Nas histórias ocidentais, há uma variedade de narrativas sobre líderes autoritários, alguns até considerados loucos. Nesse contexto, parece haver um fascínio comum sobre o abuso de autoridade e o quanto o poder pode “subir à cabeça”. Dentre essas histórias, a de Calígula é bastante conhecida.
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Calígula foi um imperador romano e a principal fonte sobre sua vida é a obra de Suetônio. Contudo, esse autor o descreve como um grande perverso, sem praticamente nenhum aspecto positivo. A seguir, conheça mais sobre essa figura curiosa que é Calígula.
Quem foi Calígula?
Caio César Germânico, conhecido pelo apelido de Calígula, nasceu em 31 de agosto, no ano 12. Uma vez que era filho de um líder militar, viveu dos seus 2 aos 4 anos de idade entre o exército com seus pais. Assim, seu apelido foi dado por soldados que sempre o viam usando botas militares em miniatura.
Contudo, ao alcançar o posto de imperador, ficou marcado na história como autoritário e louco. Por exemplo, circulam histórias de que executava pessoas ao seu bel prazer, ou que deu um título importante do governo ao seu cavalo.
Infância e família
Calígula era filho de um príncipe muito popular, Germânico Júlio César, descrito por Suetônio como um militar competente, sóbrio e bonito. Além disso, por parte de sua mãe, Agripina, era neto de Octávio Augusto. Desse modo, ele era valorizado por sua linhagem e possuía um prestígio das pessoas que o viam como uma continuidade de seu pai.
Após a morte de seu pai e o banimento de sua mãe do império, no ano 32 foi adotado pelo seu tio, Tibério, que era imperador. Mais tarde, no ano 37, com a morte de Tibério, Calígula foi declarado seu sucessor.
Calígula imperador
Inicialmente, sob influência de Antônia, sua avó, Calígula parece ter governado bem. Entretanto, em poucos meses ela faleceu e no mesmo ano ele adoeceu e ficou acamado. Após a sua recuperação, mudou de atitude e se tornou extremamente autoritário.
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Como as principais fontes sobre a vida desse imperador são provenientes de autores que faziam parte da aristocracia da época, é bem possível que algumas informações estejam enviesadas. Afinal, é consenso que o governo de Calígula não era bem aceito por todos os indivíduos da classe dominante.
Assim, Suetônio descreve uma série de atrocidades empreendidas por Calígula. Conforme o autor, o imperador romano era uma figura psicopata, manipuladora, adepto de orgias, além de mandar executar e violentar sexualmente quem ele quisesse. Entretanto, algumas dessas informações são atualmente questionadas.
De todo modo, é consenso que, de fato, Calígula não era um governante equilibrado. Consequentemente, ele foi provavelmente responsável por diversas atrocidades, mesmo que estas fossem apenas um aspecto de uma briga com a aristocracia que não o desejava lá. Assim, Calígula foi assassinado em seu próprio palácio no ano 41.
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5 fatos e mitos sobre Calígula
Uma das principais fontes sobre a vida de Calígula é a obra de Suetônio. No entanto, outros autores como Sêneca deixaram também registros dessa época. Assim, existem algumas informações controversas sobre como era Calígula:
- Calígula de fato possuía uma relação conflituosa com algumas elites da época, resultando em sua postura autoritária;
- O imperador montou e espalhou estátuas suas, cultuando-se como uma divindade;
- A doença que o acometeu foi real, e alguns autores supõem que ele sofria de problemas fisiológicos que podiam causar desordens mentais – por exemplo, a encefalite;
- Apesar de Suetônio afirmar que ele teve relações sexuais incestuosas com suas irmãs, Sêneca, que foi uma fonte contemporânea de Calígula, não menciona esse fato;
- As descrições tanto de Suetônio como de Sêneca afirmam que ele era feio, seu olhar era ameaçador e transmitia sua loucura, com sobrancelhas de bruxo. Contudo, os registros da imagem do imperador não necessariamente transmitem esses aspectos negativos.
Consequentemente, é possível notar como a imagem e a descrição de Calígula é controversa, e ela reflete em partes a maneira como a aristocracia da época via o seu imperador. Portanto, esse é um tema polêmico na historiografia.
Calígula na cultura
Apesar das controvérsias, as imagens deixadas do imperador romano do ano 37 rendem ainda hoje diversas produções artísticas. De fato, atualmente o próprio nome dele tornou-se sinônimo de uma autoridade insana e dominada pela loucura e irracionalidade. A seguir, veja alguns exemplos de produtos em que Calígula foi retratado:
- Calígula (Albert Camus, 1945): uma peça teatral escrita por Camus, sem compromisso com a historiografia. Assim, a história fala sobre os monstros que habitam dentro de cada um, refletindo questões a partir desse personagem histórico.
