História do Cinema

A história do cinema é marcada por momentos históricos importantes que colaboraram com a construção da sua linguagem. O cinema relata os grandes acontecimentos da história da humanidade.

A história do cinema, enquanto objeto de estudo, é o entrelaçamento do nascimento de uma linguagem cinematográfica com os acontecimentos históricos que a influenciaram. Como todo movimento artístico, há um contexto que influencia a criação de cada movimento cinematográfico. Confira nos tópicos a seguir:

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História do cinema: a origem

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O surgimento do cinema, em meados de 1895, estava diretamente ligado a outras manifestações artísticas e espetáculos culturais, como o teatro, as revistas ilustrativas e os espetáculos de lanterna mágica (que já traziam movimentos às imagens). Todos eles visando divertir o público e realizar palestras e exposições de cunho científico. Ou seja, o cinema, nas suas origens, não tinha como finalidade se tornar uma forma de linguagem, mas apenas uma invenção de curiosidade pública e entretenimento.

Como a fotografia precede o cinema, a imagem em movimento seria o próximo passo. Thomas Edison nos E.U.A , os irmãos Lumiére na França e os irmãos Max e Emil Skladanowsky na Alemanha, são os principais nomes na invenção das máquinas que fariam a captação dessas imagens.

Além disso, ao contrário do que muitos pensam, o cinema não tem sua invenção destinada somente a uma pessoa. Cronologicamente, Thomas Edison foi o primeiro a divulgar a sua câmera. Mas, os irmãos Lumiére expandiram por todo o mundo o cinematógrafo. Por fim, há quem inclua o ilusionista George Meliés nesse pacote de criadores por ter dominado os filmes de ficção durante os primeiros anos, enquanto os demais faziam apenas captação de imagens.

A linguagem cinematográfica

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Inicialmente, o cinema não foi pensado para ser o que se é hoje. A primeira intenção de seus inventores era a de dar movimento às imagens fotográficas e encaixá-las em eventos científicos e de entretenimento. Sua forma encontrava alicerce nas outras artes, principalmente no teatro, por isso a câmera posicionada como se o espectador estivesse frente a um palco. Mas, o termo da linguagem ainda não era discutido. Não era a questão de sua invenção.

Entretanto, em 1915, G.W Griffith juntou os experimentos feitos anteriormente e aplicou em seus filmes algumas técnicas, como a alternância de planos (deixando a câmera mais próxima ou mais distante dos atores, ou objetos) e também por meio da montagem. O corte de um plano para o outro (o corte de uma imagem para outra) foi sendo percebido como uma forma de manipular o tempo e o espaço da narrativa. Assim, o cinema se afastava do teatro e começava a criar a sua própria linguagem.

Portanto, a linguagem cinematográfica nada mais é do que a capacidade do cinema de se comunicar e construir um significado por meio do posicionamento de câmeras, da luz, do som, da passagem de uma cena para a outra, do cenário, do figurino, etc. Assim, essa linguagem vai além da história do filme, dos diálogos e interpretações, e se relaciona com o espectador pelas informações visuais e sonoras

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Cinema mudo

A caracterização do cinema como “mudo” se deu após o surgimento do cinema falado. Para o olhar contemporâneo, a falta do som pode significar uma carência que os cientistas e cineastas dos primórdios do cinema tinham pressa de suprir. Nada disso. O cinema mudo foi uma época rica em elementos essenciais para a história da sétima arte, que durou até 1930.

Seu estilo exigia certos atributos específicos de filmagem e atuação e fez de vários atores e atrizes ícones dos filmes sem falas. O cinema mudo fazia com que a imagem tivesse a comunicação plena com o espectador. A expressividade e a mímica dos atores eram essenciais. Deveria também estar na câmera, no cenário e na música, toda a carga dramática necessária para que os sentimentos intencionados atravessassem a tela e atingissem o espectador.

O público nem sempre entendia o contexto narrativo dos filmes, criando a necessidade de um narrador para explicar o que se passava em cena durante as sessões. A música era tocada ao vivo com a companhia de um pianista. A forma muda do cinema foi um importante modo de construir a linguagem cinematográfica e autenticar a imagem como forma de desenvolver as narrativas fílmicas. Nomes como Charles Chaplin e Michael Keaton são os principais dessa época, conhecidos pelas comédias mudas. Outros nomes importantes são Robert Wiene, F.W. Murnau e Fritz Lang que revolucionaram o cinema mudo na Alemanha.

