Ferreira Gullar era o pseudônimo utilizado pelo escritor José Ribamar Ferreira. O autor é um dos grandes expoentes representantes da literatura brasileira moderna.
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Com uma diversa e extensa coleção literária e teórica, o escritor se tornou um dos importantes escritores, poetas e críticos de arte e literatura do país. Nascido no ano de 1930, mais especificamente no dia 10 de setembro, teve sua carreira alçada ao se mudar para São Luis, nos anos de 1940, e começar a produção poética.
Seu sucesso o levaria a ocupar uma das cadeiras na Academia Brasileira de Letras no ano de 2014.
Vida e obra de Ferreira Gullar
A primeira obra de Ferreira Gullar veio aos 19 anos de idade, Um Pouco Acima Do Chão. Nesta sua fase inicial, o autor formava o seu caráter literário, muito influenciado pelo parnasianismo e pela estética simbolista.
Já na década de 1950, Ferreira Gullar elabora os poemas da obra A Luta Corporal, o qual apresenta forte inspiração oriunda do Concretismo. Explora o vocal das palavras, bem como a sua grafia.
Uma característica forte da escrita de Ferreira Gullar neste ano se dá pela quebra com as convenções líricas tradicionais. Assim, ele integrará o movimento concretista, que faz parte das características do poema visual, afastando-se anos depois em discordância das propostas dos demais autores.
Após o afastamento do concretismo, o autor ingressa na política através do Centro Popular de Cultura (CPC). Junto a demais figuras da esquerda, criado em 1961, na capital carioca, o agora político tinha como objetivo a defesa da importância diática da arte.
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Características de Ferreira Gullar
O autor atravessou diversas fases em sua carreira, no entanto é possível, ainda assim, traçar o seu norte artístico. O autor tinha como características principais:
- Primórdios do concretismo;
- Exploração das palavras enquanto sentido vocal e gráfico;
- Quebra das concepções líricas;
- Anos mais tarde, o autor adota um lirismo exacerbado em seu texto depois de quebra com o Concretismo (pós anos de 1950);
- Reflexão da existência humana;
- Existencialismo presente;
O alçar da poesia de Ferreira Gullar
Apesar de ser um grande expoente desde seus primeiros anos na escrita, Ferreira Gullar alcançou real importância e reconhecimento apenas nos anos 1990. Agraciado com homenagens, honrarias e prêmios, o autor finalmente tinha seu trabalho reconhecido.
Entre os prêmios, acumulou o Jabuti (mais importante da literatura nacional), a medalha Machado de Assis (concedida pela Academia Brasileira de Letras) e o Prêmio Camões (concedido pelos governos de Portugal e Brasil, em conjunto, por contribuição ao enriquecimento cultural da língua portuguesa).
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No entanto, o ápice foi a menção honrosa como indicação ao Prêmio Nobel de Literatura, no ano de 2002.
Em paralelo à sua poesia hostil e aclamada, Ferreira Gullar também construiu um sólido e considerável material no campo das artes. Revisões de posicionamento, questões em referência à arte contemporânea e os estabelecimento da arte como instrumento didático no Brasil e em outros países do mundo.
Referências
História da literatura brasileira: Das origens ao romantismo Livro – Massaud Moisés
Por Mateus Bunde
Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Especialista em Linguagens pelo Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul) e Mestrando em Comunicação pela Universidade do Porto, de Portugal (UP/PT).
Bunde, Mateus. Ferreira Gullar. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/ferreira-gullar. Acesso em: 23 de November de 2024.
1. [UEL]
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
Ferreira Gullar
Sobre o poema Não há vagas, de Ferreira Gullar, é correto afirmar:
a) Ao ser aproximada de um ato lúdico como o fazer poesia, a crítica social é atenuada e perde força.
b) A ruptura com o verso tradicional situa o poema no contexto da primeira geração modernista.
c) Nota-se uma conjunção entre a reflexão sobre o fazer poético e a preocupação com a realidade social adversa.
d) A crítica política e a reflexão sobre a literatura presentes no poema configuram exceção na produção poética de Ferreira Gullar.
e) Trata-se de texto poético que destoa do conjunto da obra Toda poesia por utilizar redondilhas maiores e menores.
Resposta: C
2. [PUC]
Leia os fragmentos abaixo, retirados do poema Muitas vozes, de Ferreira Gullar, para responder à questão.
Meu poema
é um tumulto:
a fala
que nele fala
outras vozes
arrasta em alarido.
(…)
A água que ouviste
num soneto de Rilke
os ínfimos rumores no capim
o sabor
do hortelã
(…)
da manhã
tudo isso em ti
se deposita
e cala.
Até que de repente
um susto
ou uma ventania
(que o poema dispara)
chama
esses fósseis à fala.
Meu poema
é um tumulto, um alarido:
basta apurar o ouvido.
I. É um exemplo de metapoesia, um dos vários temas recorrentes nesta obra.
II. A intertextualidade surge como uma das muitas vozes presentes no poema.
III. Fósseis, no poema, é uma referência aos mortos do eu poético, que também são vozes do poema.
IV. Apurar o ouvido, no último verso, remete à percepção do material de que se compõe o poema.
V. Esse é um dos poucos poemas de Ferreira Gullar, nesta obra, em que a morte se faz presente.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) Somente as assertivas I e IV são verdadeiras.
b) As assertivas I, II e V são verdadeiras.
c) Somente a assertiva I é falsa.
d) As assertivas I, II, III, IV são verdadeiras.
e) Todas as assertivas são verdadeiras.
Resposta: D