- Calígula (1979): é um filme dirigido por Tinto Brass e lançado na Itália. Essa produção cinematográfica tenta retratar as atrocidades cometidas pelo imperador em sua crueldade, tornando-se um filme polêmico e questionável para alguns.
- Emperador “Calígula” (Salva Ruano, 2019): Salva Ruano é um artista argentino que recria faces de imperadores antigos, criando esculturas hiper-realistas.
- Império Romano. Calígula: O Imperador Louco (2019): é uma produção recente, no formato de série. É a terceira temporada de “Império Romano”, dedicada a retratar o governo e a vida de Calígula.
Desse modo, a história desse antigo imperador romano é recriada e recontada ainda nos dias atuais. De fato, a loucura do personagem é um aspecto que acaba atraindo tanto a simpatia e como a repulsa do público.
Videoaulas sobre Calígula
A trajetória do governo desse imperador é recheada de controvérsias. Além disso, sua atuação foi curta, sendo assassinado com apenas 28 anos de idade. Contudo, apesar dessa breve história, ele interessa a muitos historiadores. Confira uma seleção de materiais audiovisuais que podem ajudar a entender melhor esse assunto:
Documentário sobre Calígula
Se você se interessou por essa figura, pode experimentar assistir a um documentário detalhando diversas informações sobre o assunto. Assim, esse material pode complementar as sugestões de produções artísticas selecionadas acima.
Imperadores cruéis
Calígula foi um imperador conhecido por sua crueldade, mas há outros na lista. Conheça, no vídeo acima, algumas curiosidades sobre esses líderes que acabam fascinando e se tornando símbolos da cultura ocidental.
Contexto histórico da Roma Antiga
Apesar de seu curto governo, ele fez parte de um contexto histórico vivido na Roma Antiga. Portanto, conhecer um pouco da história desse período pode ajudar a entender as circunstâncias nas quais sua imagem foi construída.
Desse modo, o imperador tratado não é apenas um ponto importante na história ocidental, como acabou constituindo um símbolo que faz pensar sobre autoridade, poder e loucura. Sendo assim, discutir o assunto pode gerar debates interessantes para reflexões coletivas.
Referências
A vida dos doze césares – Suetônio;
Poder e violência em Sêneca na época de Calígula (século I d.C.): um estudo do De Ira – Hugo de Araujo Gonçalvez da Cunha;
The madness of the emperor Caligula – A. T. Sandison.
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Calígula. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/caligula. Acesso em: 21 de November de 2024.
1. [UFPB]
A cultura romana incorporou vários elementos de outras culturas, inclusive na esfera religiosa.
Sobre a religião na Roma Antiga, considere as afirmativas a seguir:
I. Os romanos, apesar de monoteístas, aceitavam facilmente o culto de deuses de outros povos. Essa interação cultural pode ser explicada pelo fato do Estado romano, envolvido apenas com questões políticas, não ter se importado com assuntos religiosos.
II. A civilização romana praticava a tolerância e identificava-se com outros povos que cultuavam um único deus. Tais características foram fundamentais para a expansão do Cristianismo e sua adoção como religião oficial do Estado romano, no século II d.C.
III. A religião romana, politeísta, foi se diversificando à medida que Roma ganhava importância política e econômica. Assim como os exércitos incorporavam novos territórios, a religião romana foi absorvendo deuses e cultos de outros povos.
Está(ão) correta(s) apenas:
a) I
b) II
c) III
d) I e II
e) II e III
Resposta: c
Justificativa: o próprio Calígula se colocou como um dos deuses; assim, o culto a vários deuses era comum em Roma.
2. [UFV]
A respeito das classes que compunham a sociedade romana na Antiguidade, é CORRETO afirmar que:
a) os “plebeus” podiam casar-se com membros das famílias patrícias, forma pela qual conseguiam quitar suas pendências de terra e dinheiro, conseguindo assim certa ascensão social.
b) os “plebeus” compunham a classe formada pelos camponeses, artesãos e alguns que conseguiam enriquecer-se por meio do comércio, atividade que lhes era permitida.
c) os “clientes” eram estrangeiros acolhidos pelos patrícios e transformados em escravos, quando sua conduta moral não condizia com a de seus protetores.
d) os “patrícios” foram igualados aos plebeus durante a democracia romana, quando da revolta dos clientes, que lutaram contra a exclusão social da qual eram vítimas.
e) os “escravos” por dívida eram resultado da transformação de qualquer romano em propriedade de outrem, o que ocorria para todos que violassem a obrigação de pagar os impostos que sustentavam o Estado expansionista.
Resposta: b
Justificativa: a composição das classes no período da Roma Antiga é importante para entender sua formação social. Nesse contexto, os plebeus eram uma classe que não possuía os mesmos privilégios que os nobres.