Caso queira se aprofundar mais nesse movimento cinematográfico, assista os seguintes filmes:

  • Intolerância, de D. W. Griffith, 1916
  • O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, 1920
  • Luzes da cidade, de Charles Chaplin, 1931

Cinema e a Revolução Industrial

A 1.º revolução industrial começou muito antes da invenção do cinema, na segunda metade do século XVIII. Ela representou um período de grande desenvolvimento tecnológico datado até 1840.

O cinema, em específico, sofreu grande impacto a partir da 2.ª revolução industrial, compreendida entre 1840 e 1960 e caracterizada pelo advento da eletricidade e da linha de montagem, ocasionando a produção em massa. A relação do cinema com esse contexto histórico se dá pela construção de um maquinário elétrico para as gravações e pelo movimento causado no mundo dos espetáculos, agora alinhado com as tecnologias, visto que, com o advento de indústrias da criação manufaturada, foi possível o desenvolvimento de produtoras de filmes a partir da década de 80.

Além disso, todo o contexto foi usado como narrativa na produção das películas. Alguns dos principais filmes da época são:

  • A saída dos operários da fábrica, de Irmãos Lumiére, 1895
  • Metropolis, de Fritz Lang, 1927
  • Tempos modernos, de Charlie Chaplin, 1936

Cinema e a Grande Depressão

Em outubro de 1929, o mundo capitalista chegaria a uma crise jamais vista, atingindo o setor econômico, financeiro e social. Esse período ficou conhecido como “A grande depressão”, devido à quebra da bolsa de valores de Nova York. Era impossível o cinema, no fervor do seu crescimento, não ser afetado por essa queda, dado os altos investimentos, tanto nas produções cinematográficas quanto na construção de salas de cinema de tamanhos grandes.

Automaticamente, a quantidade de filmes produzidos diminuiu drasticamente, o que fez com que cada filme produzido fosse estrategicamente vendido para não ter prejuízos. Nesse contexto, as produtoras se firmaram em gêneros específicos, cada qual interpretando o que era mais chamativo para o público: a comédia, o terror, os ícones do gângster e os glamorosos filmes musicais. Estes últimos como os mais bem sucedidos da época.

Apenas por volta de 1941 uma notável recuperação foi percebida. O mercado, em números da bilheteria, passou a registrar o dobro em relação ao período que antecedeu a grande depressão e os milhões de dólares começam a aparecer nos lucros. Entretanto, a segunda guerra chega e a situação mercadológica volta a ficar complicada.

As principais produções desse período conturbado foram:

  • Scarface: a vergonha de uma nação, de Howard Hawks, 1935
  • Aconteceu naquela noite, de Frank Capra, 1934
  • Dance comigo, de Mark Sandrich, 1938

Cinema e a 2.ª Guerra Mundial

Todas as grandes potências fizeram parte, de alguma forma, da Segunda Guerra Mundial. Embora o seu início seja datado em 1 de setembro de 1939, a guerra do Japão com a China e a dos italianos com a Etiópia já tinha se iniciado anteriormente e, ao decorrer da guerra da Alemanha com a Polônia, se entrelaçam e perduram até 1945, fim decretado da segunda grande guerra. Agrupando os envolvidos, a disputa se deu entre os Aliados (França, Reino Unido, China, Estados Unidos, União Soviética, dentre outros) e o Eixo (Alemanha, Japão e Itália).

No cinema americano, os filmes tornaram-se uma ferramenta do Estado para traçar a postura dos E.U.A frente o conflito. A narrativa criada entre o cinema e a força do estado foi a de incentivar, de certa forma, a participação de civis americanos na guerra. A ênfase foi dada no caráter heroico e no delineamento estereotipado de que os americanos seriam as peças chaves para combater os inimigos do Eixo.

