Qual a origem da Filosofia? Quais foram os marcos civilizatórios que possibilitaram esse novo modo de pensar e tentar entender o mundo? Quem foram os primeiros filósofos? Quais eram seus questionamentos, suas intenções e seus motivos? Ficou curioso? Veja as respostas para essas perguntas a seguir.
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O que é Filosofia
A palavra Filosofia significa amor pela sabedoria. A criação do termo é tradicionalmente atribuída a Pitágoras de Samos e, em grego, philosophia é a junção de duas palavras: philos (amizade, amor, respeito entre iguais) e sophia (sabedoria, saber). Para além da etimologia, o que é Filosofia?
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Primeiramente, é preciso entender que a Filosofia é um fenômeno tipicamente grego, para depois entendê-la como um modo de pensar e dispor crítica e racionalmente o pensamento para conhecer o mundo. Filosofia é contemplar, observar, questionar e argumentar seguindo determinado método, ou seja, cada filósofo terá uma forma de expor seus pensamentos e suas questões.
Contexto histórico da origem da filosofia
A Filosofia surgiu na Grécia em um momento muito propício. Segundo os historiadores, foi criada no fim do século VII a.C e início do século VI a.C na Jônia (região das colônias gregas na Ásia Menor, atual Turquia), na cidade de Mileto. O primeiro filósofo da história foi Tales de Mileto (quem se lembra dele na matemática?). Nessa época, conhecida como Período Arcaico, os gregos se desenvolveram prosperamente no comércio e nas colonizações nas bacias do Mar Mediterrâneo e do Mar Negro.
Tamanho intercâmbio cultural proporcionou, portanto, a Filosofia. Vale ressaltar que, embora tenham tido influências de diversos povos (e seus respectivos conhecimentos desenvolvidos até então), coube aos gregos a criação da Filosofia como expressão de pensamento, pois eles foram capazes de realizar mudanças qualitativas nas formas de conhecer possíveis até o momento. De acordo com Marilena Chauí, essas mudanças foram:
- Pensamento mítico: Hesíodo e Homero tiveram a importante função de humanizar os deuses e divinizar os homens. Ambos explicam a origem das coisas mundanas (homens, leis, coisas) de modo racional.
- Em relação ao conhecimento: os gregos foram capazes de transformar os saberes do cotidiano e do senso comum em um conhecimento universal e abstrato, ou seja, a ciência. Por exemplo, os egípcios tinham excelentes ferramentas para medir e calcular. Os gregos conseguiram transformar esse conhecimento prático em teórico, criando, assim, a aritmética e a geometria (ou simplesmente a Matemática).
- Em relação à sociedade: foram os gregos que inventaram a política. Todas as sociedades possuíam uma forma de organização social. Foram os gregos, contudo, que criaram a ideia de política, um modo de se organizar na pólis (cidade regida por leis e instituições) em que havia debates públicos para se pensar nas decisões políticas que deveriam ser tomadas. Além disso, a criação da política proporcionou a divisão da esfera pública das demais (familiar e religiosa).
- Em relação ao pensamento: os gregos foram responsáveis por inventar a ideia ocidental de razão. Ou seja, um pensamento sistematizado, regido por leis universais e constantes. Um princípio matemático, por exemplo: 1+1 será sempre igual a 2, porque os gregos foram capazes de criar conceitos.
Outros pontos importantes que possibilitaram o surgimento da Filosofia foram a invenção da moeda e do calendário e o surgimento da vida urbana. A moeda fez com que a troca de mercadorias fosse feita de forma abstrata, melhorando a relação de comércio. O calendário gerou uma nova percepção e domínio do tempo. Esses dois fatores ajudaram a desenvolver a vida urbana. Um novo jeito de viver exige um novo modo de pensar – nesse caso, a Filosofia.
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Os primeiros filósofos
Os primeiros filósofos são os pré-socráticos. Eles compartilhavam do princípio de que não existe criação do mundo, ou seja, não existia o “nada” para depois algo ser criado. Isso implica dizer que o mundo é eterno e está em constante transformação. Outro princípio é a arché, que compreende que tudo que existe no mundo tem em comum um único elemento. Esses filósofos entendiam que existia um fundo eterno de onde tudo nascia, chamado de physis.
