A fábula é um gênero popular repleto de simbologias. Ela pode apresentar animais ou objetos personificados, além de seres humanos, como personagens que se encontram em situações conflituosas. Assim, as fábulas sugerem normas de conduta a partir das ações tomadas pelos personagens, indicando os valores morais que devem ser seguidos em determinada cultura. Saiba mais sobre o gênero a seguir:
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O que é fábula?
A fábula é um gênero literário que apresenta enredo sobre algum vício ou virtude, sempre encerrando com uma moral. Ela é composta por textos, em verso ou em prosa, de linguagem simples e relativamente curtos, com poucos personagens na narrativa – geralmente animais com características humanas, principalmente psicológicas (inteligentes ou ignorantes, bons ou maus, generosos ou egoístas).
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Quando surgiram, as fábulas eram contadas para adultos, para aconselhá-los sobre suas atitudes e a boa convivência em sociedade, sendo disseminadas pela tradição oral. Depois, passaram a ser contadas para as crianças, para educá-las sobre valores morais, instigando-as a diferenciarem o bem do mal e refletirem sobre o resultado das ações. Assim, o universo fantástico onde animais são protagonistas estimula a imaginação e capacidade crítica das crianças.
Por ser um gênero popular, as fábulas colaboraram para o surgimento de provérbios relacionados à moral de suas histórias, como veremos a seguir.
Principais autores de fábulas
A fábula acompanha o ser humano desde a Antiguidade, sendo escrita, contada e lida até os dias atuais. Esopo, Fedro e La Fontaine são autores clássicos de fábulas. A seguir, veja informações sobre alguns deles e suas obras.
Esopo
Esopo (? 620 a.C. – ? 564 a.C.) foi um grande escritor da Grécia Antiga. Há poucas informações sobre sua origem, mas acredita-se que ele foi escravo de um filósofo que admirava sua inteligência e, por isso, o libertou. Esopo criou uma centena de fábulas com animais como personagens que inspiraram outros fabulistas, como La Fontaine, grande responsável pela divulgação de suas obras.
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- A raposa e as uvas: promove uma reflexão sobre a pessoa que fala mal de algo porque não consegue tê-lo para si. Vendo uvas muito bonitas e maduras, a raposa tenta pegá-las diversas vezes sem conseguir. Assim, passa a falar que as uvas estavam azedas e ruins, por isso não as queria. Provérbio popular: “Quem desdenha quer comprar”.
- A cigarra e a formiga: explora a questão do planejamento para enfrentar momentos difíceis. Enquanto a formiga guarda mantimentos para se manter, a cigarra aproveita o tempo cantando. Assim, quando o inverno chega, a cigarra não tem o que comer e precisa pedir ajuda. Provérbio popular: “Mais vale prevenir do que remediar”.
- A lebre e a tartaruga: versa sobre sentir-se melhor que o outro a ponto de diminuí-lo. A lebre zomba da tartaruga pela lentidão dela, até que ambas apostam uma corrida e a lebre, confiante demais, faz uma escolha ingênua que acaba tirando-a da competição. Provérbio popular: “A pressa é inimiga da perfeição”.
La Fontaine
Jean de La Fontaine (Château-Thierry, 1621 — Paris, 1695) foi um escritor francês do século XVII. Patrocinado por um mecenas, conseguiu dedicar-se à literatura e manter proximidade com Molière e Racine. Em 1668, publicou “Fábulas Escolhidas”, seu primeiro livro do gênero, com 124 fábulas inspiradas nas histórias de Esopo e de Fedro.
- O leão e o rato: versa sobre a gratidão, mostrando que, quando tratamos o outro bem, por ele seremos bem tratados. O rato acaba nas garras de um leão, que o deixa ir embora. Pouco tempo depois, o leão cai em uma armadilha e, dessa vez, é o rato que o salva da morte. Provérbio popular: “Fazer o bem, sem olhar a quem”.
Arthur Schopenhauer
Arthur Schopenhauer (Dantzig, 1788 — Frankfurt 1860) foi um filósofo alemão que produziu muitas reflexões sobre o ser humano. Em seu livro “Parerga e Paralipomena” (1851), o escritor publicou muitos escritos filosóficos populares, como a fábula abaixo.
- Porco-espinho: essa fábula reflete sobre a solidão e a necessidade da convivência social. No enredo, porcos-espinhos tentam ficar próximos para se aquecerem no inverno, mas acabam se machucando com os espinhos uns dos outros. Assim, precisam buscar formas para se adaptarem e sobreviverem.
Agora que você já conhece algumas fábulas clássicas e seus autores, que tal ler outras versões? Veja as indicações nacionais que trouxemos para você!
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Releituras
É comum que as fábulas tenham diversas versões para a mesma história. Ao longo dos tempos, os escritores fizeram releituras delas apresentando outros enfoques, como a versão da história pelo olhar de outro personagem. Veja indicações de autores brasileiros que deram uma nova cara para as fábulas clássicas:
- Monteiro Lobato: publicou releituras no livro “Fábulas” (1922), em que as histórias assumem um ponto de vista infantil. Assim, os personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo ganham espaço nesse livro para opinarem sobre as histórias. As releituras de Lobato também têm a moral relativizada: a fábula “A cigarra e a formiga” ganha duas versões – uma com a formiga que ajuda a cigarra, outra com a formiga que nega alimento.
