O Realismo foi um movimento que contemplou todas as artes, desde a Arquitetura até a Literatura, na segunda metade do século XIX, entre os anos 1850 e 1900. Originado na França e fruto do grande avanço industrial e científico da época, o movimento se estendeu por toda a Europa e ficou marcado pela ascensão da pequena burguesia. Além disso, o pensamento filosófico que vigorava era o positivismo. Neste texto, você poderá saber mais sobre este movimento estético e seus principais artistas.
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Contexto histórico
O movimento estético realista principiou na França após a publicação, em 1857, do romance Madame Bovary de Gustave Flaubert, considerada obra inaugural dessa estética. Em seguida, difundiu-se por toda a Europa contemplando todas as formas de Arte: a literatura, a pintura, a escultura, a arquitetura, a música e o teatro. O período em que a escola está inserida, segunda metade do século XIX, ficou assinalado pela Segunda Revolução Industrial e pela ascensão da pequena burguesia que, diferente da alta burguesia, não estava mais interessada em uma arte vazia de sentido e se desprendia, aos poucos, dos valores românticos.
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Na mesma época, diferentes teorias filosóficas e sociais eram difundidas, entre elas: o positivismo, defendido por Auguste Comte que propunha um olhar cientificista para o mundo e defendia a compreensão da realidade por meio do método empírico e da análise; além disso, havia a teoria evolucionista defendida por Charles Darwin na obra A origem das espécies (1859) em que expunha a existência de um processo de seleção natural. Os seres atravessavam tais circunstâncias que determinavam quais espécies sobreviveriam e quais não. Disso, desenvolveu-se também o darwinismo social que pregava a hierarquização social, reforçando a eugenia. Todos esses pensamentos atravessaram o movimento literário e artístico que cada vez mais se engajava em problemas e questões sociais.
Realismo no Brasil
No Brasil, à época do Segundo Império, foi em 1881 que o movimento se estabeleceu e se convencionou, embora as várias faces do Realismo já pudessem despontar em uma ou outra obra. A literatura e as artes outrora relacionavam-se à valorização da natureza da pátria, à idealização das relações e ao sentimentalismo poético que vigoravam durante o Romantismo. Agora, abordavam temas mais sociais, destacando-se as críticas à desigualdade social e à igreja católica, além de temáticas como o abolicionismo, a pobreza e o pensamento burguês sendo pano de fundo para as produções. Os grandes nomes desse período são Aluísio Azevedo com a obra O cortiço (1890), Raul Pompeia com O ateneu (1888) e Machado de Assis com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).
Realismo em outras artes
Além da Literatura, o Realismo também se manifestou em diversas artes. Na pintura, retratavam-se cenários do cotidiano e principalmente a população mais pobre. Os pintores mais famosos foram Gustave Coubert (1819-1877), Jean-François Millet (1814-1875) e Édouard Manet (1832-1883). Na escultura, houve a busca em retratar as pessoas em situações corriqueiras e sem idealizações, destacando-se François-Auguste-René Rodin (1840-1917) nesse cenário. Já no teatro, o herói romântico foi substituído pela figura do homem comum e pelos problemas sociais inerentes a ele. Os dramaturgos do período são Maksim Gorki, pseudônimo de Aleksei Maksimovich Peshkov (1868-1936) e Henrik Ibsen (1828-1906).
Características do Realismo
- Rompimento com os ideais românticos;
- Objetividade em detrimento da subjetividade;
- Crítica à burguesia e à desigualdade social;
- Crítica às instituições religiosas;
- Representação fidedigna da realidade;
- Profundidade psicológica;
- Linguagem detalhada.
Ao contrário do que se pode acreditar, o Realismo e o Romantismo coexistiram por um tempo. Afinal, nenhuma ruptura na literatura ou nas artes é feita de maneira abrupta. Neste sentido, já havia nuances realistas em romances românticos e alguns escritos da nova estética ainda mantinham poucos aspectos do movimento anterior. Entretanto, em linhas gerais, o Realismo nega os princípios Românticos, como o sentimentalismo e a idealização e preocupava-se em buscar uma arte mais comprometida com aspectos da realidade.
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A partir desse novo movimento, o Naturalismo emergiu como uma amplificação do Realismo, não se trata de movimentos distintos, uma vez que muitos autores realistas eram também naturalistas. O Naturalismo, assim como o Realismo, já permeava obras anteriores, antes do próprio Realismo.
Autores e obras do Realismo
Agora que você já conheceu as características e o contexto histórico do Realismo, é importante saber um pouco mais sobre os principais autores desta estética.
