Atualmente, é comum ouvirmos falar sobre “minorias”, principalmente em debates políticos e de interesse público. Nesses contextos, essa palavra pode tomar diversos sentidos, mas é importante lembrar que ela possui um significado sociológico importante. Ou seja, o termo “minoria” serve para estudar a condição social de alguns grupos.
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É interessante notar que “minoria” não quer dizer necessariamente sobre um grupo pequeno dentro de uma sociedade. Por exemplo, o caso da União Sul-Africana mostra que brancos, em minoria, conseguiram manter o apartheid e detinham o maior poder político sobre negros. Portanto, vale a pena estudar mais sobre o que significa esse conceito a partir da sociologia.
O que são minorias
Em um sentido sociológico, as minorias compreendem os grupos com pouco poder político e simbólico, além de vulneráveis dentro de uma sociedade. Assim, é importante pontuar que esse termo não se trata de minoria em termos de quantidade numérica.
Ao invés disso, as minorias se caracterizam pela posição em que se encontram na sociedade. São agrupamentos que se formam onde há desigualdade social. Confira abaixo algumas características que ajudam a reconhecer uma minoria:
Como reconhecer uma minoria
- Vulnerabilidade social: grupos minoritários são aqueles que estatisticamente são as maiores vítimas de violência, doenças psicológicas, com menor acesso à educação, cultura e/ou com baixa renda. Na sociologia, esses fatos não são estudados medindo desempenhos individuais. Ao invés disso, são explicados a partir da pergunta: “por que esse grupo?” Assim, as causas são sociais, e não individuais.
- Vulnerabilidade de direitos: os direitos presentes nas leis universais e liberais não funcionam adequadamente na prática. Por exemplo, a liberdade de ir e vir depende da segurança. Nesse caso, o grupo das mulheres possui uma desvantagem em relação aos homens devido às violências a que são mais vulneráveis socialmente.
- Política: uma vez que grupos minoritários são mais vulneráveis socialmente, ocorre frequentemente uma organização política entre essas pessoas. Elas não se tornam maioria ao se agruparem, mas, na condição de grupo, formam uma força possível de disputa política e reivindicação de direitos.
- Identidade: ao formar reivindicações políticas, o grupo pode formar costumes, linguagens, símbolos e até músicas próprias. De fato, a arte é um campo profícuo em que uma identidade de grupo se forma, e elas são importantes também politicamente e culturalmente.
- Contra a hegemonia: assim, minorias muitas vezes formam uma identidade contra a normalidade ou a hegemonia. Em resumo, a sua organização política visa transformar o que é considerado normal na sociedade. Isso quer dizer que a violência e a vulnerabilidade sofrida por esses grupos é frequentemente normalizada socialmente.
Portanto, o estudo sobre minorias é bastante amplo e complexo. Cada grupo pode apresentar especificidades ou ter relações intergrupais. Além disso, não quer dizer que uma pessoa possa fazer parte de apenas um grupo ou identidade: é comum que indivíduos se encontrem em mais de um deles.
As minorias e as lutas por direitos
A relação entre minorias e a formação de grupos que lutem por direitos é bastante próxima. Entretanto, é importante notar que nem todas as pessoas que fazem parte de uma minoria se engajam politicamente. Aliás, é comum que sujeitos que não compõem a classe minoritária também trabalhem em a favor dela.
Por exemplo, por meio do feminismo muitas mulheres lutam a favor de seu grupo, embora nem todas as mulheres participem dessa política. Assim, os direitos conquistados pelo feminismo beneficiam mesmo aquelas que não lutam ativamente pelo movimento.
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Portanto, a luta por direitos das minorias possui um forte caráter coletivo, mesmo que não expresse o desejo da maioria. Nesse contexto, é importante pontuar que a democracia não se define pela decisão da maioria, mas na possibilidade das diversas minorias participarem da vida política.
Exemplos de minorias
Veja, a seguir, alguns exemplos de minorias que se destacam na contemporaneidade:
- Indígenas: populações indígenas possuem uma história de luta bastante consolidada. Os ideais de civilização e a colonização são o pensamento dominante que vai contra seus direitos.
- Pessoas com deficiência: em um mundo construído de forma que muitas vezes desfavorece pessoas com deficiência, esse grupo reivindica seus direitos de inclusão.
- Mulheres: apesar de numericamente serem muitas, as mulheres constituem um grupo desfavorecido socialmente. Nesse contexto, é importante notar as diversas mulheres que existem, considerando que elas podem fazer parte de outros grupos minoritários ou não.
- Negros: no Brasil, apesar de ser a maioria numérica, a população negra é quem está nos indicadores sociais em grande desigualdade em relação ao grupo branco, que é majoritário em oportunidades.
- LGBT+: a sigla comporta lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e outras identidades. Esse é um grupo agrupado por apresentar formas de sexualidade e de gênero diferente da norma, e se tornarem vulneráveis socialmente em decorrência disso.
Além desses exemplos, podem haver outras minorias políticas. Como já mencionado, a existência de minorias e a garantia de que elas participem da política é uma premissa importante da democracia – já proposta entre clássicos federalistas norte-americanos.
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Minorias no Brasil
No Brasil, há a presença das minorias citadas acima. No caso dos indígenas uma das grandes reivindicações antigas é a demarcação de terras, gerando conflitos com setores ligados ao agronegócio. Uma pauta mais recente é a ligação de populações indígenas e tradicionais com o conservacionismo e as políticas ambientais.
