A Revolta de Vila Rica reflete as revoltas nativistas. Durante as primeiras décadas após a descoberta de ouro na região das Minas Gerais, a colônia de Portugal na América passou a ser fiscalizada mais de perto pelos funcionários da Coroa Portuguesa.
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Ainda assim, a exploração do ouro, sua comercialização e circulação entre os habitantes das vilas da região das Minas sem que houvesse uma rígida fiscalização não agradavam a Metrópole portuguesa.
Ao mesmo tempo em que a criação de impostos e a intensificação de suas cobranças também não agradavam os habitantes da região.
Foi nesse contexto de tensão social que eclodiu a Revolta de Vila Rica, também conhecida como Revolta de Filipe dos Santos.
A Revolta de Vila Rica compõe o grupo de revoltas que denominamos de revoltas nativistas, pois, foram aquelas que tiveram como causa principal o descontentamento dos colonos brasileiros com as medidas tomadas pela coroa portuguesa e não necessariamente sua independência da coroa.
Entre as revoltas nativistas também estão a Revolta de Beckman (1684), a Guerra dos Emboabas (1707-1709) e a Guerra dos Mascates (1710-1711).
Revolta de Vila Rica: motivações
Em 1719, a Coroa Portuguesa passou a intensificar a cobrança do quinto através das Casas de Fundição.
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Esse “quinto” consistia na entrega à Metrópole da quinta parte (20%) do ouro extraído nas minas. Nessas Casas de Fundição, o ouro era fundido, em barras, o que facilitava o controle sobre sua circulação, garantia a eficiência da cobrança e evitava o contrabando, que geralmente era feito com o ouro em pó.
Essas medidas de maior controle de fiscalização desagradavam boa parte da população de Vila Rica, tanto as camadas mais altas da sociedade quanto as camadas mais baixas.
Dessa forma, grande parte da população da região mineira se via prejudicada com a cobrança do quinto.
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Insatisfeitos com a cobrança de impostos consideradas abusivas, em julho de 1720, os insurgentes deram início à Revolta de Vila Rica, liderados por Filipe dos Santos.
Filipe dos Santos era um rico fazendeiro da região que com seus discursos e ideias atraiu a atenção das camadas mais populares e da classe média urbana de Vila Rica.
Santos defendia sobretudo o fim das Casas de Fundição e a diminuição da fiscalização metropolitana.
Assim, os revoltos reivindicavam:
• O fim das casas de fundição;
• Redução de vários impostos e tributos;
• Fim do monopólio de produtos como fumo, sal, aguardente e gado.
A tomada de Vila Rica
Os grupos armados formados por escravos e homens livres desceram dos morros ao redor para o centro cidade, onde invadiram casas para ampliar o apoio à luta.
Os insurgentes ainda invadiram a casa do Ouvidor da vila, destruindo papeis oficiais, à frente da multidão revoltosa e poucos dias depois, Vila Rica estava nas mãos dos revoltosos.
Além de extinguir as Casas de Fundição, os rebeldes também queriam forçar a retirada de D. Pedro de Almeida, Conde de Assumar, do cargo de governador da capitania das Minas, acusado de diversas corrupções.
Porém, como o Conde não se encontrava em Vila Rica, mas sim em Vila do Carmo, foi para lá que os revoltosos se dirigiram para verem atendidas as suas reivindicações.
A Revolta de Vila Rica chega ao fim
Conde de Assumar recebeu os revoltosos e iniciou negociações, afirmando que iria atender às reivindicações. No entanto, tal postura nada mais era que uma forma de ganhar tempo para reunir forças militares capazes de enfrentar os grupos que haviam se sublevado.
Diante disso, em 17 de julho de 1720, o Conde de Assumar decretou a prisão dos líderes da Revolta, após conseguir reunir cerca de 1500 homens armados que se dirigiram para Vila Rica.
Logo, em apenas dois dias, a rebelião foi reprimida e seus líderes presos. Entre 19 e 20 de julho, Filipe dos Santos foi julgado e condenado à morte pela participação na Revolta.
Santos foi arrastado pelas ruas da cidade e esquartejado. Pois, o objetivo era que sua morte servisse de exemplo aos que ousassem enfrentar os funcionários e a Coroa Portuguesa, principalmente no que se referia à cobrança de impostos sobre a exploração das riquezas minerais da colônia.
Após a supressão da Revolta, as consequências para Vila Rica foram a separação da região das minas da capitania de São Paulo e o aumento da fiscalização sobre a extração do ouro.
Referências
Conflitos internos na colônia: revoltas nativistas e emancipacionistas – Orlando Stiebler
História – Divalte Garcia Ferreira
Por Luana Bernardes
Graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e pós-graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela mesma Universidade.
Bernardes, Luana. Revolta de Vila Rica. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/revolta-de-vila-rica. Acesso em: 24 de November de 2024.
1. [FUVEST]
A elevação de Recife à condição de vila; os protestos contra a implantação das Casas de Fundição e contra a cobrança de quinto; a extrema miséria e carestia reinantes em Salvador, no final do século XVIII, foram episódios que colaboraram, respectivamente, para as seguintes sublevações coloniais:
a) Guerra dos Emboabas, Inconfidência Mineira e Conjura dos Alfaiates.
b) Guerra dos Mascates, Motim do Pitangui e Revolta dos Malês.
c) Conspiração dos Suassunas, Inconfidência Mineira e Revolta do Maneta.
d) Confederação do Equador, Revolta de Felipe dos Santos e Revolta dos Malês.
e) Guerra dos Mascates, Revolta de Felipe dos Santos e Conjura dos Alfaiates.
Resposta: E
Observando cada uma das características presentes na questão, percebemos o trabalho com a motivação de diferentes revoltas desenvolvidas no período colonial. Na opção correta, vemos que as duas primeiras opções se tratam de revoltas de natureza nativista, sendo somente a Conjura dos Alfaiates, de 1798, o único movimento que defendia o fim das relações entre Brasil e Portugal.
2. [UFRN]
A Guerra dos Emboabas, a dos Mascates e a Revolta de Vila Rica, verificadas nas primeiras décadas do século XVIII, podem ser caracterizadas como:
a) movimentos isolados em defesa de ideias liberais, nas diversas capitanias, com a intenção de se criarem governos republicanos;
b) movimentos de defesa das terras brasileiras, que resultaram num sentimento nacionalista, visando à independência política;
c) manifestações de rebeldia localizadas, que contestavam alguns aspectos da política econômica de dominação do governo português;
d) manifestações das camadas populares das regiões envolvidas, contra as elites locais, negando a autoridade do governo metropolitano.
e) manifestações separatistas de ideologia liberal contrárias ao domínio português.
Resposta: C
Nos três movimentos situados, observamos a deflagração de movimentos que questionavam características e medidas pontuais da administração colonial portuguesa. Sob tal aspecto, nenhum desses eventos históricos advogava em favor da extinção do pacto colonial, mas apenas a revisão de alguns aspectos que contrariavam os interesses dos envolvidos.