- Millôr Fernandes: publicou releituras no livro “Fábulas Fabulosas” (1963), com uma linguagem repleta de humor e sátira que carnavaliza os personagens e cria outros ambientes para as histórias. Nesse livro, Millôr utiliza o imaginário da fábula para manifestar-se contra a ditadura militar no Brasil e as injustiças sociais de uma maneira inteligente e bem-humorada, subvertendo a ideia de “moral” estipulada pelas instituições de poder.
Além da fábula, outros gêneros que apresentam conteúdos morais são o apólogo e a parábola. Agora, aproveite para aprender mais sobre um dos autores citados aqui lendo a matéria sobre Monteiro Lobato.
Referências
FERNANDES, Millôr. Fábulas Fabulosas. 14 ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1963.
FERNANDES, Mônica Terezinha Ottoboni Sucar. Trabalhando com os gêneros do discurso: narrar – fábula. São Paulo: FTD, 2001.
LA FONTAINE. Fábulas de La Fontaine. São Paulo: Martin Claret, 2005.
LOBATO, Monteiro. Fábulas. São Paulo: Globo, 2006.
Por Érica Paiva Rosa
Professora, redatora e produtora cultural. Mestre em Letras pela UEM.
Paiva Rosa, Érica. Fábulas. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/fabulas. Acesso em: 21 de November de 2024.
1. [UNESP]
Leia a fábula “O morcego e as doninhas” do escritor grego Esopo (620 a.C.? – 564 a.C.?) para responder à questão.
Um morcego caiu no chão e foi capturado por uma doninha¹. Como seria morto, rogou à doninha que poupasse sua vida.
– Não posso soltá-lo – respondeu a doninha –, pois sou, por natureza, inimiga de todos os pássaros.
– Não sou um pássaro – alegou o morcego. – Sou um rato.
E assim ele conseguiu escapar.
Mais tarde, ao cair de novo e ser capturado por outra doninha, ele suplicou a esta que não o devorasse. Como a doninha lhe disse que odiava todos os ratos, ele afirmou que não era um rato, mas um morcego. E de novo conseguiu escapar. Foi assim que, por duas vezes, lhe bastou mudar de nome para ter a vida salva.
(Fábulas, 2013.)
¹doninha: pequeno mamífero carnívoro, de corpo longo e esguio e de patas curtas (também conhecido como furão).
Depreende-se da leitura da fábula a seguinte moral:
A) Adaptar-se às circunstâncias: eis a forma de escapar dos perigos.
B) Mais vale uma vida simples e sem inquietações do que viver em meio ao luxo com um medo devastador.
C) Às vezes, quando a sorte abandona os mais poderosos, eles podem precisar dos mais humildes.
D) Aqueles que, por vaidade, se fazem maiores do que realmente são acabam se arrependendo amargamente.
E) Devemos nos contentar com o que temos e evitar a ganância.
[A]
2. [UNIFESP]
Leia a fábula “A raposa e o lenhador” para responder à questão.
Enquanto fugia de caçadores, uma raposa viu um lenhador e lhe pediu que a escondesse. Ele sugeriu que ela entrasse em sua cabana e se ocultasse lá dentro. Não muito tempo depois, vieram os caçadores e perguntaram ao lenhador se ele tinha visto uma raposa passar por ali. Em voz alta ele negou tê-la visto, mas com a mão fez gestos indicando onde ela estava escondida.
Entretanto, como eles não prestaram atenção nos seus gestos, deram crédito às suas palavras. Ao constatar que eles já estavam longe, a raposa saiu em silêncio e foi indo embora. E o lenhador se pôs a repreendê-la, pois ela, salva por ele, não lhe dera nem uma palavra de gratidão. A raposa respondeu: “Mas eu seria grata, se os gestos de sua mão fossem condizentes com suas palavras.”
(Fábulas completas, 2013.)
A moral mais apropriada para fechar a fábula seria:
a) esta fábula pode ser dita a propósito de homens desventurados que, quando estão em situações embaraçosas, rezam para encontrar uma saída, mas assim que encontram procuram evitá-las.
b) desta fábula pode servir-se uma pessoa a propósito daqueles homens que nitidamente proclamam ações nobres, mas na prática realizam atos vis.
c) esta fábula mostra que os homens desatentos prestam atenção nas coisas de que esperam tirar proveito, mas permanecem apáticos em relação àquelas que não lhes agradam.
d) assim, alguns homens se entregam a tarefas arriscadas, na esperança de obter ganhos, mas se arruínam antes mesmo de chegar perto do que almejam.
e) desta fábula pode servir-se uma pessoa a propósito de um homem frouxo que reclama de ínfimas desgraças, enquanto ela própria suporta, sem dificuldade, desgraças enormes.
[B]