Na história da arte, algumas obras e seus criadores remetem a um estilo ou gênero artístico. Por exemplo, Van Gogh e o pós-impressionismo com a obra Noite Estrelada, Pablo Picasso e o Cubismo com Guernica e Edward Munch e o expressionismo com o Grito. No Brasil, Tarsila do Amaral com Abaporu marcam a arte modernista genuinamente brasileira.
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História
Abaporu é uma obra pintada por Tarsila do Amaral (1886-1973) como forma de presentear seu marido Oswald de Andrade (1890-1954), também envolvido com as artes. O presente foi em comemoração ao aniversário do marido. Entretanto, mais que um presente, o quadro se tornou motivador para o manifesto Antropofágico escrito pelo marido.
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A obra tornou-se marco do conceito de antropofagia, que seria a auto-alimentação do homem a parte de outras referências culturais, mas que dá origem a algo novo. Abaporu é uma palavra tupi-guarani e significa homem que come. O manifesto foi um movimento para incentivar a produção de uma arte genuinamente brasileira, que deixasse de reproduzir padrões europeus, contudo passando a assimilá-los à cultura brasileira.
O quadro não há uma avaliação precisa de seu valor, estimasse um valor superior a 40 milhões de dólares. Em 1995, foi comprado por Eduardo Constantini e encontra-se desde 2001 no Museu de Arte-lationoamericana de Buenos Aires (MALBA). A obra já foi exposta em diversos lugares do mundo, em exposições que celebravam a trajetória de Tarsila do Amaral.
Análise do Abaporu
Não há uma única teoria sobre o que a obra representa. Toda via, sabe-se que o quadro apresenta influências cubistas, pelas formas e a formação acadêmica de Tarsila. Assim como influências expressionistas, pelo uso puro das cores, como o amarelo, azul e verde. Também presentes na bandeira do país, que podem incitar uma valorização do nacional.
A posição da figura representada é associada à posição da escultura O Pensador de Rodin. As pernas e braços em tamanhos exagerados e desproporcionais da realidade incitam a valorização do trabalho manual do povo brasileiro. As cores e elementos remetem a temas nacionais. A figura lembra os povos indígenas, como também o povo africano e afrobrasileiro.
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A composição como um todo incita uma brasilidade e uma fusão cultural do país, que sustentam as ideias da Antropofagia. Algumas teorias sugerem que a figura possa ser um retrato de Tarsila do Amaral, inclusive.
A importância de Abaporu
A importância da obra para a arte brasileira se dá na valorização de uma produção moderna e nacional, que não reproduz e sim assimila o que é estrangeiro, criando uma identidade nacional. Abaporu é um marco para o Modernismo Brasileiro que foi potencializado pela Semana de Artes Moderna de 1922.
Releituras famosas
As releituras de obras artísticas de grande relevância são comuns. Elas apresentam diferentes fins, o mais comum é o sentido educacional da releitura para a aprendizagem em arte. No Brasil, é muito comum a releitura de Abaporu na disciplina de arte da educação básica. Alguns artistas também realizam suas releituras, veja alguns a seguir:
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Bordado e pixels (2016)
A releitura acima foi realizada por meio da parceria entre a bordadeira Evelyn Tom Back e o artista Antonio Delei, que ficou exposta no Palácio do Buriti, em Brasília, na exposição Aventura Modernista. A releitura é feita em bordado usando a técnica do ponto casa caiada que permite a criação de inúmeras imagens.
Auauporu (2020)
A releitura de Tarik Klein foi produzida na intenção de colaborar com a ONG Celebridade Vira-lata para arrecadar recursos em leilão, para a instituição que dá suporte a animais em vulnerabilidade. Além de manter as principais características da obra, o artista acrescenta um elemento genuinamente brasileiro: o vira-lata caramelo.
Abaporu (2016)
O artista carioca Alexandre Mury, cria e recria obras utilizando o corpo, sua imagem e a fotografia. Em releitura, recria com o corpo a figura representada por Tarsila.
Outros artistas profissionais e amadores já criaram releituras da obra, há uma infinidade de criações. Pesquise e perceba como os aspectos da brasilidade são adicionados à criação.
Vídeos sobre uma obra pra lá de antropofágica
Para aprofundar a análise da obra, separamos alguns vídeos com diferentes abordagens para que você compreenda cada detalhe do quadro, e principalmente, sua importância na arte brasileira. Acompanhe:
Em contexto: a vida de Tarsila e Abaporu
Neste vídeo, a Aline, do canal Art Insider faz uma recapitulação da história do quadro, contrapondo com informações sobre a vida e influências de Tarsila do Amaral. O contexto histórico da produção artística nos lembra o porquê Abaporu é tão relevante para a história da arte.
