Dualismo

Princípios irreconciliáveis, realidades opostas, corpo e alma: conheça a doutrina dualista e seus principais filósofos

De acordo com a doutrina dualista, o mundo é explicado a partir de princípios cujas naturezas são distintas e irreconciliáveis. Os principais filósofos representantes do dualismo são: Platão e Descartes. Conheça outros filósofos e as características dessa corrente.

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O que é dualismo

O dualismo é uma concepção filosófica e até mesmo teológica que fundamenta o mundo pela existência de dois princípios, realidades ou substâncias (a depender do filósofo) irredutivelmente opostas. Isso significa que para o pensamento dualista, é impossível que esses dois princípios formem uma síntese.

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Essa concepção filosófica é muito antiga na Filosofia. Desde a Antiguidade Clássica existem pensadores que basearam suas teorias nos princípios do dualismo. Platão é um ótimo exemplo disso, com a separação entre a realidade sensível e a inteligível – são princípios essencialmente dualistas -, em que é impossível a junção desses conceitos em algo uno.

Uma das ideias finais do dualismo é a de que, caso o universo se mostre passível de entendimento e compreensão, então esses dois princípios, a priori de irredutível oposição, devem encontrar um caminho para a reconciliação. Isso não significa uma junção ou fusão entre os dois princípios, mas sim uma coexistência.

Características do dualismo

Essas são algumas características do dualismo, dependendo da corrente filosófica que se trabalha:

  • Oposição entre substância material e substância espiritual;
  • Distinção entre corpo e mente;
  • Separação da realidade sensível e da realidade inteligível;
  • Oposição entre existência e essência;
  • Oposição entre matéria e forma.
  • Depois que Thomas Hyde criou o termo “dualismo” para conceituar a doutrina do Zoroastro, outros filósofos como Leibniz passaram a usar o conceito. No entanto, todos os pensamentos filosóficos que formalizam a divisão dos princípios podem ser chamados de dualistas.

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    Filósofos do dualismo

    Como exposto acima, muitos filósofos podem ser considerados dualistas, os mais conhecidos são:

    • Platão: para Platão, o mundo é dividido em duas realidades, a sensível – na qual vivemos – que é imperfeita (porque é empírica), também chamado de mundo das sombras e a inteligível – mundo das formas – que é perfeita, conhecida como mundo das ideias. No sistema platônico, o conhecimento pleno só é possível no plano inteligível.
    • Aristóteles: no sistema aristotélico existe o dualismo no nível conceitual, entre matéria e forma. Para o filósofo, o intelecto não pode ser material, pois se o fosse, seria limitado, haja vista que o mundo físico impõe barreiras espaço-temporais. No entanto, na filosofia aristotélica, a ponte para a coexistência desses conceitos está em um conceito superior: o de substância. Isso significa que, no pensamento de Aristóteles, a aspecto dual entre matéria e forma é resolvido.
    • Descartes: talvez seja o filósofo mais conhecido da corrente dualista, Descartes formalizou sua teoria a partir da divisão da res extensa (corpo que ocupa um lugar no espaço) e da res cogitans (coisa pensante/mente/alma). Para Descartes, a substância imaterial seria capaz de guiar a substância material e assim o mundo seria ordenado.
    • Leibniz: diferente de Descartes, para Leibniz a alma não é capaz de movimentar o corpo. De acordo com a teoria leibniziana, alma e corpo são regidos por leis diferentes, mas se conectam pelas mônadas – o que ele chama de harmonia preestabelecida. As mônadas são princípios que constituem todo o universo e, ao mesmo tempo, refletem-no e se organizam de um jeito harmônico para compor o mundo.
    • Kant: pode-se dizer que o dualismo kantiano está ligado às naturezas opostos de alguns dos conceitos de sua teoria, como o de fenômeno e noumenon, ou seja, entre a aparência de um objeto (o que podemos conhecer) e o objeto transcendental – o objeto em si – (que não podemos conhecer).
    • O dualismo é diferente em cada filósofo e não está no mesmo nível. É possível que a oposição encontre mecanismos para uma coexistência, como em Leibniz, como também é possível a total divisão, como em Platão.

      Tipos de dualismo

      A seguir, veja alguns tipos de dualismo:

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      Dualismo corpo e alma

      Um dos tipos mais clássicos do dualismo é a separação entre corpo e alma, muito difundido na teologia. Segundo esse dualismo, o corpo (matéria) perece, ao passo que a alma (imaterial) é imortal.

