Não é possível definir facilmente termos como ateísmo ou religião. De modo geral, o ateísmo é uma doutrina que não sustenta a existência de um Deus ou deuses. Contudo, pessoas ateias possuem opiniões diversas sobre os mesmos temas e, além disso, é possível até que um indivíduo ateu siga uma religião. Entenda mais do assunto e a importância da diversidade:
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Os fundamentos do ateísmo
O ateísmo pode ser considerado como uma negação do teísmo, ou seja, a crença de que existe um Deus único, bom e perfeito – uma ideia bastante associada com o cristianismo. De fato, os principais embates das comunidades ateístas é com grupos cristãos, e mais raramente com outras religiões.
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Contudo, de modo ainda mais geral, o ateísmo é também simplesmente uma ausência de crença na existência de qualquer ser divino que oriente a vida das pessoas. É nesse sentido que indivíduos ateus podem se aproximar de religiões que não possuem um Deus ou deuses em sua doutrina (o budismo, por exemplo).
No mundo ocidental contemporâneo, há pelo menos duas tradições de ateísmo: o científico e o humanista. O primeiro caso trata-se de um ateísmo que defende o desenvolvimento da ciência e a superação da ignorância humana – não sendo possível, assim, sustentar a existência de Deus.
O segundo, humanista, possui proposições mais fortes, no sentido de que não basta superar a ignorância. Ou seja, é necessário colocar a humanidade em seu lugar, como fazedores de sua própria história, ao invés de projetar essa função em Deus. Logo, não deveria um ser divino orientar as decisões humanas.
Tipos de ateísmo
Com a breve explanação acima, já é possível notar como o “ateísmo” possui diversas acepções a depender do contexto. O filósofo Paul Cliteur categorizou três tipos dessa doutrina para tentar abarcar essa variedade de sentidos. Veja:
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- Ateísmo privado: esse tipo abarca toda doutrina ou modo de vida ateísta que apenas não sustenta a existência de Deus ou deuses;
- Não-teísmo: é um modo mais engajado do ateísmo que busca convencer as outras pessoas a também se tornarem ateias. Assim, surgem formas de “converter” indivíduos ou “pregar” para um público;
- Ateísmo público: uma vertente mais radical que se pauta em eliminar qualquer religião teísta em um país. É importante notar que isso é diferente da noção de um Estado laico, que não possui religião, mas não visa erradicá-las.
Logo, o ateísmo não é apenas uma questão de definição – para muitas pessoas, é também um estilo de vida e uma ética. Portanto, assim como qualquer outra manifestação social, essa doutrina está conectada como a sua sociedade e seu tempo.
Ateísmo e agnosticismo
O agnosticismo está pautado na ideia de que não é possível, a partir da mente humana e das suas condições de conhecimento, chegar à conclusão sobre a existência ou não de Deus. Em suma, é uma visão de mundo que pressupõe a incerteza.
Consequentemente, sua diferença com o ateísmo é que ela trata sobre a “certeza”, ou seja, se é possível afirmar com confiança a existência de um ser divino. Em contrapartida, o ateísmo lida com a “crença” – simplesmente se o indivíduo acredita ou não em um Deus ou deuses.
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Portanto, o ateísmo de uma pessoa pode variar: de um lado, afirmando veementemente que Deus não existe; e, de outro lado, apenas concluindo que, se não é possível provar a existência divina, sua vida não será pautada nessa crença.
Ateísmo e teísmo
O teísmo é a crença na existência de um Deus transcendente e soberano, organizando a vida humana e o universo. Em algumas vertentes, o teísmo também abarca as crenças que envolvem vários deuses.
Nesse sentido, o ateísmo (com o sufixo “a-“, de negação) é a doutrina que suspende a crença em qualquer entidade divina. Assim, ele é o oposto do teísmo como definição, negando as ideias de diversas religiões – mas não todas.
Ateísmo no Brasil
Em 1980, o número de pessoas que se consideravam “sem religião” chegou ao de 1% da população brasileira – uma proporção que nunca havia sido alcançada. Em 2010, essa quantia aumentou para 8% no país.
No entanto, não ter uma religião não significa que as pessoas sejam ateias – frequentemente, elas acreditam em alguma divindade, mas simplesmente pararam de ir a alguma igreja, instituição, e a desempenhar atividades religiosas.
Portanto, sabe-se que as pessoas que se identificam com o ateísmo no Brasil são poucas. Por exemplo, embora as universidades sejam consideradas locais com uma grande presença de ateus, esse grupo é minoritário – mesmo sendo cientistas, em geral os indivíduos creem em entidades divinas, sem haver necessariamente uma contradição.
Esse fato demonstra como as crenças religiosas não são uma simples questão de escolha – na verdade, um indivíduo se identificar ou não com uma religião ou com o ateísmo tem a ver com sua trajetória pessoal e as culturas nas quais ele se desenvolveu.
Desse modo, a existência de um grande percentual de pessoas que declaram não possuir uma religião é também sintomático no Brasil. Afinal, há um grande histórico no país de práticas como o catolicismo popular, que não tem um compromisso direto com a oficialidade da Igreja.
Argumentos
Com a discussão acima, é possível perceber que se identificar com o ateísmo pode não ser uma simples questão de escolha. Assim, elementos emocionais e que fazem sentido no contexto pessoal e cultural do indivíduo estão envolvidos.
Portanto, debater sobre os argumentos que sustentam ou que refutam o ateísmo não dá conta de toda a complexidade dessa doutrina e desse modo de vida. Contudo, existem alguns pontos que estão frequentemente presentes em discussões do assunto.
