A arte de falar bem, de conseguir persuadir, de falar eloquentemente. A retórica é um recurso discursivo utilizado há muito tempo pelos pensadores. Conheça os principais pensamentos que sustentam essa arte e quem foram os principais filósofos a usá-la, como Aristóteles.
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O que é retórica
A retórica é uma área do discurso, também entendida como a arte de falar bem. A palavra retórica vem do grego rhêtorikê, que é a junção dos vocábulos “orador” e “técnica”. Um caráter importante da retórica é a estruturação de argumentos com o objetivo de persuadir o ouvinte.
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Foi Górgias, sofista discípulo de Empédocles, o responsável por popularizar a arte retórica no século V a.C.. Mas além dele, outros filósofos também usavam a retórica, como Córax, Tísias e Protágoras. O objetivo primário dessa arte discursiva era para aperfeiçoar o discurso político e jurídico da Grécia Antiga, sobretudo, nos tribunais.
A principal contribuição da retórica acena para o meio político e para a manutenção da democracia grega. O sistema político em vigência na época era fundamentado em três princípios para os cidadãos: liberdade, isonomia e isegoria. A liberdade diz respeito ao agir, em que o homem é livre para agir; a isonomia se refere à igualdade de leis, ou seja, todos possuem os mesmos direitos; já a isegoria se relaciona com a igualdade em discurso.
A isegoria demanda o lógos (pensamento e discurso) e, sobretudo, a qualidade desse lógos – é nesse contexto que a retórica é essencial, pois é ela quem dará qualidade ao discurso. A liberdade de discurso exige bons argumentos e disposição para enfrentar o debate político realizado na ágora, um espaço onde aconteciam os debates políticos.
Depois que a retórica se difundiu, ela extrapolou o campo da política, adentrando o mundo da filosofia como um todo. Não foram, contudo, todos os filósofos que aceitaram esse fato. Sócrates e Platão foram os maiores críticos ao pensamento e à abordagem sofistas.
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Veja, a seguir, como se desenvolveu a retórica sofista.
Retórica sofista
Os sofistas eram profissionais da educação durante o período da Antiguidade Clássica. Embora Sócrates os considerasse como meros vendedores do conhecimento e, por isso, seriam reprováveis, os sofistas tiveram uma grande importância para a história da filosofia e para o desenvolvimento do pensamento filosófico.
Foi por causa dos sofistas que o discurso se tornou um dos principais elementos da sociedade grega. Se a filosofia grega pôde desenvolver argumentos políticos e lógicos tão sólidos como os aristotélicos e pensamentos metafísicos de todos os filósofos da Antiguidade foi porque a sociedade grega, como um todo, desenvolveu de forma muito sofisticada a sua capacidade de discutir, dialogar e argumentar. Quando se pensa na popularização da retórica, como técnica que ajudou a possibilitar isso, então os sofistas exerceram um papel fundamental. A crítica que se faz aos sofistas está mais relacionada aos princípios de não buscar essencialmente a verdade.
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Um dos principais argumentos dos sofistas para o uso da retórica era a ideia de que o conhecimento verdadeiro não é absoluto. A partir disso, eles criaram a teoria do contra-argumento, ou seja, a teoria de que todos os argumentos poderiam ser rebatidos com um contra-argumento, porque para os sofistas, bastava que um argumento fosse verossimilhante, ou seja, pode parecer verdadeiro para provocar o consenso no público e, assim, persuadi-los.
Retórica de Aristóteles
Aristóteles foi um grande filósofo sistemático, isso significa que ele elaborou e sistematizou sua teoria e diversas áreas do conhecimento. Uma dessas foi a linguagem e a lógica. O filósofo de Estagira tinha uma compreensão diferente de retórica quando comparada a dos sofistas.
Para Aristóteles, a retórica deveria, sim, seguir princípios e o orador deveria se guiar para buscar a verdade. Um argumento nunca deveria ser usado para persuadir alguém sobre algo que seja falso ou reprovável, pois, de acordo com Aristóteles, a persuasão é um tipo de demonstração e a demonstração aponta para a verdade.
Em seu livro “Retórica”, Aristóteles estabelece três tipos para essa arte: forense, demonstrativa e deliberativa. A primeira estaria relacionada aos fatos do passado, a segunda aos acontecimentos do presente e a terceira ao vir-a-ser, ou seja, aquilo que pode acontecer e que é passível de mudança. É na retórica deliberativa que se pode persuadir alguém a mudar de ideia ou a agir de modo diferente.
Além desses três tipos, para Aristóteles, era preciso que o discurso retórico fosse constituído por três aspectos persuasivos: o ethos, o lógos e o pathos. O ethos está relacionado à ética, é preciso que o orador utilize argumentos que tenham credibilidade e autoridade, que tenha fontes confiáveis e respeitadas pela comunidade da área em questão, como científica ou política.
