Pierre Bourdieu

Autor de mais de 300 obras, Bourdieu é um dos sociólogos do século XX mais influentes atualmente.

Pierre Bourdieu (1930-2002), francês, é um dos grandes sociólogos do século XX. Ele se destaca por ter renovado as ideias de autores clássicos como Durkheim, Marx, Weber, Lévi-Strauss e Mauss, criando um verdadeiro sistema teórico para interpretar a sociedade.

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É um dos autores mais importantes para a Sociologia e a Antropologia, tratando de temas sobre as desigualdades sociais, a cultura, a educação e a violência simbólica.

Principais obras de Pierre Bourdieu

  • Os herdeiros (1964);
  • A Reprodução (1970);
  • A Distinção (1979);
  • Coisas ditas (1987);
  • O poder simbólico (1992);
  • A miséria do mundo (1993);
  • Razões práticas (1994);
  • A dominação masculina (1998);

Em conjunto com esses livros, mais de 300 publicações fazem parte da obra de Bourdieu. O autor se dedicou a pesquisar temas como cultura, trabalho, campesinato, arte, funcionamento das instituições acadêmicas, escola, religião, política, consumo e mídia.

Essa aplicação vasta da teoria de Bourdieu se deve também à sua capacidade de dialogar com outras disciplinas – a História, a Antropologia, Linguística e Economia.

Teorias de Pierre Bourdieu

Imagem: Reprodução

As teorias de Bourdieu vieram à tona em um momento que muitos autores consideravam um estado de crise na Sociologia. Essa crise, em parte, tratava-se de um impasse: como fazer afirmações gerais sobre a realidade social se as pessoas possuem experiências, opiniões e vidas diferentes em sociedade?

Combatendo esse sentimento de crise, Bourdieu trouxe, em suas ideias, novas formas de perceber a realidade social de maneira objetiva e científica.

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Bourdieu resolveu essa crise demonstrando de que modo as estruturas sociais se conectam com a vida prática de cada indivíduo. ‘Não existem ideias puras’, portanto. Bourdieu apresenta, em suas teorias, como é que os gostos pessoais e os comportamentos das pessoas têm a ver com a posição que elas ocupam na sociedade – ou seja, na estrutura social.

Ele desvenda o que está “por baixo dos panos”. Assim, Bourdieu é um bom exemplo de uma sociologia estruturalista.

A seguir, há alguns conceitos e aspectos da teoria bourdieusiana.

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Capital

O “capital”, junto com o “campo” e o “habitus”, são três conceitos que se conectam. O capital diz respeito aos recursos que um indivíduo possui que lhe fornece vantagens e privilégios em relação àqueles que não os tem.

Ou seja, o capital são as “armas” herdadas ou adquiridas por alguém. Esses capitais podem ser econômicos, culturais ou sociais.

O capital econômico pode ser considerado o mais óbvio: é a quantidade de recursos financeiros que uma pessoa dispõe na forma de propriedades, dinheiro e bens materiais. Esse é o fator que é considerado geralmente para explicar as desigualdades sociais.

Entretanto, Bourdieu descobre, ao analisar a escola, outro tipo de capital: o cultural, que diz respeito a recursos adquiridos na instituição escolar como linguagem erudita, domínio da oratória, livros, diplomas e notas altas em provas, por exemplo.

Além disso, existe o capital social que é a rede de relacionamentos sociais e contatos que uma pessoa possui que lhe confere vantagem sobre os demais.

Campo

O conceito de campo está intimamente ligado ao de capital porque é no campo que ocorrem as disputas de poder e posição na realidade social. De fato, o campo é definido como uma rede ou uma configuração de relações sociais que são organizadas em posições de dominância diferentes.

Qualquer espaço social em que há uma correlação de forças desiguais em termos de capital – econômico, cultural ou social – entre diferentes pessoas pode ser considerado um campo. Bourdieu descobre, por exemplo, que a área da literatura é um campo, assim como a política, a ciência, ou a escola.