Stendhal (1783-1842)
O escritor Marie-Henri Beyle nasceu em Grenoble na França, mas mudou-se para Paris em 1799. Trabalhou no Ministério da Guerra e ocupou um cargo no exército de Napoleão. Sob o pseudônimo de Standhal, escreveu sua primeira grande obra, O vermelho e o negro (1830), que narra a história de Julien Sorel, um plebeu que deseja mudar de vida, O livro é considerado uma das primeiras obras realistas, embora carregue algumas características da estética anterior, o Romantismo. O autor escreveu também A cartuxa de Parma (1841), considerada uma representação fiel da realidade vivida na época.
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Honoré de Balzac (1799-1850)
O autor nasceu em Tours na França. Em 1814, mudou-se para Paris e se graduou em Direito. Atuou como editor, tipógrafo e jornalista; em 1850, casou-se com a condessa polonesa, Evelina Hanska, pouco tempo antes de morrer. Dentre os seus escritos estão: Eugénia Grandet (1833) cuja história tem como pano de fundo as frivolidades da burguesia e sua grande obra, sob o título de A comédia humana, em que o escritor reuniu todo o conjunto de seu trabalho (romances, contos e textos curtos) tratando da burguesia francesa.
Gustave Flaubert (1821-1880)
Nascido em Rouen na França, Flaubert mudou-se para Paris aos dezoito anos a fim de estudar Direito. Entretanto, devido a uma doença nervosa, teve os estudos interrompidos. Por conta disso, passou a viver na casa da família em Croisset. Em 1857, publicou a polêmica obra Madame Bovary.
O livro conta a história de Emma Bovary, moça do interior tomada por paixões idealizadas a partir de leituras românticas, que se casa com o médico resignado Charles Bovary. Emma sonhava viver os impulsos de um grande amor aos moldes de seu imaginário romantizado sob requintes burgueses. O enfrentamento com a realidade leva ao desprezo de suas circunstâncias e à depressão. Por isso, para escapar à realidade e compensar às frustações, se envolve em relacionamentos extraconjugais. A obra rendeu ao autor má fama e fez com que fosse processado por atentar contra a moral e ser julgada como uma obra indecente.
Antero de Quental (1842-1891)
Antero de Quental nasceu em Ponta Delgada, Açores, em Portugal. Aos 16 anos, mudou-se para Coimbra a fim de estudar Direito. Dedicou-se também à política, à poesia e à filosofia. Fundou em Coimbra a Sociedade do Raio que pretendia inovar a literatura. Em 1861, participou da Questão Coimbrã que foi o marco inicial do Realismo português, junto a Antônio Feliciano de Castilho, Teófilo Braga e Vieira de Castro. Entre as suas obras estão Os sonetos de Antero (1861) e Odes modernas (1865) marcando a transição entre o Romantismo e Realismo em Portugal.
Eça de Queiroz (1845-1900)
José Maria de Eça de Queiroz nasceu em Póvoa de Varzim. Em 1861, iniciou os estudos na área de Direito na Universidade de Coimbra. Atuou como advogado e jornalista, além de escritor de folhetim para a Gazeta de Portugal. Em 1872, foi nomeado cônsul de Havana e se dedicou à diplomacia. As suas principais são Os Maias (1888), que narra a história de três gerações de uma família e O Crime do padre Amaro (1878), livro em que desfere críticas ao clero. Eça de Queiroz é considerado um dos principais autores do Realismo português.
Aluísio Azevedo (1857-1913)
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão, filho de pais separados, o que era um escândalo para época. O autor viveu a maior parte de sua vida na cidade de seu nascimento. Sempre se interessou pelo desenho e pela pintura. Em 1876, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou os estudos na Academia de Belas Artes e fazia caricaturas para os jornais. No ano de 1878, volta à cidade natal por conta da morte do pai e passa a atuar como escritor. Dentre as ocupações do escritor, estão o jornalismo e a diplomacia. Suas grandes obras são O mulato (1881) e O cortiço (1890), marcadas pela linguagem crua e direta, além de temas que eram considerados inapropriados. O autor está associado ao Naturalismo e ao Realismo.
