É impossível falar em literatura brasileira sem reverenciar o nome de Guimarães Rosa. Considerado um dos maiores escritores do século XX, ele faz parte da terceira fase do Modernismo. É conhecido, principalmente, pela sua escrita inovadora e pela criação de neologismos que romperam com as formas tradicionais de narrar. Continue a leitura para conhecer a vida e a obra desse escritor.
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Biografia
João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, uma cidadezinha interiorana de Minas Gerais, no dia 27 de junho de 1908. Sua infância foi marcada pela solidão, ele gostava de estudar sozinho e brincava de geografia – brincadeira essa que, posteriormente, ficaria muito evidente em sua obra. Em 1918, foi morar com os avós, em Belo Horizonte, para cursar o ginásio no colégio Arnaldo, por coincidência, o mesmo colégio em que estudou Carlos Drummond de Andrade.
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Em 1930, Guimarães se formou em Medicina e trabalhou como Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Em 1934, ingressou na carreira diplomática, em Itamarati – MG. Embora médico, desde 1929, o autor já publicava contos em revistas, entre elas a Revista Cruzeiro. Em 16 de novembro de 1967, tomou posse da cadeira nº 2 na Academia Brasileira de Letras; e, após três dias, morreu de infarto. Como disse no seu discurso de posse, ao se referir a João Neves, “as pessoas não morrem, ficam encantadas”.
A importância de Guimarães Rosa
Em um período no qual a literatura brasileira direcionava seu foco para os centros urbanos, Guimarães Rosa trouxe para sua escrita: ditados populares, aforismos e expressões regionalistas. Assim, ele colocou em evidência o sertão mineiro, mostrando que no sertanejo também há metafísica, cultura, filosofia e existencialismo. Além disso, o escritor foi um revolucionário da Língua Portuguesa, considerado um verdadeiro arqueólogo da língua.
Obras e poemas
A produção literária de Guimarães engloba: romance, conto, novela e poema. Confira, a seguir, algumas de suas principais obras.
- Saragana (1946);
- Corpo de Baile (1956);
- Grande Sertão: Veredas (1956);
- Primeiras Estórias (1962);
- Tutameia – Terceiras Estórias (1967);
- Estas Estórias (1969);
- Ave, Palavra (1970).
- “Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.” (Grande Sertão: Veredas).
- “Sou o que não foi, o que vai ficar calado.” (A Terceira Margem do Rio).
- “Famigerado é inóxio, é ‘célebre’,’notório’, ‘notável’…” (Famigerado).
- “Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão.” (Desenredo).
- “E como saber se é o amor certo, o único? Tanto é o poder errar nos enganos da vida.” (Nenhum, Nenhuma).
- “Faça-se de conta.” (Nada e a Nossa Condição).
- “É junto dos bão que a gente fica mió.” (Grande Sertão: Veredas).
Grande Sertão: Veredas
A obra mais premiada de Guimarães, inclusive com o Prêmio Machado de Assis (1961), Grande Sertão: Veredas é ambientada no sertão mineiro. O enredo, construído por meio da linguagem coloquial, acompanha os passos de Riobaldo, um ex-jagunço em busca de compreender a metafísica da vida, o mistério cósmico e o grande amor que sente por Diadorim. Um romance considerado universalista por tratar de temas que inquietam a humanidade.
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Sagarana
Com nove contos, Saragana também tem o sertão mineiro como palco principal para o desenrolar dos casos sertanejos. Essa foi a primeira publicação de Guimarães, e nela o escritor já deixa bem claro o seu estilo de escrita. A linguagem é musical, ritmada, repleta de arcaísmos e neologismos. O regionalismo é de uma riqueza tão fascinante que só tem a contribuir à literatura brasileira.
Embora seja muito reconhecido pela prosa, Guimarães Rosa também escreveu poemas que são verdadeiras heranças literárias. O livro Magma, por exemplo, sob o pseudônimo “Viator”, ganhou o Prêmio Academia de Letras, em 1936. No entanto, Guimarães considerava essa fase da sua escrita como uma fase menor e nunca se interessou em publicar o livro. Somente em 1997, Magma foi publicada. Confira a preciosidade dessa obra poética nos poemas abaixo:
Verde
Na lâmina azinhavrada
desta água estagnada,
entre painéis de musgo
e cortinas de avenca,
bolhas espumejam
como opalas ocas
num veio de turmalina:
é uma rã bailarina,
que ao se ver feia, toda ruguenta,
pulou, raivosa, quebrando o espelho,
e foi direta ao fundo,
reenfeitar, com mimo,
suas roupas de limo…Publicidade
Distância sentimental
Mesmo ao sonhar contigo,
só consigo que me ames noutro sonho
dentro do meu sonho primitivo…
O lírico e a melodia permeiam os versos de Guimarães e criam uma imagem cotidiana aos olhos do leitor, revelando a beleza das coisas mais simples, por exemplo: uma rã ou o amor não correspondido.