A physis, que é imperecível, dá origem a todos os seres do mundo, que, por sua vez, são perecíveis. A physis é a Natureza, ao passo que a arché é o princípio do qual essa Natureza é constituída. Outro princípio compartilhado era o do devir. O devir é a ideia de mudança e transformação; a ideia de que tudo passa de seu estado para o estado contrário, sem que haja caos, já que o mundo é ordenado pela physis. Vejamos os principais filósofos do período pré-socrático:
Escola Jônica
1. Tales de Mileto (624-546 a.C)
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Para Tales, o elemento primordial era a água ou o úmido. Ao observar que as plantas secavam, que os corpos desidratavam e que os alimentos continham seiva, Tales atribuiu à água o princípio de tudo. A água, para Tales, é a arché e está em todas as coisas em diferentes estados. O estado da água é o que molda como cada coisa existente no mundo é.
2. Anaximandro de Mileto (611-547 a.C)
Para Anaximandro, diferente de Tales, o elemento primordial não poderia ser algo limitado, por isso entendia que a arché era o ápeiron (em grego: infinito ou ilimitado). O ápeiron está presente em tudo, porém é invisível. Um dos principais argumentos, sobretudo contra Tales, para defender que a arché não poderia ser um elemento único e visível foi observar que a água é úmida, no entanto o fogo é quente – são elementos contrários. Dessa forma, Anaximandro entendia que o elemento primordial precisava ser neutro.
3. Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C)
Partindo de Anaximandro, Anaxímenes entendia que a arché era o ar. O ar, portanto, seria a origem de todas as coisas, dependendo de seu estado de condensação ou rarefação. O ar condensado daria origem à terra e o ar rarefeito, ao fogo, por exemplo.
Escola Eleata
4. Parmênides de Eleia (530-460 a.C)
“O ser é, o não-ser não é”. Parmênides não trabalhou com a noção de arché, mas centrou sua filosofia no Ser. Para ele, o Ser era uno, indivisível, infinito e imutável. A realidade, em Parmênides, é una, infinita, imóvel e imutável. Para ele, as transformações eram ilusões e as ideias contrárias eram apenas aparências. Assim, o contrário é apenas ausência: o que existe é a luz, pois o escuro é, na verdade, a não-luz (ausência de luz).
Escola Efésica
5. Heráclito de Éfeso (40-470 a.C)
Para Heráclito, a arché era o fogo e as coisas originam-se de acordo com o movimento do fogo de acender e apagar. Diferentemente de Parmênides (que dizia que nada mudava), Heráclito, baseando-se no fogo, defendia que a realidade estava em constante movimento e, por isso, é considerado o pai da dialética. As coisas sempre mudam de um estado para outro estado oposto, do imóvel para o móvel, do quente para o frio etc. Essa alteração de estado gera uma unidade, pois é o movimento e a contradição que dão origem às coisas no mundo.
Escola Italiana
6. Pitágoras de Samos (570-495 a.C)
Para Pitágoras e os pitagóricos, o elemento primordial era o número. O número era harmonia, entendido como a essência das coisas, composto pela soma dos opostos (números ímpares e pares). Os números ímpares e pares representam uma relação de mutação, por isso pode-se dizer que os pitagóricos também pensavam que a realidade tinha movimento.
Para eles, o universo era regido pelas relações matemáticas (expressas pelo número). Diferente dos demais filósofos que apresentaram um elemento físico como a arché, os pitagóricos entendiam que existiam quatro elementos (ar, água, fogo e terra), mas o princípio de tudo, que ordenava e dava forma, era o número.
Escola Pluralista
7. Empédocles de Agrigento (490-430 a.C)
Empédocles tentou resolver o problema posto por Heráclito e Parmênides em relação ao movimento. Para Heráclito, tudo fluía; para Parmênides, nada mudava. Empédocles foi quem conseguiu encontrar uma saída para esse problema, atribuindo a arché às raízes ou aos quatro elementos: terra, fogo, água e ar.
Para ele, esses quatro elementos combinam-se, depois separam-se para, em seguida, combinarem-se novamente e, assim, darem origem às coisas. Os princípios responsáveis pela combinação e separação dos elementos são o amor e o ódio, respectivamente. Os princípios são eternos e imutáveis, ao passo que as substâncias criadas por tais procedimentos são finitas e mutáveis. Dessa forma, Empédocles conseguiu reunir a teoria de Heráclito e de Parmênides para explicar a origem das coisas no mundo.
Demócrito centrou a arché no átomo. Para ele, o átomo era uma partícula extremamente pequena, invisível, infinita, imutável e indivisível. Esses átomos eram diferentes entre si e, quando se juntavam, formavam a substância. Quando essa substância se desfazia, os átomos que a compunham podiam se rearranjar e formar outra substância.
Esses são os principais filósofos que compuseram o primeiro momento da filosofia grega. Chamados de pré-socráticos por antecederem Sócrates, filósofo que também revolucionou o pensamento filosófico grego. Mas isso é discussão para outro momento.
