Maria Firmina dos Reis é um grande nome da literatura brasileira: a primeira romancista e a primeira autora negra de que se tem notícia no país! Ela lutou por uma educação de qualidade para todos e pelo abolicionismo no Brasil, denunciando os horrores da escravidão em sua literatura. Conheça melhor o trabalho de Maria Firmina nesta matéria!
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Biografia
Maria Firmina dos Reis (São Luís, 1822 – Guimarães, 1917) foi uma professora, escritora e compositora brasileira. Aos 22 anos, entrou para a Cadeira de Instrução Primária, sendo a primeira professora concursada do Maranhão. Após se aposentar, fundou a primeira escola mista e gratuita do país, isso repercutiu na época e ela foi obrigada a suspender as atividades dois anos depois. A escritora faleceu pobre e cega, deixando poucos registros pessoais.
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Apesar de ter publicado diversos textos em periódicos como “O Domingo”, “Semanário Maranhense” e “O País” e de seu primeiro romance também ter repercutido na imprensa maranhense, o trabalho literário da escritora foi ignorado durante muito tempo pelo fato dela ser mulher, negra e pobre. Apenas na segunda metade do século XX, sua obra Úrsula foi recuperada e reeditada, mas mesmo assim ainda é pouco debatida no meio literário.
Características das obras
A obra de Maria Firmina dos Reis é enquadrada no Romantismo no Brasil. Assim, seus textos apresentam uma estética nacionalista e características como:
- Longas e intensas descrições
- Linguagem imagética
- Subjetividade
- Personagens heroicos
- Temáticas abolicionistas e indianistas
- Denúncia das opressões e violências do Brasil escravocrata
O amor idealizado e impossível de ser vivido, devido às convenções sociais, é outra marca romântica presente nas narrativas da autora.
A importância de Maria Firmina dos Reis
A intelectual foi a primeira romancista brasileira e a primeira escritora negra da literatura nacional. Seu trabalho é relevante pelo pioneirismo na denúncia das opressões aplicadas aos negros e às mulheres no Brasil do século XIX, além de apresentar os escravizados em personagens humanizados, algo incomum na literatura até então produzida por homens brancos de classes sociais altas. Maria Firmina também atuou como folclorista, recolhendo e organizando textos da cultura oral.
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Obras e poemas
A autora escreveu contos, romances, poemas, crônicas, canções e hinos. Conheça um pouco de suas produções a seguir!
- Úrsula (1859);
- Gupeva (1861/62);
- Parnaso maranhense (1861);
- Cantos à beira-mar (1871);
- A Escrava (1887);
Úrsula
Assinado com o pseudônimo “Uma maranhense”, Úrsula é um livro abolicionista que retrata a perversidade da escravidão. O romance gira em torno de um triângulo amoroso entre brancos e em segundo plano, mas não menos importante, descreve a crueldade do tráfico de pessoas e as condições de vida desumanas dos escravizados no Brasil. A obra também retrata a condição lamentável da mulher na época, violentada pela cultura patriarcal de homens tiranos.
Com uma linguagem repleta de sensibilidade e subjetividade, a poética de Maria Firmina dos Reis, por vezes, ganha tons de melancolia, como no poema a seguir:
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Nas Praias do Cuman / Solidão
Aqui na solidão minh’alma dorme;
Que letargo profundo!… Se no leito,
A horas mortas me revolvo em dores,
Nem ela acorda, nem me alenta o peito.
No matutino albor a nívea garça
Lá vai tão branca doudejando errante;
E o vento geme merencório – além
Como chorosa, abandonada amante.E lá se arqueia em ondulação fagueira
O brando leque do gentil palmar;
E lá nas ribas pedregosas, ermas,
De noite – a onda vem de dor chorar.Mas, eu não choro, lhe escutando o choro;
Nem sinto a brisa, que na praia corre:
Neste marasmo, neste lento sono,
Não tenho pena; – mas, meu peito morre.Que displicência! não desperta um’hora!
Já não tem sonhos, nem já sofre dor…
Quem poderia despertá-lo agora?
Somente um ai que revelasse – amor.
Por viver no litoral do Maranhão, cenários como a praia e o mar são presenças constantes na escrita de Maria Firmina dos Reis.
5 frases de Maria Firmina dos Reis
Separamos algumas frases e trechos dos livros da autora. Assim, você poderá entender a importância da literatura para o abolicionismo e sua crítica à configuração sociopolítica do Brasil escravocrata.
- “… troco escravidão por liberdade, por ampla liberdade!” (Frase de Úrsula).
