Estoicismo

O estoicismo busca a felicidade por meio do domínio das paixões e um alinhamento à vontade geral da natureza.

O estoicismo é uma doutrina e também uma tradição de pensamento importante na história da filosofia. Iniciado com filósofos gregos, as reflexões sobre as temáticas levantadas foram desenvolvidas por diversos autores ao longo do tempo. A seguir, entenda mais sobre o que é o estoicismo e quais são os autores estoicos.

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O que é o estoicismo?

O estoicismo é uma tradição filosófica que prega uma ética da busca da vida boa e a felicidade. Desse modo, os estoicos também definem o que é essa vida.

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Estoicismo
O estoicismo busca a felicidade por meio do domínio das paixões e um alinhamento à vontade geral da natureza.

Conforme o estoicismo, sábio e feliz é o indivíduo que consegue se sintonizar com o fluxo dos acontecimentos sem se abalar com nenhuma adversidade. Logo, ele não deve precisar de nada a mais – assim, nada também trará insatisfação.

Por essa razão, essa é uma filosofia que valoriza a conexão prática de suas ideias, ao invés de focar em questões estritamente intelectuais. Atualmente, ela é relacionada com atitudes que ressaltam a disciplina, o controle das paixões e uma persistência acima das dificuldades.

Estoicismo e epicurismo

Na filosofia estoica é valorizada a conformidade com a ordem e o fluxo natural da vida. Nesse contexto, os estoicos acreditam que todo indivíduo é uma parte do cosmos maior. Sendo assim, as pessoas devem conduzir suas ações com sabedoria, lidando com as adversidades.

Em uma vida sábia, as paixões do indivíduo devem ser transformadas em boas paixões – aquelas transcendentes, não preocupadas com as coisas imediatas ou que trazem sofrimento. Essa condição só é possível de ser alcançada por meio da razão, se harmonizando com a natureza.

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Por outro lado, apesar de o epicurismo também ser uma filosofia que busca a vida boa, ela não se concentra na eliminação das paixões como no estoicismo. Ao contrário, ela propõe a eliminação de todo o sofrimento para alcançar uma felicidade medida e equilibrada.

Além disso, o epicurismo não se pauta em teologias ou metafísicas. Assim, ele não defende que exista uma ordem da natureza ou um cosmos ao qual a humanidade deva se alinhar. Desse modo, em oposição ao estoicismo, o epicurismo é classificado também como um materialismo.

Estoicismo e cristianismo

O cristianismo primitivo surgiu no período greco-romano e, por essa razão, sofreu algumas influências do estoicismo. Aliás, na Bíblia, no livro de Atos, aparece Paulo pregando em Atenas, em escolas que seguiam a filosofia estoica.

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De fato, ambas as tradições possuem algumas analogias possíveis, como a ideia do todo – as pessoas fazem parte de um mesmo cosmos (estoicismo) ou corpo (cristianismo), e devem agir de modo harmônico com essa totalidade, eliminando e controlando suas paixões.

Além disso, o termo “estoicismo” vem da palavra stoá, que era o nome dado ao pórtico em volta do qual os primeiros filósofos dessa escola ensinavam seus discípulos. Mais tarde, dentro das comunidades estoicas formadas as pessoas se tratavam como “irmãos”, assim como na tradição cristã.

Portanto, é possível considerar que há relações entre ambas as tradições. Além de o estoicismo ser mais antigo que o cristianismo, elas se cruzaram em um dado momento, sendo uma influência contemporânea de seu período.

Fases

Na história da filosofia, é possível classificar os autores ou os períodos em que algumas reflexões prevaleceram. Tradicionalmente, o estoicismo é dividido em três fases ao longo do tempo. Confira quais são:

  • Estoicismo antigo (séc. III a II a.C.): fundação dessa filosofia por Zenão de Cício em Atenas, após passar por uma série de dificuldades. É representada também por Cleanto de Assos, Crisipo de Soles, Dionísio de Heracleonta e Perseu de Cício;
  • Estoicismo médio (séc. II a.C.): é a fase menos comentada, mas foi dominada principalmente por dois filósofos: Panécio de Rodes e Possidônio de Apaméia;
  • Estoicismo romano (séc. I a.C.): é o período talvez mais conhecido que cresceu em Roma e conta com figuras importantes como Lucio Naneu Sêneca, Epicteto de Hierápolis e Marco Aurélio.

