Cultura é a forma pela qual seres humanos organizam sua experiência por meio de símbolos. Apesar dessa definição inicial, as pessoas utilizam esse termo em uma variedade de contextos. Afinal, essa palavra se espalhou mundialmente, fazendo com que as pessoas deem diferentes significados para ela. Entenda mais sobre esse importante conceito:
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Índice do conteúdo:
Conceito e significado de cultura
Apesar de haver diferentes definições do termo, o caráter simbólico da cultura está quase sempre presente: ou seja, os diversos aspectos da vida humana – suas ações, conhecimentos, crenças ou costumes – estão sempre ligados por símbolos.
Isso significa dizer que existem elementos materiais (por exemplo, uma pintura, uma vestimenta, o sol) e elementos imateriais (a memória, o parentesco, a religião) que são interligados e organizam nossa experiência no mundo.
Em outras palavras, não existem ações humanas em um vácuo cultural. O que vestimos, pensamos, falamos ou comemos está sempre conectado com algo maior que nós mesmos: a cultura.
Origem do termo
A princípio, essa palavra vem do alemão, Kultur. Esse termo foi utilizado por Johann Gottfried von Herder, na Alemanha do século XVIII. Nessa época, França e Inglaterra eram nações dominantes e, portanto, a Alemanha era considerada “atrasada”.
Assim, a elite alemã adotava comportamentos afrancesados, como um sinal de refinamento. Entretanto, Herder criticou essa postura: os alemães deveriam valorizar a sua própria cultura, que era um modo de ser único de seu povo.
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Portanto, a cultura surge em partes como uma forma de contestar as influências de uma nação externa e dominante. Esse fenômeno ainda pode ser observado nos dias atuais. Assim, a cultura aparece também como um posicionamento anti-imperialista.
Cultura na antropologia
A cultura é um dos conceitos mais importantes para a antropologia. Inicialmente, esse termo era tratado como um catálogo de espécie: cada sociedade possuía seu modo de vida distinto, uma língua, uma religião, uma arte.
Contudo, esse sentido do conceito foi se mostrando rígido demais para compreender a real diversidade humana. Conforme as pesquisas antropológicas avançaram, foi confirmado como não é possível verificar uma cultura homogênea e única em uma sociedade.
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Desse modo, o caráter simbólico da cultura se mostrou mais relevante para ser analisado. Autores como Claude Lévi-Strauss, Clifford Geertz, Marshall Sahlins e Manuela Carneiro da Cunha mostram as diferentes formas de pensar essa questão.
Cultura na sociologia
Max Weber, um dos principais autores da sociologia clássica, é uma referência para os estudos de sociologia da cultura. Conforme o autor, seres humanos são animais presos às teias de significado que eles próprios teceram.
Sendo assim, os estudiosos devem analisar e interpretar os sentidos dos comportamentos humanos. Nessa direção, muitos estudos sociológicos estudam fenômenos como o do consumo, a juventude ou as chamadas subculturas.
Cultura na filosofia
As reflexões filosóficas que partem dos próprios filósofos são mais raras. Em geral, os autores parecem se preocupar com questões referentes aos valores ou aspectos universais a todas as culturas humanas.
Entretanto, a própria antropologia se preocupa com problemas filosóficos. Afinal, um de seus objetivos é de demonstrar a existência de uma filosofia ameríndia, uma filosofia zande, e assim por diante. Ou seja, um dos trabalhos antropológicos é o de demonstrar a coerência e a lógica do pensamento de povos considerados “não-civilizados”.
“Cultura” como identidade
Frequentemente, a “cultura” é sinônimo de identidade. Isso ocorre em casos como o da “Kultur” de Herder, ou seja, de afirmação do modo de vida de seu povo em contraposição ao que é considerado dominante.
Logo, nesse sentido a “cultura” é um motivo de orgulho e de autoestima para o grupo. É o caso, por exemplo, da cultura surda, da cultura negra ou das culturas indígenas. Todas elas visam ir na contramão de atitudes discriminatórias que visam apagar as diferenças.
“Cultura” como discriminação
Ao contrário, o termo também pode servir como uma forma de discriminação. Frequentemente, essa palavra é sinônimo de civilização ou de refinamento – por exemplo, quando se diz que um indivíduo “tem cultura” ou é “culto”.
Nessa perspectiva, tudo o que não é erudito ou “civilizado” não é considerado cultura e é desprezado. No entanto, trata-se de uma visão inadequada, já que tudo o que envolve a humanidade tem relação com expressões culturais.
Características
- Simbólica: é a principal distinção do fenômeno cultural, pois diz respeito à capacidade humana de representar, substituir ou conectar elementos e experiências;
- Plural: não existe uma única, mas diversas expressões culturais em toda a humanidade, não sendo nenhuma delas melhores ou piores em comparação;
- Transmitida e compartilhada: as práticas culturais são transmitidas por muitas gerações, podendo perdurar até por milênios;
- Não é determinada pela espécie: a cultura não pode ser explicada apenas por fatores biológicos ligados à espécie humana. Ao contrário, ela possui histórias próprias.
