Conceição Evaristo

Escrevivência, memória, subjetividade e poeticidade são conceitos-chave da obra de Conceição Evaristo.

Conceição Evaristo é uma das escritoras mais famosas do Brasil na atualidade. Possui uma vasta obra que versa sobre a vida da população afro-brasileira, a partir de vozes subalternizadas que contam as suas próprias histórias e agora são ouvidas. Conceição criou o conceito de escrevivência há 25 anos para nomear a escrita da memória vivida pelas mulheres negras. Conheça mais sobre a autora a seguir!

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Índice do conteúdo:

Biografia

(Fonte: Wikimedia)

Maria da Conceição Evaristo de Brito (Belo Horizonte, 1946) é uma escritora, ensaísta e professora brasileira. De origem pobre, conciliou os estudos com o trabalho como empregada doméstica. Nos anos 70, mudou para o Rio de Janeiro e passou em um concurso para o magistério. Estudou graduação, mestrado e doutorado em Letras. Possui seis livros publicados, sendo cinco traduzidos para o inglês, o francês, o espanhol e o árabe.

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Nelson Rodrigues
Dramaturgo e jornalista, Nelson Rodrigues revolucionou o teatro brasileiro. Em suas obras, apostava em personagens com grande profundidade psicológica e em um humor politicamente incorreto.
Poesia Social
A Poesia Social é um tipo de vertente literária onde questões de valor político-social são abordadas de forma incisiva para atingir o leitor.

Embora escreva desde a juventude, Conceição começou a publicar seus textos apenas aos 44 anos nos Cadernos Negros, uma série editada desde 1978 pelo coletivo Quilombhoje e voltada à produção literária afro-brasileira. A escritora já ganhou o Prêmio Jabuti por Olhos d’água em 2015, o Prêmio do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra, o Prêmio Nicolás Guillén de Literatura e o Prêmio Mestra das Periferias, todos em 2018.

Características

A obra de Conceição Evaristo é forte, bela e apresenta uma linguagem poética com temas ligados à vivência das mulheres negras. Conheça as características de sua escrita a seguir:

  • Linguagem poética: sua obra é permeada por uma linguagem intensamente poética. A escritora consegue descrever cenas de profundo impacto, em situações de violência e horror, de uma forma sensível e delicada.
  • Subjetividade: os sentimentos humanos são os grandes temas de Conceição Evaristo, que fala sobre as dores, os amores, as alegrias, os desesperos e os medos das pessoas etc.
  • Denúncia: a escrita de Conceição Evaristo denuncia a opressão e a violência aplicadas à população negra e às mulheres na sociedade brasileira.
  • Personagens humanizados: na escrita de Conceição, os personagens pobres e miseráveis, invisíveis ao mundo, ganham referências poéticas humanizadas.
  • Memória: as obras entrelaçam o tempo presente e o tempo passado com o resgate da memória e da ancestralidade da cultura afro-brasileira.
  • Oralidade: em termos de conteúdo, de palavras e de semântica, a oralidade cria uma beleza ímpar nos textos da escritora.

Escrevivência

A escrevivência é a escrita que nasce dos acontecimentos cotidianos, das experiências vividas ou observadas e das lembranças. É a escrita que compõe a personagem negra em um lugar diferente ao que ela, até então, ocupou na literatura; é construí-la de modo subjetivo, vivo e, sobretudo, humano. Segundo Conceição: “A nossa escrevivência não pode ser lida como história de ninar os da casa-grande, e sim para incomodá-los em seus sonos injustos”.

A escrevivência configura uma forma de luta contra o racismo e o machismo que configuram a sociedade brasileira contemporânea, denunciando as opressões e exigindo mudanças.

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Principais obras

A produção literária de Conceição Evaristo privilegia as experiências de pessoas marginalizadas na sociedade brasileira. Assim, seus textos versam sobre o cotidiano de exclusão, ausência e miséria, dentre outros temas.

Olhos d’água

Publicado em 2014, o livro é uma coletânea de 15 contos relativamente curtos, muitos deles já publicados nos Cadernos Negros. Com leveza no trato de temas pesados, os contos abordam histórias de mulheres e homens negros e de crianças em situações de opressão. Assim, a miséria, a violência urbana, o preconceito, a saudade e a dor percorrem as narrativas trágicas que terminam com finais tristes, em sua maioria, envolvendo mortes violentas.

Becos da memória

Escrito na década de 1980, mas publicado apenas em 2006, o romance narra a história de um grupo de pessoas que mora em uma favela prestes a ser demolida. Logo, suas vidas estabelecidas naquele lugar entram em conflito com a possibilidade de uma mudança repentina. O romance é narrador por Maria-Nova, uma menina de 13 anos que vive na favela e conta as histórias da comunidade guardadas em sua memória.

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Conceição Evaristo transpõe situações cotidianas da realidade brasileira para a sua escrita, por isso seus livros promovem tanta emoção. Abaixo, estão outras obras da autora em prosa e em verso:

  • Ponciá Vivêncio (2003)
  • Poemas de recordação e outros movimentos (2008)
  • Insubmissas lágrimas de mulheres (2011)
  • Histórias de Leves Enganos e Parecenças (2016)

Poemas

Da menina, a pipa
Da menina a pipa
e a bola da vez
e quando a sua íntima
pele, macia seda, brincava
no céu descoberto da rua
um barbante áspero,
másculo cerol, cruel
rompeu a tênue linha
da pipa-borboleta da menina.