Além disso, todo campo possui suas próprias regras. A forma como aprendemos como o campo em que estamos inseridos funciona é abarcada pelo conceito de habitus.

Habitus

O conceito de habitus advém da ideia de hábito mental, ou seja, a forma como as pessoas aprendem e reproduzem aquilo que aprenderam durante o seu crescimento dentro de uma sociedade, passando a assumir os pensamentos de sua época.

Trata-se de uma aprendizagem de como perceber o mundo e atuar nele. O habitus é a experiência social incorporada em nossas mentes.

Os habitus são sempre construídos em um indivíduo dentro de um campo, detendo alguns capitais. Cada pessoa ocupa uma posição diferente no campo e herda ou adquire determinados capitais ao longo da vida, o que a torna única.

Ao mesmo tempo, o campo já existe antes de qualquer indivíduo nascer: ele determina algumas condições que são compartilhadas por todas as pessoas no mesmo campo.

Assim, com o habitus, Bourdieu mostra como as pessoas são construídas e ao mesmo tempo constroem o campo social no seu dia a dia, em uma verdadeira interdependência com a estrutura social. É por isso que ele usa o termo “agente” para se referir a todos nós, indivíduos ou pessoas que, de fato, atuam cotidianamente na sociedade.

Produção do gosto

Já houve muita discussão na filosofia sobre qual a verdadeira definição do belo ou do sentido do bom ou mau gosto. Bourdieu demonstra que, na verdade, os gostos são construídos socialmente como uma forma de fazer vínculos sociais, a depender do campo social em que o agente está inserido.

Depois de uma pesquisa que compreendeu 1.217 entrevistas na França, Bourdieu demonstra como os gostos servem para realizar um julgamento social dos indivíduos. Gostar e consumir arte, cinema, músicas eruditas revela o capital cultural de um agente, e funciona muitas vezes como uma forma de se distinguir daqueles que não possuem os mesmos gostos “refinados”.

Violência simbólica

O conceito de violência simbólica visa apresentar de que maneira a autoridade e o poder de agentes ou instituições são naturalizadas, ou seja, consideradas “normais” em uma sociedade.

Exemplos de violência simbólica na escola incluem: conteúdos, disciplinas, provas, trabalhos e correções gramaticais. Isso porque os critérios de avaliação escolar estão pautados nos capitais econômicos e culturais das classes dominantes, e não a dos pobres.

Assim, o sucesso na escola muitas vezes acaba sendo condicionado pela origem e o desenvolvimento econômico, cultural e social dos estudantes. Os próprios alunos em desvantagem, por sua vez, acabam aderindo e aceitando os critérios desse campo – a escola.

Educação

É possível notar que a educação é parte de um dos temas centrais na obra de Bourdieu. Ele foi responsável por demonstrar a violência simbólica existente nas escolas e alertar as pessoas sobre o otimismo no sistema educacional.

Bourdieu apresentou as dificuldades das classes mais pobres em relação ao acesso e à permanência na escola, bem como as diferenças de desempenho de alunos por sexo, origem, local de moradia e classe.

Com sua teoria, Bourdieu pretende mostrar não só a escola, mas como outras instituições dominantes funcionam, e fazer um esforço para pensar outros modos de organização que estimulem a crítica e a produção de novas ideias.

Entenda mais sobre o autor

Se você quer revisar os assuntos tratados no texto ou aprofundar ainda mais nos pensamentos do autor, abaixo há algumas sugestões de vídeo.

Recapitulando: habitus e campo

Bourdieu faz uma síntese da relação entre o agente e a estrutura social. Que tal reforçar em seu estudo esse aspecto central da teoria do autor?

Vida e teoria de Pierre Bourdieu

Um professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro conta como a teoria de Bourdieu estava relacionada com sua vida e o momento em que viveu.

Pierre Bourdieu em 5 minutos

O professor Krauss explica em 5 minutinhos sobre vida e obra de Bourdieu de maneira bem didática e completa.