Antropofagia, Abaporu e outras obras
Neste vídeo, o professor João Filho, do canal Tapioca com Poesia, realiza uma comparação entre outras obras de Tarsila do Amaral, como Antropofagia de 1929 e A Negra de 1923, apresentando o conceito de intratextualidade, com objetivo de analisar e entender Abaporu. Um excelente vídeo para entender as intenções da artista.
Em princípios do design e da composição visual
O designer Gabriel, no seu canal do YouTube, apresenta um quadro que analisa a partir de conceitos do design algumas obras, incluindo Abaporu. No vídeo, Gabriel fala sobre a assimetria da obra, as formas geométricas e o equilíbrio visual apresentado na composição. Fundamental para uma análise profunda da obra.
Abaporu, de Tarsila do Amaral, foi crucial para o desenvolvimento do Manifesto Antropofágico. Para continuar seus estudos sobre o assunto, leia a matéria sobre a Semana de Arte Moderna de 1922.
Referências
História da Arte – Graça Proença, 2012.
TARSILA do Amaral. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: . Acesso em: 03 de Abr. 2021. Verbete da Enciclopédia.
Por Vanderlei Bachega Junior
Professor de Arte e Teatro. Graduado em Artes Cenicas pela Universidade Estadual de Maringá, habilitação em licenciatura. Mestre e doutorando em Teatro pelo PPG em Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina. Possui especialização em Voz Profissional pela Unyleya. Artista e produtor cultural em Maringá. Dedicado ao ensino fundamental e médio e ao ensino superior.
Bachega Junior, Vanderlei. Abaporu. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/artes/abaporu. Acesso em: 23 de November de 2024.
1. [UNESP]
De acordo com o artigo de Jason Farago, o “Manifesto Antropofágico”, escrito por Oswald de Andrade, foi influenciado
A) pelo quadro Abaporu, produzido por Tarsila do Amaral em 1928.
B) pela exuberância das paisagens tropicais brasileiras.
C) pelo quadro Antropofagia, produzido antes da Semana de Arte Moderna.
D) pelo estereótipo dos povos indígenas brasileiros.
E) pelo sincretismo religioso na Bahia e pelo primitivismo nas artes plásticas.
Resposta: Alternativa A.
O quadro foi um presente de Tarsila para Oswald de Andrade.
2. [ANGLO]
Tarsila do Amaral é uma das artistas que melhor traduziu o “espírito de brasilidade”, como se pode observar no quadro Abaporu.
Partindo de seus conhecimentos sobre a década de 1920, analise as afirmações.
I. O quadro Abaporu, de 1928, inspirou o Manifesto Antropofágico, e os quadros de Tarsila serviram para divulgar o modernismo brasileiro.
II. As formas ousadas e cores de tons fortes e vibrantes usadas nos quadros de Tarsila traduziram o espírito de brasilidade.
III. Em 1929, a cafeicultura no Brasil, sobretudo a paulista, sofreu um forte abalo com a quebra da bolsa de Nova Iorque.
IV. A cultura cafeeira paulista, buscando as manchas de terras roxas, possibilitou a conservação do solo e a preservação das florestas, minimizando as ações antrópicas.
Estão corretas as afirmações
A) II e III, apenas.
B) I, II e III, apenas.
C) III e IV, apenas.
D) I e IV, apenas.
E) I, II, III e IV.
Resposta: B
Estão corretas as afirmações, I, II e III: Afirmação I: “Abaporu”, o trabalho que Tarsila do Amaral deu de presente a seu então marido Oswald de Andrade, inspirou-o a criar o “Manifesto Antropófago” (e não “Antropofágico”, como diz o enunciado); além disso, em suas pinturas a artista sintetizou o espírito inovador e nacionalista do movimento, colaborando para sua consolidação e difusão. Afirmação II: no quadro, é possível perceber a exploração das tonalidades fortes, ressaltando tanto o contraste entre elas, quanto a sua referência nacionalista, na presença das cores da bandeira nacional (o azul do céu, o verde da terra e o amarelo do sol). A ousadia das formas plásticas se faz presente, na tela, no contraste entre os pés e a cabeça da figura representada. Afirmação III: o chamado crack da bolsa de Nova York, em outubro de 1929, abalou as finanças de boa parte do mundo ocidental. A cafeicultura paulista não ficou imune à crise, e muitas fortunas foram atingidas — como a de Oswald de Andrade, marido de Tarsila do Amaral. Afirmação IV: a expansão cafeeira na década de 1920, assim como nas décadas anteriores, não permitiu a conservação dos solos e a preservação da floresta; ao contrário, a ampliação das ações antrópicas (relativo às modificações provocadas pelo homem no meio ambiente) acentuou significativamente a deterioração ambiental.