“Estereótipo” é uma palavra que, assim como “sociedade”, “amor” ou “tempo”, por serem muito utilizadas, não possui definições muito específicas. Geralmente, possuímos noções muito vagas a respeito desses termos. Além disso, eles fazem mais sentido quando estão acompanhados de contextos específicos. Por exemplo: estereótipos de raça, de gênero ou de idade.
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No entanto, muitas pesquisas utilizam o estereótipo como um conceito rigoroso para estudar um fenômeno. A seguir, vamos apresentar definições possíveis dessa palavra e aplicá-la em contextos específicos para você compreendê-la melhor.
O que são e de onde vêm os estereótipos?
Os estereótipos são um pré-julgamento baseado em um rótulo ou um sistema de crenças compartilhadas coletivamente a respeito de um determinado grupo social. Em outras palavras, estereótipos são todos os discursos que simplificam os comportamentos de alguém a partir de um marcador de diferença.
A palavra estereótipo vem da junção dos termos stereó e týpos, que significam “molde sólido”. Por exemplo, duas mulheres podem ter aparências, personalidades e histórias de vida completamente diferentes. No entanto, o estereótipo de mulher diz que elas são delicadas ou dirigem mal.
Origem e propagação
O estereótipo se propaga pela simplificação das pessoas que fazem parte de um grupo e pela sua repetição. Quanto à origem, ela pode se dar de diferentes formas.
Por um lado, o estereótipo pode surgir atrelado à identidade, como uma forma positiva de dizer o grupo ao qual se pertence. É o que ocorre quando se diz que “italianos falam alto” ou que “brasileiros são acolhedores”. Se o indivíduo se sente orgulhoso de ser brasileiro e é acolhedor, ele pode repetir esse estereótipo, como se todos os brasileiros fossem iguais nesse quesito.
Por outro lado, a origem de um estereótipo pode estar em preconceitos ou até mesmo na violência. Como ilustração, o estereótipo de que “gays são escandalosos” advém de um incômodo da sociedade com a existência de tais pessoas. Por mais que muitos sujeitos possam ser escandalosos, independente de sua sexualidade, a marca de ser gay acaba sendo vinculada a esse estereótipo.
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Estereótipos e preconceito
Muitos estereótipos vêm de um lugar social de desigualdade. No Brasil, um aspecto desse fato é o racismo estrutural. Para justificar as violências racistas que ocorrem nas relações sociais, as pessoas podem se utilizar de estereótipos preconceituosos.
Um caso é o estereótipo de que pessoas negras podem ser criminosas ou agentes de assalto. Apenas ao identificar a cor da pele do indivíduo, sem conhecê-lo, pessoas podem ficar com medo e apertarem seus passos na rua. Essa é uma atitude preconceituosa que parte de um estereótipo racial, estigmatizando a população negra no Brasil.
É possível ainda elencar outro exemplo: o das religiões de matriz africana. As pessoas que fazem parte de terreiros de umbanda ou candomblé podem carregar, no Brasil, o estereótipo de serem possuídas por um “demônio” ou fazerem mal para os outros. Esse tipo de estereótipo é utilizado para mascarar ou justificar violências contra os praticantes das religiões, chegando a serem agredidas ou ter seus locais e objetos sagrados destruídos.
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Desse modo, os estereótipos, quando tomados como se fossem verdade, podem acabar sendo utilizados para mascarar preconceitos e violências. Em geral, os indivíduos preconceituosos não conhecem o grupo vítima de violência para além dos seus estereótipos. É preciso entender que as pessoas são complexas e diversas, e não podem ser simplificadas em rótulos rígidos.
Exemplos
Por definição, os estereótipos partem de um marcador de diferença, como gênero, origem, raça ou sexualidade. A seguir, listamos alguns desses tipos de estereótipos e elencamos uma possível origem social para cada um:
Estereótipos de gênero
Nas sociedades ocidentais, os estereótipos de gênero têm como origem o machismo. Portanto, existem expectativas de como homens e mulheres são, e sobre a forma que a relação entre ambos deve ser.
Os estereótipos de gênero funcionam de maneira binária; ou seja, se homens são rotulados como mais agressivos, mulheres são pacificadoras; se homens são considerados mais frios e racionais, as mulheres seriam sentimentais e calorosas. Geralmente, por mais que a mulher seja considerada “essencial”, é esperado que ela ocupe um papel inferior ou desprezado na sociedade.