Tipos e exemplos de cultura
A seguir, foram listados alguns exemplos de “cultura” bastante comuns. No entanto, é necessário lembrar que algumas dessas conceituações são inadequadas porque expressam uma discriminação ou juízo de valor sobre elas. Entenda mais:
Cultura erudita
Quando designamos uma expressão cultural como erudita, frequentemente há um juízo de valor positivo sobre ela. Em outras palavras, considera-se essa “cultura” como refinada, culta, científica e sofisticada, enquanto outras são desmerecidas.
Exemplos: música erudita, teatro, pintura acadêmica e gastronomia gourmet.
Cultura popular
Em contrapartida, a cultura popular designa a arte produzida nas classes menos abastadas. Atualmente, sabe-se que essas produções culturais são tão complexas e ricas quanto as ditas eruditas, e essa própria dicotomia pode ser repensada.
Exemplos: Carnaval, samba, folclore, catolicismo popular e comidas típicas.
Cultura de massa
É comum ouvirmos falar a respeito de uma “cultura de massa”. Esse é um termo que começou com os autores da escola de Frankfurt para falar sobre como expressões artísticas se tornaram mercadoria na indústria cultural. Entretanto, essa denominação guarda alguns preconceitos sobre o que é comercializado e torna-se muito consumido.
Exemplos: futebol, pop, astrologia, Coca-Cola e McDonald’s.
Videoaulas para aprofundar seu estudo sobre culturas
A essa altura, já deve ser possível notar como esse assunto é amplo e envolve muitos sentidos. De fato, pessoas utilizam a noção de “cultura” de formas muito diversas e é preciso entender a importância de cada uso. A seguir, confira uma seleção de vídeos sobre o tema:
O que a antropologia diz sobre cultura
No vídeo acima você poderá revisar e entender melhor sobre o conceito antropológico de cultura. Além disso, a explanação de alguns antropólogos e sua definição do termo podem ajudar a aprofundar mais o assunto.
Etnocentrismo
Uma das questões centrais no debate sobre a cultura é o etnocentrismo. Afinal, conflitos étnicos e culturais sempre existiram ao longo da humanidade. Contudo, a partir de processos como a colonização, o etnocentrismo acabou tomando proporções maiores.
Cultura surda
Você já ouviu falar de cultura surda? De fato, uma das grandes dificuldades que a comunidade surda precisa enfrentar atualmente é o preconceito linguístico com a língua de sinais, muito ligada à sua expressão cultural. Saiba mais.
Cultura negra
Atualmente, o Brasil conta com legislações importantes que defendem o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Logo, essas são políticas levantadas pelo movimento negro para uma tentativa de transformar as relações étnico-raciais no país.
Cultura indígena?
Existe uma única cultura indígena? Seriam todos os índios iguais? A resposta é não, e é de grande importância entender como os povos indígenas têm se organizado na atualidade e defendem a sua “cultura” diante das tentativas de seu apagamento.
Portanto, o debate sobre as culturas pode envolver diversos temas – desde uma afirmação identitária, até como um modo de legitimar preconceitos. Em cada caso, é importante não confundir as definições e conduzir uma discussão saudável e com responsabilidade.
Referências
A interpretação das culturas – Clifford Geertz;
Cultura com aspas e outros ensaios – Manuela Carneiro da Cunha;
O “pessimismo sentimental” e a experiência etnográfica: por que a cultura não é um “objeto” em via de extinção (Parte I) – Marshall Sahlins.
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Cultura. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/cultura. Acesso em: 24 de November de 2024.
1. [ENEM]
Parecer CNE/CP nº 3/2004, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Procura-se oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de políticas de ações afirmativas. Propõe a divulgação e a produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial — descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos — para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos igualmente tenham seus direitos garantidos.
(BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Disponível em: www.semesp.org.br. Acesso em: 21 nov. 2013).
A orientação adotada por esse parecer fundamenta uma política pública e associa o princípio da inclusão social a
a) práticas de valorização identitária.
b) medidas de compensação econômica.
c) dispositivos de liberdade de expressão.
d) estratégias de qualificação profissional.
e) instrumentos de modernização jurídica.
Resposta: a
Justificativa: nesse caso, a cultura afro-brasileira é importante para a identidade e a auto-estima do grupo.
2. [ENEM]
No Brasil, a origem do funk e do hip-hop remonta aos anos 1970, quando da proliferação dos chamados “bailes black” nas periferias dos grandes centros urbanos. Embalados pela black music americana, milhares de jovens encontravam nos bailes de final de semana uma alternativa de lazer antes inexistente. Em cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, formavam-se equipes de som que promoviam bailes onde foi se disseminando um estilo que buscava a valorização da cultura negra, tanto na música como nas roupas e nos penteados. No Rio de Janeiro ficou conhecido como “Black Rio”. A indústria fonográfica descobriu o filão e, lançando discos de “equipe” com as músicas de sucesso nos bailes, difundia a moda pelo restante do país.
(DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: UFMG, 2005).
A presença da cultura hip-hop no Brasil caracteriza-se como uma forma de
a) lazer gerada pela diversidade de práticas artísticas nas periferias urbanas.
b) entretenimento inventada pela indústria fonográfica nacional.
c) subversão de sua proposta original já nos primeiros bailes.
d) afirmação de identidade dos jovens que a praticam.
e) reprodução da cultura musical norte-americana.
Resposta: d
Justificativa: esses movimentos não poderiam se resumir a uma “cultura de massa”, mas também como um importante processo identitário e de valorização do grupo.