- “Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem; com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo” (Prólogo de Úrsula).
- “E a liberdade, oh! poeta, – canta, que fora o mundo a continuar nas trevas? Sem ela as letras não teriam vida, menos seriam que no chão as relvas; toma por timbre liberdade, e glória, teu nome um dia viverá na história” (Trecho do poema O meu desejo).
- “É crime ser o primeiro patriota brasileiro, que a fronte levanta e diz: – Rebombe embora o canhão, quebre-se a vil servidão, seja livre o meu país!” (Trecho do poema Dirceu).
- ”… e amaldiçoo em teu nome ao primeiro homem que escravizou a seu semelhante” (Frase de Úrsula).
Agora que você já conhece o estilo de escrita da primeira romancista brasileira, veja alguns vídeos que discutem a sua produção literária.
Vídeos sobre uma mulher de palavra
Para fixar seus conhecimentos, separamos três vídeos que trazem mais detalhes sobre a trajetória e o contexto sociopolítico vivenciado pela autora, além de análises de sua obra. Acompanhe!
Resumão sobre Maria Firmina dos Reis
Aprenda com o canal Desenrolou sobre curiosidades da vida de Maria Firmina dos Reis e as suas relações com a educação e a literatura durante os séculos XIX e XX no Brasil.
Uma intelectual esquecida
Neste vídeo, a professora Lilia Schwarcz traz informações sobre a história de vida da autora, problematiza a demora no resgate de sua obra e apresenta o Hino da Libertação aos Escravos, composto por Maria Firmina dos Reis.
Úrsula
A Mel Ferraz, do Literature-se, comenta a sua leitura de Úrsula, um livro de denúncia sobre a escravidão. Confira alguns detalhes a respeito dos personagens e da linguagem dessa obra, além de características da escola romântica presentes nela!
Agora que você já conhece a obra de Maria Firmina dos Reis, amplie seu repertório de estudos aprendendo sobre outro autor abolicionista: Castro Alves.
Referências
Maria Firmina dos Reis (2020) – Literafro
Personalidade Negra – Maria Firmina dos Reis (2021) – Palmares Fundação Cultural
Síntese biográfica (2021) – Memorial de Maria Firmina dos Reis
Por Érica Paiva Rosa
Professora, redatora e produtora cultural. Mestre em Letras pela UEM.
Paiva Rosa, Érica. Maria Firmina dos Reis. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/maria-firmina-dos-reis. Acesso em: 25 de November de 2024.
1. [UFRGS]
Considere as seguintes afirmações sobre Maria Firmina dos Reis e seu romance Úrsula.
I – O romance Úrsula foi publicado no Maranhão, em 1859, sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”, e quase não se tem notícia de sua circulação à época da publicação. Recuperado na segunda metade do século XX, só então o livro passa a ser reeditado e minimamente debatido no meio literário.
II – Nas primeiras páginas do romance, uma voz que pode ser lida como a da autora apresenta, a modo de prólogo, seu livro ao leitor, consciente das limitações que seriam impostas a ele por ter sido escrito por uma mulher brasileira de educação acanhada.
III- A circulação limitada de Úrsula dá mostras de que, associados ao valor estético, fatores como classe social, gênero e raça do escritor também participam da definição do cânone literário.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
Resposta: E
Justificativa: Todas as alternativas apresentam informações corretas a respeito do conteúdo, da publicação e da circulação da obra “Úrsula” no Brasil.
2. [UFRGS]
Sobre Úrsula, romance de Maria Firmina dos Reis, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações.
( ) O romance é narrado em primeira pessoa por Úrsula, jovem negra escravizada e depois alforriada por Tancredo, senhor com quem a protagonista se casa.
( ) A linguagem apresenta variedade de registro: personagens negras comunicam-se de forma coloquial, personagens brancas adotam a norma culta da língua.
( ) O enredo está centrado no amor fracassado entre Úrsula e Tancredo, embora personagens como Túlio e mãe Susana sejam cruciais para o romance, especialmente na definição de seu caráter antiescravista.
( ) O escravocrata comendador Fernando P., antagonista de Tancredo na disputa por Úrsula, arrepende-se de seus crimes no final da vida e, recolhido em um convento, transforma-se no frei Luís de Santa Úrsula.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
A) V – F – V – F.
B) V – V – F – F.
C) F – F – V – V.
D) F – V – F – V.
E) V – V – F – V.
Resposta: C
Justificativa: A personagem Úrsula é uma sinhazinha branca e não uma jovem negra escravizada. Já a linguagem utilizada pelos diferentes personagens não apresenta variedade de registro.