Estereótipos de sexualidade
Esses estereótipos possuem a mesma origem que a de gênero, ou seja, o machismo. Se é esperado que homens e mulheres sejam de uma forma oposta e complementar, tudo o que escapa desse eixo é considerado anormal.
Consequentemente, lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e outras pessoas que não estão dentro das expectativas de gênero sofrem preconceitos na sociedade. Um dos casos mais críticos no Brasil é o de mulheres trans e travestis: nosso país é o que mais acessa pornografia de transexuais no mundo, mas também é o lugar com o maior número de assassinato da população trans.
Estereótipos culturais
As culturas são compostas por tradições, mas também por complexidade, variedade e reinvenções. Frequentemente, o olhar ocidental estereotipa determinadas culturas como se elas fossem estranhas ou exóticas. O nome dado a esse fenômeno é etnocentrismo.
Por exemplo, japoneses podem ser imaginados usando apenas roupas tradicionais e sendo muito quietos; africanos são vistos como atrasados e rudimentares. Entretanto, esses estereótipos não se verificam na realidade.
Estereótipos de estados brasileiros
O Brasil é um país extenso que comporta uma variedade de culturas. Assim, por mais que sejam todos brasileiros, pessoas de uma região que migram para outra podem ser consideradas estrangeiras.
Os nordestinos são o grupo social que tem mais levantado os preconceitos xenofóbicos e os estereótipos atrelados a eles. Dentre estes, o de que “nordestinos são preguiçosos” ou que possuem uma cabeça maior do que o restante da população são estereótipos preconceituosos.
Estereótipos étnico-raciais
Por conta do racismo e do colonialismo, pessoas negras ora são consideradas estrangeiras em seu próprio país, como se não devessem estar aqui, ora são tratadas como símbolos da cultura nacional. O mesmo ocorre com indígenas. Em ambos os casos, essas populações caem em estereótipos étnicos e raciais, sem o reconhecimento de sua complexidade.
Todos esses estereótipos possuem raízes em desigualdades sociais, causando violências para diversos grupos. Portanto, apesar de parecer um termo genérico, a tentativa de sair dos estereótipos faz parte da luta dos movimentos identitários contemporâneos. Como consequência, esse é um conceito central para entendermos o que está por trás de muitos conflitos em debates públicos atualmente.
Entenda mais sobre estereótipos
Os estereótipos estão espalhados em toda a sociedade. De fato, eles podem ser úteis para nos identificarmos em determinados grupos e não em outros. Entretanto, os estereótipos também acabam incentivando discriminações. Veja abaixo uma lista de vídeos que tratam mais sobre esse tema:
Revisão do tema
Vamos recapitular o que significa um estereótipo? Esse vídeo bastante didático revisa os pontos citados já acima, mas de uma perspectiva mais psicológica. Assim, são ressaltados mais aspectos e funções positivas dos estereótipos, sem, contudo, esquecer dos perigos do preconceito.
Estereótipos na arte
Um dos lugares em que os estereótipos ficam evidentes e é possível até mesmo brincar com esses rótulos é na arte. Pensar a literatura e o cinema pode ser um bom exercício para identificar os estereótipos presentes na sociedade e avaliar quais são positivos ou não.
Estereótipos femininos e a luta das mulheres
Estereótipos de mulheres em profissões menos valorizadas e sofrendo discriminação quando tentam subir de cargos são frequentes. Uma vertente feminista na luta das mulheres por igualdade de gênero já mobiliza bastante força política, influenciando órgãos internacionais.
Desse modo, os estereótipos estão por toda a parte. Todavia, a depender de qual grupo é alvo dos estereótipos e das relações de poder envolvidas, eles podem ter consequências diferentes socialmente. É importante estarmos atentos a esses efeitos para não reproduzir violências contra pessoas vulneráveis em termos de poder.
Além disso, a tentativa de quebrar estereótipos preconceituosos e errôneos está no centro de diversos movimentos sociais atuais. Esses constituem um verdadeiro projeto de educação que está transformando a cultura ocidental e, por isso, criando também conflitos de poder. Compreender essa temática é imprescindível para podermos debater o assunto com responsabilidade.