Apesar dessa classificação tradicional, há autores que dividem o estoicismo em cinco fases na história da filosofia. De todo modo, é importante notar como esse pensamento foi desenvolvido de formas diferentes ao longo do tempo.

Características do estoicismo

  1. Determina atitudes e práticas;
  2. A natureza ou o cosmos organiza tudo o que acontece, como um todo ou um único organismo;
  3. A felicidade é alcançada ao se alinhar com o cosmos;
  4. Se alinhar com a ordem natural das coisas é possível somente com a racionalidade;
  5. É necessário dominar e/ou eliminar as paixões;
  6. Não se deve querer modificar aquilo que não depende das próprias ações do indivíduo;
  7. Importância da ação e da sabedoria individual.

Principais filósofos estoicos

A filosofia estoica foi desenvolvida por muitos anos, entre diversos autores. Conheça abaixo alguns dos filósofos principais dessa escola:

  • Zenão de Cício: fundador dessa escola filosófica no séc. III a.C. Após passar por algumas dificuldades, chegou a Atenas e ali começou a ensinar filosofia, dando início a essa tradição de pensamento;
  • Panécio de Rodes: embora faça parte da segunda fase do estoicismo, nenhuma de suas obras persistiram no tempo, restando alguns fragmentos de seus escritos apenas. Ele foi responsável por desenvolver as ideias de Zenão;
  • Lucio Naneu Sêneca: viveu entre os anos 4 a 65 d.C., sendo um dos intelectuais mais conhecidos em sua época em Roma. Como fez parte da vida pública, seu pensamento é também importante para entender a época em que viveu;
  • Epicteto de Hierápolis: parte da terceira fase dessa filosofia, nasceu no ano 55 d.C. Ele era escravo em Roma e, assim, escrevia sobre a liberdade da alma – sem a qual nada adiantaria ter a liberdade do corpo;
  • Marco Aurélio: foi imperador romano, atuando desde cedo em guerras. Aos 11 anos de idade, já teve contato com o estoicismo, seguindo fortemente essa filosofia em sua vida, especialmente na temática da morte.

Apesar de não haver uma escola estoica, essa filosofia ainda permanece influenciando as ideias de diversas pessoas. Além disso, considerando que o cristianismo – e até outras religiões, como o budismo – possuem analogias com essa tradição, sua influência é ampla.

7 frases do estoicismo para entender sua filosofia

A seguir, confira uma lista de citações de alguns autores estoicos para melhor compreender essa tradição filosófica:

  1. “Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos, o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa.” (Epicteto).
  2. “Tampouco posso me exacerbar com um parente, nem odiá-lo, pois nascemos para a ação conjunta, como os pés, as mãos, como as pálpebras.” (Marco Aurélio).
  3. “Então, quem quer que deseje ser livre, nem queira, nem evite o que dependa dos outros, senão, necessariamente será escravo.” (Epicteto).
  4. “Mesmo se houveres de viver três mil anos ou dez mil vezes esse tempo, lembre-se que ninguém perde a vida senão aquela que está vivendo, nem vive outra senão a que perde. Assim a mais longa ou a mais curta vem a dar no mesmo.” (Marco Aurélio).
  5. “Se te custas suportar alguma coisa, é porque esqueceres que tudo ocorre de acordo com a natureza universal […].” (Marco Aurélio).
  6. “Para que afastes a fome e a sede, não é necessário acomodar-se à soleira dos soberbos, nem agüentar seu cenho franzido e mesmo sua ultrajante cortesia; não é necessário arriscar-se nos mares, nem seguir tropas. O que a natureza requer está disposto ao seu alcance.” (Sêneca).
  7. “Não é diferente no caso do pobre e do rico, e seu sofrimento é o mesmo: o dinheiro se apega tão intimamente à alma, que não se pode arrancá-lo sem dor.” (Sêneca).