Contudo, a existência de direitos para indígenas mostra a sua potencialidade política, mas não a tira da condição de minoria. Isso porque o grupo ainda precisa reivindicar pelos seus direitos, que sempre estão em disputa.
O mesmo ocorre com a população LGBT+: recentemente, a criminalização da homotransfobia foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal. No entanto, a nova configuração da lei ou mesmo a sua existência só revela o quanto ainda esse grupo permanece minoritário, em condições sociais desiguais em relação a outros.
Por fim, é importante notar que negros compõem mais de 50% da população brasileira. Mesmo assim, sua condição minoritária se mantém, e é necessário que mais estudos e políticas públicas sejam realizadas direcionadas a tais questões.
5 vídeos sobre a importância atual das minorias
Para ajudar a explanar o assunto, confira uma lista de 5 vídeos acerca da importância das minorias, especialmente no sentido político. Ainda, foram selecionados 2 exemplos de grupos que ainda possuem pouca representação no contexto atual:
Para introduzir o assunto
O vídeo acima é um material audiovisual bastante didático introduzindo o assunto das minorias. Alguns exemplos importantes são dados, como é o caso das travestis.
Democracia e minorias
O prof. Gilberto Rodrigues explica sobre a relação entre a existência de minorias na vida política e a democracia. Essa é uma relação importante de ser explanada, já que erroneamente alguns pensam que a democracia trata-se apenas de decisões da maioria.
Os movimentos sociais promovido por minorias
Confira neste vídeo uma explicação detalhada sobre alguns movimentos sociais que se propagaram a partir da organização das minorias. Assim, fica mais evidente o seu papel em uma democracia.
Minorias: candomblé
Para exemplificar uma minoria e como funciona a sua vulnerabilidade, confira o material acima sobre o grupo de candomblecistas. Como é notável, o racismo está presente no preconceito religioso sobre essas pessoas.
Minorias: transexuais
Outro exemplo de minoria é o grupo de transexuais, que é pouco conhecido mesmo dentro da representação LGBT+. Nesse vídeo, Renata Peron fala sobre transexuais e como a desigualdade se manifesta no mercado de trabalho.
Desse modo, é importante participar dos debates que envolvem as pautas de minorias. Discutir com responsabilidade esse tema é imprescindível para o desenvolvimento da vida política e da democracia.
Referências
Grupos minoritários, grupos vulneráveis e o problema da (in)tolerância: uma relação linguístico-discursiva e ideológica entre o desrespeito e a manifestação do ódio no contexto brasileiro – Cláudio Márcio do Carmo;
Minorias e seu estudo no Brasil – L. G. Mendes Chaves;
Ser ou não ser minoria: um estudo sobre a categoria minoria e seu lugar de reconhecimento pelo Poder Judiciário brasileiro – Larissa Caetano Mizutani.
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Minorias. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/minorias. Acesso em: 21 de November de 2024.
1. [ENEM]
Maria da Penha
Você não vai ter sossego na vida, seu moço
Se me der um tapa
Da dona “Maria da Penha”
Você não escapa
O bicho pegou, não tem mais a banca
De dar cesta básica, amor
Vacilou, tá na tranca
Respeito, afinal, é bom e eu gosto
[…]
Não vem que eu não sou
Mulher de ficar escutando esculacho
Aqui o buraco é mais embaixo
A nossa paixão já foi tarde
[…]
Se quer um conselho, não venha
Com essa arrogância ferrenha
Vai dar com a cara
Bem na mão da “Maria da Penha”
ALCIONE. De tudo o que eu gosto. Rio de Janeiro: Indie; Warner, 2007.
A letra da canção faz referência a uma iniciativa destinada a combater um tipo de desrespeito e exclusão social associado, principalmente, à(s)
a) mudanças decorrentes da entrada da mulher no mercado de trabalho.
b) formas de ameaça doméstica que se restringem à violência física.
c) relações de gênero socialmente construídas ao longo da história.
d) violência doméstica contra a mulher relacionada à pobreza.
e) ingestão excessiva de álcool pelos homens.
Resposta: c
Justificativa: a conquista dos direitos relacionados à lei Maria da Penha dizem respeito ao grupo minoritário das mulheres e sua luta para reduzir das desigualdades de gênero.
2. [ENCCEJA]
Qualquer brasileiro que tenha passado pelo ensino fundamental provavelmente já ouviu falar da cidade-Estado grega, do Império Romano, do feudalismo, da Revolução Francesa, das Guerras Mundiais; de nomes como Nero, César, Napoleão, Hitler ou Stalin, mas dificilmente ouviu falar das cidades-Estado Yorubas, ou de povos como os Haussa, Bakongo, Makonde, Xhosa e Swahíli. E da rainha Nzinga, de Mussa Keita ou Samora Machel? Longe de querer fazer elogios a impérios e heróis africanos, é preciso reconhecer a sua existência, apagada dos nossos livros escolares.
ZAMPARONI, V. Imagens da África no Brasil. In: BOTELHO, A.; SCHWARCZ, L. M. (Org.). Agenda brasileira: temas de uma sociedade em mudança. São Paulo: Cia. Das Letras, 2011 (adaptado).
O uso da memória, criticado no texto, é um exercício de poder na medida em que:
a) reproduz a realidade de fatos passados
b) ignora a existência de certas sociedades
c) descreve a variedade de tradições culturais
d) questiona as consequências de alguns conflitos
Resposta: b
Justificativa: ao apagar a história de matriz africana no currículo escolar brasileiro, é revelado o aspecto minoritário da população negra – mesmo sendo a maioria populacional no Brasil, as raízes africanas são ignoradas na história.