E quando o papel
seda esgarçada
da menina
estilhaçou-se entre
as pedras da calçada
a menina rolou
entre a dor
e o abandono.

E depois, sempre dilacerada,
a menina expulsou de si
uma boneca ensanguentada
que afundou num banheiro
público qualquer.

Vozes-mulheres
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
ecoou lamentos
de uma infância perdida.

A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.

A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.

A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.

Conforme você leu, os textos de Conceição Evaristo são muito poéticos e constroem as experiências de exclusão e de violência com uma linguagem repleta de beleza e de sensibilidade.

Vídeos sobre a identidade afro-brasileira

Separamos quatro vídeos sobre a escrita de Conceição Evaristo para você fixar o que aprendeu e aprofundar os seus conhecimentos. Confira!

Olhos d’água

A Tatiana Feltrin expõe características da obra, comenta alguns contos e faz conexões entre eles e a realidade brasileira. Acompanhe!

Becos da memória

Nesse vídeo, a Milca Alves comenta algumas histórias contadas pela narradora Maria-Nova e faz relações entre a obra e a vida de Conceição Evaristo. Assista!

Ponciá Vicêncio

Esse romance de Conceição Evaristo é muito poético e delicado. A Camila Navarro apresenta um resumo e faz alguns comentários sobre a leitura da obra.

Escrevivência

Conceição Evaristo fala sobre o seu conceito de escrevivência, as suas experiências de vida e a sua obra. Escute a autora!

Agora que você já conhece a escrevivência de Conceição Evaristo, conheça outra obra importante escrita por uma autora afro-brasileira: Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus.

Referências

Becos da Memória (2013) – Conceição Evaristo
Olhos d’água (2014) – Conceição Evaristo
Poemas de recordação e outros movimentos (2008) – Conceição Evaristo

Érica Paiva Rosa
Por Érica Paiva Rosa

Professora, redatora e produtora cultural. Mestre em Letras pela UEM.

Como referenciar este conteúdo

Paiva Rosa, Érica. Conceição Evaristo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/conceicao-evaristo. Acesso em: 24 de November de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [UDESC]

Analise as proposições a seguir tendo como base o conto Maria, Conceição Evaristo, o Texto 5 e assinale (V) para verdadeira e (F) para falsa.

( ) Maria, personagem principal do conto, segue o destino de tantas outras “marias” existentes na sociedade brasileira: mulheres negras abandonadas que trabalham para sustentar, sozinhas, os próprios filhos.
( ) Da leitura do conto, infere-se intolerância com os que pertencem à condição social e econômica mais frágil e percebe-se, também, preconceito racial.
( ) Em: “pagando a passagem dele e de Maria” (linha 4), o emprego da palavra destacada substitui o pronome possessivo sua, evitando que a oração se torne ambígua.
( ) Da leitura do segmento “A mulher baixou os olhos como que pedindo perdão” (linha 13), infere-se o arrependimento de Maria por ter deixado os filhos sozinhos em casa.
( ) A leitura do período “Por que não podia ser de uma outra forma” (linha 10) leva o leitor a inferir que Maria não gostava da vida que atualmente levava e que sentia saudades do passado, quando acreditava que era feliz.

Assinale a alternativa correta, de cima para baixo.
A. ( ) V- V- V- V- V
B. ( ) F- V- V- F- F
C. ( ) V- V- V- F- V
D. ( ) F- F- F- V- V
E. ( ) V- F- V- F- V

Resposta: C

Justificativa: A alternativa C é a única com a sequência correta, pois o segmento “A mulher baixou os olhos como que pedindo perdão” (linha 13), refere-se ao sentimento de Maria sobre o fato de ter tido outros filhos com outros homens.

2. [UFVJM]

O romance Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo, caracteriza-se por ser uma narrativa tecida por retalhos de lembrança da vida pessoal e familiar da narradora.
ASSINALE a alternativa na qual essa marca NÃO esteja presente.

a) “Quando Ponciá Vicêncio viu o arco-íris no céu, sentiu um calafrio. Recordou o medo que tivera durante toda a sua infância. Diziam que menina que passasse por debaixo do arco-íris virava menino.” p. 13
b) “Ponciá Vicêncio apertou a trouxa contra o peito e olhou novamente para o fogão. A cobra estava calma, enrolada lá dentro. Ponciá saiu lentamente puxando a porta devagarzinho como se não quisesse acordar ninguém.” p. 58
c) “Escutou também, por diversas vezes, a história dolorosa, que ela já sabia, da morte da avó pelas mãos do avô. (…) Falavam também do ódio que o pai dela tinha por Vô Vicêncio ter matado a mãe dele. Ponciá sabia dessas histórias e de outras ainda, mas ouvia tudo como se fosse pela primeira vez.” p. 63
d) “Revisitando todos os sinais da casa, Luandi olhou à distância o outro cômodo onde o pai e a mãe dormiam. Nunca havia cruzado a soleira daquela porta. Se precisasse de um dos dois, chamava cá fora. Quando o pai morreu, a irmã passou a dormir lá dentro com a mãe e aquela parte da casa continuou desconhecida para ele.” p. 89

Resposta: B

Justificativa: A alternativa B é a única que narra um fato presente da história e não uma lembrança da vida pessoal de Ponciá Vicêncio.

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