Zygmunt Bauman é considerado um dos sociólogos contemporâneos mais conhecidos, especialmente entre o público geral – ou seja, pessoas que não são sociólogas.
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As temáticas que ele trata, como amor, a política, o consumismo e o individualismo, têm interessado cada vez mais pessoas em busca de uma vida diferente e mais humana.
Biografia de Zygmunt Bauman
Zygmunt Bauman é um polonês nascido em 1925, na cidade de Posnânia. Como veio de uma família judia, teve de fugir para a Rússia quando começou a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, em 1946 Bauman ingressou na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade de Varsóvia.
Bauman concluiu seu doutorado em Sociologia em 1956. Em seus primeiros anos de formação, é possível vislumbrar um Zygmunt Bauman influenciado por Marx. Mas, depois da frustração com o regime comunista no seu país, essa relação com o marxismo diminuiu.
Posteriormente, Antônio Gramsci, Michel Foucault e Mary Douglas são ressaltadas pelo próprio autor como influências importantes em suas obras. Especialmente os dois últimos serviram para Bauman amadurecer suas análises a respeito da modernidade.
É na década de 1990 que o sociólogo explicita o seu conceito de liquidez. Esse termo acabou sendo difundido nas suas obras e se tornou bem conhecido entre o público geral. Bauman desde então realiza diversas críticas ao modo de vida moderno que leva as pessoas à desumanização.
Por isso, Bauman é considerado um dos representantes de uma “sociologia humanística”. O desejo do autor é mostrar de que maneira diferente e melhor o mundo pode ser construído. Curiosamente, Bauman foi casado por 62 anos com sua esposa, Janine, que faleceu em 2009. O sociólogo trata, a partir da liquidez, temas como política, consumo, identidade, e amor.
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Zygmunt Bauman e o mundo líquido
O conceito de liquidez é uma metáfora utilizada pelo sociólogo para se referir a uma fase da modernidade. Nesse contexto, quase todos os aspectos das vidas das pessoas estão em constante mudança, quase nunca em estado final, ou seja, “líquido”.
Essa metáfora, que remete à fluidez das coisas, será aplicada para analisar os mais diversos aspectos das sociedades modernas. A seguir se encontram alguns exemplos.
Modernidade líquida
A modernidade líquida possui uma fase anterior: a modernidade sólida. Nesse primeiro estado, as sociedades modernas estavam ávidas para construir uma nova ordem, romper com o passado e superar os modos antigos da vida humana.
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Na segunda fase, líquida, a modernidade já chegou na nova ordem. Entretanto, as pessoas continuam ávidas por mudanças, e os aperfeiçoamentos jamais cessam. Esse desejo de transformação constante chega a ser compulsivo na modernidade.
Sociedade líquida
Nesse estado fluido das coisas, a própria vida social, o senso grupal entre as pessoas, diminui. Cada indivíduo passa a fazer cálculos em termos de custo-benefício, fragilizando os vínculos entre as pessoas e impactando os movimentos políticos.
Em uma sociedade líquida, o campo privado parece se tornar cada vez mais exaltado do que os interesses públicos. Os problemas públicos, então, passam a ser resolvidos na esfera privada.
Além disso, a sociedade líquida é eminentemente uma sociedade do consumo. Os espaços públicos são cada vez mais esvaziados e os locais privados de consumo individual são mais valorizados. Os “vagabundos”, ou seja, aqueles que não consomem, são deixados à margem dessa sociedade.
Amor líquido
Bauman critica essa sociedade líquida, pautada no consumo e nos interesses privados, em uma lógica de custo-benefício. Essa ordem social fluida acaba impactando as relações amorosas, que se tornam descartáveis cada vez que não são mais úteis para a satisfação pessoal.
Assim, os relacionamentos que imperam são baseados em um “amor até segundo aviso”. Isso acaba criando um estado permanente de ansiedade nos indivíduos que, a qualquer momento, podem ser trocados ou mesmo trocar a pessoa amada por outra.
Embora esse pareça ser um cenário bastante pessimista, o objetivo de Bauman ao mostrar esses aspectos é justamente apontar para possibilidades diferentes. O próprio autor teve um relacionamento duradouro com sua esposa, de mais de 60 anos. Desse modo, as pessoas não precisam estar condenadas eternamente a um amor líquido.