      Dualismo de Descartes

      Separa o corpo da res cogitans, a substância pensante. Em um primeiro momento, a filosofia cartesiana rejeita todos os conhecimentos empíricos, afirmando que os sentidos podem se enganar e nos conduzir ao erro. O único modo de provar e conhecer algo é pelo exercício racional. Só após conseguir provar a existência do mundo por meio da razão é que Descartes reassume a natureza e o corpo, para poderem coexistir.

      Dualismo platônico

      O dualismo platônico é a divisão do mundo entre o mundo das sombras e o das ideias (ou formas), a realidade sensível e a inteligível. Para ele, a verdade só existe no mundo inteligível, pois o sensível é imperfeito. O exercício filosófico é o modo de se aproximar mais da verdade, uma vez que utiliza da razão.

      Dualismo grego

      Na filosofia pré-socrática, o dualismo é a oposição entre aparência e realidade, ou seja, a primeira impressão da coisa, o modo como ela se apresenta ao mundo e a realidade tal como ela é em sua essência.

      Existem outros tipos de dualismo, como o epifenomenalismo, doutrina que entende os eventos mentais como causalmente inertes (isso significa que eles não têm consequências físicas). Os eventos físicos, por sua vez, podem causar tanto outros eventos físicos quanto eventos mentais; mas eventos mentais nada causam, pois, são subprodutos causalmente inertes dos eventos físicos que no cérebro (ou seja, os epifenômenos ) do mundo físico. O epifenomenalismo é uma corrente da Filosofia da Mente.

      Para se aprofundar!

      Os vídeos a seguir conceituam e exemplificam melhor as diferentes concepções da doutrina dualista.

      As Meditações Metafísicas de Descartes

      Nesse vídeo, o professor Mateus Salvadori resume uma das principais obras de Descartes, em que aparece claramente a oposição entre mente e corpo, a negação do conhecimento empírico como método de obtenção da verdade.

      Diferença entre dualismo e monismo

      No vídeo do canal Pensamento Filosófico, é exposta a diferença entre as concepções dualistas e monistas, sobretudo na filosofia de Descartes e Espinosa. No vídeo, é explicado também a importância da glândula pineal na teoria cartesiana e como a ciência entende essa glândula hoje.

      Aristóteles e a crítica a Platão

      O vídeo do canal Filosofando expõe a principal crítica de Aristóteles à concepção dualista platônica. Além disso, é explicada a visão aristotélica e como o filósofo resolve o problema da dualidade entre as naturezas da matéria e da forma.

      Nesses vídeos é possível entender melhor o tema dessa matéria a partir da filosofia de Descartes, Platão e Aristóteles.

      Gostou dessa matéria? Confira a Fenomenologia, outra forma de entender o mundo.

      Referências

      Os diferentes aspectos da distinção entre fenômeno e noumenon na Crítica da razão pura. Joel Klein (2018).
      O dualismo de Descartes como princípio de sua Filosofia Natural. Zelia Ramozzi-Chiarottino e José-Jozefran Freire (2013).
      Feuerbach ou Espinosa: Deus e natureza, dualismo ou unidade? – Eduardo Ferreira Chagas (2006).

Marilia Duka
Por Marilia Duka

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá em 2016. Graduada em Letras Português/Francês na Universidade Estadual de Maringá em 2022.

Como referenciar este conteúdo

Duka, Marilia. Dualismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/dualismo. Acesso em: 23 de November de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [Instituto Federal Farroupilha - 2013]

O filósofo grego Platão (428 a.C. – 348 a.C.) contribuiu para uma visão dualista do homem. Esse dualismo foi entre o/a ________ e _________.
A alternativa correta é APENAS:
a) episteme e doxa.
b) vida pública e privada.
c) trabalho braçal e intelectual.
d) corpo e alma.
e) éter e firmamento.

Alternativa correta é D. Para Platão, o mundo é dividido entre o mundo sensível (material) e inteligível (imaterial). Isso se estende ao conceito de homem, dividido entre corpo (matéria) e a alma imortal.

2. [ENEM 2012]

Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado). O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427 a.C.-346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação?

a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas

b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles

c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis

d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não

e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão

Alternativa correta é D.
Para Platão, apenas a razão pode produzir conhecimento e chegar à verdade por meio do exercício filosófico. A sensação, por fazer parte da realidade sensível, é imperfeita.

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