As teorias de Bourdieu focalizaram determinados temas, entre elas a escola. Entretanto, a obra de Bourdieu é utilizada atualmente para explicar os fenômenos mais diversos em disciplinas além da Sociologia. Sua importância e aplicabilidade são reconhecidas até hoje para entender melhor o mundo em que vivemos.

Referências

A inter-relação bourdieusiana: habitus, campo e capital – Olga Nancy P. Cortés.

“Gosto” é discutível: uma reflexão sobre o acúmulo de bens simbólicos – Carla de Araújo Risso.

A obra do sociólogo Pierre Bourdieu: uma irradiação incontestável – Ione Ribeiro Valle.

Bourdieu e a renovação da sociologia contemporânea da cultura – Sergio Miceli

Pierre Bourdieu: a herança sociológica – Maria Drosila Vasconcellos

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Pierre Bourdieu. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/sociologia/pierre-bourdieu. Acesso em: 22 de November de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [FGV]

Para Pierre Bourdieu, a escola é um espaço de produção de capital cultural, com diversos agentes e valores sociais envolvidos nesse processo. As opções a seguir consideram a escola a partir do quadro conceitual oferecido pelo sociólogo, à exceção de uma. Assinale-a.

a) A escola é uma ferramenta de poder, que reproduz desigualdades, ao perpetuar de forma implícita hierarquias e constrangimentos.

b) Na escola se desenvolvem lutas pela obtenção e manutenção do poder simbólico, produzindo valores que acabam sendo aceitos pelo senso comum.

c) A escola é um espaço de socialização que proporciona o desenvolvimento integral dos indivíduos, tendo em vista que somos produtores e produtos do meio em que vivemos.

d) O aluno é um ator social ligado à engrenagem da produção simbólica, dela participando como herdeiro e transmissor inconsciente de valores.

e) A escola é um artifício de reafirmação de poderes, onde estruturas sociais diferentes convivem e se enfrentam com seus variados estilos de vida.

Resposta: C

Justificativa: A escola não proporciona o desenvolvimento integral dos indivíduos, uma vez que são múltiplos os espaços que proporcionam a socialização.

2. [UEM]

Construída na segunda metade do século XX, a teoria sociológica de Pierre Bourdieu (1930-2002) emprega o conceito de habitus para denominar como os seres humanos se formam historicamente na vida em sociedade, assimilando as influências dos meios sociais e culturais em que vivem, mas, ao mesmo tempo, tornando-se capacitados para também influenciar a sociedade com suas ações práticas. “Assim, por exemplo, o habitus adquirido na família está no princípio da estruturação das experiências escolares (e em particular, da recepção e da assimilação da mensagem pedagógica), o habitus transformado pela ação escolar, ela mesma diversificada, estando por sua vez no princípio da estruturação de todas as experiências ulteriores (por exemplo, da recepção e da assimilação das mensagens produzidas e difundidas pela indústria cultural ou das experiências profissionais e assim por diante, de restruturação em reestruturação).” (BOURDIEU, P. Esboço de uma teoria prática. In: ORTIZ, R. (Org.) Pierre Bourdieu. São Paulo, Ática, 1994, p. 80). Sobre o conceito de habitus no pensamento de Pierre Bourdieu, assinale o que for correto.

01) A família, a escola e os meios de comunicação influenciam na construção do habitus do ser humano.

02) O habitus é construído pelos seres humanos com o desenvolvimento das características biológicas herdadas dos familiares e dos antepassados.

04) O conceito de habitus nos ensina que cada ser humano possui um dom especial desde o nascimento.

08) Uma vez construído, o habitus de cada ser humano se torna permanente e não se transforma ao longo de sua vida.

16) Mesmo sendo influenciado pela sociedade em que vive na construção de seu habitus, cada ser humano também tem a possibilidade de influenciá-la com suas ideias, crenças, valores e ações práticas.

Resposta: 17

Justificativa: A primeira e a última alternativas são opostas às demais que, por sua vez, afirmam que o habitus se refere a aspectos biológicos, inatos ou permanentes. Ao contrário, o habitus, para Bourdieu, trata-se de um conceito sociológico que descreve um caráter construído e modificável da vida humana.

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