Individualismo
O individualismo moderno é um dos aspectos da liquidez das relações sociais no tempo presente. Assim, cabe ao indivíduo possuir as competências para as soluções de seus problemas. Entretanto, Bauman aponta que as pessoas são levadas a resolver problemas de maneira individual para questões que são de origem social e coletiva.
Esse aspecto dificulta a real solução de alguns problemas, porque a experiência individual é muito curta e restrita para visualizar “o que está debaixo dos panos”, ou seja, o social. Tais problemas da modernidade líquida não seriam identificados se não fosse uma visão sociológica, coletiva da vida social.
Consequentemente, para Bauman, o papel da Sociologia é de mostrar para as pessoas quais são os mecanismos sociais que as fazem agir de determinada forma. Em outras palavras, é alargar uma visão individualista para visualizar “além do próprio nariz”.
É notável que Zygmunt Bauman é um sociólogo preocupado com as questões contemporâneas nas vidas das pessoas. Por isso, ele também procura escrever em uma linguagem acessível ao público geral. Após 1990, ele “ganhou as massas”, despertando o interesse de todos aqueles que buscam uma vida mais humana em tempos líquidos.
Principais livros de Zygmunt Bauman
Bauman já publicou mais de 50 livros, e mais de 30 deles foram traduzidos no Brasil. As edições brasileiras venderam mais de 350 mil cópias até 2014. Assim, o autor figura como um sociólogo que conseguiu cativar a atenção de um público que não é especialista em Sociologia, trazendo à tona temas que interessaram e fomentaram a imaginação das pessoas.
Dentre essa vasta obra, algumas delas podem ser citadas.
- Modernidade e Holocausto (1989)
- Pensando sociologicamente (1990)
- Globalização, as consequências humanas (1998)
- Em busca da política (1999)
- Modernidade líquida (2000)
- Amor líquido (2003)
- Identidade (2006)
Dessa vasta obra, é possível dizer que Bauman produz suas teorias em um diálogo do pensamento científico com o senso comum. De fato, já que a Sociologia possui o papel de alargar a visão individualista das pessoas, ela precisa sair de sua linguagem rebuscada e especializada para conversar com o público.
Afinal, para Bauman, nada conquistaremos individualmente. Nesse sentido, o sociólogo parece bem alinhado com seu projeto intelectual.
10 citações de Zygmunt Bauman
Com sua Sociologia humanística, Bauman traz diversas ideias sobre a vida moderna e o caráter das nossas relações sociais. Algumas delas merecem ser citadas:
“Quem são os otimistas? As pessoas que acham que o nosso é o melhor dos mundos. E os pessimistas? Pessoas que suspeitam que os otimistas talvez estejam certos. Existe, porém, uma terceira atitude possível: a da esperança, da confiança na capacidade que o ser humano tem de ser sensato e digno. Acredito que o mundo que habitamos pode ser melhor que hoje”
“Na sua forma ‘líquida’, o amor tenta substituir a qualidade por quantidade – mas isso nunca pode ser feito, como seus praticantes mais cedo ou mais tarde acabam percebendo.”
“O amor não é um objeto pré-confeccionado e pronto para o uso. É confiado aos nossos cuidados, precisa de um compromisso constante, ser regenerado, recriado e ressuscitado todo dia.”
“Desde o início, decidimos que estar juntos, embora difícil, é incomparavelmente melhor do que a sua alternativa. Uma vez tomada essa decisão, também se olha para a crise conjugal mais terrível como um desafio a ser enfrentado.”
“A verdade provável é que escolhas morais sejam de fato escolhas, e dilemas sejam de fato dilemas, e não os efeitos temporais e corrigíveis da fraqueza, ignorância ou estupidez humanas.”
“A modernização compulsivo-obsessiva foi desde o princípio a mais profunda essência da modernidade, e nada sinalizava que estivéssemos na iminência de nos libertar dessa compulsão, dessa obsessão.”
“Ou seja, a percepção individual, para ser ampliada, necessita da assistência de intérpretes munidos com dados não amplamente disponíveis à experiência individual. E a sociologia, como parte integrante desse processo interpretativo […] constitui um empenho constante para ampliar os horizontes cognitivos dos indivíduos e uma voz potencialmente poderosa nesse diálogo sem fim com a condição humana.”
“Gostaria que [os jovens] tentassem, apesar de tudo […], apesar de todas as tendência em contrário e de todas as pressões de fora, reter na consciência e na memória o valor da durabilidade, da constância, do compromisso.”