Veja mais detalhes sobre a origem da Filosofia
Nos vídeos selecionados abaixo, você poderá acompanhar melhor como surgiu a Filosofia. Confira:
Por que nasceu a Filosofia?
Nesse vídeo, temos pinceladas de onde nasceu a Filosofia. Vê-se principalmente o dilema de seu surgimento: aqueles que defendem que ela nasceu em outras regiões do mundo, como na China,e aqueles que atribuem o lugar de seu nascimento à Grécia. Vemos também as influências dos pensamentos de outros povos na filosofia grega.
Como nasceu a Filosofia?
Esse vídeo trata dos três pilares nos quais foi fundada a Filosofia: a arte, a religiosidade e as condições históricas. É legal porque, aqui, cada pilar é detalhado. Na arte, as contribuições de Homero e de Hesíodo. Na religião, a diferença entre a religião pública (mitologia) e os mistérios órficos (relacionada a Orfeu). Nas condições sociais, todo o contexto que possibilitou a existência da Filosofia.
Qual a história da Filosofia?
Nesse vídeo, apresenta-se mais precisamente a história do surgimento da Filosofia na Grécia, sobre o primeiro filósofo, sobre a palavra e as grandes perguntas filosóficas. Além disso, as fases da Filosofia antiga também são expostas.
Animação com os primeiros filósofos
Esse vídeo do canal Resumos Animados, além da história da Filosofia, conta um pouco sobre os primeiros filósofos. A síntese feita é muito interessante, é um bom vídeo para resumo!
Gostou de saber a origem da Filosofia? Que tal conhecer também o filósofo divisor de águas na Grécia Antiga? Sócrates!
Referências
Convite à Filosofia (2000) – Marilena Chauí
Filósofos Pré-Socráticos: primeiros mestres da Filosofia e da Ciência grega (2003) – Miguel Spinelli
História da filosofia, formação e compromisso (2001) – Franklin Leopoldo e Silva
Iniciação à Filosofia (2014) – Marilena Chauí
Por Marilia Duka
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá em 2016. Graduada em Letras Português/Francês na Universidade Estadual de Maringá em 2022.
Duka, Marilia. Origem da Filosofia. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/origem-da-filosofia. Acesso em: 23 de November de 2024.
1. [UFSJ (2012)]
Sobre o princípio básico da filosofia pré-socrática, é CORRETO afirmar que:
a) Tales de Mileto, ao buscar um princípio unificador de todos os seres, concluiu que a água era a substância primordial, a origem única de todas as coisas.
b) Anaximandro, após observar sistematicamente o mundo natural, propôs que não apenas a água poderia ser considerada arché desse mundo em si e, por isso mesmo, incluiu mais um elemento: o fogo.
c) Anaxímenes fez a união entre os pensamentos que o antecederam e concluiu que o princípio de todas as coisas não pode ser afirmado, já que tal princípio não está ao alcance dos sentidos.
d) Heráclito de Éfeso afirmou o movimento e negou terminantemente a luta dos contrários como gênese e unidade do mundo, como o quis Catão, o antigo.
Alternativa correta: A
Justificativa: Anaximandro tinha o ápeiron como elemento primordial. Anaxímenes entendia que o ar era a arché. Heráclito não negou os contrários. Resta, pois, a alternativa A.
2. [UEL (2015)]
De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, então essa outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir da qual tudo é feito? A grande questão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas. Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.43-44.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento da filosofia, assinale a alternativa correta:
a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da natureza e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável as histórias contadas acerca do mundo dos deuses.
b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que havia alguma substância básica, uma causa oculta, que estava por trás de todas as transformações na natureza e, a partir da observação, buscavam descobrir leis naturais que fossem eternas.
c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas de pensamento por volta do século VI a.C. partiram da ideia unânime de que a água era o princípio original do mundo por sua enorme capacidade de transformação.
d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homérica do mundo e reforçou o antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma explicação natural e regular acerca dos primeiros princípios que originam todas as coisas.
e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes e Heráclito, há um princípio originário único denominado o ilimitado, que é a reprodução da aparência sensível que os olhos humanos podem observar no nascimento e na degeneração das coisas.
Alternativa correta: B
Justificativa: o marco da Filosofia é racionalizar o pensamento e buscar explicações racionais, não divinas. Cada filósofo atribuiu a arché a um elemento, não era unânima. Os filósofos adotaram uma concepção naturalista de mundo, não homérica. Resta, pois, a alternativa B.