunto com as vanguardas europeias, isto é, não havia um padrão estético rígido a ser seguido pelos modernistas. Assim, os versos livres (na poesia) e o fluxo de consciência (na prosa) eram comumente utilizados.
Na primeira fase também se destacaram três movimentos primitivistas: o Pau-Brasil; a Antropofagia; e o Verde-Amarelo. O primeiro focava-se nos conceitos da junção do moderno com o arcaico brasileiro, a ironia contra o bacharelismo, a luta por uma nova linguagem e a descoberta do popular. Por sua vez, o segundo apresentava que a brasilidade viria da deglutição das referências estrangeiras e a sua modificação, tornando-as verdadeiramente brasileiras. O terceiro e último foi um movimento mais conservador em relação ao Pau-Brasil, de Oswald de Andrade.
Principais autores: Oswald de Andrade; Mário de Andrade; Raul Bopp; e Manuel Bandeira.
Segunda fase: a geração de 1930
O marco inicial foi a publicação de Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade. A segunda geração modernista conseguiu encontrar um equilíbrio entre o conteúdo e a forma, após a drástica ruptura representada pela primeira geração. Relacionado ao conturbado contexto de produção, com o início da Era Vargas e o estopim da Segunda Guerra Mundial, as principais características dessa geração modernista são o sentimento humano em relação à vida, o existencialismo, a religiosidade e o subjetivismo, ancorados sempre na relação entre o homem e a sociedade.
Houve três movimentos primordiais na prosa desse período: o romance regionalista; o romance intimista e psicológico; e o romance de temática social e urbana. Já na poesia, há um equilíbrio entre as conquistas da geração anterior, principalmente relacionadas à metrificação livre, e as formas fixas ainda utilizadas no fim do século XIX. Entre as vertentes poéticas, pode-se citar a social, a religiosa, a espiritualista e a amorosa. Todas elas auxiliaram no enriquecimento da poesia brasileira.
Principais autores na prosa: Jorge Amando; José Lins do Rego; Graciliano Ramos; Rachel de Queiroz; e Érico Veríssimo.
Principais autores na poesia: Murilo Mendes; Jorge de Lima; Cecília Meireles; Vinicius de Moraes; e Carlos Drummond de Andrade.
Terceira fase: a geração de 1945
A terceira fase do Modernismo brasileiro foi marcada pelo fim do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial. Os centros urbanos estavam cada vez mais cheios, aumentando a pasteurização da vida e das tensões sociais, além da desigualdade econômica que ficava cada vez maior. Nesse contexto conturbado, floresceram na prosa brasileira, após 1945, autores compromissados com o aspecto social.
Em termos estéticos, houve uma fusão entre a modernidade e a tradição, além de uma acentuada experimentação técnica. O ponto alto da terceira fase modernista, porém, é o tratamento psicológico das personagens juntamente com a análise da tensão social latente que a sociedade vivia. Ao contrário das outras duas gerações, a terceira não possui um fim definido.
Principais autores na prosa: Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Rubem Fonseca.
Principais autores na poesia: João Cabral de Melo Neto.
Principais autores no teatro: Nelson Rodrigues e Ariano Suassuna.
Características
Como já salientado, é sempre relevante atentar-se às particularidades de cada autor em uma vertente literária. Há, porém, características que perpassam, em maior ou menor grau, cada escritor em um período. No Modernismo não poderia ser diferente, confira a seguir as principais características desse movimento:
- Liberdade de expressão: essa é a principal característica do movimento modernista. Essa liberdade de criação artística vem do interior do autor, que não se guia por regras pré-estabelecidas.
- Incorporação do cotidiano: a valorização do cotidiano e sua aparente banalidade permitem aos escritores romper com os paradigmas do que deveria ser ou não retratado.
- Linguagem coloquial: os dois aspectos anteriores encontram sua base no uso de uma linguagem espontânea, do dia a dia. Há, nesse quesito, uma aproximação com a oralidade e a contribuição recorrente da linguagem popular.
- Inovações técnicas: entre as inovações estilísticas do Modernismo, o verso livre, a destruição dos nexos, a paronomásia, a enumeração caótica, o fluxo de consciência, a colagem e montagem cinematográfica, a multiplicidade das vozes narrativas e a liberdade nos sinais de pontuação são os principais exemplos.
- Ambiguidade: o discurso muitas vezes não é claro e não se encaixa em apenas um sentido. Essa ambiguidade permite vários níveis de leitura e enriquece o texto.
- Paródia: os autores modernistas olham para o passado com criticidade e, por isso, utilizam-se da paródia para criticar ou admirar a literatura brasileira produzida anteriormente.
Como se pode notar, as características primordiais do Modernismo são muitas e se relacionam, principalmente, com a quebra de uma tradição literária. Seu foco era a criação de algo novo e que se aproximasse ainda mais da brasilidade.
Aprenda mais sobre o Modernismo no Brasil em 5 vídeos
O movimento modernista brasileiro foi amplo. Se ler todos os autores pode ser uma tarefa que demande tempo devido a quantidade de produções literárias, saber um pouco sobre o que cada parte do movimento representou é plenamente possível. Para isso, você pode conferir aos vídeos abaixo e sedimentar seu conhecimento sobre os aspectos teóricos e os principais autores que perpassaram as três fases do Modernismo no Brasil:
O que foi a Semana de Arte Moderna de 1922?