A seguir, o lógos diz respeito à lógica, à razão e ao pensamento. Em sua, o argumento precisa ser bem articulado e ter sentido lógico, portanto, não pode recorrer a falácias ou a interpretações confusas e analogias ruins. Por sim, o pathos trabalha com as paixões, as emoções do público. É um apelo emocional, uma forma de conseguir argumentar com o outro justamente por apelar às instâncias emotivas.
Portanto, para Aristóteles, a retórica é um recurso argumentativo que pode, sim, ser usado, mas não como queria os sofistas, que não tinham o compromisso com a verdade.
Retórica X oratória
A oratória surge no Império Romano. A oratória é o falar bem e com desenvoltura, ter um vasto campo de vocabulário. Ao passo que a retórica diz respeito à qualidade argumentativa com o objetivo de persuadir o outro.
Um pouco mais sobre o discurso retórico
Os três vídeos abordam sobre a arte de persuadir. No primeiro, uma explicação em animação é feita de modo sintético e elucidativo acerca da retórica aristotélica. O segundo vídeo é uma visão mais detalhada acerca da obra de Aristóteles, ao passo que o terceiro vídeo mostra outra visão sobre o tema, a de Platão.
Nome do assunto tratado no vídeo
No vídeo do Canal Acima da Média, o principal assunto tratado é o conceito e os fundamentos da retórica aristotélica. Também é abordado os seus três tipos, forense, demonstrativa e deliberativa.
Sobre o livro Retórica, de Aristóteles
Nesse vídeo, Frederico Braga comenta o livro de Aristóteles. Ele explica os princípios que Aristóteles estabelece para o orador. Ele também faz uma contextualização do período aristotélico. Frederico Braga explica o livro a partir de suas partes. Ao final do vídeo, é explicado como um argumento é montado.
Crítica de Platão ao método sofista de discursar
Nesse vídeo, o professor Mateus Salvadori explica as críticas de Platão ao uso da retórica, defendida pelos sofistas. Essa crítica aparece no livro Górgias. É interessante notar como o posicionamento de Platão é completamente diferente do de Aristóteles, do vídeo anterior.
Nessa matéria, foi discutido o conceito de retórica e como essa arte foi considerada pelos filósofos da Antiguidade Clássica. Gostou do tema? Então confira o pensamento de Arthur Schopenhauer.
Referências
Convite à Filosofia (2000) – Marilene Chauí.
Filosofando: introdução à filosofia (2009) – Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins.
Filósofos Pré-Socráticos: primeiros mestres da Filosofia e da Ciência grega (2003) – Miguel Spinelli.
Iniciação à Filosofia (2014) – Marilena Chauí.
Por Marilia Duka
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá em 2016. Graduada em Letras Português/Francês na Universidade Estadual de Maringá em 2022.
Duka, Marilia. Retórica. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/retorica. Acesso em: 27 de November de 2024.
1.
1. A retórica é a arte de falar bem. Foi difundida na Grécia no século V a.C. por Górgias. Onde e para que a retórica foi primeiramente usada?
a) nos eventos e festas públicas, para chamar a população para as festividades.
b) nos tribunais e nas praças públicas, para persuadir os juris e para a argumentação política.
c) nos eventos públicos, os concursos de escolher a melhor tragédia.
d) nas praças públicas e nas festividades, para argumentar e saudar os deuses.
A alternativa correta é B. A retórica foi primeiro utilizada nos contextos políticos e judiciais, somente depois foi aplicada às outras áreas.
2.
2. Aristóteles escreveu um livro intitulado “Retórica”, que versa sobre a arte de falar bem. Para ele, o orador precisava dispor de três atributos persuasivos. São eles:
a) ethos, pathos e hybris
b) pathos, nekos e hybris
c) ethos, logos e pathos
d) logos, hybris e ethos.
A alternativa correta é C. É preciso ter o ethos (credibilidade), o logos (um argumento logicamente válido) e o pathos (apelar para emoção do público).
3.
3. Sócrates e seu discípulo mais conhecido, Platão, criticaram os sofistas por diversos motivos, um deles foi pelo modo que usavam a retórica. Platão, em seu livro “Górgias”, considera que a retórica:
a) tem por objetivo buscar a verdade.
b) tem como função melhorar a conversa entre as pessoas.
c) procura manipular os ouvintes para obter poder.
d) manipula os ouvintes durante a argumentação, mas leva-os à verdade.
A alternativa correta é C.
Platão considerava que a retórica era um não-saber. Para ele, o orador manipulava e bajulava seu público para conseguir privilégios e poder.