Há textos líricos que apresentam forma fixa seguindo determinadas regras sobre o número de versos e de estrofes, além do esquema de rimas. Alguns exemplos são os haikais, as baladas, as trovas e os sonetos. A seguir, conheça a estrutura e as características do soneto.
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O que é soneto
Soneto deriva do termo italiano sonetto, que significa “pequeno som”, e corresponde a um estilo de poema que surgiu no Renascimento fortemente influenciado pelo estilo clássico dos gregos e romanos. Esse gênero lírico tematizou temas de grande interesse para a Europa na época, como o desenvolvimento humano e as emoções. Os poetas também eram contratados pelas cortes para escrever sobre as famílias reais e criar textos sobre as nações.
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Estrutura do soneto
O soneto tradicional é composto por 14 versos com a mesma medida, ou seja, o mesmo número de sílabas poéticas. Os versos são distribuídos em 4 estrofes, sendo 2 quartetos e 2 tercetos. Outro ponto estrutural do soneto é que as sílabas tônicas e as rimas de cada verso podem respeitar uma determinada ordem, de modo a produzir um ritmo e uma sonoridade que constroem os sentidos do poema.
Características do soneto
Confira abaixo alguns detalhes sobre as características do soneto e compreenda como forma e conteúdo dialogam construindo juntos os significados do texto:
Estrofes
Os sonetos são formados por 4 estrofes, sendo as 2 primeiras quartetos, compostas por 4 versos, e as 2 últimas tercetos, compostas por 3 versos.
Organização das ideias
O soneto clássico inicia com uma espécie de introdução que apresenta o tema. Depois, há o desenvolvimento das ideias e, ao final do poema, a finalização com uma conclusão que aparece no último terceto. Assim, o último verso é considerado o fecho de ouro do soneto por encerrar com uma reflexão sobre o tema.
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Métrica
Cada verso do soneto apresenta o mesmo número de sílabas poéticas, geralmente 10 sílabas (verso decassílabo) ou 12 sílabas (verso alexandrino). O verso decassílabo é classificado como heroico quando suas sílabas tônicas estão nas posições 6 e 10 ou como sáfico quando suas sílabas tônicas estão nas posições 4, 8 e 10.
Rimas
Tratando-se de quartetos, podemos encontrar estas principais formas de posicionamento das rimas: entrelaçadas ou opostas ABBA, alternadas ABAB e emparelhadas AABB. Já para os tercetos, as rimas mais comuns são: CDE CDE ou CDC DCD.
Essas são algumas características que estruturam o soneto enquanto um gênero lírico de forma fixa. Entretanto, muitos escritores desenvolveram outras regras para suas composições, como também criaram sonetos para contestar essa rigidez da forma e do conteúdo.
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Exemplos de soneto
Abaixo apresentamos alguns sonetos para que você identifique neles as características do gênero apresentadas até aqui.
Amor é fogo que arde sem se ver (Luiz de Camões)
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
O poema é construído em torno de antíteses e o último terceto apresenta a conclusão do soneto sob a forma de uma interrogação. Tal estrutura demonstra a perplexidade do eu-lírico ao tentar compreender o amor, sentimento contraditório e de difícil definição.
Versos Íntimos (Augusto dos Anjos)
Vês? Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera
Somente a ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente a inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Contemporâneo ao Parnasianismo e ao Simbolismo, o escritor brasileiro Augusto dos Anjos trouxe outros temas para o soneto assim como fizeram diversos poetas pelo mundo ao longo dos anos.
Soneto da Fidelidade (Vinicius de Moraes)
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes apresenta o tema já no primeiro quarteto, depois desenvolve o assunto a partir das reflexões do eu-lírico que, no último terceto, expõe sua conclusão sobre o amor, assunto clássico dos sonetos.