Assim, é possível notar como essa linha filosófica se preocupa em dar reflexões sobre a vida prática e cotidiana, pensando em uma ética e moral.

4 vídeos sobre a filosofia estoica

Como a filosofia estoica traz reflexões éticas – principalmente sobre a felicidade –, pode ser bastante útil ter o contato com debates atuais sobre essas ideias. A seguir, assista a uma série de vídeos selecionados para esse propósito:

Para entender o estoicismo

No vídeo acima, confira a uma explicação bastante didática sobre a origem e as principais ideias do estoicismo. Apesar do material estar em inglês, o canal disponibilizou uma legenda com tradução em português. Portanto, não se esqueça de ativar as legendas.

A filosofia estoica na atualidade

Atualmente, uma série de pessoas e grupos têm divulgado a filosofia estoica, reformulando até alguns termos e ideias dos pensadores originais. No vídeo acima, confira a uma interpretação atual mais fiel ao estoicismo.

Ensinamentos de Sêneca

Sêneca é considerado um dos estoicos mais conhecidos, sobretudo sendo da fase romana dessa escola. Esse autor é importante porque mantém o espírito dessa tradição filosófica de se preocupar com as questões práticas da vida e fazer proposições morais.

Contribuições de Epicteto

Epicteto é uma figura interessante na escola estoica, trazendo reflexões originais e menos trabalhadas que outros autores da fase romana. Assim, saiba mais sobre esse filósofo e suas relações com essa tradição de pensamento.

Assim, o estoicismo é uma filosofia que, por sua dimensão prática e influência, continua impactando as ideias e o imaginário social de muitas pessoas ainda hoje. Portanto, é importante rever os autores originais dessa escola filosófica e entender suas interpretações possíveis.

Referências

A porta e o jardim: uma introdução ao epicurismo e estoicismo da Grécia pós-socrática – Uipirangi Franklin da Silva Câmara;

Filosofia da natureza nos estoicos – Reinholdo Aloysio Ullmann;

Filosofia da religião: estoicismo romano e o pensamento cristão dos primeiros séculos – Edson Pereira Lopes;

O estoicismo de Sêneca e suas considerações sobre Deus e morte – Marcus Vinicius Continentino Porto;

Os sofrimentos da alma: as paixões sob a perspectiva do estoicismo – Diogo da Luz.

Mateus Oka
Por Mateus Oka

Mestre em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Cientista social pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realiza pesquisas na área da antropologia da ciência.

Como referenciar este conteúdo

Oka, Mateus. Estoicismo. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/filosofia/estoicismo. Acesso em: 23 de November de 2024.

Exercícios resolvidos

1. [Instituto Pró-Município – CE]

O período helenístico caracterizou-se por um processo de interação cultural entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados. Neste período destacaram-se duas novas escolas filosóficas: o estoicismo e o hedonismo. Nesse contexto, os estóicos defendiam:
a) Que o ser humano devia buscar o prazer da vida;
b) Que o prazer estava vinculado ao bem;
c) Um espírito de completa austeridade moral e física;
d) A realização de uma conduta virtuosa;
e) O domínio das paixões.

Resposta: e

Justificativa: uma das características principais do estoicismo é a busca pelo domínio das paixões, tornando-as alinhadas com a vontade geral do cosmos.

2. [FUNCAB]

O epicurismo e o estoicismo foram as duas filosofias éticas predominantes no período helenístico. O estoicismo, em contraposição à ética epicurista, relaciona o bem:
a) à atividade da alma segundo a razão.
b) ao prazer por coisas materiais.
c) à indiferença diante da dor e do sofrimento.
d) aos costumes ou convenções sociais.
e) ao dever de cumprir o que é ordenado pela lei divina.

Resposta: c

Justificativa: segundo o estoicismo, não se deve se deixar abalar pelas adversidades da vida, considerando que há coisas mais essenciais na felicidade.

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