Raul Pompeia (1863-1895)
O autor Raul de Ávila nasceu em Jacuecanga, no Rio de Janeiro. Em 1881, ingressou no curso de Direito em São Paulo. Escrevia para os jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro, além de publicar alguns poemas em prosa e folhetins para a Gazeta de Notícias. Reprovado em Direto, formou-se em Recife, mas não seguiu carreira, atendo-se apenas a profissão de jornalista no Rio de Janeiro, em 1885. No ano de 1888, publicou O Ateneu, primeiro em formato de folhetim e, em seguida, na forma de livro. A obra trata da vida de um garoto em um internato, o livro lhe rendeu grande fama. O escritor é patrono da cadeira n°33 da Academia Brasileira de Letras.
Machado de Assis (1839-1908)
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, filho do pintor Francisco José de Assis e da açoriana Maria Leopoldina Machado de Assis. De origem pobre, o autor perdeu a mãe e a irmã cedo. Não conseguiu cursar a escola regular da época e se tornou autodidata com a contribuição de alguns padrinhos como Padre Silveira Sarmento, mentor de latim e amigo. Aos quinze anos, publicou seu primeiro texto literário; em 1856, começou a trabalhar como aprendiz de tipógrafo e, dois anos depois, tornou-se revisor no Correio Mercantil. Machado de Assis atuou como redator do Diário do Rio de Janeiro. No ano de 1872, foi nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, o que alavancou sua carreira como burocrata. Dentre as suas principais obras estão Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) – que narra a história de um defunto autor – e Dom Casmurro (1899). O autor considerado um dos maiores escritores da Literatura Brasileira.
Vamos aprender mais sobre o Realismo?
O Realismo foi um movimento estético amplo e que abrangeu várias artes. Agora que você leu um pouco sobre esse movimento, o que acha de assistir a alguns vídeos para sedimentar ainda mais seu conhecimento?
Um pouco de história da Arte: Realismo
Para compreender o Realismo, é importante compreender suas características gerais e isso perpassa as artes plásticas. Neste vídeo, você poderá conhecer mais sobre essa estética e quais são seus principais traços.
O Realismo na Literatura
O Realismo na Literatura foi muito prolífico. Foram diversos autores e muitas obras. Assista a este vídeo para conhecer um panorama geral da arte realista na literatura.
Realismo no Brasil
O marco oficial do Realismo no Brasil é o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, publicado em 1881. Neste vídeo, você conhecerá mais sobre esta escola literária importantíssima para a literatura nacional.
Portanto, o Realismo alcançou grandes proporções, produzindo obras que representassem a realidade, sem os floreios e idealizações do Romantismo, tanto nas pinturas e esculturas quanto na Literatura. Como já dito, a partir deste movimento, o Naturalismo emergiu como uma amplificação do Realismo, pois muitos autores realistas eram também naturalistas. Estude conosco e aprofunde seus conhecimentos!
Referências
Curso de literatura brasileira – Sergius Gonzaga;
História concisa da literatura brasileira – Alfredo Bosi;
Literatura – Fábio D’Ávila; Danton Pedro dos Santos.
Por Leonardo Ferrari
Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá. É professor assistente em colégio de ensino médio. Nas horas livres, dedica-se à família, aos amigos, à sétima arte e à leitura.
Ferrari, Leonardo. Realismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/realismo. Acesso em: 24 de November de 2024.
1. [FMTM]
Assinale a alternativa em que se encontram características da prosa do Realismo.
a) Objetivismo; subordinação dos sentimentos a interesses sociais; críticas às instituições decadentes da sociedade burguesa.
b) Idealização do herói; amor visto como redenção; oposição aos valores sociais.
c) Casamento visto como arranjo de conveniência; descrição objetiva; idealização da mulher.
d) Linguagem metafórica; protagonista tratado como anti-herói; sentimentalismo.
e) Espírito de aventura; narrativa lenta; impasse amoroso solucionado pelo final feliz.
Resposta: a.
Justificativa: Uma das principais características do Realismo, e inclusive o que o diferencia do Romantismo, é o objetivismo, as questões sociais e a crítica à burguesia.
2. [PUC]
Sobre o Realismo, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O Realismo surgiu na Europa, como reação ao Naturalismo.
b) O Realismo e o Naturalismo têm as mesmas bases, embora sejam movimentos diferentes.
c) O Realismo surgiu como consequência do cientificismo do século XIX.
d) Gustave Flaubert foi um dos precursores do Realismo. Escreveu Madame Bovary.
e) Emile Zola escreveu romances de tese e influenciou escritores brasileiros.
Resposta: a.
Justificativa: O Naturalismo é um dos movimentos que surgiram a partir do Realismo e que possui muitas características em comum; logo, o Realismo não seria uma crítica ao Naturalismo.