Conforme vimos até aqui, o soneto é um gênero bastante complexo, pois sintetiza ideias em uma estrutura bem delimitada em termos de forma e de conteúdo. Além dos autores já citados, outros sonetistas famosos em língua portuguesa são os brasileiros Gregório de Matos, Cláudio Manuel da Costa e Olavo Bilac e os portugueses Bocage, Antero de Quental e Florbela Espanca.
Vídeos sobre a poética dos sonetos
Para te ajudar a fixar tudo o que foi explicado até aqui, selecionamos vídeos que falam sobre os sonetos e realizam análises de alguns poemas. Confira!
Qual a diferença entre poesia, poema e soneto?
Nesse vídeo, aprenda de modo simples e objetivo o que é a poesia, o poema e o soneto. Uma ótima forma de tirar dúvidas rápidas sobre os 3 temas.
O soneto tradicional
Compreenda as origens do soneto tradicional e aspectos como a nitidez e a beleza que esse tipo de poema apresenta. Além de aprender a decifrar o que o poeta estava sentindo e quis passar para o leitor em seu texto.
Os sonetos de Camões
Nessa videoaula, o professor André explica de uma forma muito didática sobre os sonetos do poeta português Luiz de Camões. Acompanhe!
Agora que você já conhece toda a estrutura, características e linguagem dos sonetos, leia sobre o Haikai e continue estudando os textos de forma fixa.
Referências
Livro de Sonetos (1957) – Vinicius de Moraes
Sonetos (1595) – Luiz de Camões
Por Érica Paiva Rosa
Professora, redatora e produtora cultural. Mestre em Letras pela UEM.
Paiva Rosa, Érica. Soneto. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/soneto. Acesso em: 21 de December de 2024.
1. [FACISA]
Leia o texto abaixo:
Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
A respeito do poema Soneto de Fidelidade, assinale a alternativa correta:
a) enfatiza, através de advérbios, o tempo (sempre), o modo (com tal zelo) e a intensidade (tanto) do amor, legitimado como eterno, portanto, sem fim.
b) exalta o amor absoluto, em sua forma mais pura, a que flui do pensamento, com marcado platonismo e objetividade.
c) é composto de 4 estrofes, sendo dois quartetos e dois tercetos, com marcado subjetivismo, centrado no “eu”, com linguagem em que antítese, paradoxo e metáfora se fazem presentes.
d) é composto de 14 versos distribuídos em 4 estrofes, de métrica irregular, mas com rimas em que predominam os sons nasais.
e) exalta, como um todo, o amor ingênuo, total, de adolescentes que acreditam em sua infinitude, como uma chama que não se apaga.
Resposta: C
Justificativa: O texto é um soneto com marcas de subjetivismo, pois o eu-lírico fala de seus sentimentos. O texto também apresenta antítese ao trabalhar com sentimentos contrários – “E rir meu riso e derramar meu pranto” -, além de metáfora para se referir ao amor como uma chama – “Eu possa me dizer do amor (que tive):/ Que não seja imortal, posto que é chama” – e paradoxo ao utilizar a palavra “infinito” para descrever algo que não dura para sempre – “Mas que seja infinito enquanto dure”.
2. [UFRS]
Leia o texto abaixo:
VERSOS ÍNTIMOS
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Considere as seguintes afirmações em relação ao poema de Augusto dos Anjos
I – O poema comenta sarcasticamente o fim da vida e contradiz os ideais de solidariedade humana.
II – Os versos demonstram que os animais são os principais responsáveis pela violência sobre a terra.
III – O poeta serviu-se da imagem do fósforo para transmitir ao eleito uma mensagem de luz e de esperança.
Quais estão corretas?
a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas I e II
d) Apenas I e III
e) I, II e III
Resposta: A
Justificativa: Apenas a alternativa I apresenta informações que correspondem ao poema, pois o soneto não expressa que os animais são os responsáveis pela violência sobre a terra nem transmite uma mensagem positiva através da imagem do fósforo.