A Semana de Arte Moderna de 1922 foi o marco inicial do movimento modernista no Brasil. Neste vídeo, você poderá saber um pouco mais sobre o que aconteceu nos três dias do evento e qual foi seu impacto imediato para a literatura brasileira.
A primeira geração modernista
A primeira fase do Modernismo no Brasil é conhecida pelo seu radicalismo relacionado à tradição até então seguida pelas escolas literárias. Sua duração, cerca de dez anos, sedimentou o que viria a ser a consolidação do movimento nas fases posteriores. Assista a esse vídeo e descubra mais detalhes acerca desse período.
A prosa na segunda geração modernista
Se a primeira fase foi uma quebra abrupta em relação aos valores tradicionais que perpassavam a literatura brasileira, a segunda parte do movimento consolidou-se a partir do equilíbrio entre a forma e as temáticas abordadas. Foi nesse período que surgiu o romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Confira mais informações no vídeo acima.
A poesia na segunda geração modernista
Além da prosa, grandes nomes surgiram na poesia durante a segunda fase do Modernismo no Brasil. Entre eles, pode-se citar Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade. No vídeo acima, você poderá aprender mais sobre as características desse período na produção poética e seus principais autores.
A prosa de 1945: a terceira geração modernista
Clarice Lispector e Graciliano Ramos foram os grandes nomes da terceira fase do Modernismo. Não precisa dizer muito sobre os autores de A Hora da Estrela e Grande Sertão: Veredas, certo? No vídeo selecionado, você se aprofundará nas características e desdobramentos dessa fase modernista.
Portanto, o Modernismo no Brasil foi um grande movimento e sua influência é sentida até hoje, na literatura contemporânea. Apesar do foco do texto ter sido, essencialmente, a literatura brasileira no período, é importante compreender que os artistas modernistas estão presentes em diversas outras formas de Arte.
Referências
Curso de literatura brasileira – Sergius Gonzaga;
História concisa da literatura brasileira – Alfredo Bosi;
Modernismo 1ª fase – Mundo Português;
Modernismo 2ª fase – Mundo Português;
Modernismo 3ª fase – Mundo Português;
Português: literatura, gramática e produção. Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano.
Por Leonardo Ferrari
Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá. É professor assistente em colégio de ensino médio. Nas horas livres, dedica-se à família, aos amigos, à sétima arte e à leitura.
Ferrari, Leonardo. Modernismo no Brasil. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/modernismo-no-brasil. Acesso em: 23 de November de 2024.
1. [FCC/SP]
Do período literário que se inicia em 1928 ao período imediatamente anterior, podemos dizer que:
a) a década de 30 é continuação natural do movimento de 22, acrescentando-lhe o tom anárquico e a atitude aventureira.
b) segundo momento do Modernismo abandonou a atitude destruidora, buscando uma recomposição de valores e a configuração de nova ordem estética.
c) a década de 20 representa uma desagregação das ideias e dos temas tradicionais; a de 30 destrói as formas ortodoxas de expressão.
d) as propostas literárias da década de 20 só se veriam postas em prática no decênio seguinte.
e) segundo momento do Modernismo assumiu como armas de combate o deboche, a piada, o escândalo e a agitação.
Correta: b.
Justificativa: A questão foca na segunda fase do Modernismo. O radicalismo da primeira fase dá espaço para um tom mais conciliador, permitindo um equilíbrio entre a forma e o conteúdo.
2. [UC/MG]
Graciliano Ramos é autor que, no Modernismo, faz parte da:
a) fase destruidora, que procura romper com o passado.
b) segunda fase, em que se destaca a ficção regionalista.
c) fase irreverente, que busca motivos no primitivismo.
d) geração de 45, que procura estabelecer uma ordem no caos anterior.
e) década de 60, que transcendentaliza o regionalismo.
Correta: b.
Justificativa: Graciliano Ramos é um dos grandes nomes do romance regionalista da década de 1930, uma das principais vertentes da segunda fase modernista.
3. [PUC/RJ]
O movimento artístico-literário que mobilizou parcela significativa da intelectualidade brasileira durante a década de 20 e procurou romper com os padrões europeus da criação tinha como proposta:
I. a tentativa de buscar um conteúdo mais popular para a problemática presente nas diferentes formas de manifestação artística.
II. a tentativa de recuperação das idealizações românticas ligadas à temática do índio brasileiro.
III. a valorização do passado colonial, ressaltada a influência portuguesa sobre a nossa sintaxe.
IV. a tentativa de constituição, no campo das artes, da problemática da nacionalidade, ressaltadas as peculiaridades do povo brasileiro.
V. a desvalorização da problemática regionalista, contida nas lendas e mitos brasileiros. Assinale:
a) se somente as afirmativas I e IV estiverem corretas.
b) se somente as afirmativas I e V estiverem corretas.
c) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
d) se somente as afirmativas III e IV estiverem corretas.
e) se somente as afirmativas II e V estiverem corretas.
Correta: a.
Justificativa: Em relação às incorretas: II e III) o movimento modernista era justamente crítico ao tradicionalismo das escolas literárias anteriores; V) o regionalismo era muito valorizado pelos modernistas, inclusive sendo um dos destaques da prosa na segunda fase do movimento. Por isso, apenas a I e IV estão corretas, logo a alternativa certa é a letra a.