No lado a favor do ateísmo, estão presentes os argumentos: a impossibilidade de provar a existência de Deus; as religiões fanatizam e mantêm as pessoas na ignorância; é possível dar sentido à vida sem uma entidade divina; não é necessário possuir um Deus punidor para ter condutas morais; entre outros.
No lado contrário, refutador do ateísmo: não há como afirmar que Deus não existe; sem uma entidade divina, seria impossível o universo existir; a necessidade de um ser sobrenatural para regrar as ações humanas; e outros argumentos. Nesse contexto, há ainda grandes debates na filosofia sobre o tema.
Vídeos sobre ideias ateístas
Para ampliar seu conhecimento sobre o ateísmo, é importante ouvir outras pessoas discutindo o assunto e apresentando suas próprias experiências de vida. Assim, confira abaixo uma seleção de vídeos que debatem o tema:
Sobre o ateísmo
Existem muitas definições para o ateísmo. No mundo contemporâneo, essa doutrina está bastante ligada com a ciência ou a intelectualidade.
Algumas definições
Para revisar algumas definições e outros termos que figuram nesse debate – como agnosticismo, teísmo, deísmo – confira o vídeo acima.
Relações possíveis
Os modos de vida humanos não são coisas fechadas em si; ao invés disso, se relacionam e criam formas criativas e possíveis de existência. Veja como o ateísmo pode se conectar com a espiritualidade.
Para além da escolha individual
O ateísmo é uma simples escolha do indivíduo? Quais fatores estão ligados ao que acreditamos ou não? Entenda mais.
Sociologia e as religiões
Um dos temas que a sociologia clássica estuda desde o início é o da religião. Saiba mais rapidamente sobre como autores como Durkheim, Weber e Marx trataram do assunto.
Por fim, o ateísmo faz parte de um importante debate contemporâneo sobre diversidade religiosa e de crenças, e o papel do Estado laico. Para ampliar o assunto, estude mais sobre religião e etnocentrismo.
Referências
Ateísmo no Brasil: da invisibilidade à crença fundamentalista – Paula Monteiro; Eduardo Dullo;
Revisão do conceito de “ateísmo” na literatura contemporânea – Adilson Koslowski; Valmor Santos;
Um estranho entre nós – perspectivas teóricas para um estudo sociológico do ateísmo na sociedade brasileira – Fernando Mezadri.
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Ateísmo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/ateismo. Acesso em: 24 de November de 2024.
1. [PGC]
DENTRE OS ENUNCIADOS ABAIXO, ESTÃO CORRETOS:
I – O princípio da laicidade, além de impor ao Estado uma postura de distanciamento quanto à religião, impede que ele endosse concepções morais religiosas.
II – As religiões não guiarão o tratamento estatal dispensado a outros direitos fundamentais, tais como o direito à autodeterminação, o direito à saúde física e mental, o direito à privacidade, o direito à liberdade de expressão, o direito à liberdade de orientação sexual e o direito à liberdade no campo da reprodução.
III – O ateísmo, na sua negativa da existência de Deus, é também uma posição religiosa que não pode ser privilegiada pelo Estado.
IV – O princípio da laicidade impede, no espaço público, manifestações ostensivas das convicções religiosas de cada qual.
a) Todos estão corretos
b) I, II e III
c) I, III e IV
d) I e IV
Resposta: b
Justificativa: o princípio da laicidade não impede que existam manifestações religiosas em espaço público; ela impede apenas a adoção de uma pelo Estado.
2. [UNESP]
Leia o texto sobre a tragédia de Realengo.
É possível que a vida escolar de Wellington, o assassino de Realengo, tenha sido um suplício. Mas a simples vingança pelo bullying sofrido não basta para explicar seu ato. Eis um modelo um pouco mais plausível.
A matança, neste caso, é uma maneira de suprimir os objetos de desejo, cuja existência ameaça o ideal de pureza do jovem. Para transformar os fracassos amorosos em glória, o fanatismo religioso é o cúmplice perfeito. Você acha que seu desejo volta e insiste? Nada disso, é o demônio que continua trabalhando para sujar sua pureza.
Graças ao fanatismo, em vez de sofrer com a frustração de meus desejos, oponho-me a eles como se fossem tentações externas. As meninas me dão um certo frio na barriga? Nenhum problema, preciso apenas evitar sua sedução – quem sabe, silenciá-las.
Fanático (e sempre perigoso) é aquele que, para reprimir suas dúvidas e seus próprios desejos impuros, sai caçando os impuros e os infiéis mundo afora. Há uma lição na história de Realengo – e não é sobre prevenção psiquiátrica nem sobre segurança nas escolas. É uma lição sobre os riscos do aparente consolo que é oferecido pelo fanatismo moral ou religioso. Dito brutalmente, na carta sinistra de Wellington, eu leio isto: minha fé me autorizou a matar meninas (e a me matar) para evitar a frustrante infâmia de pensamentos e atos impuros.
(Contardo Calligaris. Folha de S.Paulo, 14.04.2011. Adaptado.)
De acordo com o autor,
a) para se evitar tragédias como a ocorrida em Realengo, é necessário investir em prevenção psiquiátrica e segurança pública.
b) o fato ocorrido em Realengo pode ser explicado pela desorientação espiritual de uma pessoa afastada da religião.
c) a ação praticada pelo atirador pode ser adequadamente explicada como possessão demoníaca.
d) o caso de Realengo ilustra o papel do fanatismo religioso no mascaramento de desejos reprimidos.
e) ideais de pureza moral são altamente positivos no processo educativo.
Resposta: d
Justificativa: para o autor do texto, o fanatismo religioso é o fator que promove e justifica, na cabeça dos fanáticos, pôr em prática determinadas violências.