Alguns exemplos de películas com essas características são:

  • O grande ditador, de Charles Chaplin, 1940
  • Horas de Tormenta, de Herman Shumlin, 1943
  • Os melhores anos de nossas vidas, de William Wyler, 1946

Cinema e a Guerra Fria

A Guerra Fria foi uma extensão da Segunda Guerra Mundial e se caracterizou pela tensão geopolítica entre os Estados Unidos e a União soviética, de 1947 a 1991. Recebe esse nome por ficar apenas no campo ideológico, nomeada também como uma “guerra psicológica”.

A partir dessa tensão, por meio do cinema, foram criadas histórias que refletiam a angústia da sociedade. O sentimento de ameaça fez com que filmes de espionagem fossem frequentemente produzidos. A batalha política da guerra fez com que a imagem dos políticos fosse construída de forma rude, e até mesmo ameaças de óvnis entrou na paranoia causada pela ameaça que permeou sobre os norte-americanos, devido aos destroços não identificados encontrados no Novo México em 1947.

Assista os seguintes filmes para entender mais sobre o contexto:

  • A cortina de ferro, de William Wellman, 1948
  • Eu fui um comunista para o FBI, Gordon Douglas, 1951
  • O Monstro do Ártico, de Christian Nyby, 1951

Cinema pós 11 de setembro

O atentado de 11 de setembro virou um marco na história dos EUA, dado a violência do ataque contra as torres gêmeas e o pentágono, símbolos da inteligência e de poder do país. Na presidência estava George W. Bush, republicano que seria reeleito em 2004.

Pensar como o cinema se comportou em meio a esse momento é importante, pois a linguagem foi atravessada por um posicionamento político e pela reformulação dos assuntos a serem debatidos, como a segurança nacional e a ideia de um inimigo. Além de trazer histórias que refletiam tanto a sociedade, quanto a vida americana em seu íntimo.

Fala-se em “pós” 11 de setembro, pois, o posicionamento antiterrorista de Bush perante a guerra do Afeganistão e a guerra do Iraque após o atentado, dividiram opiniões entre os cineastas. Alguns escolheram o escapismo (geralmente falando sobre os atos heroicos e condolências às vidas perdidas) e outros trouxeram reflexões mais críticas em relação à forma com que os poderes norte-americanos eram usados e às decisões de manter conflitos com países do oriente.

Algumas das principais produções cinematográficas da época foram:

  • Vôo United 93, de Paul Greengrass, 2006
  • Guerra ao terror, de Kathryn Bigelow, 2008
  • Fahrenheit 9/11, de Michael Moore, 2004

História do cinema no Brasil

Rio de Janeiro, 1986. A primeira sessão de cinema acontece no Brasil, poucos meses depois da primeira exibição mundial. O Omniographo, máquina trazida pelo belga Henri Paillier fez com que a projeção acontecesse na cidade carioca. Já o primeiro filme gravado no Brasil foi “Uma vista da Baía de Guanabara”, de Afonso Segreto, em 19 de junho de 1898, data que se comemora o dia do cinema brasileiro.

Porém, foi apenas nos anos de 1960 que o cinema brasileiro chegou a marcar uma época e respirar pela história com a criação do Cinema novo. Nomes como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Leon Hiszman e Joaquim Pedro de Andrade traziam para as telas a dura realidade da pobreza no Brasil. A intenção era denunciar e despertar no público uma visão mais ampla do que se passava no país.

O cinema era (e ainda é) uma forma de comunicação e denuncia. O clima era de muita empolgação por parte dos cineastas e intelectuais, além da própria sociedade que embarcou na construção de um cinema autêntico brasileiro. O radicalismo e a violência também foram recorrentes nas obras desse movimento, como estratégia de se tornar forte e atraente para compensar o modo subdesenvolvidos de suas filmagens. Foi com o cinema novo que o Brasil ganhou a atenção do cinema mundial.

Para os amantes do cinema, as seguintes películas são indispensáveis e representam uma época passada, porém ainda atual, do Brasil:

  • Vidas Secas, de Nelson Pereira, 1963
  • Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, 1964
  • Central do Brasil, de Walter Salles, 1998

História do cinema no mundo

Índia, Japão, China e Irã pela Ásia (Coreia do Sul é um marco mais contemporâneo do que histórico). Nigéria pela África. Brasil, Argentina, Chile e México pela América Latina e todo um percurso histórico pela Europa, reservam momentos de revolução e marco para a história do cinema mundial. Alguns pela Arte, outros pela indústria, mas, principalmente, pela política e contextos de guerra, foi criado o tom do cinema de cada um desses países, que tiveram o seu momento de primavera, reconhecidos mundialmente, pelo sucesso em grandes festivais.