7 frases de Guimarães Rosa
É impossível não se apaixonar pela obra de Guimarães, não é mesmo? E para você ficar com ainda mais vontade de escolher um livro e começar a lê-lo imediatamente, confira essa seleção de frases consagradíssimas do escritor.
Guimarães é de se ler em voz alta para escutar a oralidade das frases. Compreender a sua obra não é fácil, porém, quanto mais o leitor se familiariza com ela, mais extraordinário esse escritor se torna.
Vídeos sobre o escritor do sertão humano
Chegou o momento de se aprofundar um pouco mais na vida e obra desse escritor. Por isso, confira excelentes vídeos que te ajudarão a entender o contexto histórico e a vida do autor.
O contexto histórico que permeia a obra de Guimarães
Para compreender a obra de um escritor, é preciso conhecer o contexto histórico. Nesse vídeo, você aprenderá sobre os principais acontecimentos que influenciaram a terceira fase do Modernismo, com ênfase na obra de Guimarães.
Grande Sertão: Veredas
Aqui, você confere a resenha da Tatiana Feltrin sobre o livro Grande Sertão: Veredas. Se aprofunde mais nessa grande obra através das percepções de leitura da Tatiana. Não deixe de conferir o vídeo!
A vida de Guimarães Rosa
Nesse vídeo, conheça detalhes da vida de Guimarães Rosa, explorando o contexto histórico da época e sua trajetória até o mundo literário.
Então, gostou de aprender sobre Guimarães Rosa e ficou com gostinho de quero mais? Não se preocupe! Confira também a matéria sobre Grande Sertão: Veredas que vão te orientar na leitura e compreensão desse romance.
Referências
Literatura Comentada: Guimarães Rosa (1988) – Beth Brait
Por Suélen Domingues
Domingues, Suélen. Guimarães Rosa. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/guimaraes-rosa. Acesso em: 24 de November de 2024.
1. [ENEM 2011]
“Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-d‘angola, como todo o mundo faz? — Quero criar nada não… — me deu resposta: — Eu gosto muito de mudar… […] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. […] Essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. […] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.”
ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).
Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador
a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.
b) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de agregado — em proprietário de terra.
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra.
d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.
e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.
Resposta: D
No trecho citado, Riobaldo mostra a condição precária da vida do sertanejo que, embora não seja escravo, depende dos grandes latifundiários para sobreviver.
2. [PUCCAMP]
Leia o seguinte trecho de Guimarães Rosa:
“E desse modo ele se doeu no enxergão, muitos meses, porque os ossLeia o seguinte trecho de Guimarães Rosa:
“E desse modo ele se doeu no enxergão, muitos meses, porque os ossos tomavam tempo para se ajuntar, e a fratura exposta criara bicheira. Mas os pretos cuidavam muito dele, não arrefecendo na dedicação.
– Se eu pudesse ao menos ter absolvição dos meus pecados!…
Então eles trouxeram, uma noite, muito à escondida, o padre que o confessou e conversou com ele, muito tempo, dando-lhe conselhos que o faziam chorar.
– Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruindade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?
– Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não tira o estribo do pé de arrependimento nenhum…
E por aí a fora foi, com um sermão comprido, que acabou depondo o doente num desvencido torpor.”
O trecho acima representa a seguinte possibilidade entre os caminhos da literatura contemporânea.
a) ficção regionalista, em que se reelabora o gênero e se revaloriza um universo cultural localizado.
b) narrativa de cunho jornalístico, em que a linguagem comunicativa retoma e reinterpreta fatos da história recente.
c) ficção de natureza politizante, em que se dramatizam as condições de classes entre os protagonistas.
d) prosa intimista, psicologizante, em que o narrador expõe e analisa os movimentos da consciência reflexiva.
e) prosa de experimentação formal, em que a pesquisa linguística torna secundária a trama narrativa.os tomavam tempo para se ajuntar, e a fratura exposta criara bicheira. Mas os pretos cuidavam muito dele, não arrefecendo na dedicação.
– Se eu pudesse ao menos ter absolvição dos meus pecados!…
Então eles trouxeram, uma noite, muito à escondida, o padre que o confessou e conversou com ele, muito tempo, dando-lhe conselhos que o faziam chorar.
– Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruindade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?
– Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não tira o estribo do pé de arrependimento nenhum…
E por aí a fora foi, com um sermão comprido, que acabou depondo o doente num desvencido torpor.”
O trecho acima representa a seguinte possibilidade entre os caminhos da literatura contemporânea.
a) ficção regionalista, em que se reelabora o gênero e se revaloriza um universo cultural localizado.
b) narrativa de cunho jornalístico, em que a linguagem comunicativa retoma e reinterpreta fatos da história recente.
c) ficção de natureza politizante, em que se dramatizam as condições de classes entre os protagonistas.
d) prosa intimista, psicologizante, em que o narrador expõe e analisa os movimentos da consciência reflexiva.
e) prosa de experimentação formal, em que a pesquisa linguística torna secundária a trama narrativa
Resposta: A
A prosa de Guimarães Rosa é inovadora por reelaborar o regionalismo, incluindo temas universais que não se restringem apenas ao sertão mineiro.