Referências
Estereótipos, preconceito e discriminação – Instituto Educativo do Juncal;
Em direção a uma nova definição de estereótipos: teste empírico do modelo num primeiro cenário experimental – Marcos Emanoel Pereira; João Gabriel Modesto; Marta Dantas Matos;
Estereótipos e essencialização de brancos e negros: um estudo comparativo – Marcos Emanuel Pereira;
A visão discriminatória e estereotipada sobre o negro no contexto escolar – Sebastian Ramos; Elaine dos Santos Licori; Antonia Angelina Basanella Utzig;
Brasil: país do transfeminicídio – Berenice Bento;
Estereótipos de gênero e atitudes acerca da sexualidade em estudos sobre jovens brasileiros – maria Alice D’Amorim.
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Estereótipos. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/estereotipos. Acesso em: 21 de November de 2024.
1. [ENEM]
O filme Menina de Ouro conta a história de Maggie Fitzgerald, uma garçonete de 31 anos que vive sozinha em condições humildes e sonha em se tornar uma boxeadora profissional treinada por Frankie Dunn. Em uma cena, assim que o treinador atravessa a porta do corredor onde ela se encontra, Maggie o aborda e, a caminho da saída, pergunta a ele se está interessado em treiná-la. Frankie responde: “Eu não treino garotas”. Após essa fala, ele vira as costas e vai embora. Aqui, percebemos, em Frankie, um comportamento ancorado na representação de que boxe é esporte de homem e, em Maggie, a superação da concepção de que os ringues são tradicionalmente masculinos.
Historicamente construída, a feminilidade dominante atribui a submissão, a fragilidade e passividade a uma “natureza feminina”. Numa concepção hegemônica dos gêneros, feminilidades e masculinidades encontram-se em extremidades opostas.
No entanto, algumas mulheres, indiferentes às convenções sociais, sentem-se seduzidas e desafiadas a aderirem à prática das modalidades consideradas masculinas. É o que observamos em Maggie, que se mostra determinada e insiste em seu objetivo de ser treinada por Frankie.
(FERNANDES, V.; MOURÃO, L. Menina de ouro e a representação de feminilidades plurais. Movimento, n. 4, out-dez. 2014 (adaptado).
A inserção da personagem Maggie na prática corporal do boxe indica a possibilidade da construção de uma feminilidade marcada pela:
A) Adequação da mulher a uma modalidade esportiva alinhada a seu gênero
B) Valorização de comportamentos e atitudes normalmente associados à mulher
C) Transposição de limites impostos à mulher num espaço de predomínio masculino
D) Aceitação de padrões sociais acerca da participação da mulher nas lutas corporais
E) Naturalização de barreiras socioculturais responsáveis pela exclusão da mulher no boxe
Resposta: C
Justificativa: o boxe é claramente colocado pelo próprio treinador Frankie como um mundo masculino. Esse estereótipo é mantido com convicção pelo personagem, que diz que não treina garotas. A insistência de Maggie para entrar no mundo do boxe foi um dos fatores que permitiu que ela transpusesse os limites dos estereótipos de gênero que impediam que ela adentrasse nesse mundo considerado “masculino”.
2. [ENEM]
TEXTO 1
Tradução: “As mulheres do futuro farão da Lua um lugar mais limpo para se viver”.
Disponível em: www.propagandashistoricas.com.br. Acesso em: 16 out. 2015.
TEXTO II
Metade da nova equipe da Nasa é composta por mulheres
Até hoje, cerca de 350 astronautas americanos já estiveram no espaço, enquanto as mulheres não chegam a ser um terço desse número. Após o anúncio da turma composta 50% por mulheres, alguns internautas escreveram comentários machistas e desrespeitosos sobre a escolha nas redes sociais.
Disponível em: https://catracalivre.com.br. Acesso em: 10 mar. 2016.
A comparação entre o anúncio publicitário de 1968 e a repercussão da notícia de 2016 mostra a:
A) Elitização da carreira científica.
B) Qualificação da atividade doméstica.
C) Ambição de indústrias patrocinadoras.
D) Manutenção de estereótipos de gênero.
E) Equiparação de papéis nas relações familiares.
Resposta: D
Justificativa: a comparação entre o texto 1 e o texto 2 mostra que, apesar de as mulheres conseguirem adentrar em uma profissão masculina (astronauta), as pessoas continuam reagindo mal a essa inserção. No texto 1, as mulheres são colocadas na função doméstica, como aquelas que são responsáveis por tornar a Lua um lugar habitável, assim como fazem na Terra. No segundo caso, as mulheres se tornaram astronautas para, assim como os homens, explorarem o espaço. Essa função de exploração é, na sociedade ocidental, um papel masculino. Os estereótipos de gênero permanecem, assim, sendo reiterados pelas pessoas, limitando o acesso de mulheres a diversos espaços.