“Não acredito que haja um progresso linear no que diz respeito à felicidade humana. Podemos dizer que, como um pêndulo, nos movemos de tempos mais felizes para tempos menos felizes e de menos felizes para mais felizes.”
“De um lado, ele [o indivíduo] precisa dos outros como o ar que respira, mas, ao mesmo tempo, tem medo de desenvolver relacionamentos mais profundos que o imobilizem em um mundo em permanente movimento.”
Referências
Zygmunt Bauman: vida, obra e influências autorais – David Moiseis Barreto dos Santos
Entrevista com Zigmunt Bauman – Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke
Sociologia ou biografia? Bauman sob a perspectiva de seus intérpretes – Cleto Junior P. de Abreu
O conceito de líquido em Zygmunt Bauman: contemporaneidade e produção de subjetividade – Rafael Bianchi Silva; Jéssica Paula Silva Mendes; e Rosieli dos Santos Lopes Alves
Modernidade e individualismo sob a ótica de Bauman e Giddens – Shirlena Campos de Souza Amaral; Leandro Garcia Pinto; Silvia Alicia Martinez; e Giovane do Nascimento
Por Mateus Oka
Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.
Oka, Mateus. Zygmunt Bauman. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/zygmunt-bauman. Acesso em: 27 de November de 2024.
1. [UNIOESTE]
Segundo Zygmunt Bauman, a Sociologia é constituída por um conjunto considerável de conhecimentos acumulados ao longo da história. Pode-se dizer que a sua identidade forma-se na distinção com o chamado senso comum. Considerando que a Sociologia estabelece diferenças com o senso comum e estabelece uma fronteira entre o pensamento formal e o senso comum, é correto afirmar que:
a) a Sociologia se distingue do senso comum por fazer afirmações corroboradas por evidências não verificáveis, baseadas em ideias não previstas e não testadas.
b) o pensar sociologicamente caracteriza-se pela descrença na ciência e pouca fidedignidade de seus argumentos. O senso comum, ao contrário, evita explicações imediatas ao conservar o rigor científico dos fenômenos sociais.
c) pensar sociologicamente é não ultrapassar o nível de nossas preocupações diárias e expressões cotidianas, enquanto o senso comum preocupa-se com a historicidade dos fenômenos sociais.
d) o pensamento sociológico se distingue do senso comum na explicação de alguns eventos e circunstâncias, ou seja, enquanto o senso comum se preocupa em analisar e cruzar diversos conhecimentos, a Sociologia se preocupa apenas com as visões particulares do mundo.
e) um dos papéis centrais desempenhados pela Sociologia é a desnaturalização das concepções ou explicações dos fenômenos sociais, conservando o rigor original exigido no campo cientifico.
Resposta: E
Justificativa: A Sociologia deve desnaturalizar, ou seja, mostrar que a forma como vivemos não é uma necessidade essencial e imutável. Em outras palavras, as vidas individuais têm sentido em um contexto social, podendo experimentar mudanças ao longo da história.
2. [IFPA]
Um importante sociólogo contemporâneo é polonês Zygmunt Bauman. Preocupado com as novas dinâmicas da vida social, propõe um empreendimento reflexivo que tem como norte as recentes modificações do mundo atual. Em relação às análises de Bauman é INCORRETO afirma:
A) Liquidez é a metáfora que Bauman utiliza para explicar o sentido da pós-modernidade.
B) Desmoronamento da antiga ilusão moderna, ou seja, questionamento da crença de que há um fim do caminho em que andamos, um estado de perfeição a ser atingido no futuro.
C) Desregulamentação e privatização das tarefas e deveres modernizantes. Na modernidade líquida, não existem mais valores individuais, apenas sociais.
D) Nesta sociedade líquida, transformada pelo mercado, também os valores mais importantes da vida passam pelo mesmo processo de materialização tal qual uma simples mercadoria.
E) O processo de transformação pelo qual passa a humanidade pode ser aplicado ao mundo globalizado que, na sua empolgação compulsiva para produzir bens de consumo acaba produzindo um número significante de lixo.
Resposta: C
Justificativa: Ao contrário, na modernidade líquida são os valores individuais que prevalecem sobre os coletivos ou sociais. A liquidez das relações se caracteriza pela exacerbação do individualismo.