Ásia

Na Índia, o primeiro filme surgiu em 1913 com “Raja Harishchandra”, de Dadasaheb Phalke. Uma característica marcante é que, desde quando o cinema se tornou sonoro, em 1930, as obras asiáticas passaram a sempre ter um número musical em suas histórias. O país, atualmente, é detentor do posto de maior produtor cinematográfico do planeta. A média de produção beira 1.700 por ano. Pouco se sabe sobre as obras da Índia devido à circulação limitada no país, porém, o enredo das narrativas indianas é simples, com tom novelesco e dentro do gênero romântico-musical.

Hiroshi Shimizu, Ishiro Honda, Akira Kurosawa, Yasujirô Ozu e Kenji Mizoguchi são alguns dos principais nomes na construção do cinema japonês durante a história. As temáticas representavam desde as consequências das guerras em que o país se envolveu, até tópicos mais específicos, como a vida da mulher no mundo oriental.

Já o cinema chinês, assim como a Índia, mantém grande parte de suas produções distribuídas apenas no país. Kaige Chen e Zhang Yimou são os diretores que levaram seus filmes para o mundo dos festivais de fora. As temáticas também resgatam as histórias da guerra e são, em sua grande maioria, do gênero de ação, porém com reflexões filosóficos. Um dado importante é não haver, no mundo, país com mais salas de cinema como na China.

Oriente Médio

O cinema iraniano tem sua marca registrada em temáticas ligadas a realidade, com intrigas do cotidiano. Ebrahim Forouzesh, Jafar Panahi e Abbas Kiarostami elevaram o cinema iraniano a outro patamar. Na história do cinema mundial, o país é um exemplo de projetos independentes que geram cerca de 50 produções por ano. Este é, certamente, a principal característica quando se fala de cinema no Oriente médio.

África

A Nigéria é o país da África que mais produz filmes e o segundo na contagem mundial, perdendo para a Índia. O cinema nigeriano credita seu sucesso em produções de baixo custo, histórias populares e agilidade na distribuição das películas no próprio território. Entretanto, todo ano, uma nova produção africana, de diversos países, ganha destaque no meio do cinema mundial, sempre com ênfase em suas culturas.

América Latina

O cinema latino-americano é plural, mas, certamente, as revoluções no campo da política são os assuntos que são comumente usados pelas produções no Brasil, Argentina, Chile e México. Países que podem ser considerados as potências da América Latina, não descartando grandes obras em outros lugares do continente. Nos festivais internacionais o cinema da América Latina é sempre um dos mais respeitados pelo público.

Europa

Pela França, Alemanha e União Soviética terem sido essenciais para a evolução da linguagem cinematográfica, a Europa é um grande polo do cinema mundial. A base de seu estilo se expande por todo o continente fazendo com que, mesmo que cada país crie a sua “assinatura”, suas formas sejam muito ligadas a esses três países e ao que eles representam na história do cinema. Alemanha, por fazer parte das origens, U.R.S.S pelos jovens montadores e a França pela Nouvelle Vague, desenharam a história do cinema de ontem e de hoje.

Estudar a história do cinema é também estudar a história da humanidade. A segunda guerra tem reflexos direto mo desenvolvimento do cinema, por isso aproveite e leia mais sobre os países aliados e entenda o contexto da época.

Referências

História do Cinema mundial (2008) – Fernando Mascarello
Tudo sobre cinema (2007) – Philip Kemp
A história do cinema para quem tem pressa (2018) – Celso Sabadin

Alyson Santos
Por Alyson Santos

Professor, mestre em Letras, especialista em Cinema e Linguagem Audiovisual e História do Cinema.

Como referenciar este conteúdo

Santos, Alyson. História do Cinema. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/artes/historia-do-cinema. Acesso em: 21 de November de 2024.

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